Coleção Descomplicando Direito do Consumidor
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- Isaque Ferreira Chagas
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1 Felipe Menezes Coleção Descomplicando Direito do Consumidor 1ª edição Recife PE 2016 livro-direitodo-consumidor.indd 3 05/01/ :57:40
2 CAPÍTULO 2 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO CONSUMIDOR guia prático ao consumidor, eis que traça um conjunto de diretrizes proteção. Como já lecionado nesta obra exaustivamente, o CDC é totalmente voltado à pratica do consumidor, de forma tendenciosa, com o objetivo claro de equiparar a relação de consumo, colocando-o em igualdade com o fornecedor de produto ou serviço. Pode-se dizer que o artigo 4º do CDC é a espinha dorsal, a parte mais importante deste diploma. existem princípios que norteiam e orientam o sistema jurídico. Eles estão elencados no art. 4º do diploma legal em apreço, in verbis: Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de FELIPE MENEZES 29 livro-direitodo-consumidor.indd 29 05/01/ :57:41
3 qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: I - reconhecimento da vulnerabilidade do II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho. III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda Federal IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, V - incentivo à criação pelos fornecedores de segurança de produtos e serviços, assim como de os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, 30 EDITORA ARMADOR DESCOMPLICANDO DIREITO DO CONSUMIDOR livro-direitodo-consumidor.indd 30 05/01/ :57:41
4 VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos VIII - estudo constante das modi cações do mercado de consumo. Vamos explicar cada um destes institutos legais. Ato contínuo, pode-se observar que o caput do artigo deixa clarividente a proposta do artigo, em buscar a melhor segurança jurídica possível ao consumidor, baseando-se na sua necessidade a ir de encontro com o produto ou serviço e quando está diante deste, da equiparação na relação entre ele e o fornecedor, de modo que haja harmonia na relação consumerista existente. É de se observar que o consumidor é parte mais vulnerável, ou seja, é o elo mais fraco na relação de consumo, quer pelo poder aquisitivo entre ele e o fornecedor, quer pela ausência do poder de barganha. Importante salientar que vulnerabilidade não é sin nimo de hipossu ciência. Enquanto que uma afeta qualquer consumidor e em qualquer relação de consumo, bastando o simples fato de ser consumidor, a outra é uma situação especial de fragilidade que atinge alguns consumidores em certas relações de consumo. A consequência mais comum da hipossu ciência é a inversão do nus da prova, princípio que será visto posteriormente. Ou seja, não é sempre que tiver uma relação de consumo que teremos a inversão do nus da prova, mas tão somente quanto con gurada a situação de hipossu ciência. A respeito desta questão, Flávio Tartuce e Daniel Amorim Assumpção Neves 1 trazem, de forma brilhante, para elucidar o conceito de vulnerabilidade, uma decisão do Tribunal do Rio Grande do Sul, bastante esclarecedora e que atenta a esta questão: Plano. Nosso modo. TIM CE AR S.A. Estação m vel celular. Prestação de serviços de telefonia m vel à microempresa. Comodato. Mau funcionamento. Inc. II do art. 333, do CPC. Prazo decadencial não iniciado. VIII, do art. º, do CDC. ipossu ciência. Verossimilhança. Vulnerabilidade. Art. 4º do CDC. 1 o CDC 1. Tartuce, Flávio. Manual de Direito do Consumidor: direito material e processual / Flávio Tartuce, Daniel Amorim Assumpção Neves 4ª ed. Ver. Atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, FELIPE MENEZES 31 livro-direitodo-consumidor.indd 31 05/01/ :57:41
5 não faz distinção entre pessoa física ou jurídica, ao formular o conceito de consumidor, quando estes adquirem serviços na qualidade de destinatário nal, que busquem o atendimento de sua necessidade pr pria ainda mais quando se trata de bem de consumo, além de haver um desequilíbrio entre as partes.... Ainda, impõe-se dizer que o demandante, conforme o art. 4º do CDC é vulnerável, pois não possui conhecimento técnico-cientí co do serviço que contratou, este conceito diz respeito à relação de direito material, tendo presunção absoluta, não admitindo prova em contrário. Recurso , Porto Alegre, 3 Turma Recursal Cível, TJRS, j , unânime, Rel. Dra. Maria de ourdes Galvão Braccini de Gonzales TJRS Recurso Cível , Porto Alegre Terceira Turma Recursal Cível Rel. Des. Maria de ourdes Galvão Braccini Gonzales j Existem, portanto, quatro conceitos especí cos quanto à vulnerabilidade: 1. Vulnerabilidade Jurídica. Vulnerabilidade técnica 3. Vulnerabilidade real ou facta 4. Vulnerabilidade informacional. A primeira, vulnerabilidade jurídica, caracteriza-se pela falta de conhecimento jurídico. A vulnerabilidade técnica caracteriza-se pela falta de conhecimentos técnicos sobre o produto ou serviço, ou seja, não conhecer a especi cidade do produto ou serviço. A vulnerabilidade real ou facta traduz-se pelo poderio econ mico do fornecedor, o monop lio que este exerce sobre o consumidor e, por m, a vulnerabilidade informacional, que - como o pr prio nome já diz - representa a falta de informações claras, capazes de induzir o consumidor ao erro. 32 EDITORA ARMADOR DESCOMPLICANDO DIREITO DO CONSUMIDOR livro-direitodo-consumidor.indd 32 05/01/ :57:41
6 Imperioso destacar que a vulnerabilidade deve ser destaque na defesa ao consumidor. Quando uma relação, seja ela qual for, já começa com um elo mais fraco que o outro, é importante que se tenha cuidado para que não haja um desequilíbrio, de modo que uma parte saia ganhando em relação a outra. Daí a preocupação do legislador ao prever o dever governamental. A alínea a deste inciso trata da constituição de rgãos precípuos de defesa e proteção ao consumidor, como, por exemplo, os PROCON s rgão de Proteção ao Consumidor, que estão presentes em todos os Estados do país, existindo tanto no plano estadual, como municipal. Estes rgãos são popularmente conhecidos como a casa do consumidor, onde tudo que é realizado, desde as orientações basilares, até a função scalizadora Decreto Federal nº..1 1, é em prol do consumidor. Mais adiante, dispusemos de um capítulo à parte para melhor falarmos acerca dos PROCON s.. A alínea seguinte do mesmo inciso prevê e incentiva a criação e desenvolvimento de associações representativas, oportunizando aos consumidores a possibilidade de criação de institutos de apoio ao consumidor, como, por exemplo, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor IDEC, ou o Instituto Brasileiro de Política do Direito do Consumidor BRASI CON. Além do dever governamental, prevista na Constituição Federal, o legislador se preocupou com a intervenção do Estado, buscando a garantia de proteção do consumidor, para assegurar seu acesso aos produtos e serviços essenciais, bem como garantir a qualidade e adequação de produtos e serviços. Pode-se lembrar, aqui, do Instituo Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia INMETRO, rgão do estado responsável pela scalização de produtos e adequação destes ao mercado. Outro princípio inerente a este artigo aparece no inciso III. A das relações de consumo nasce dos princípios constitucionais da isonomia, da solidariedade e dos princípios gerais da atividade econ mica. Retira-se, também, deste mesmo inciso, a harmonização dos interesses dos partícipes das relações de consumo que deve ser pautada na boa-fé e no equilíbrio. A transparência também é outro princípio que está inserido neste artigo. Traduz a obrigação do fornecedor em dar ao consumidor a oportunidade de conhecer os produtos e serviços que são oferecidos. FELIPE MENEZES 33 livro-direitodo-consumidor.indd 33 05/01/ :57:41
7 Imperioso destacar, também, os princípios da educação e informação, intimamente ligados, na qual exigem que os consumidores sejam devidamente informados em todos os aspectos que envolvem o ato de comprar, adquirir bens ou serviços. Por m, o da, que sob a visão do Enunciado nº do Conselho da Justiça Federal, da I Jornada de Direito Civil, caracteriza-se como um comportamento de lealdade dos envolvidos em determinado contrato. Sem sombra de dúvidas, o mais importante dos princípios vistos. Quando o consumidor não consegue as garantias fundamentais, ter seus direitos respeitados, princípios violados, é importante que seja dada a oportunidade do acesso à justiça. Este aspecto é cabível graças a previsibilidade concedida ao diploma em tela, no artigo 5º, que assim dispõe: Art. 5 Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, contará o poder público com os seguintes instrumentos, entre outros: I - manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente II - instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério Público III - criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo IV - criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de litígios de consumo V - concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor. 1 Vetado. º Vetado. Compartilho do mesmo pensamento do brilhante Rizzatto Nunes, que dispõe que: 34 EDITORA ARMADOR DESCOMPLICANDO DIREITO DO CONSUMIDOR livro-direitodo-consumidor.indd 34 05/01/ :57:41
8 e judiciais para prevenção e garantia de seus direitos enquanto consumidores é ampla, o que implica abono e isenção de taxas e custas, nomeação de procuradores para defende-los, FELIPE MENEZES 35 livro-direitodo-consumidor.indd 35 05/01/ :57:41
9 QUESTÃO 1. Prova: CESPE 2014 TJ DF Juiz. Acerca dos princípios aplicáveis à relação de consumo, assinale a opção correta. a De acordo com a jurisprudência do STJ, a aplicação da inversão do nus da prova prevista no CDC é regra de instrução, ou seja, ocorre preferencialmente na decisão saneadora proferida pelo juiz. b A inversão do nus da prova obriga a parte contrária a arcar com as despesas decorrentes da produção daquele meio de prova requerido pelo consumidor autor da demanda. c A vulnerabilidade difere da hipossu ciência, pois esta é de ordem material e presumida, em regra, para os consumidores, ao passo que aquela é de ordem processual e seu reconhecimento depende da análise do caso concreto. d Para o cumprimento do dever de informar imposto ao fornecedor, basta o oferecimento formal das informações, sendo desnecessário, portanto, que o consumidor efetivamente as compreenda. e Para a inversão do nus da prova, prevista como direito básico do consumidor no processo civil, o juiz deve veri car, no caso concreto, a verossimilhança da alegação e a hipossu ciência da parte, o que a torna um critério ope legis. Gabarito: A 2. Prova: FCC 2014 DPE PB Defensor Público. Quanto à legislação aplicável às relações de consumo, é correto a rmar: a Pelo princípio da especialidade, a regra geral é a adoção do C digo de Defesa do Consumidor - CDC, aplicando-se subsidiariamente o C digo Civil ou outra legislação especí ca apenas quando omisso o CDC e no que com ele não con itar. b Pelo princípio da especialidade, nas ações coletivas que têm por objeto relações de consumo, aplica-se preferencialmente o C digo de Defesa do Consumidor e, apenas em caso de omissão, subsidiariamente deve ser aplicado o C digo de Processo Civil e a ei de Ação Civil Pública. c No âmbito penal, con gurada a relação jurídica de consumo, apenas as condutas tipi cadas no C digo de Defesa do Consumidor 36 EDITORA ARMADOR DESCOMPLICANDO DIREITO DO CONSUMIDOR livro-direitodo-consumidor.indd 36 05/01/ :57:41
10 sua parte geral. Defesa do Consumidor, entende-se que não se aplicam às relações de quanto possível, de todas as normas que tratam do tema, gerais ou especiais, de modo a garantir a tutela mais efetiva ao grupo vulnerável protegido pela lei, o que pode levar, por exemplo, à aplicação do quando o primeiro for mais favorável. Gabarito: E FELIPE MENEZES 37 livro-direitodo-consumidor.indd 37 05/01/ :57:41
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