A INTEGRAÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLAR COM O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO: UMA MICROVISÃO NA CIDADE DE CAICÓ/RN
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- Sebastiana de Paiva
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1 A INTEGRAÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLAR COM O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO: UMA MICROVISÃO NA CIDADE DE CAICÓ/RN SANTOS¹, Geovar Miguel dos, GARCIA², Maria de Fátima Garcia, BRITO³, Nazineide. Graduando em Pedagogia/UFRN¹, Orientadora/UFRN², Orientadora/UFRN³ Eixo V Educação, diversidade e formação humana: gênero, sexualidade, étnico-racial, justiça social, inclusão, direitos humanos e formação integral do homem; Geovar17@gmail.com Resumo: O presente artigo tem como propósito discutir a integração entre o currículo e as atividades desenvolvidas nas modalidades do Programa Mais Educação nas escolas públicas da cidade de Caicó, Rio Grande do Norte. Considerando que o referido programa se embasa nos ideais da perspectiva de uma Educação integral, pontuamos as tentativas de implementação da Educação Integral no Brasil, imbuídas pelas ideias inovadoras do educador Anísio Teixeira, a fim de, nortear o leitor no contexto histórico desta temática. Para embasar o trabalho, buscamos autores como Faria (2011), Padilha (2009) e os documentos oficiais do MEC (BRASIL, 2009, 2011), Ferreira (2009), Lopes e Macedo (2011) e Libâneo (2004), dentre outros. A pesquisa está em fase inicial, assim, os resultados e conclusões dos esforços de investigação debatidos aqui são de caráter parcial, remetendo-se a realidade de apenas uma das escolas investigadas. dando assim, uma visão micro da realidade do Programa Mais Educação na cidade de Caicó, relevando alguns dos problemas enfrentados pelos gestores. Palavras-chave: Currículo. Educação Integral. Programa Mais Educação. Introdução Pautado na perspectiva de uma Educação Integral, o Programa Mais Educação (PME) foi instituído pela Portaria Interministerial nº17/2007 e tem como objetivo fomentar a Educação Integral de crianças, adolescentes e jovens por meio de atividades socioeducativas, articuladas ao Projeto Político Pedagógico(PPP) das escolas, organizado por um currículo escolar significativo e flexível que produza aprendizagens além do âmbito escolar. Nesse contexto, a pergunta que permeia a problemática impulsionadora desta pesquisa é: como está sendo realizada a integração dos saberes e os conhecimentos focalizados no PME com o PPP nas instituições escolares da cidade de Caicó?
2 A fim de responder a esse questionamento, a pesquisa buscou investigar a dinâmica do processo de integração desses saberes e conhecimentos ao PPP das escolas investigadas. Para isso, inicialmente buscou conhecer seus respectivos PPP, identificando neles a relação com o PME, e ainda buscando assinalar as práticas de gestão e de currículo que garantem a integração entre o PPP e o PME. Os caminhos da pesquisa: a metodologia Realizamos uma pesquisa de caráter qualitativo e de cunho exploratório, numa tentativa de investigar os atores sociais envolvidos na realidade da escola, ampliando os conhecimentos sobre a problemática elencada. Com relação aos aportes teóricos utilizados para a análise dos dados, no que diz respeito à temática da educação integral buscamos nos fundamentar em Padilha (2009), Faria (2011) e no que diz respeito ao tema sobre currículo, Lopes (2000), Macedo (2000), dentre outros. Para a construção dos dados, realizamos entrevistas com os gestores e coordenadores das escolas investigadas, a partir de um roteiro previamente estabelecido. Educação Integral, Projeto Político Pedagógico, Currículo e o Programa Mais Educação O ideal da educação integral surge nos EUA, imbuído dos ideiais humanistas da Escola Nova desenvolvida pelo filósofo e educador norte-americado John Dewey, que defendia a democracia e a liberdade de pensamento. No Brasil, a disseminação dessas ideias acontece nos anos de 1930 com o movimento escolanovista, representando um novo pensar da escola pública brasileira. Em 1950, Anísio Teixeira, no cargo de Diretor do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais INEP) funda em Salvador/BA o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, disseminando assim uma perspectida de Educação Integral. O conceito de Educação Integral acentua as necessidades de desenvolvimento das diferentes dimensões do ser humano: intelectual, física, emocional, cultural, ética, dentre outras, enfim, o desenvolvimento pleno do sujeito. Encontra-se também atrelada a uma atuação dinâmica e interativa do indivíduo com a sociedade, pois, segundo Farias (2011, p.31), Apesar de o conceito de Educação Integral ser flutuante e não consensual, podemos afirmar que, atualmente, ela é considerada uma ação estratégica
3 para garantir atenção e desenvolvimento integral a crianças e jovens, sujeitos de direito que vivem uma contemporaneidade marcada por intensas transformações e exigência crescente de acesso ao conhecimento, nas relações sociais entre diferentes gerações e culturas, nas formas de comunicação, na maior exposição aos efeitos das mudanças em nível local, regional e internacional. A partir dessa visão, podemos reconhecer que a perspectiva de uma educação integral requer uma necessária integração entre a organização curricular e o projeto político da instituição escolar, garantindo uma dinâmica efetiva na condução do trabalho pedagógico nela desenvolvido. Podemos compreender o Currículo como sendo uma composição dos conhecimentos e dos valores que caracterizam um processo social, e no caso da instituição de ensino, devendo ser proposto através do seu Projeto Político Pedagógico. De acordo com Lopes e Macedo (2011, p.19): [...] Desde o inicio do século passado ou mesmos desde um século antes, os estudos curriculares têm definido currículo de formas diversas e várias dessas definições permeiam o que tem sido denominado currículo no cotidiano das escolas. Indo dos guias curriculares propostos pelas redes de ensino àquilo que acontece em sala de aula, currículo tem significado, entre outros, a grade curricular com disciplinas/atividades e cargas horárias, o conjunto de ementas e os programas das disciplinas/ atividades, os planos de ensino dos professores, as experiências propostas e vividas pelos alunos Há, certamente, um aspecto comum a tudo isso que tem sido chamado de currículo: a ideia de aprendizagem realizada por docentes/redes de ensino de forma a levar a cabo um processo educativo. Numa perspectiva de Educação Integral, segundo Padilha (2009), o currículo ganha uma nova dimensão, passando a ser caracterizado enquanto intertranscultural. Nesse sentido, referindo-se a processos educativos intencionais, escolares e não escolares, abrangendo o sujeito tanto no âmbito social quanto no cultural, visando à conectividade humana e articulando saberes a partir de projetos integrados, integradores e intersetoriais que transcendem os espaços educacionais escolares articulando e socializando, assim, as experiências dos sujeitos com o mundo. Resultados e discussão dos dados
4 A partir da análise da entrevista realizada com a coordenadora pedagógica e o gestor da escola investigada, passaremos a focalizar seus principais dados, objetivando esclarecer a nossa problemática. Inicialmente, buscando esclarecer como está sendo realizada a integração entre o Projeto Político Pedagógico e o Programa Mais Educação (PME), consideramos relevante pontuar a resposta apresentada pela coordenadora da escola que assim se posicionou: O PPP não sofreu nenhuma alteração depois da implementação do ME. A interação do currículo da escola com o do ME não acontece. Pois os monitores do programa se reúnem uma vez por mês. Não há nenhum tipo de integração entre professores e monitores. Podemos perceber pelo depoimento da coordenadora que a integração não se efetiva. Esta afirmação também foi constatada quando buscamos no documento da proposta pedagógica da escola alguma menção acerca da perspectiva de uma Educação Integral e da implementação do Programa Mais Educação e nada foi registrado. Quando indagamos a Coordenadora da escola sobre a questão da integração, assim nos informou que os alunos levam o dever de casa para fazerem no programa PME. A partir desta resposta, percebemos que o programa, neste caso específico, está sendo entendido apenas como uma extensão da sala de aula, deixando de considerar os princípios da Educação Integral. Assim, na prática, não se efetivando a integração a qual o programa propõe-se a realizar. Numa parte crucial da entrevista, a Coordenadora nos revela que É como o ME fosse oficinas separadas, reforçando assim a nossa ideia de que a integração não se efetua. Tal depoimento nos revela que há uma compreensão quanto à ausência da integração, embora possa identificar-se um desconhecimento ou até simplificação dessa integração, como veremos na questão seguinte. Ao indagarmos sobre as dificuldades para essa integração, a Coordenadora da escola nos relata que Os monitores mudam muito, o que dificulta um desenvolvimento contínuo das atividades. Essas mudanças dos monitores ocorrem devido ao baixo salário recebido pelos mesmos. O governo precisa aumentar a remuneração dos monitores. Apesar de considerarmos relevante a compreensão da coordenadora no sentido de indicar a alta mobilidade de monitores como uma das dificuldades para a integração, o que dificulta, por exemplo, um trabalho contínuo de formação dos mesmos, devemos alertar para o fato de que estes não são servidores efetivos da escola, e portanto, não possuem
5 salários e nem se submetem a um plano de carreira que lhes possam garantir um acompanhamento sistemático do sistema de ensino. Considerações Finais Com o propósito de melhorar a qualidade das escolas públicas, ampliando as oportunidades educacionais das crianças e dos jovens nelas matriculados, o governo federal, através do Programa Mais Educação tem resgatado os ideais escolanovistas trilhando um caminho no qual a perspectiva de uma Educação Integral encontra-se como um dos seus principais desafios. Mas infelizmente, a realidade nos indica que ainda tem muito a caminhar. Na escola investigada, por exemplo, pudemos perceber que ainda há uma enorme fragilidade no entendimento do que sejam os princípios básicos do programa e como este pode articular-se ao PPP e ao currículo da escola. Para tornar mais consistente essa caminhada será necessário que os diferentes sistemas de ensino, sejam federal, municipal ou estadual, possam contribuir de forma mais dinâmica e integrada, proporcionando mudanças estruturais significativas que contemplem, sobretudo, uma organização curricular que se articule efetivamente com a proposta pedagógica de cada escola. Importante considerar o projeto de construção de uma escola nova, diferente, sintonizada a um ideal de uma sociedade mais democrática e mais igualitária com todos os seus partícipes atuantes. REFERÊNCIAS FARIA, Tereza Cristina Leandro. Reflexões sobre a implantação do Programa Mais Educação na rede municipal de ensino do Natal, RN. Quipus. Disponível em: <repositorio.unp.br/index.php/quipus/article/download/58/102> Acessado em 05 de Maio de GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de pesquisa / [organizado por] e coordenado pela Universidade Aberta do Brasil UAB/UFRGS e pelo Curso de Graduação Tecnológica Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural da SEAD/UFRGS. Porto Alegre: Editora da UFRGS, LOPES, Alice Casimiro; MACEDO, Elizabeth. Teorias de currículo - São Paulo: Cortez, PADILHA, Paulo Roberto. Educação Integral e Currículo Intertranscultural. Disponível em:< Educacao_integral_e_curr%EDculo_intertranscultural.pdf> Acessado em 05 de Maio de 2014.
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