ampliação dos significados. conhecedor fruidor decodificador da obra de arte
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- Nicholas Gonçalves Valente
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1 Comunicação O ENSINO DAS ARTES VISUAIS NO CONTEXTO INTERDISCIPLINAR DA ESCOLA ALMEIDA, Maria Angélica Durães Mendes de VASONE, Tania Abrahão SARMENTO, Colégio Hugo Palavras-chave: Artes visuais Interdisciplinaridade Arte-educação RESUMO Este trabalho apresenta como é possível organizar um projeto pedagógico interdisciplinar, em escola regular, em que as artes visuais têm um papel de destaque. No projeto educacional do Colégio Hugo Sarmento, escola particular localizada no bairro da Vila Madalena, em São Paulo, o trabalho com Artes não se apresenta como suporte para o aprendizado das outras disciplinas. Ao contrário, está em igualdade com todas as outras matérias e não é pano de fundo e nem mera ilustração dos conteúdos das outras áreas do conhecimento. No Colégio Hugo Sarmento, as aulas de artes visuais permitem e favorecem a interdisciplinaridade e a aprendizagem significativa. Os projetos interdisciplinares são sempre combinados com os professores e alunos envolvidos. Os conteúdos de reflexão de textos e pesquisas feitos com os alunos para seus estudos nas diversas áreas do conhecimento e suas conclusões acabam se transformando em inspirações para a produção, individual ou coletiva, de uma obra de arte. A vivência do fazer artístico que os alunos experimentam na oficina é fundamental, pois amplia a sua possibilidade de expressão. Na oficina, eles podem realizar seus projetos e se posicionar diante de questões discutidas em qualquer área do conhecimento. Aprendem a ver os significados que as expressões artísticas trazem e também a ver como as representações podem se aproximar das imagens presentes na natureza e nas ciências ou serem abstrações de seus sentimentos e olhares. O evento mais importante realizado no Colégio Hugo Sarmento é a Exposição de Arte de seus alunos. Nela mostramos a produção artística do ano e projetos especiais e instalações ligadas a algumas das principais questões da atualidade. PRINCÍPIOS BÁSICOS QUE NORTEIAM O ENSINO-APRENDIZAGEM DAS ARTES VISUAIS NO COLÉGIO HUGO SARMENTO Se entendermos que a escola é uma instituição fundamental no acesso à arte aos alunos de nosso país, passamos a enxergar a importância do ensino da arte no currículo das escolas. O conhecimento histórico e artístico produzido nas escolas 1
2 pode trazer o sentido de identidade tão importante à constituição de uma nação. A escola deve abrir espaço, portanto, em seu currículo, para que o aluno possa, cada vez mais, conhecer o universo cultural da arte e a formação estética da expressão dos mais diversos grupos sociais. O trabalho com as artes visuais no Colégio Hugo Sarmento se apóia no entendimento sobre sua importância para a sociedade tal Barbosa (2005) nos traz em seu livro A imagem no ensino da arte: (...) Uma sociedade só é artisticamente desenvolvida quando ao lado de uma produção artística de alta qualidade há também uma alta capacidade de entendimento desta produção pelo público. (BARBOSA. 2005, p.32) Se por um lado reconhecemos os aspectos cognitivos, intelectuais, afetivos e criativos que o ensino da arte na escola ajuda a desenvolver, por outro pretendemos, também, com nosso trabalho, enfatizar as contribuições que as diversas manifestações artísticas podem trazer à ampliação dos significados. Pretendemos, com o ensino de arte em nossa escola, formar o conhecedor, fruidor, decodificador da obra de arte (Barbosa, 2005). Para isso, pensamos em ações pedagógicas que ampliem a disposição que todo aluno já tem de apreciar obras de arte, criando contextos nos quais possam sentir a arte, compreender o sentido histórico em que a arte se insere, produzir arte e refletir sobre ela criticamente, visando, assim, ao crescimento de suas capacidades estético-visuais (Lanier, 2002). É importante ressaltar que não esquecemos que nossos alunos, quando entram na escola ou iniciam um ano letivo, já têm uma experiência estética, seja ela qual for. Nosso trabalho, portanto, consiste em ampliar essa experiência. O CONTEXTO INTERDISCIPLINAR DO TRABALHO DE ARTES DA ESCOLA Todos que trabalham no Hugo Sarmento sabem o quanto é importante o fazer artístico na história do nosso colégio. Nesta escola particular de Ensino Fundamental e Médio situada na zona oeste da cidade de São Paulo, as artes visuais sempre tiveram destaque no processo educacional proposto para o desenvolvimento do seu aluno. Alguns aspectos demonstram isso com clareza. Um deles é como o colégio assume o trabalho na área em seu texto do Projeto Pedagógico: A experiência artística deve ser estudada e explorada oferecendo aos alunos uma grande variedade visual de imagens. A finalidade é fazer com que o estudante sinta que a arte não nasce por acaso e que é fruto da reflexão de um sistema político, histórico, econômico e 2
3 cultural. A arte responderia, assim, a questionamentos pessoais e ajudaria o aluno a entender seu lugar na sociedade. (Projeto Pedagógico do Colégio Hugo Sarmento, p.5) Ainda no texto do Projeto Pedagógico, nos objetivos gerais, o colégio propõe que, ao final de nove anos de Ensino Fundamental, seu aluno seja capaz de: (...) compreender e saber identificar a arte como fato histórico contextualizado nas diversas culturas, conhecendo, respeitando e podendo observar as produções presentes, assim como as demais produções do patrimônio cultural e do universo natural, identificando a existência de diferenças nos padrões artísticos e estéticos (...) (Projeto Pedagógico do Colégio Hugo Sarmento, p.7) Outros aspectos que ratificam a importância da disciplina Educação Artística no colégio são: a manutenção de uma carga horária igual durante todo o curso, o que coloca a disciplina em pé de igualdade com outras em números de horas/aula; o investimento na oficina, território especialmente pensado para o fazer artístico; os recursos financeiros destinados à compra de materiais dos mais diversos; uma coordenação pedagógica de artes visuais atuante que também vivencia o dia-a-dia da sala de aula; e os projetos interdisciplinares que nunca prescindem do olhar das manifestações artísticas sobre as questões discutidas. No planejamento pedagógico da equipe, antes do ano letivo ter início, os primeiros indícios de projetos começam a surgir. Em meio a discussões durante as reuniões, os professores e a coordenadora de artes fazem um levantamento de alguns temas que consideram fundamentais que sejam desenvolvidos ao longo do ano e justificam essas escolhas. A partir daí, começam a pensar em como o trabalho com as artes visuais pode permear os temas pensados de forma a ampliar as discussões que surgirão em outras áreas do conhecimento. Neste começo, os professores vão se apropriando dos temas. Cada um começa a organizar seu planejamento de conteúdos a partir das idéias surgidas para o desenvolvimento dos projetos interdisciplinares pensados. Mas todos sabem que o sucesso de cada projeto dependerá do real interesse dos alunos sobre o tema. Assim, discutem como proceder para que eles se encantem com os temas a serem propostos e qual a melhor organização didática a ser seguida. É fundamental ressaltar que todo esse processo só é possível com uma equipe pedagógica que vive a colaboração no dia-a-dia de trabalho. Uma equipe interdisciplinar se dispõe a aprender colaborativamente. O respeito e a admiração a 3
4 todas as áreas do conhecimento se estendem ao respeito e à admiração ao saber de cada colega, companheiro e par na tarefa de educar o aluno. As ações de cada disciplina, neste contexto, são organizadas e se orientam no sentido de atingir os objetivos educacionais de nosso Projeto Pedagógico, que pretende ensinar os alunos a experimentarem soluções originais e desenvolver seu senso crítico e raciocínio a partir de questionamentos de atitudes, de procedimentos e de leis estabelecidas. Partimos, em nossas discussões teóricas sobre como atingirmos nossos objetivos, do conceito de Fazenda (1994) sobre a atitude de ser um professor interdisciplinar e do que vem a ser um projeto interdisciplinar: Entendemos por atitude interdisciplinar, uma atitude diante de alternativas para conhecer mais e melhor; atitude de espera ante os atos consumados, atitude de reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude de perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafio desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as pessoas neles envolvidas, atitude, pois, de compromisso em construir sempre da melhor forma possível, atitude de responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro, de vida. (...) Numa sala de aula interdisciplinar, todos se percebem e gradativamente se tornam parceiros e, nela, a interdisciplinaridade pode ser aprendida e pode ser ensinada, o que pressupõe um ato de perceber-se interdisciplinar. (...) Outra característica observada é que o projeto interdisciplinar surge às vezes de um que já possui desenvolvida a atitude interdisciplinar e se contamina para os outros e para o grupo. (...) Para a realização de um projeto interdisciplinar existe a necessidade de um projeto inicial que seja suficientemente claro, coerente e detalhado, a fim de que as pessoas nele envolvidas sintam o desejo de fazer parte dele. (FAZENDA. 1994, p. 82, 86 e 87). A professora-coordenadora de artes faz a gestão de todo o processo de organização deste trabalho, desde o momento do planejamento até a Exposição de Artes, que acontece no segundo semestre. Durante todo esse tempo, ela atua como a curadora deste que, anualmente, pretende ser o maior evento de toda a comunidade. Conforme os trabalhos vão surgindo ao longo do ano, é ela quem se responsabiliza por colaborar com os professores das outras áreas a pensarem na organização de suas salas da Exposição. Nas salas, cada turma de alunos com os professores das áreas envolvidas em cada projeto apresentam seus trabalhos e devem organizar e montar a mostra. É importante frisar que, conforme os alunos vão crescendo e seu repertório e 4
5 sua experiência vão se ampliando, são eles que começam a assumir e a assinar também os projetos de suas salas. Neste momento, se responsabilizam por sua produção pessoal como também por pensar em qual a melhor forma de expor essa produção dentro de um contexto coletivo. Eles apresentam um esboço de suas idéias sobre as salas e seus colegas e professores decidem qual o melhor projeto a ser executado. Nos moldes do que ocorre nas grandes mostras, há a monitoria realizada pelos próprios alunos. Em cada sala, eles se revezam em explicações aos visitantes sobre os trabalhos expostos nos módulos da exposição. Uma ligação mágica ocorre entre alunos e professores durante a elaboração dos trabalhos e projetos para a exposição. Todos os que participam são tomados de uma alegria e entusiasmo inesquecíveis que só a troca afetiva pode proporcionar. As palavras de nossa aluna retratam o quão importante é o trabalho que o Hugo Sarmento desenvolve na área das artes visuais: O ENSINO DAS ARTES VISUAIS NO COLÉGIO "Gostamos muito dos projetos de artes desse ano. Foi legal conhecer tantos estilos e formas de se expressar: a Bauhaus e Picasso, a arte mórbida e sua imagem da morte, o surrealismo e seus sonhos malucos, as instalações usando materiais no tridimensional para nos impressionar, a arte conceitual e suas idéias que envolvem a mente, a arte abstrata e suas formas inventadas e muitas outras. Com esse conhecimento, podemos, quem sabe, entender melhor o mundo e fazer com que entendam nossas idéias." (Ex-aluna, formanda da turma de 2001, atualmente fazendo curso na USP) No curso da escola voltado para o ensino da arte, mostramos aos alunos como as artes transformam conceitos, questionam o senso comum e encantam. Por meio de muitas experimentações, eles vão aprendendo a trabalhar com técnicas de desenho, gravura, pintura, escultura, fotografia e estudando as mais diversas manifestações artísticas contemporâneas, como por exemplo, instalação, performance e vídeo-arte. A ampliação de seu repertório visual neste contexto passa a ser da maior importância. As questões estéticas são constantemente abordadas, levando o aluno a perceber que uma experiência estética advém do pensamento, da cultura e da época a que pertence. Estudam os movimentos artísticos e são levados a refletirem sobre o contexto sócio-histórico para que possam observar uma obra de arte 5
6 decifrando os seus aspectos formais, tais como sua composição, seu equilíbrio e contrastes. Trabalhamos com a idéia de que a arte apresenta a identidade de cada sociedade, de cada época e da contemporaneidade. Assim, quando nosso aluno está na oficina de artes realizando o seu próprio fazer artístico, pretendemos que ele realize sua obra consciente de que, através das mais variadas e diversas experimentações, está apresentando a sua possibilidade de compreender o universo circundante, de fazer a sua história e a história de seu tempo. Porém, somente a experiência do fazer artístico na oficina não é o suficiente para ampliarmos os significados dos alunos se não trabalharmos também a leitura e o julgamento crítico das imagens que cercam seu universo, sejam imagens produzidas por artistas consagrados ou do mundo cotidiano (Barbosa, 2005). Para isso, criamos estratégias para que se alfabetizem na leitura de imagens. É importante reconhecer que desenvolver a leitura de uma imagem artística significa desenvolver também a leitura das mais diversas imagens do mundo. Assim, é de fundamental importância que as obras de arte sejam analisadas para que se aprenda a ler a imagem e avaliá-la; esta leitura é enriquecida pela informação histórica e ambas partem ou desembocam no fazer artístico (Barbosa, 2005, p. 37). Consideramos que a escola tem um papel fundamental na constituição do olhar que o cidadão tem sobre a cultura em que vive. E reconhecemos que trazer o viés das artes visuais nas discussões sobre as questões tratadas na escola nos ajuda a concretizar um Projeto Pedagógico que se propõe a ter um aluno mais crítico, mais independente na sua maneira de pensar o mundo e mais reflexivo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte anos oitenta e novos tempos. 6ª edição São Paulo: Perspectiva, FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 4ª edição Campinas: Papirus, LANIER, Vincent. Devolvendo arte à arte-educação. In: BARBOSA, Ana Mae (Org.) Arte Educação: leitura no subsolo. 4ª edição São Paulo: Cortez,
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