XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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1 1 CURRÍCULO EM UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO INTEGRAL EM TEMPO INTEGRAL Gisele Bastos Tavares Duque Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) Adriana Barbosa Santos Adriana Barbosa Santos Universidade Estadual do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Luiz Otavio Ferreira da Luz Universidade Estadual do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Resumo O Brasil vive hoje um momento de retomada do debate acerca da educação integral e de ampliação da oferta de educação em tempo integral pelas redes públicas. O Plano Nacional de Educação (PNE ), aprovado há quase dois anos, determina na meta 06, que estados e municípios provenham, com apoio da União, educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos alunos matriculados na educação básica. (BRASIL,2014). No ano de 2014, o município de Mesquita inaugurou a primeira escola polo de educação integral em tempo integral, que hoje, oferece oito horas diárias de atividades educativas, a 275 alunos matriculados na unidade, do primeiro ao nono ano de escolaridade. Em 31 março de 2015, foi aprovada e sancionada a Lei Municipal N 881, que institui as diretrizes para a educação integral em tempo integral no município de Mesquita. E hoje, ano de 2016, mais duas escolas municipais inauguram a proposta de educação integral em tempo integral. Pensar em educação integral em tempo integral é pensar em novas formas de tempo/espaço e também de novas organizações curriculares. Com dois anos de funcionamento, um dos grandes desafios da escola, além da continuidade da construção de uma concepção própria de educação integral em tempo integral, é a integração curricular. A construção de uma nova organização curricular não se faz por decreto; sem desconsiderar sua importância, se faz pelos profissionais que o praticam. Pensar as possibilidades de implantação da educação integral e do currículo integrado significa assumir que mudanças em educação exigem tempo, é um processo, não acontecem simplesmente pela aplicação de novas legislações, mas implicam comprometimento de todos os envolvidos. Palavras-Chave: Educação integral Tempo Integral Organização Curricular Introdução: O tema educação integral em tempo integral vem se intensificando no cenário educacional brasileiro. Apesar de não ser um tema novo - as experiências das Escolas Parque/Escolas-Classe concebidas por Anísio Teixeira nos anos de 1940/1960, e os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) idealizados por Darcy Ribeiro nos anos de 1980/1990 nos comprovam isso - a retomada das discussões sobre o 9480

2 2 que é educação integral e/ou tempo integral, além da ampliação do tema, vem se constituindo, para alguns profissionais, como uma inovação na educação nacional. O Plano Nacional de Educação (PNE ) determina, na meta 06, que estados e municípios provenham, com apoio da União, educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos alunos matriculados na educação básica. (BRASIL, 2014). Essa lei, muito mais que a obrigatoriedade de ampliação, traz em seu bojo novas formas de conceber a educação e sua organização, em relação ao tempo/espaço e a formas de ensinar. Anterior ao PNE, o Governo Federal lançou, em 2008, o Programa Mais Educação (PME), um programa indutor, com a finalidade de contribuir para a melhoria da aprendizagem por meio da ampliação do tempo de permanência de crianças, adolescentes e jovens matriculados em escola pública, mediante oferta de educação básica em tempo integral (BRASIL, 2010) O município de Mesquita, localizado na região da baixada fluminense, estado do Rio de Janeiro, é um dos que aderiram ao PME em Com uma rede municipal de ensino composta por 40 unidades escolares, destas, 24 possuem ensino fundamental. Hoje, dessas 24 unidades, 21 tem o Programa Mais Educação como proposta de extensão de carga horário em suas unidades escolares. Em 2014, o município inaugurou uma proposta própria de educação integral e (m) tempo integral, a Escola Municipal Cruzeiro do Sul. Em 31 de março de 2015, foi aprovada e sancionada a Lei Municipal N 881, que institui as diretrizes para a educação integral em tempo integral no município de Mesquita e no ano de 2016, mais duas escolas municipais inauguraram a proposta de educação integral em tempo integral. Problema: A inauguração da primeira escola de educação integral em tempo integral trouxe consigo muitos desafios: uma nova concepção de educação (formação humana completa, emancipatória), ampliação de tempo, professores com quarenta horas, organização diferenciada dos espaços (na escola não há salas de aula mas, sim espaços educativos) e currículo que objetiva a superação da fragmentação das disciplinas. Uma coisa é a organização no papel, pensado, analisado, mas ainda não vivido. Reconhecendo a educação integral em tempo integral como uma educação que responde às várias necessidades formativas do sujeito; que o currículo é muito mais que simples lista de disciplinas e de conteúdos, e que a simples publicação de portarias, leis 9481

3 3 e decretos não garantem um currículo integrado, pois, se não for praticado no dia a dia vira letra morta, questionamos: Qual a concepção de educação integral presente na proposta pedagógica da escola Pólo de educação integral em tempo integral? Qual a proposta de currículo presente na Escola Pólo? Como acontece e se acontece a integração curricular? Objetivo: O objetivo deste trabalho é apresentar a pesquisa, ainda em andamento, e as análises preliminares da implementação e materialização da organização curricular na primeira escola de educação integral em tempo integral de Mesquita, buscando conhecer a concepção de educação integral que a fundamenta e dessa forma contribuir para novos olhares sobre a prática docente, assim como fomentar o debate acerca das propostas de novas organizações curriculares e educação integral em tempo integral em andamento. Procedimentos metodológicos: O percurso teórico-metodológico traz em seu bojo uma abordagem qualitativa, sob a configuração de pesquisa documental, análise bibliográfica sobre as concepções de educação integral, abordadas por Moll (2012), Coelho (2009) e Cavaliere (2002) e aprofundamento dos estudos sobre currículo, encontrados nas obras de Silva (2009) e Lopes (2011). Concomitantemente, pretende-se visitar a Escola Pólo de Educação Integral Cruzeiro do Sul, buscando descrever, por meio da análise de documentos como o Projeto Pedagógico da escola, além de entrevistas com a comunidade escolar (entre eles a equipe de gestão e professores), o percurso da implementação e como acontece, na prática, a organização curricular dessa escola polo de educação integral em tempo integral. Discussão e resultados preliminares: No ano de 2014, o município de Mesquita inaugurou a primeira escola pública de educação em tempo integral para 275 alunos. Essa escola, que funcionava com dois turnos até 2013, passou a funcionar no ano posterior em um turno único, com nove horas de duração (das 7h às 16h) e uma matriz curricular composta por disciplinas e atividades, a saber: Ciências humanas (que compreendia geografia e história); Linguagens (que compreende Língua portuguesa e Língua estrangeira); Matemática, Ciências, Tecnologia, Artes, Educação física, Tecnologia da comunicação e da informação, e Estudo dirigido. Aos professores, havia a orientação que trabalhassem de forma que pudessem integrar os conteúdos. Em uma escola em que tudo era novo, fazer essa integração exigia muito mais que a orientação. 9482

4 4 Todos os professores dessa escola trabalham em regime de 40 horas; com isso, há um dia na semana de planeamento coletivo, onde todos os professores se reúnem pra planejar e para centro de estudos. Além disso, a escola conta com um curso de extensão da UNIRIO, na área de formação (parceria da Secretaria Municipal de Educação com a UNIRIO), em que todos os professores e equipe técnica pedagógica da escola participam. Os encontros são mensais, sempre às quintas feiras. Em 2015, o horário da escola passou a ser de oito horas diárias (8h as 16h) e para os professores ficou válido o horário de 2014, pois de 7h às 8h, ficou para planejamento coletivo. Segundo a diretora da escola, o horário reduzido para os alunos foi devido ao relato de responsáveis e professores sobre o cansaço dos mesmos. A matriz curricular passou a ser composta por quatro áreas de conhecimento: Linguagens e Códigos; Ciências Humanas; Matemática, Ciências da Natureza e Tecnologias e Expressão Artística e Corporal. Cada área de conhecimento é composta por cinco blocos. Por dia, cada turma tem 4 blocos, totalizando 20 blocos semanais. Se no papel tudo é organizado, na prática as coisas mudam de figura. E construir uma nova organização curricular é desconstruir uma formação em caixinhas. O professor que hoje se abre ao novo formou-se em licenciaturas (são especialistas em uma disciplina): matemática, letras, geografia, história, entre outras. Além disso, segundo Tardif (2002, p.20), (...) antes mesmo de ensinarem, os futuros professores vivem nas salas de aulas e nas escolas e, portanto, em seu futuro local de trabalho (...) e qual a escola em que a maioria de nós, professores, estudamos? A escola de dois turnos, com horários organizados por disciplina, e sem falar da hierarquização das mesmas. A própria definição sobre o que é currículo é diversa: Embora simples, a pergunta o que é currículo? não tem encontrado resposta fácil. Desde o início do século passado ou mesmo desde um século antes, os estudos curriculares tem definido currículo de formas muito diversas e várias dessas definições permeiam o que tem sido denominado currículo no cotidiano das escolas. (...) (LOPES, 2011, p.19) Construir uma nova proposta de organização curricular é levar em consideração o sujeito que pratica esse currículo e os meios para essa prática. A permanência dos professores em regime de 40 horas proporciona tempo precioso para a troca entre os pares e a experimentação. O planejamento coletivo é fundamental. O currículo integrado nas escolas de educação integral em tempo integral do município Mesquita 9483

5 5 ainda está em fase de construção. Percebemos isso na fala dos profissionais da escola e também nas duas deliberações do município acerca da matriz curricular. Considerações: A construção de uma nova organização curricular não se faz por decreto; sem desconsiderar sua importância, se faz pelos profissionais que o praticam, profissionais esses que precisam se abrir pra o novo e não temer sair da sua zona de conforto e desconstruir suas certezas, de práticas de ensino e aprendizagem muitas vezes fragmentadas e engessadas. A escola na qual ocorre a pesquisa está em construção, tanto na proposta de educação integral em tempo integral quanto no currículo integrado. No entanto, em dois anos de funcionamento, já é perceptível o seu avanço. Referências Bibliográficas BRASIL. Decreto de 27 de janeiro de Diário Oficial da União, Brasília, DF, 29 de janeiro de BRASIL. Lei , de 25 de junho de Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 de junho de CAVALIERE, A.M. Educação integral: uma nova identidade para a escola brasileira? Educação e Sociedade, Campinas, n.81, dez, p , COELHO, Ligia Marta C.C. História (s) da Educação Integral, Em aberto, Brasília, v22, n80. p.83-96, abr LOPES, Alice Casimiro; MACEDO, Elizabeth. Teorias De Currículo. São Paulo: Cortez, MESQUITA. Deliberação CME nº 015, de 09 de setembro de Estabelece a matriz curricular para o ensino fundamental da educação integral nas unidades escolares polo de educação integral da rede municipal de educação de mesquita e dá outras providências. Diário Oficial de Mesquita, RJ, 09 set MOLL, Jacqueline MOLL, Jaqueline. Caminhos da Educação Integral no Brasil: direito a outros tempos e espaços educativos. Porto Alegre: Penso, 2012 SILVA, Tomaz Tadeu da; Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 3. Ed. Belo Horizonte: Autentica,

6 6 TARDIF, Maurice; Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes,