INTERDISCIPLINARIDADE E O ENSINO DE HISTÓRIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O PROJETO: DIÁLOGOS ÉTNICOS CULTURAIS: OS POVOS FORMADORES NO CONTEXTO LOCAL
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- Andreia da Conceição Marroquim
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1 INTERDISCIPLINARIDADE E O ENSINO DE HISTÓRIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O PROJETO: DIÁLOGOS ÉTNICOS CULTURAIS: OS POVOS FORMADORES NO CONTEXTO LOCAL INGRID DE ARAÚJO GOMES¹ A forma com que a história de determinado local é construída diz muito sobre como a sociedade se comporta em relação a valores culturais e identitários, e em nosso país não poderia ser diferente. O Brasil fora brutalmente colonizado e teve como consequencia sua história documentada apenas na perspectiva do colonizador europeu, com o enaltecimento da raça branca pura e civilizada - e de sua classe social, traçando assim um processo de refutação da possibilidade de construção de uma identidade nacional. A consequência disso no interior das instituições de ensino, principalmente nos anos iniciais e médio, é de extrema negligência no que diz respeito a uma abordagem as diferenças e valores culturais e civilizatórios africanos, afrodescendentes e indígenas em nossa sociedade, fortalecendo dessa forma o racismo e a não aceitação do outro. Para desconstruir esse cenário é necessário que os preconceitos, tabus e discriminações sejam diagnosticados, percebidos, revelados e devassados dentro da sala de aula, para que no confronto com o Conhecimento e a Ética esses flagelos sociais sejam eliminados. A escola deve assumir sua responsabilidade política e social enquanto espaço de aprendizagem e construção de conhecimento, estimulando nos discentes uma consciência crítica, que possibilite ações e atitudes positivas no tocante às questões étnico-culturais. Como preceitua o artigo 35 da LDB 9.394/1996, a educação básica deve ser responsável pela formação geral do aluno, na qual o conhecimento escolar possa estimular o desenvolvimento das capacidades de pesquisar, raciocinar, argumentar, criar e aprender continuamente. Deve prover um processo de ensino-aprendizagem contextualizado e integrado, o qual evite o acúmulo de informações e o simples exercício de memorização. Assim, o trabalho pedagógico pautado em projetos dialoga com essa prerrogativa de ensino ¹Graduanda em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz e bolsista pelo PIBID no Colégio Estadual de Salobrinho.
2 contextualizado, ainda mais quando aborda a temática local com sua correlação com o nacional. No que tange a temática étnica, a lei brasileira orienta as escolas a ensinarem e promoverem os temas relativos aos processos migratórios nos currículos escolares. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) contemplam a questão da pluralidade cultural dentro dos temas transversais a serem trabalhados com os estudantes, sobretudo pela composição do nosso povo e da influência na nossa cultura. A saber: A diversidade marca a vida social brasileira. Diferentes características regionais e manifestações de cosmologias ordenam de maneiras diferenciadas a apreensão do mundo, a organização social nos grupos e regiões, os modos de relação com a natureza, a vivência do sagrado e sua relação com o profano. O campo e a cidade propiciam às suas populações vivências e respostas culturais diversas, que implicam ritmos de vida, ensinamentos de valores e formas de solidariedade distintas. Os processos migratórios colocam em contato grupos sociais com diferenças de fala, de costumes, de valores, de projetos de vida. (BRASIL, 1997, p. 125). A nossa história enquanto povo multicultural ecoa em todos os cantos do nosso bairro, da nossa cidade, do nosso estado e do nosso país. Assim, para contemplar esse caldeirão cultural, superando os preconceitos, várias tentativas foram e são empreendidas a fim de mitigar esse problema. De modo peremptório e em termos de reparação a lei federal nº , de 10 de março de 2008, que normatiza a obrigatoriedade do ensino de cultura indígena e afro-brasileira nas escolas brasileiras, diz: Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afrobrasileira. 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
3 Soma-se a essa medida legal os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que estabelecem que a diversidade cultural do país deve ser trabalhada no âmbito escolar. Pois, de acordo com essa orientação legal, vivemos em uma sociedade que valoriza o estereótipo eurocêntrico, o que resulta no processo de negação e invisibilização das demais etnias. É possível então perceber a necessidade de um trabalho constante desde o ensino fundamental até o ensino médio, proporcionando debates constantes, momentos de reflexão e valorização das diversas matrizes formativas do nosso povo, compreendendo sua importância no diálogo e na convivência harmônica com a diversidade. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é relatar a experiência do PIBID Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, em um projeto específico do Colégio Estadual de Salobrinho localizado no bairro Salobrinho, município de Ilhéus-BA, no ano de A perspectiva do projeto é trazer a discussão da temática da pluralidade étnico-cultural para a sala de aula, trabalhando a questão do respeito à individualidade, com o resgate histórico das civilizações, as realidades étnicas locais e com a própria constituição de povo brasileiro. O projeto foi realizado nos meses de outubro e novembro do ano supracitado com alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio, de acordo com a perspectiva interdisciplinar, que segundo Raposo e Oliveira (2014, p. 37) constituem-se como um diálogo capaz de minimizar a fragmentação do conhecimento, evitando que ele seja entendido como um conjunto de ideias dissociadas e sem relação com a vida social concreta. O mesmo fora desenvolvido em momentos e em tempos educativos destinado para esse propósito, ou seja, a aula. Nelas foram empreendidas e desenvolvidas atividades de leitura, reflexão, discussão e construção de materiais, pesquisa bibliográfica, discussões orientadas, debates e exposição de dados. Todo esse trabalho culminou em um grande evento, onde aconteceu palestras, oficinas, apresentações teatrais, apresentação de grupos de dança, reflexões através de músicas, documentários, produção de materiais diversos e trabalhos com cultura material e imaterial. Segue abaixo imagens de algumas apresentações dos estudantes, onde os mesmos buscaram trazer elementos essenciais de cada etnia abordada.
4 Figura 1 Apresentação dos estudantes do 2º ano EM sobre religiões de matrizes africanas. Fonte: Arquivo pessoal 03/11/2016 Figura 2 Apresentação dos estudantes do 1º ano do EM sobre cultura indígena Fonte: Arquivo pessoal 03/11/2016
5 Figura 3 Apresentação das estudantes do 1º ano EM sobre religiões de matrizes africanas Fonte: Arquivo pessoal 03/11/2016 A avaliação aconteceu de forma contínua, processual e diagnóstica, com a intenção primordial de rever a própria prática discente criada através das novas possibilidades planejadas para estimular os alunos a desenvolverem suas potencialidades. Levando em consideração, principalmente, os avanços individuais dentro da coletividade e a participação no desenvolvimento de todas as atividades (de acordo com as peculiaridades de cada aluno) no decorrer do projeto. Após a finalização do projeto, foi possivel obter como resultado um processo essencial de vivência das questões étnico-culturais no Salobrinho, no Sul da Bahia e no Brasil, a partir das discussões orientadas e propostas interdisciplinares realizadas sobre o tema. Além disso, foi possível perceber o reconhecimento por parte dos estudantes sobre a relevância do tema dentro das práticas sociais e históricas, bem como a importância do respeito à diversidade cultural e ao convívio social com a diferença. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em conformidade com as legislações vigentes e normativas educacionais, esse projeto atinge diretamente dois temas que são relevantes pra os alunos em seu processo de formação
6 como sujeito: a Pluralidade Cultural e a Ética (respeito, justiça, consciência e diálogo). Dessa forma, abarcando a questão histórica e social, ao tratar da materialidade histórica dos povos formadores no contexto local e nacional. O desafio de ensinar e conscientizar é nosso. É preciso criar estratégias para o direcionamento da ação docente e que essa possa promover a reconstrução e a ressignificação das práticas, conceitos, contextos e métodos que auxiliem no processo de ensino. Como forma de expressão de resistência às ideologias que marcaram e marcam nosso processo identitário, existe a manifestação de luta por meio da informação, através da qual se pretende sensibilizar e conscientizar a comunidade escolar acerca do respeito às diferenças existentes nos grupos étnicos. Ação esta que está engajada no fortalecimento do compromisso escolar, com a defesa da construção de uma sociedade mais igualitária. Tão somente com o trabalho significativo e interdisciplinar, dialogando e buscando soluções, é que poderemos construir e redimensionar a concepção de sociedade que acreditamos.
7 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n /96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Rio de Janeiro: DP & A BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais. Ministério da Educação e do Desporto/Secretaria de Educação Fundamental, BRASIL. Lei nº , de 10 de março de Disponível em: Acessado em: 18/07/2017 ELIA, M.F., SAMPAIO, F.F. Uma proposta de Pesquisa-Ação a Distância para professores. Anais do XII Simpósio Brasileiro de Informática na Educaçãoo, , RAPOSO, Mirian Barbosa Tavares & OLIVEIRA, Mária Cláudia Santos. O currículo no Ensino Médio. Brasília: Cadernos CEAD, UNB, REIS, João José e SILVA, Eduardo. Negociação e Conflito: A resistência negra no Brasil escravista. Editora Cia das Letras, SCHWATZ, Stuart B. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial (trad. Port.) São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
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