FORMAÇÃO DE DOCENTES E BRINQUEDOTECA: UM PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA FORMAÇÃO LÚDICA À PRÁTICA COM A EDUCAÇÃO ESPECIAL
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- Irene Vilalobos Neves
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1 FORMAÇÃO DE DOCENTES E BRINQUEDOTECA: UM PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA FORMAÇÃO LÚDICA À PRÁTICA COM A EDUCAÇÃO ESPECIAL Resumo Maria Cristina Trois Dorneles Rau 1 - IEPPEP - SEED PR Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento A brinquedoteca do Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto (IEPPEP) foi criada como um espaço de formação de docentes em Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental na área da ludicidade. Desta forma, esse relato de experiência descreveu o processo de formação dos alunos de uma turma do curso, professores em formação, que participaram de cinco oficinas de Brinquedoteca com duração de quatro horas-aula cada uma, durante quatro semestres, entre os anos 2013 e As oficinas foram desenvolvidas no sentido de construir o conhecimento sobre a importância do brincar no processo de desenvolvimento e aprendizagem no contexto escolar, considerando o ensino regular e a inclusão. A articulação entre a teoria e a prática partiu da problematização sobre questões que envolvem o resgate da infância e a sua relação com a prática pedagógica dos jogos e das brincadeiras considerando os saberes necessários ao professor como mediador da prática lúdica. Neste sentido, foram abordados conceitos, histórico, objetivos, referencial teórico e vivências lúdicas nas três primeiras oficinas. A quarta e a quinta oficinas foram desenvolvidas para a prática lúdica com a Educação Especial. O trabalho consistiu no estudo e planejamento de práticas lúdicas, termo definido pela professora brinquedista para nomear as atividades desenvolvidas nas oficinas que apresentassem um perfil diverso ao das aulas com conteúdos curriculares desenvolvidos a partir de métodos e recursos didáticos tradicionais. O resultado desse trabalho foi percebido a partir das reflexões dos professores em formação ao apontar a relevância do planejamento, da confecção de brinquedos, da organização do espaço e da relação professor brinquedista e o brincar na educação escolar. Palavras-chave: Brinquedoteca. Formação Docente. Prática pedagógica. Educação Especial. 1 Mestre em Educação Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Pós-Graduação em Educação Especial Inclusiva, Metodologia de Ensino da Educação Básica, Psicopedagogia: Clínica e Institucional Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão (IBPEX). Licenciatura Plena em Educação Física Universidade Católica de Brasília (UCB). Professora da Rede Estadual do Paraná (SEED-PR): Serviço de Atendimento à Rede de Escolarização Hospitalar (SAREH), Professora Brinquedista do Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto (IEPPEP). Professora do Curso de Pedagogia da Faculdade Bagozzi. mcris_trois@hotmail.com. ISSN
2 24654 Introdução Esse relato de experiência teve como objetivo descrever a prática pedagógica da ludicidade desenvolvida no Curso de Formação de Docentes em Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental do Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto (IEPPEP) na modalidade subsequente, a partir de um projeto que abordou a Brinquedoteca. Os conteúdos das oficinas de formação docente na ludicidade foram pensados a partir do estudo teórico e prático sobre a Brinquedoteca, mediado pela professora brinquedista. Nesse sentido, no primeiro período do curso, a oficina abordou a Brinquedoteca em seu contexto histórico e as funções; lúdica e educativa do brincar. A oficina do segundo período destacou as diferentes formas de brincar, a organização e o funcionamento da Brinquedoteca no contexto escolar. O conhecimento dos diferentes tipos de Brinquedoteca, a reflexão sobre a formação do brinquedista e a mediação nos diferentes espaços lúdicos foi o conteúdo da terceira oficina. Finalmente, os jogos, brinquedos e brincadeiras quanto ao sistema de classificação e como recursos pedagógicos para a Educação Especial foram os conteúdos que fundamentaram as oficinas de práticas lúdicas com os professores em formação do quarto período do curso para os alunos com necessidades especiais. Nessa perspectiva, a brinquedoteca, criada para atender à formação docente na área da ludicidade como recurso pedagógico, veio ao encontro da necessidade de uma prática pedagógica diferenciada para crianças com necessidades especiais do IEPPEP. Vale ressaltar que o estudo sobre a Educação Especial ocorreu no primeiro e segundo períodos do curso com a disciplina Concepções Norteadores da Educação Especial, o que facilitou o diálogo nas oficinas. Assim, a partir de conteúdos lúdicos foram organizados o planejamento e a realização de oficinas lúdicas para alunos de uma turma de Educação Especial. Para o entendimento do contexto da Brinquedoteca na formação de docentes serão descritas de maneira sucinta as oficinas dos três primeiros períodos, e de forma mais detalhada as duas oficinas do quarto período, já que estas proporcionaram a reflexão sobre o processo da formação lúdica de professores desse relato de experiência.
3 24655 A Brinquedoteca do IEPPEP e a formação de docentes em Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. As oficinas de formação partiram da problematização da ludicidade e a sua relação com a educação escolar, voltando-se a uma análise da sua dimensão teórica e prática para a superação dos métodos tradicionais de ensino. Nesse sentido, a atuação dos professores em formação na brinquedoteca possibilitou pensar de forma contrária a segregação de alunos no ensino regular e com necessidades especiais. Considerar a Brinquedoteca nessa perspectiva formativa contribuiu na humanização dos professores e alunos na prática pedagógica na Educação Especial. Brinquedoteca: A Ludicidade nas Funções Lúdica e Educativa A primeira oficina de formação em prática lúdica na Brinquedoteca iniciou com a recepção das alunas pela professora brinquedista estimulando a curiosidade sobre a organização do espaço e do ambiente. Assim, foi estabelecido um diálogo sobre o resgate da infância a partir da escolha de um brinquedo. Surgiram algumas experiências interessantes, como o brincar de casinha, a construção de brinquedos e a expressão de papéis sociais. Nesse momento, foram citadas reflexões sobre a atualidade lúdica das crianças, nas quais as alunas relacionaram observações dos seus primeiros diagnósticos feitos em Centros de Educação Infantil, públicos ou privados, destacando que as crianças nem sempre tem acesso aos jogos e brincadeiras tradicionais, porque são estimuladas de forma específica ao processo de aquisição da leitura e da escrita e dos cálculos sem considerar suas necessidades e interesses quanto ao processo de desenvolvimento e aprendizagem. Desta forma, o estudo se desenvolveu com a pesquisa sobre a função lúdica e educativa dos jogos. Para esse estudo foram abordados os trabalhos de Kishimoto (2000) que destacam as funções, lúdica e educativa. A conceituação de Kishimotto (2000) destaca que na função lúdica do brincar o brinquedo deve ser escolhido pela criança e propicia diversão, prazer e muitas vezes desprazer. Já na função educativa, a autora aponta que o brinquedo pode ensinar aspectos que completem o sujeito em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão de mundo. A continuidade da oficina envolveu a exploração do espaço da Brinquedoteca, organizada em cantos temáticos; sucatoteca, contação de histórias, casinha, teatro, música, mercado, brinquedos educativos e jogos de mesa. A Brinquedoteca conta também com um
4 24656 espaço direcionado à confecção de brinquedos, organizado com mesas, cadeiras, armários, recursos das Artes Visuais e livros que possibilitam o diálogo e a fundamentação dos jogos pedagógicos. Para Santos (1995, p. 7) [...], um aspecto importante no brinquedo artesanal é que ele também proporciona momentos de ludicidade para o adulto que o cria, confecciona e sente prazer de vê-lo pronto e não só para a criança que brinca. A primeira oficina demonstrou na fala das professoras em formação a expressão do encantamento com a possibilidade de construir uma prática pedagógica significativa aos olhos do educador e do educando. Para Fortuna 2008 (In: SANTOS, p. 82, 2008): O compromisso com a dimensão lúdica do homem que aqui atende pelo nome de jogo exige aprofundamento por ser não o aspecto mais importante dessa formação, mas um tema recorrente e vasto, cujas possibilidades e limites precisam ser estudados não apenas do modo parcelar, como parece espalhado pelas disciplinas de formação do educador, mas na forma concentrada como uma disciplina específica voltada para o assunto. A partir da primeira oficina, refletiu-se que o conteúdo que permeia a formação do professor pode estimular a consciência lúdica, ou seja, o reconhecimento da valorização do brincar em atitudes comprometidas com a ação pedagógica. As diferentes formas de brincar, a organização e o funcionamento da Brinquedoteca no contexto escolar Ao encontrar as professoras em formação novamente para a oficina do segundo período, identificou-se que retornaram com uma expectativa. "O que faremos hoje, qual o brinquedo iremos construir?" Trabalhar com a ludicidade muitas vezes nos traz a reflexão sobre o quanto é necessário a pesquisa e novas formas de estudo referentes ao assunto. Apesar de todo o esforço em fundamentar a ludicidade no processo ensino e aprendizagem, observouse que a atenção ainda centrava-se à prática das brincadeiras e não ao aprofundamento dessa prática e a relação com a teoria de forma mais consciente. O mesmo acontece com as crianças quando em situações lúdicas direcionadas, pois o brincar, de acordo com Rau (2011a), possibilita a expressão de conflitos; afetivos, sociais, cognitivos e motores, que muitas vezes necessitam ser mediados pela ação do adulto. Neste sentido, as diferentes formas do brincar, a organização e o funcionamento da Brinquedoteca no contexto escolar foram as discussões abordadas nessa oficina. A
5 24657 continuidade do estudo teve como fundamento os estudos de Cunha (2007) e Sommerhalder e Alves (2011). De acordo com Cunha (2007, p. 13), a brinquedoteca é um espaço onde as crianças (e os adultos) brincam livremente, com todo o estímulo à manifestação de suas potencialidades e necessidades lúdicas. Para mobilizar os alunos em relação ao assunto, foram vivenciados alguns jogos tradicionais em espaços externos. O objetivo dessas práticas foi o de demonstrar que o espaço para brincar pode existir além da Brinquedoteca, sendo utilizados, bosques, caixas de areia e parques. Após a prática de jogos, os alunos foram convidados a refletir sobre os conteúdos abordados, de forma a identificar quais áreas de desenvolvimento foram estimuladas. Assim, destacou-se o brincar como recurso pedagógico. A continuidade ocorreu nos cantos das brincadeiras, os quais foram explorados de forma a identificar a separação dos ambientes por temas, considerando as possibilidades de ação do adulto e da criança nestes espaços. A oficina do terceiro período do curso objetivou trazer o conhecimento dos diferentes tipos de Brinquedoteca, a reflexão sobre a formação do brinquedista e a mediação nos diferentes espaços lúdicos. A prática iniciou com um diálogo sobre os elementos que compõem a ludicidade, questionamentos sobre como os professores em formação estavam organizando as atividades lúdicas em suas atividades profissionais, seja em estágio ou como professores auxiliares em Instituições de Ensino Infantis ou nos Anos Iniciais. Timidamente, os alunos descreveram algumas práticas que demonstram a utilização do lúdico destinando mais à atenção às brincadeiras do que ao contexto em que elas estão inseridas no cotidiano das crianças. Assim, a professora brinquedista procurou significar as experiências dos professores em formação estimulando a observação de que a partir da prática, obtém-se resultados em relação ao desenvolvimento e aprendizagem infantil. Neste sentido, Sommerhalder e Alves (2011, p. 70) destacam que nas escolas, a brinquedoteca contribui para o desenvolvimento integral da criança e para a sua aprendizagem. A oficina continuou com a organização dos professores em formação divididos em três grupos e a cada um foi sugerido um tema para a organização de uma atividade lúdica. Esse momento foi significativo porque os professores em formação tiveram acesso a todos os materiais e recursos da brinquedoteca além dos comumente utilizados nas oficinas anteriores, o que lhes propiciou maior autonomia. Os temas das atividades lúdicas foram a Construção de Brinquedos com Sucata, Contação de Histórias e Artes Visuais. As professoras em formação exploraram o espaço e o material disponibilizado, elaboraram discussões, criando práticas
6 24658 lúdicas interessantes, o que foi demonstrado em suas apresentações refletindo a autonomia e a interação do professor brinquedista na utilização do lúdico como recurso pedagógico. Para o fechamento da terceira oficina com os professores em formação, fez-se a leitura e debate do texto de Sommerhalder e Alves (2011) sobre a brinquedoteca escolar e a cultura lúdica na infância que fundamenta o tema da oficina de formação. Para os autores, brinquedos variados, coloridos, novos, de madeira, plástico, metal, pano, etc. que permitem a realização de desejos, proporcionando à criança a oportunidade de brincar conforme a sua vontade. (SOMMERHALDER e ALVES, 2011, p. 68). O encaminhamento dessa oficina na formação do educador apontou diversas possibilidades de confecção de brinquedos e espaços lúdicos, o que propiciou um ambiente de confiança no qual os envolvidos no processo aprenderam e ensinaram de forma ativa e crítica. Jogos, brinquedos e brincadeiras quanto ao sistema de classificação e como recurso pedagógico no contexto escolar A quarta e a quinta oficinas de formação para a prática lúdica na Brinquedoteca foram as mais esperadas pela professora brinquedista, porque demonstraram o resultado do processo de formação do educador em relação à ludicidade. Essas oficinas tiveram como objetivo o estudo e planejamento da prática lúdica na Brinquedoteca para atuar com uma turma de Educação Especial do IEPPEP. Neste sentido, Santos (1995) aborda que o profissional brinquedista atua com a criança mediando situações que envolvem o brinquedo. Nas palavras de Santos (1995, p. 12): esse profissional deve ser um educador, ou seja, antes de ser um especialista em brinquedo, ele deve ter em sua formação conhecimentos de ordem psicológica, pedagógica, sociológica, literária, artística, enfim, elementos que lhe dêem a visão de mundo e um conhecimento sólido sobre a criança, brinquedo, jogo, brincadeira, escola, homem e sociedade. Ao receber os professores em formação, observou-se que estes vieram com receio em relação ao trabalho com a Educação Especial. Dessa forma, lhes foram apresentadas fotos dos alunos em atividades lúdicas anteriores para o conhecimento mais especifico da atividade a ser desenvolvida. Para Cunha (2007, p. 79) é importante que as pessoas sintam que existe afeto no relacionamento entre elas. O clima da BRINQUEDOTECA é determinado por quem está encarregado de criá-lo, portanto, se não houver alegria e boa disposição, todo o contexto poderá perder o encanto.
7 24659 O estudo do texto Organização do ambiente pedagógico na brinquedoteca escolar de Sommerhalder e Alves (2011) e a classificação dos jogos tradicionais de acordo com Friedmann (2000) possibilitaram a escolha das atividades e a fundamentação sobre o assunto da oficina. Os debates e reflexões sobre a abordagem dos autores foram elementos importantes na elaboração do plano. Nesse sentido, em relação à escolha das atividades para a prática lúdica os estudos de Friedmann (2000, p. 50), destacam que os jogos tradicionais são vistos sob duas formas: o jogo como sistema que regula a vida social das crianças; o jogo como função educacional no sentido pedagógico. Seguido a esse momento, foi apresentado o projeto da Brinquedoteca desde a sua criação até o objetivo de capacitar os professores em formação para desenvolver oficinas lúdicas com alunos da Educação Especial no ambiente escolar. Nesta perspectiva, a reflexão sobre os temas da oficina encontra-se em: atribuir um caráter educacional aos jogos tradicionais significa utilizá-los como alternativa metodológica, que busca instrumentalizá-los com fins educacionais, resgatar o seu valor inestimável e constituí-los, para cada indivíduo, cada grupo, cada geração, como parte fundamental de sua história de vida. (RAU, 2011a, p. 114). O espaço destinado ao brincar foi explorado com os professores em formação de forma a perceber a própria escola a partir de um olhar diferenciado. Assim, foram convidados a fazer um passeio pela escola para demonstrar como os espaços podem ser motivadores da prática lúdica. Em relação ao espaço, pode-se dizer que: é um elemento de composição do projeto da brinquedoteca a definição dos seus objetivos, e isso implicará, também, na escolha do espaço, visto que as necessidades e objetivos da brinquedoteca podem ser mais facilmente alcançados dependendo do local escolhido para a instalação desse ambiente lúdico. (SOMMERHALDER e ALVES, 2011, p. 81) Ao retornar para a Brinquedoteca as alunas iniciaram a elaboração do plano e ao mesmo tempo exploraram novamente o espaço e os materiais a serem utilizados. As discussões ocorreram livremente, pois no diálogo resgataram brincadeiras antigas e pensaram em novas formas de brincar, como a construção de brinquedos com materiais alternativos. A elaboração dos planos, atendendo às orientações propostas, foi sistematizada em um mês, quando os alunos ampliaram o estudo sobre a Educação Especial e a classificação dos
8 24660 jogos escolhidos para a oficina. A orientação continuou de forma virtual pela professora brinquedista via . Quando aprovados, foram liberados para a realização da prática lúdica. A prática lúdica na Brinquedoteca com a Educação Especial Para relatar a construção do conhecimento sobre a formação lúdica na Brinquedoteca neste relato, optou-se pela descrição de uma das oficinas desenvolvida pelas professoras em formação para os alunos da Educação Especial, a oficina Leilão de Jardim, com a poesia de mesmo nome de Cecília Meireles, realizada por duas alunas do curso. No dia da oficina, os alunos da turma de Educação Especial, quatro ao todo, receberam as professoras em formação na sala de aula. Estas iniciaram o trabalho apresentando seus objetivos, fundamentando o tema da prática lúdica, falando às crianças sobre poesia, especificamente sobre Cecília Meireles e convidando às crianças para a oficina. A oficina Leilão de Jardim objetivou estimular a imaginação e a criatividade dos alunos da Educação Especial. Para tal, de acordo com Rau (2011a) a ludicidade na formação do educador requer pesquisa e estudo sobre as diversas linguagens infantis, entre elas a arte, a poesia e a brincadeira. Logo realizaram a leitura da poesia, de forma pausada para que os alunos tivessem a oportunidade de imaginar as passagens. Em seguida, foi utilizado um livro feito em uma caixa com suas páginas organizadas em sanfona. O livro foi feito de forma criativa e cuidadosa a partir da releitura da obra de Cecília Meireles. Para Sommerhalder e Alves (2011, p. 89) os brinquedos selecionados devem ter como critério: não exigir um controle muito apurado ou ter algumas adequações que tornem possível a brincadeira por aquelas crianças que apresentam coordenação motora mais fragilizada. Após a leitura da poesia com no livro na caixa, os alunos ainda puderam explorar as folhas e assim, foi percebido que além da imaginação também desenvolveram a percepção tátil e a expressão oral ao falar sobre o que identificavam e imaginavam a partir do material. Na brinquedoteca é importante que o adulto que identifique os momentos em que deve estimular as interações das crianças e os que deve estar atento, proporcionando um momento de escuta, deixando-os livres. Neste sentido, a atenção do adulto nas atividades lúdicas da criança considera:
9 24661 brincar é um estímulo a aprendizagens específicas que ampliam o desenvolvimento de habilidades psicomotoras, como lateralidade e equilíbrio, cognitivas, pois envolve a memória, a atenção, a concentração e o raciocínio, e afetivas, possibilitando interações entre as crianças e a expressão de sentimentos. (RAU, 2011b, p. 256). A massinha de modelar foi o recurso utilizado para que os alunos fizessem a interpretação da poesia. Vários bastões de massinha coloridos foram dispostos na mesa a qual os alunos sentaram ao redor. Inicialmente os alunos interagiram com o material. A coordenação motora das crianças, apesar de apresentar algumas dificuldades na preensão, possibilitava que manipulassem com maior desenvoltura e assim, aos poucos, foram criando novas formas sobre os elementos do jardim. Em seguida, juntaram as formas, cada um no seu tempo, sobre a prancha e ao final formaram um novo e lindo jardim. A atividade foi refletida com os alunos com necessidades especiais, a partir de questionamentos que envolveram o significado da poesia e a sua criação. Foi uma experiência muito relevante para as alunas, professoras em formação pela identificação da prática pedagógica com a Educação Especial e a ludicidade. Desta forma, a brinquedoteca como recurso pedagógico delineou a cada passo a interação entre aluno, conteúdo e professor a partir de práticas significativas em relação ao processo de desenvolvimento e aprendizagem. Com efeito, Sommerhalder e Alves (2011, p. 90) destacam que a sucata, no espaço escolar, mostra-se como um material de pesquisa, de construção e de produção de algo novo. Ao final da oficina com os alunos da Educação Especial, o jardim foi levado para a sala de aula. A prática demonstrou que o trabalho pedagógico com alunos com necessidades especiais está ao alcance do professor que pesquisa, planeja e principalmente torna a própria vivência especial para a sua aprendizagem. Considerações Finais A realização das oficinas no decorrer dos quatro períodos de formação dos professores em Brinquedoteca buscou encontrar nos recursos materiais, temporais e relacionais, encontros que possibilitassem escolhas individuais e coletivas em vivências como brinquedistas. Dessa forma, estimulou-se à investigação da própria atuação profissional durante a construção de conceitos sobre a ludicidade como recurso pedagógico e sua inclusão na rotina educativa. Neste sentido, ao final da prática lúdica foi realizada uma avaliação da oficina, Leilão de Jardim com as professoras em formação, através de questionamentos sobre o tema escolhido, os objetivos, a prática e os resultados. As alunas falaram ter percebido a importânica de um planejamento bem organizado, desenvolvido a partir de pesquisas sobre o
10 24662 conteúdo lúdico a ser abordado. Observaram que através da ludicidade os objetivos devem explicitar os aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais, porque o brincar na aprendizagem estimula habilidades individuais que serão necessárias à aprendizagem das áreas de conhecimento. Nesse aspecto, destacaram a importância do conhecimento sobre a ludicidade no que diz respeito à articulação entre teoria e prática, porque diferente ou paralelo aos planos de aula que objetivam o ensino dos conteúdos escolares, segundo as professoras em formação, há de se identificar o processo de desenvolvimento dos alunos em suas habilidades psicomotoras. Identificaram que na elaboração das formas com massinha, os alunos associaram suas vivências anteriores aos conceitos sobre formas geométricas. Refletiram sobre a prática lúdica na formação da identidade, identificando as expressões dos sentimentos que envolviam a interpretação sobre o tema da poesia. Ainda, como instrumento final de avaliação foi proposto às alunas que elaborassem um texto reflexivo sobre a prática lúdica, destacando os aspectos construtivos e os que poderiam ser organizados de forma diferente a partir das necessidades e interações dos alunos. Os textos demonstraram que o trabalho com os alunos da educação especial possibilitou às professores em formação a consciência sobre a prática lúdica planejada e que apresentar necessidades especiais necessita de uma preocupação com a qualidade da própria linguagem para que a informação se torne significativa. Nesse sentido, as oficinas de Brinquedoteca no curso de formação docente propiciaram, em suas práticas no quarto período do curso, a consciência de que todas as crianças têm direito ao brincar de qualidade, independente de suas necessidades especiais. O brincar planejado, e o conhecimento sobre a ludicidade nos seus aspectos educativos. Contudo a reflexão sobre a proposta da Brinquedoteca na formação docente leva a crer que a prática lúdica possa ser reconhecida em sua relevância como mediadora da aprendizagem escolar, seja ela no ensino com alunos com ou sem necessidades educacionais especiais. O registro dessa experiência em formação docente na Brinquedoteca do IEPPEP foi compartilhado em um Blog, sob o seguinte endereço: brinquedotecaieppep.blogspot.com REFERÊNCIAS CUNHA, Nylse Helena Silva. Brinquedoteca. Um mergulho no brincar. São Paulo: Aquariana, 2007.
11 24663 FORTUNA, Tânia Ramos. O jogo e a Educação: uma experiência na formação do Educador. In: SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedoteca. A criança, o adulto e o lúdico. Petrópolis, RJ: Vozes, Cap 9, p KISHIMOTTO, Tizuko Morshida. (Org). São Paulo: Cortez, RAU. Maria Cristina Trois Dorneles Rau. A ludicidade na Educação: uma atitude pedagógica. 2ª edição. Curitiba, PR: IBPEX, Educação Infantil: práticas pedagógicas de ensino e aprendizagem. Curitiba, PR: IBPEX, SANTOS, Santa Marli Pires dos. Espaços lúdicos: Brinquedoteca. In: Brinquedoteca: a criança, o adulto e o lúdico. Petrópolis, RJ: Vozes, cap. 6, p. 57 a 61. Brinquedoteca: Sucata vira brinquedo. Porto Alegre: Artmed, SOMMERHALDER, Aline e ALVES, Fernando Donizete. Jogo e a educação da infância: muito prazer em aprender. Curitiba, PR: CRV, 2011.
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