A LITERATURA INFANTIL E O JOGO NA SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAL: UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA
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- Geovane Rico Fialho
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1 A LITERATURA INFANTIL E O JOGO NA SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAL: UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA Resumo Keula Maqueli Closs 1 -UFSM Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento A educação das pessoas com deficiência passaram por diversos cenários, sendo um deles somente a possibilidade de ter o acesso a educação nas escolas especiais. No entanto, através do paradigma da inclusão, os alunos passam a ter o direito a frequentar as escolas regulares de ensino. Nesse sentido, inclui-se na escola a sala de recursos multifuncional em que ocorre o Atendimento Educacional Especializado. Portanto, o objetivo deste trabalho é investigar os benefícios do uso da literatura infantil e do jogo na prática dos atendimentos, bem como a forma com que essa prática reflete na sala regular dos alunos em uma escola de Ensino Fundamental no município de médio porte, do Rio Grande do Sul. Essa prática de atendimento, através dessa metologia, ocorre somente para alguns alunos, de acordo com os critérios da professora. Sendo assim, a partir desta, pode-se perceber os benefícios tais como: possibilitar momentos de incentivo a leitura, bem como a interação com o educador através dos jogos que são trabalhados após cada história. Além disso, entende-se que essa prática proporciona aprendizagens importantes para o mundo letrado, bem como desenvolvem a imaginação, memória, atenção, concentração, nos momentos de leitura e principalmente nos momentos em que os alunos estão jogando. Além do mais, algumas literaturas infantis trabalhadas não ficam restritas ao atendimento educacional especializado, os alunos, muitas vezes, fazem a leitura para seus colegas e mostram as atividades que foram desenvolvidas no atendimento. Palavras-chave: Sala de Recursos Multifuncional. Literatura Infantil. Jogos Introdução A educação das pessoas com deficiência tem um longo caminho histórico na busca por espaços democráticos. Na antiguidade, os deficientes eram mortos ou então segregados dentro das suas casas. 1 Educadora Especial. Formada pela Universidade Federal de Santa Maria. Professora Estadual de uma Sala de Recursos Multifuncional. Pós-graduada em Gestão Educacional(Universidade Federal de Santa Maria). Pósgraduanda em Ações em Estimulação Precoce(Centro Universitário Univates). keula_closs@hotmail.com ISSN
2 28684 Nesse sentido, adentra-se no campo das políticas sociais e educacionais visando a melhoria da qualidade de vida a essas pessoas e de sua inclusão na sociedade. Em 1988, a Constituição Brasileira indica através de seu artigo 205 que a educação é um direito de todos. No entanto, mais adiante, no artigo 208 faz menção à educação especial: O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de: III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. Passa-se, então, a ter um novo olhar sobre a inclusão escolar, como um direito conquistado, o que permite que o aluno tenha um apoio especializado frente as suas dificuldades, garantindo-lhe o acesso às salas de aula regulares. Assim, dentro das escolas regulares ocorrem o Atendimento Educacional Especializado, dentro das Sala de Recursos Multifuncionais. Os atendimentos ocorrem semanalmente, no turno inverso, para os alunos alvos da Educação Especial (com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e com altas habilidades/superdotação). Portanto, este trabalho surge de uma prática pedagógica exercida durante o Atendimento Educacional Especializado. Neste sentido, a professora responsável pelo atendimento organiza os planejamentos de acordo com as potencialidades e necessidades de cada aluno. Uma metodologia muito utilizada durante os atendimentos é o uso da literatura infantil e em seguida os jogos produzidos a partir de cada literatura. Sendo assim, busca-se como objetivo do trabalho investigar os benefícios do uso da literatura infantil e do jogo na prática dos atendimentos, bem como a forma com que essa prática refletirá na sala regular dos alunos. Sala de recursos multifuncional Com a busca de efetivar uma escola inclusiva, e para que isso se torne realidade, conta-se com o apoio de um espaço ímpar dentro das instituições: a Sala de Recursos Multifuncional, onde é oferecido o Atendimento Educacional Especializado (AEE) ao público alvo da educação especial. Segundo a Política Nacional de Educação Especial, na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008, p.15), esse atendimento educacional especializado tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminam as barreiras para plena participação dos alunos considerando suas necessidades específicas.
3 28685 Além disso, Lieberman (2003) considera que se deve olhar para além dos conteúdos acadêmicos, olhar para o aluno como entidade individual. E ainda, olhar para as necessidades e a possibilidade de intervenção através de um conjunto diferenciado de posições que, geralmente, não está disponível nos meios das classes regulares. O profissional responsável em atuar neste espaço, deve ter como base na sua formação inicial e continuada, conhecimentos gerais e específicos na área para exercer tal função. Além disso, o professor deve ter comprometimento com a tarefa e perceber a diferença que faz na vida dos seus alunos, a partir desta prática diferenciada dentro da escola. De acordo com o Conselho Nacional de Educação, por meio da Resolução CNE/CEB nº 4/2009, em que estabelece as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado (AEE) na Educação Básica Art. 5º O AEE é realizado, prioritariamente, nas salas de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra de ensino regular, no turno inverso da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado, em centro de atendimento educacional especializado de instituição especializada da rede pública ou de instituição especializada comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com a secretaria de educação ou órgão equivalente dos estados, do Distrito Federal ou dos municípios. Nesse sentido, sabe-se que a Sala de Recursos Multifuncional é formada e composta por diversos recursos, jogos e materiais que são disponibilizados pelo Ministério da Educação (MEC), que favorecem e contribuem no desenvolvimento e aprendizagem do alunado atendido. Portanto, a Sala de Recursos Multifuncional deve ser um espaço: [...] dotados de equipamentos, recursos de acessibilidade e materiais pedagógicos que auxiliam na promoção da escolarização, eliminando barreiras que impedem a plena participação dos alunos público alvo da educação especial, com autonomia e independência, no ambiente educacional e social.(manual DE ORIENTAÇÃO: PROGRAMA DE IMPLANTAÇÃO DE SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS,2010,p.6) Neste viés, Montoan (2003) dialoga sobre as constantes mudanças vigentes no campo educacional e reflete que se está sempre seguindo paradigmas; aborda que as questões burocráticas, com as quais a escola está excessivamente presa, tornam-se uma barreira para que flua e atinja a todos os alunos sem preconceitos, tornando a inclusão um processo natural, sem qualquer distinção cultural, social, étnico ou religioso. Em relação à implantação das Salas de Recursos Multifuncionais, uma das estratégias
4 28686 do Plano Nacional da Educação 2, o governo federal disponibiliza o Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais, a fim de consolidar um sistema educacional inclusivo e assim possibilitar uma educação de qualidade. De acordo com o MEC (2006), estas salas são organizadas com materiais didáticos, pedagógicos, equipamentos e profissionais com formação para o atendimento às necessidades educacionais especiais. (p.14) No entanto, devese ter consciência que não basta somente ter este espaço dentro da instituição e pensar que esta escola é inclusiva. A Sala de Recursos Multifuncional é um espaço que agrega e contribui no processo de inclusão, mas não é somente este espaço e profissional que deve ser considerado primordial na escola, mas sim, todos os envolvidos neste contexto escolar. Deste modo, a Sala de Recursos Multifuncional não pode ser vista com um espaço aquém da escola, mas como espaço que contribui e vem a favorecer a educação inclusiva. Pensar que a Sala de Recursos Multifuncional é um local em que realiza reforço escolar é não saber a real função deste lugar na escola. Esta sala foi criada para desenvolver atividades diferenciadas e para possibilitar ações, através dos professores lá atuantes, que contribuem na prática na sala de aula regular. A partir disso, percebe-se a importância de criar espaços em que possa haver essas trocas entre os professores que atuam com este mesmo aluno, pensar e planejar juntos um plano individual do aluno. A literatura infantil e o jogo no aee A literatura infantil caracteriza-se por ser um texto literário, destinado ao público infantil. Sendo assim, este contato com o livro deverá ser proporcionado sempre que possível, pois através dele, a criança poderá estar frente ao mundo letrado, imagens e o mais importante, com o imaginário. Sendo assim, na presente proposta pedagógica a literatura infantil foi trazida como uma ferramenta facilitadora no processo de aprendizagem, a fim de que o aluno possa construir seu conhecimento a partir do contato com este instrumento. Desse modo, Duarte (2007) afirma: Ler e ensinar literatura infantil será, assim, valorizar e incentivar a degustação e o prazer do texto, perceber o que é, nele, textual e literário, isto é, como o texto toca e emociona o leitor, mexendo com o seu imaginário e tornando prazerosa a leitura, através do uso estético da língua. ( p.18) 2 O Plano Nacional de Educação, Lei nº de 25 de junho de 2014, é constituído por 20 metas, sendo a meta 4 referente à Educação Especial. Neste viés, a meta quatro, constitui-se de 19 estratégias, sendo a estratégia 4.3 responsável pela sala de recursos multifuncional.
5 28687 Após o conto do livro, há momentos de diálogo, questiona-se o enredo, fazendo com que o aluno possa entender e compreender a história. Em relação ao momento de leitura das histórias, Abramovich (1995) afirma: Ler histórias para crianças, sempre, sempre... É poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelas personagens(...) É também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras ideias para solucionar questões [...].( p.17) Portanto, é importante esse momento da leitura da história para com o aluno, uma vez que a partir disto o aluno é convidado e intimado a conhecer e compreender o mundo letrado. Além disso, desta experiência com a escrita, presente no livro, ele é ainda convidado a viajar no mundo da imaginação. A literatura infantil, a partir do olhar de Cunha (1974), [...]influi e quer influir em todos os aspectos da educação do aluno. Assim, nas três áreas vitais do homem (atividade, inteligência, e afetividade), em que a educação deve promover mudanças de comportamento, a literatura infantil tem meios de atuar. (p.45) Corroborando com a autora, considera-se relevante trazer para a prática nos atendimentos esse instrumento, uma vez que através da literatura pode-se atuar para que ocorra a aprendizagem do aluno, utilizando desta ainda para a criação de jogos, os quais são utilizados nos momentos lúdicos. Nesse sentido, durante os atendimentos, há os momentos lúdicos, os quais são realizados a partir de cada leitura. Há vários jogos que foram construídos a partir das literaturas infantis, tais como: Lince e Trilha (Livro do Lino), Jogo de Memória (Livro do Sanduíche da dona Maricota e João e o Pé de Feijão), O boneco Marcelo que passeou nas casas dos alunos, construindo novas palavras (Marcelo, Marmelo, Martelo). Assim, Antunes (1998) afirma que: [ ] o jogo somente tem validade se usado na hora certa e essa hora é determinada pelo seu caráter desafiador, pelo interesse do aluno e pelo objetivo proposto.jamais deve ser introduzido antes que o aluno revele maturidade para superar seu desafio e nunca quando o aluno revelar cansaço pela atividade ou tédio por seus resultados.( p. 40) Com base nisso, buscava trazer os jogos nos atendimentos com uma forma de desafiar o aluno a fim de que ele possa aprender. Nesse sentido, joga-se juntamente com o aluno, mediando este durante a atividade e proporcionando um momento do atendimento mais tranquilo, onde este pudesse aprender brincando. Assim, Vygotsky (1984) e sua teoria sócio-
6 28688 interacionista, prioriza a interação como forma de aprendizado, sendo que através desta interação com o jogo o aluno irá ter contato com a aprendizagem de uma maneira mais lúdica, facilitando e contribuindo assim no seu processo de aprendizagem, e consequentemente no seu desenvolvimento. O jogo, segundo Ide (2006): [...] possibilita à criança com deficiência mental aprender de acordo com o seu ritmo e suas capacidades. Há um aprendizado significativo associado à satisfação e ao êxito, sendo este a origem da auto-estima[,..] O uso do jogo também possibilita melhor interação da criança deficiente mental com os seus coetâneos normais e com o mediador. (p.96) Desse modo, conforme a autora menciona, através do jogo que é proposto nos atendimentos, produzidos através das literaturas infantis trabalhadas, pode-se haver uma maior interação do educando com o educador, contribuindo assim para o vínculo, o qual é preciso para realizar a prática. Considerações finais A pesquisa teve como objetivo investigar os benefícios do uso da literatura infantil e do jogo na prática dos atendimentos, bem como a forma com que essa prática reflete na sala regular dos alunos em uma escola de Ensino Fundamental no município de médio porte, do Rio Grande do Sul. Deste modo, diante da pesquisa e dos resultados, percebeu-se que através desta prática a educadora especial possibilita momentos de incentivo a leitura, bem como ocorre uma interação com o educador através dos jogos que são trabalhados após cada história. Assim, entende-se esse tipo de atendimento possibilita aprendizagens importantes para o mundo letrado, bem como desenvolvem a imaginação, memória, atenção, concentração, nos momentos de leitura e principalmente nos momentos em que os alunos estão jogando. Além do mais, algumas literaturas infantis trabalhadas não ficam restritas ao atendimento educacional especializado, os alunos, muitas vezes, fazem a leitura para seus colegas e mostra a atividade desenvolvida no atendimento. Portanto, acredita-se que essa prática estimulará seu imaginário, incentivará a socialização com as demais pessoas, desenvolve seu raciocínio lógico, autonomia do pensamento e que possibilitem a criação de estratégias na solução de situações problemas, melhor serão seus ganhos cognitivos.
7 28689 Como recurso facilitador desse processo, surge o jogo, instrumento que garantirá a aprendizagem do aluno através do prazer, da motivação e do interesse. O momento das brincadeiras e jogos é muito rico em descobertas, em troca de experiências e tomada de decisões, fazendo com que o aluno aprenda sem perceber. REFERÊNCIAS ABRAMOVICH,F. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 5.ed. São Paulo: Scipione, ANTUNES, Celso. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. 8. ed. Petrópolis: Vozes, BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Resolução CNE/CEB nº 4, de 2 de outubro de Institui diretrizes operacionais para o atendimento educacional especializado na educação básica, modalidade educação especial. Diário Oficial da União, Brasília, 5 de out Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva Acesso 14 de julho de Disponível em: < MEC/SEESP. Manual de orientações: Programa de Implantação de Sala de Recursos Multifuncional Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Salas de Recursos Multifuncionais: espaço para atendimento educação especializado. Brasília: CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Como Ensinar Literatura Infantil. São Paulo: Editora Bernardo Álvares, DUARTE, L. Literatura infantil e humor: o exemplo de Bartolomeu Campos de Queirós. In: Suplemento: literatura infanto-juvenil. Secretária de estado de cultura de Minas Gerais, Belo Horizonte, IDE, Sahda Marta. O jogo e o fracasso escolar. In: KISHIMOTO, T.M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, LIEBERMAN, L.M. Preservar a Educação Especial para aqueles que dela necessitam. In: CORREIA, L. de M.(org.). Educação Especial e inclusão: quem disser que uma sobrevive sem a outra não está no seu perfeito juízo. Porto Editora, Porto Portugal, (ColeçãoEducação Especial V. 13). MONTOAN, Maria T. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer?. São Paulo: Moderna, 2003.
8 28690 VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. 6ª edição. Trad. José Cipolla Neto, Luis S. M. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
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