42 FUNDOS DE INVESTIMENTO Novembro 2010 T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T
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- Gabriela Cortês Prada
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1 42 FUNDOS DE INVESIMENO ROA DE RESCI Kalinka Iaquinto, do Rio de Janeiro udo começou em Aficionado por joguinhos de celular, o estudante de marketing mineiro Gustavo Caetano percebeu que o mercado para esse produto no Brasil era inexistente, e decidiu explorá-lo. Com o apoio financeiro de um amigo de seu pai e a parceria com uma desenvolvedora de jogos para dispositivos móveis de origem inglesa, ele abriu, em 2004, a Sambatech, com R$ 100 mil. Como trabalhávamos com dinheiro de outros, desde o início buscamos um processo transparente, conta. A prática da boa governança foi recompensada. Em 2007, quando a empresa ampliou seu foco ao desenvolvimento de uma plataforma de internet para distribuição de vídeos, conseguiu obter investimento do FIR Capital, em uma operação de venture capital pela qual a empresa recebeu R$ 4,7 milhões. O resultado? Um crescimento de 300% de 2008 para cá, 50 jovens funcionários o mais
2 FUNDOS DE INVESIMENO 43 velho tem 30 anos e um faturamento líquido de R$ 10 milhões previsto para 2010, e de R$ 18 milhões para Histórias como a de Caetano se repetem cada vez mais no Brasil: empresas inovadoras com potencial de rápido crescimento têm conquistado fundos de investimento em participação (FIPs) capital semente, venture capital e, num terceiro momento, private equities para financiar sua ascensão. E há outra boa notícia envolvendo esse mercado: as negociações se dão em um ambiente no qual não há predomínio de região nem de uma área específica são multissetoriais e multirregionais, atraindo especialmente o interesse de investidores estrangeiros que desviaram seu radar dos Estados Unidos e da Europa em busca de economias mais aquecidas e promissoras. De acordo com o levantamento do Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital (GVCepe), da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), divulgado em abril de 2010, atualmente 140 gestores administram um capital comprometido investido e a investir de US$ 34 bilhões, correspondente a 2,2% do PIB. Nossa estimativa é que, nos próximos cinco ou seis anos, o estoque de investimentos em private equities corresponda a até 3,5% ou 4% do PIB, afirma Claudio Furtado, coordenador do GVCepe. O estudo também indica que esses números já se refletem positivamente na vida dos brasileiros. Até o fim do ano passado, aproximadamente empregos foram gerados no Brasil graças à ajuda dos private equities e venture capital, contra mil na Índia e 800 na China. Levantamento do GVCepe, indica que 140 gestores administram um capital comprometido de US$ 34 bilhões, que corresponde a 2,2% do PIB MENO IMPULSO ÀS EMPRESAS Avanço do capital comprometido em private equity e venture capital no Brasil (US$ bilhões) Fonte: ABVCAP
3 44 FUNDOS DE INVESIMENO PRESENÇA CRESCENE Participação de private equity no total de fusões e aquisições anunciadas no Brasil % % % % (até set.) % Fonte: PriceWaterhouseCoopers A crise econômica, cujo ápice se deu em 2008, não abalou o ânimo dessa indústria no país. Ao contrário, deu um novo impulso ao mercado de fusões e aquisições. Para se ter uma ideia, há quatro anos, os private equities participavam apenas de 11% das fusões e aquisições anuais. Já em 2010, responderam por 43% das 564 transações fechadas até setembro. Houve um crescimento ano após ano graças à presença de private equities capitalizados, fazendo investimentos em diversos setores com oportunidades de crescimento, diz Alexandre Pierantoni, sócio da PriceWatherhouseCoopers (PWC). E os números não param aí. O levantamento GVCepe ainda mostra que, de 2004 a fevereiro deste ano, 118 ofertas públicas de abertura de capital foram levadas ao mercado, o correspondente a R$ 113 bilhões. Desse total, 41 empresas eram de carteiras de gestores de PE&VC, o que representou R$ 28,4 bilhões. Energizante O empresário Marcus Regueira, da FIR Capital, gestora de um dos fundos apoiados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da qual a Sambatech faz parte, soma um item à atratividade dessa indústria: o fato de o país se apresentar como um ambiente extremamente adequado para investimentos de longo prazo, característica dos private equity e venture capital (PE&VC), que demandam, em geral, de 8 a 10 anos entre o investimento inicial e a venda. Junte-se a isso, segundo o empresário, o fato de os mercados da China e da Índia, principais destinos de investimentos de PE&VC há alguns anos, estarem inflados e muito competitivos. O Brasil tem economia e democracia equilibradas e necessidade de investimentos com preços atraentes de entrada. Além disso, tem uma bolsa de valores adequada, e o que esses investimentos procuram é abrir capital, diz Regueira. Na avaliação de Álvaro Gonçalves, sócio e fundador do Grupo Stratus, que atua junto à Finep, os PE&VC têm papel específico no ecossistema do mercado de capitais: atuam como depurador e energizador. É um abastecedor de células empresariais de grande sucesso, diz. Os mercados de capitais em que essa indústria funciona de forma relevante tendem a ter nível de depuração maior; são mais saudáveis, menos concentrados. Para o empresário, a tendência do Brasil é ter uma quantidade maior de empresas abrindo seu capital e transacionando ações na bolsa de valores. Na Índia, uma economia menor que a brasileira, existem cerca de sete mil empresas de capital aberto, contra cerca de 500 no Brasil. emos a menor bolsa dos mercados emergentes, seja porque ficamos muito tempo com altas taxas de juros, ou pela cultura de décadas em renda fixa. Além disso, o empresário médio brasileiro acha que emitir ações em bolsa é para empresas gigantescas, avalia. Atração O fato é que a indústria de PE&VC no Brasil tem atraído a atenção lá fora, ainda que seu capital comprometido seja concentrado por investidores domésticos, que representam 60,49%,
4 FUNDOS DE INVESIMENO 45 segundo o estudo da GVCepe. A indústria capta muitos recursos junto a investidores institucionais, tais como os fundos de pensão, que têm deixado de investir em CDIs para alocar mais recursos nos fundos de private equity e venture capital, diz Cláudio Furtado. Para Sidney Chameh, presidente da Associação Brasileira de Private Equaty & Venture Capital (ABVCAP), agora é necessário atrair fundos de pensão menores para esse mercado, aumentando seu poder de ação. Entre o total de investimentos comprometidos (2,2% do PIB) e realizados, ainda há uma diferença marcante: os já efetivados representam somente 0,2% do PIB brasileiro. Nos Estados Unidos, onde a indústria existe há pelo menos 30 anos, esse número é naturalmente bem mais alto: 1,4%. Em países emergentes como Índia e China, os números são 0,81% e 0,21%, respectivamente. Ou seja, há espaço para crescer já que a maior parte dos recursos de PE&VC ainda está estocada. Além disso, o Brasil segue uma tendência mundial de ampliar o leque das carteiras dos fundos. Setores considerados tradicionais como a construção civil e o imobiliário já flertam com os PE&VC. Ambos respondem por 13% dos negócios, seguidos por indústrias diversas (19%), varejo (5%), alimentos e bebidas (4%), informática e eletrônica (13%), agronegócio (6%), energia (7%), comunicação e mídia (8%) e biotecnologia (4%). Volatilidade Apesar do otimismo da indústria de PE&VC aqui, o fato de o Brasil ter um câmbio volátil é apontado como AJUDA OFICIAL O desenvolvimento dos PE&VC no Brasil também pode ser atribuído à ajuda de recursos de órgãos estatais, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e ecnologia, junto a empresas e demais fundos. Em 1996, o BNDES começou a operar com PE&VC e hoje tem um papel mais forte em venture capital, estágio intermediário entre a necessidade de capital semente (início da operação) e private equity (para potencializar a venda ou entrada da empresa na bolsa). O estudo do GVCepe mostra que, no geral, o volume comprometido em capital semente e venture capital é baixo. Em 2009, foi de aproximadamente US$ 2,1 bilhões para este ano a previsão é de US$ 2,5 bilhões. O BNDES tem em seu portfólio 40 projetos de PE&VC, nas mais variadas áreas como infraestrutura, energia, educação, agronegócio e meio ambiente. São 158 empresas aprovadas cujo patrimônio comprometido é de R$ 4,64 bilhões, sendo que R$ 976 milhões cabem ao BNDES e o restante a investidores parceiros. No que diz respeito ao foco dos fundos, inovação é o carro-chefe de 34% deles, seguido por infraestrutura (27%) e governança (15%). Em termos da distribuição do patrimônio líquido, a área de infraestrutura é a mais beneficiada: responde por 57% dos projetos do portfólio do BNDES. Na avaliação de Eduardo Sá, chefe do Departamento de Investimento em Fundos do BNDES, ainda é preciso investir mais nas empresas nascentes via investidores anjos, executivos de sucesso que procuram novos negócios para aplicar capital e experiência. Esse ambiente que buscamos promover deve acontecer com o tempo, à medida que crescer o empreendedorismo no Brasil com retorno e sucesso, a exemplo do que ocorre em outros países. É uma mudança cultural, pondera. Essa mudança de visão e entendimento do empreendedorismo no Brasil também foi percebida pela Finep. Em 2000, a financiadora inaugurou o Programa Inovar, que já está na segunda etapa e apoia empresas inovadoras por meio de operações de venture capital. Depois, em 2006, lançou o Inovar Semente, voltado a empresas inovadoras, mas que estão em estágio embrionário. Patrícia Freitas, superintendente da área de investimentos da Finep, avalia que os objetivos estão sendo alcançados: Hoje, os empresários já têm um conhecimento prévio e sabem o que é ter um investidor e um gestor aliados a seus negócios. Atualmente, a Finep tem 25 fundos aprovados 13 de venture capital, sete de capital semente e cinco de private equity, dos quais 18 estão em operação, com 70 empresas investidas. O volume total dos fundos é de R$ 3,5 bilhões sendo o comprometimento da Finep de R$ 335 milhões. Do portfólio da financiadora, as ações de private equity respondem por 43%, venture capital, 42%, e seed capital, 15%. Para a Finep, o governo já fez a sua parte no que diz respeito a private equities. Acreditamos que a indústria de private não precisa do apoio da Finep de forma alguma, já temos muita coisa sendo feita. Mas, sem dúvida, ainda existe uma lacuna muito grande no estágio inicial, em capital semente e venture capital.
5 46 FUNDOS DE INVESIMENO MAIORIA BRASILEIRA Origem do capital comprometido em ,5% Brasil O câmbio volátil é apontado como empecilho a investimentos em longo prazo, preocupação crescente diante dos rumores de guerra cambial América Latina 0,5% Europa 6,9% Ásia 1,2% Inglaterra 1,8% 1,1% 2,4% Outros empecilho para investimentos em longo prazo, preocupação que cresce frente a rumores de guerra cambial. Para a indústria de PE&VC funcionar bem é necessário um ambiente estável, cenário raro nos últimos meses, reclama o setor. Some-se a isso a repentina decisão do governo de elevar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) como forma de equilibrar o câmbio. O problema é que o governo incluiu o PE&VC entre os fatores que podem vir a causar instabilidade do câmbio. No momento, não era possível fazer exceção, mas não há um centavo de private equity em renda fixa. Private equity investe na produtividade do país, ajuda a fixar a base industrial aqui, diz Gonçalves. O sócio e fundador da Stratus prega a isenção da indústria de PE&VC. E não está sozinho. O IOF é uma variável extremamente negativa no processo. O fluxo de receita de private equity diante do PIB não é nada que possa afetar Oriente Médio 25,6% EUA Fonte: FGV/GVCepe significativamente a taxa de câmbio, avalia Marcus Regueira. Não se pode ter de um lado a gente fazendo um esforço grande de atração de investimento privado e de investidores internacionais, e, de outro, elevar o IOF para o investidor internacional que vai ficar 10 anos nesses fundos. É o Estado tendo dois papéis, completa Patrícia Freitas. Apesar de todos os desafios, quando se fala sobre o futuro de PE&VC, tem-se quase uma unanimidade: o mercado crescerá por aqui nos próximos anos, assim como devem ser ampliadas as formas de fundos e suas áreas de atuação. Nesse contexto, os fundos de fundos, que permitem o acesso a carteiras de outros fundos de investimentos, apresentam-se como uma alternativa, o que torna o mercado mais acessível a investidores menores e interessados em diversificar suas carteiras de ativos.
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