PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL DE SEGUNDA INSTÂNCIA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE SERGIPE
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1 1 de 6 25/02/ :18 PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL DE SEGUNDA INSTÂNCIA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE SERGIPE INFORMACÕES SOBRE ESTE DOCUMENTO NUM. 44 Nr. do Processo Autor LENICIA THEREZA PINTO Data da Inclusão 17/02/ :22:19 Réu Maria José dos Santos e outros Usuário que Anexou FÁBIO CORDEIRO DE LIMA (Magistrado) Juiz(a) que validou FÁBIO CORDEIRO DE LIMA Última alteração por FÁBIO CORDEIRO DE LIMA às 17/02/ :22:19 Processo n.º VOTO-VISTA PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. RATEIO DO BENEFÍCIO. RECONHECIMENTO DE UNIÕES ESTÁVEIS SIMULTÂNEAS, CONCOMITANTES OU PARALELAS COM O MESMO INSTITUIDOR DA PENSÃO. IMPOSSIBILIDADE. JURISRUDÊNCIA PACÍFICA DO STJ SOBRE A MATÉRIA. DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO PROFERIDA PELA JUSTIÇA ESTADUAL ENTRE AS SUPOSTAS DEPENDENTES RECONHECENDO A UNIÃO ESTÁVEL EM RELAÇÃO A UMA DELAS E DE CONCUBINATO EM RELAÇÃO A OUTRA. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA PARA CONCEDER O RATEIO DO BENEFÍCIO ENTRE A COMPANHEIRA E CONCUBINA. REFORMA. RECURSO DA PARTE RÉ CONHECIDO E PROVIDO. 1. Recurso inominado contra sentença do Juízo da 5ª Vara/SE que julgou procedente o pedido para determinar o restabelecimento de 50% da pensão por morte a autora Lenícia Thereza Pinto a partir de Objeto da demanda: ação proposta por Lenícia Thereza Pinto em face do INSS e de Maria José dos Santos, visando restabelecer o benefício (NB pensão por morte,, cujo instituidor seria José Roque de Jesus) de forma integral, ou subsidiariamente, o RATEIO da pensão com a segunda Requerida, bem como, seja declarada a inexistência ou inexigibilidade do débito originado pelo recebimento do beneficio ora discutido em processo anterior em que foram partes Lenícia Thereza Pinto e Maria José dos Santos, por decisão transitada em julgado, a Justiça Estadual de Sergipe expressamente reconheceu a existência de união estável entre Maria José dos Santos e José Roque de Jesus desde o ano de 1968 até a data da morte ( ), caracterizando a relação de Lenícia Thereza Pinto com José Roque de Jesus como concubinato desleal O Juízo de origem levou em consideração a decisão da Justiça Estadual, mas entendeu ser possível o "rateio de pensão por morte a duas companheiras que viviam em união estável concomitantemente com o instituidor da pensão". Colhe-se da sentença: Analisando as provas carreadas aos autos, especialmente o acórdão proferido em sede do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe (doc 24), verifico que ali apenas não foi reconhecida a existência de duas uniões estáveis concomitantes (uma, entre o falecido e a autora desta ação e outra entre aquele e a litisconsorte, Srª MARIA JOSÉ DOS SANTOS), pelo fato de a autora ter iniciado seu relacionamento com o falecido ciente da existência da união estável dele com a Srª MARIA JOSÉ DOS SANTOS, tendo concluído aquele E. Tribunal que não reconhecida a união estável entre a autora e o falecido, entre outros fatos por "contrariar, inclusive, valores morais." Ou seja: A r. decisão da Justiça Estadual reconhece a situação de fato, conferindo-lhe efeito jurídico restritivo, no sentido de negar-lhe a condição de "união estável", porque violava a "exclusividade" e "fidelidade" do leito conjugal. Reputou o relacionamento da demandante um comcubinato impuro.
2 2 de 6 25/02/ :18 Não há divergência entre minha avaliação quanto às provas aqui presentes e a avaliação do panorama fático realizado pelo E. TJSE. A divergência está apenas na definição jurídica do relacionamento da demandante. Para fins de definição jurídica, notadamente para efeitos previdenciários, em nada me vejo jungido ao que decidiu a Corte Estadual, porque a competência, nesse aspecto, é inteiramente da Justiça Federal. 2. A hipótese dos autos consiste em examinar a existência de entidades familiares simultâneas, concomitantes ou paralelas. Isto é: se é possível juridicamente reconhecer a qualidade de dependente, para fins de previdenciários, de duas ou mais pessoais que mantém relacionamentos afetivos com o mesmo segurado (instituidor da pensão) e ao mesmo tempo (um casamento e união estável ou duas uniões estáveis), com o conseqüente rateio da pensão entre os dois dependentes. No caso em exame, trata-se do reconhecimento de duas uniões estáveis concomitantes. 3. Inicialmente, considerando que este magistrado já se manifestou mais de uma vez sobre a questão em julgamento e que pretende alterar o seu entendimento, é mister algumas considerações. No início da minha atividade judicante, defendi a possibilidade de rateio entre a esposa e companheiro do segurado no caso de relacionamentos concomitantes. Transcrevo o meu entendimento inicial [Processo n.º ª Vara Federal de Pernambuco Subseção Judiciária de Serra Talhada] sobre a matéria: Em atendimento ao comando constucional previsto no Art. 226, 3º da CF/88, o Art do CC/02, assim, definiu a união estável: Art É reconhecida como endade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, con.nua e duradoura e estabelecida com o objevo de constuição de família. (grifos nossos) Por sua vez, o Código, procurando estremar a união estável (angamente, denominado concubinato puro) do outrora concubinato impuro, estatui que : Art As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constuem concubinato. Apesar de exisr vedação ao reconhecimento concomitante do casamento e da união estável no âmbito do direito de família, salvo na hipótese de separação (Art. 1723, 1º do CC/02), tal restrição não pode prevalecer no campo do direito previdenciário. Isto porque o direito previdenciário, ramo do direito social, constui um seguro público, colevo, compulsório e contribuvo, com a finalidade de atender as necessidades dos segurados e de seus dependentes diante de conngências previstas em lei, garanndo-lhes a sua subsistência. Ora, embora busque plasmar as hipóteses de dependência a luz do direito de família, é cediço que a legislação previdenciária não se restringe somente a estes casos, partindo da realidade familiar para, progressivamente, albergar outras realidades. Ademais, o ramo previdenciário dispõe de regras próprias em relação ao direito civil, sendo sabido que as alterações legislativas promovidas em um ramo não repercutem no outro, conforme restou cristalizado no enunciado n.º 03 do CJF. 5. Em razão de posterior julgamento do STF, passei a ressalvar o meu entendimento inicial, julgando improcedente, com base no precedente abaixo: COMPANHEIRA E CONCUBINA - DISTINÇÃO. Sendo o Direito uma verdadeira ciência, impossível é confundir institutos, expressões e vocábulos, sob pena de prevalecer a babel. UNIÃO ESTÁVEL - PROTEÇÃO DO ESTADO. A proteção do Estado à união estável alcança apenas as situações legítimas e nestas não está incluído o concubinato. PENSÃO - SERVIDOR PÚBLICO - MULHER - CONCUBINA - DIREITO. A titularidade da pensão decorrente do falecimento de servidor público pressupõe vínculo agasalhado pelo ordenamento jurídico, mostrando-se impróprio o implemento de divisão a beneficiar, em detrimento da família, a concubina. (RE , Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 10/02/2009, DJe-059 DIVULG PUBLIC EMENT VOL PP RTJ VOL PP RB v. 21, n. 546, 2009, p LEXSTF v. 31, n. 363, 2009, p RJTJRS v. 46, n. 279, 2011, p RMP n. 42, 2011, p ) 6. Ocorre que, após estudar a fundamentação dos precedentes do STJ sobre a existência de entidades familiares concomitantes, simultâneas ou paralelas, mudei o entendimento original acerca da possibilidade rateio entre a esposa e companheira (rectius: concubina) ou entre duas companheiras. Transcrevo os dispositivos do Código Civil que disciplina o conceito e os requisitos da união estável, os quais são aplicáveis na seara previdenciária.
3 3 de 6 25/02/ :18 Art É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. 1º A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art ; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente. (...) Art As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem concubinato. 7. A jurisprudência do STJ em sede de direito de família, cujos fundamentos são inteiramente aplicável ao presente caso, exige o requisito da exclusividade/fidelidade/lealdade entre os conviventes para caracterizar a existência de união estável, não sendo possível reconhecer uniões estáveis simultâneas, concomitantes, paralelas. Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão,. "Com efeito, a pedra de toque para o aperfeiçoamento da união estável não está na inexistência de vínculo matrimonial, mas, a toda evidência, na inexistência de relacionamento de fato duradouro, concorrentemente àquele que se pretende proteção jurídica, daí porque se mostra inviável o reconhecimento de uniões estáveis simultâneas. Não fosse por isso, também não seria a separação de fato conditio sine qua non para o reconhecimento de união estável de pessoa casada". No mesmo sentido, é a doutrina: "A lei abjeta a relação extramatrimonial simultânea com a união legítima, como afasta duas uniões legítimas ou informais, salvo que exista separa judicial ou de fato, pois neste caso não persiste o dever de fidelidade. Não constitui família aquele que prossegue residindo com a esposa e com os filhos conjugais, pois é pressuposto da vontade de formar família estar desimpedido para formalizar, pelo casamento ou pela via informal da união estável, a sua efetiva entidade familiar. Aliás, querendo constituir família com a amante, tudo o que o bígamo precisa fazer é romper apenas de fato a sua relação com a primeira mulher, ficando até dispensado da formal separação judicial, pois com este simples gesto de romper fatualmente o passado para assentar no presente, relação de fidelidade e exclusividade com a sua nova mulher é gesto suficiente para concluir que fortaleceu os seus esforços, e que concentrou seus desejos e esforços numa nova entidade familiar" (MADALENO, Rolf. A união (ins)estável (relações paralelas). In. Adv. Advocacia dinâmica. Seleções Jurídicas. Julho de p. 57). 8. No caso de uma pessoa (in casu, o segurado) manter relacionamentos afetivos simultâneos/concomitantes/paralelos com duas ou mais pessoas sem que haja separação de fato com nenhuma delas até a sua morte, impõe-se reconhecer o atributo da união estável a primeira relação que se formou, sendo que a segunda relação é considerada concubinato desleal (arts c/c 1723, 1º do CC/02). Neste sentido, transcrevo as ementas dos julgados do STJ, as quais são bastante esclarecedoras sobre a matéria: Direito civil. Família. Paralelismo de uniões afetivas. Recurso especial. Ações de reconhecimento de uniões estáveis concomitantes. Casamento válido dissolvido. Peculiaridades. - Sob a tônica dos arts e do CC/02, para a configuração da união estável como entidade familiar, devem estar presentes, na relação afetiva, os seguintes requisitos: (i) dualidade de sexos; (ii) publicidade; (iii) continuidade; (iv) durabilidade; (v) objetivo de constituição de família; (vi) ausência de impedimentos para o casamento, ressalvadas as hipóteses de separação de fato ou judicial; (vii) observância dos deveres de lealdade, respeito e assistência, bem como de guarda, sustento e educação dos filhos. - A análise dos requisitos ínsitos à união estável deve centrar-se na conjunção de fatores presente em cada hipótese, como a affectio societatis familiar, a participação de esforços, a posse do estado de casado, a continuidade da união, a fidelidade, entre outros. - A despeito do reconhecimento na dicção do acórdão recorrido da "união estável' entre o falecido e sua ex-mulher, em concomitância com união estável preexistente, por ele mantida com a recorrente, certo é que já havia se operado entre os ex-cônjuges a dissolução do casamento válido pelo divórcio, nos termos do art , 1º, do CC/02, rompendo-se, em definitivo, os laços matrimoniais outrora existentes entre ambos. A continuidade da relação, sob a roupagem de união estável, não se enquadra nos moldes da norma civil vigente art do CC/02, porquanto esse relacionamento encontra obstáculo intransponível no dever de lealdade a ser observado entre os companheiros. - O dever de lealdade "implica franqueza, consideração, sinceridade, informação e, sem dúvida, fidelidade. Numa relação afetiva entre homem e mulher, necessariamente monogâmica, constitutiva de família, além de um dever jurídico, a fidelidade é requisito natural" (Veloso, Zeno apud Ponzoni, Laura de Toledo. Famílias simultâneas: união estável e concubinato. Disponível em
4 4 de 6 25/02/ :18 Acesso em abril de 2010). - Uma sociedade que apresenta como elemento estrutural a monogamia não pode atenuar o dever de fidelidade que integra o conceito de lealdade para o fim de inserir no âmbito do Direito de Família relações afetivas paralelas e, por consequência, desleais, sem descurar que o núcleo familiar contemporâneo tem como escopo a busca da realização de seus integrantes, vale dizer, a busca da felicidade. - As uniões afetivas plúrimas, múltiplas, simultâneas e paralelas têm ornado o cenário fático dos processos de família, com os mais inusitados arranjos, entre eles, aqueles em que um sujeito direciona seu afeto para um, dois, ou mais outros sujeitos, formando núcleos distintos e concomitantes, muitas vezes colidentes em seus interesses. - Ao analisar as lides que apresentam paralelismo afetivo, deve o juiz, atento às peculiaridades multifacetadas apresentadas em cada caso, decidir com base na dignidade da pessoa humana, na solidariedade, na afetividade, na busca da felicidade, na liberdade, na igualdade, bem assim, com redobrada atenção ao primado da monogamia, com os pés fincados no princípio da eticidade. - Emprestar aos novos arranjos familiares, de uma forma linear, os efeitos jurídicos inerentes à união estável, implicaria julgar contra o que dispõe a lei; isso porque o art do CC/02 regulou, em sua esfera de abrangência, as relações afetivas não eventuais em que se fazem presentes impedimentos para casar, de forma que só podem constituir concubinato os relacionamentos paralelos a casamento ou união estável pré e coexistente. Recurso especial provido. (REsp /RN, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/05/2010, DJe 07/06/2010) DIREITO DE FAMÍLIA. RECONHECIMENTO DE UNIÕES ESTÁVEIS SIMULTÂNEAS. IMPOSSIBILIDADE. EXCLUSIVIDADE DE RELACIONAMENTO SÓLIDO. CONDIÇÃO DE EXISTÊNCIA JURÍDICA DA UNIÃO ESTÁVEL. EXEGESE DO 1º DO ART DO CÓDIGO CIVIL DE Para a existência jurídica da união estável, extrai-se, da exegese do 1º do art do Código Civil de 2002, fine, o requisito da exclusividade de relacionamento sólido. Isso porque, nem mesmo a existência de casamento válido se apresenta como impedimento suficiente ao reconhecimento da união estável, desde que haja separação de fato, circunstância que erige a existência de outra relação afetiva factual ao degrau de óbice proeminente à nova união estável. 2. Com efeito, a pedra de toque para o aperfeiçoamento da união estável não está na inexistência de vínculo matrimonial, mas, a toda evidência, na inexistência de relacionamento de fato duradouro, concorrentemente àquele que se pretende proteção jurídica, daí por que se mostra inviável o reconhecimento de uniões estáveis simultâneas. 3. Havendo sentença transitada em julgado a reconhecer a união estável entre o falecido e sua companheira em determinado período, descabe o reconhecimento de outra união estável, simultânea àquela, com pessoa diversa. 4. Recurso especial provido. (REsp /RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 22/02/2011, DJe 07/06/2011) AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL. NÃO CONFIGURAÇÃO. UNIÕES ESTÁVEIS SIMULTÂNEAS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 83/STJ. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça não admite o reconhecimento de uniões estáveis simultâneas, pois a caracterização da união estável pressupõe a inexistência de relacionamento de fato duradouro, concorrentemente àquele ao qual se pretende proteção jurídica. Precedentes. 2. Inviável o recurso especial se o acórdão recorrido se alinha com o posicionamento sedimentado na jurisprudência do STJ, a teor do que dispõe a Súmula 83 desta Corte Superior. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp /MS, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 23/10/2014, DJe 07/11/2014) DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FAMÍLIA. AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL. RELAÇÃO CONCOMITANTE. DEVER DE FIDELIDADE. INTENÇÃO DE CONSTITUIR FAMÍLIA. AUSÊNCIA. ARTIGOS ANALISADOS: ARTS. 1º e 2º da Lei 9.278/ Ação de reconhecimento de união estável, ajuizada em Recurso especial concluso ao Gabinete em Discussão relativa ao reconhecimento de união estável quando não observado o dever de fidelidade
5 5 de 6 25/02/ :18 pelo de cujus, que mantinha outro relacionamento estável com terceira. 3. Embora não seja expressamente referida na legislação pertinente, como requisito para configuração da união estável, a fidelidade está ínsita ao próprio dever de respeito e lealdade entre os companheiros. 4. A análise dos requisitos para configuração da união estável deve centrar-se na conjunção de fatores presente em cada hipótese, como a affectio societatis familiar, a participação de esforços, a posse do estado de casado, a continuidade da união, e também a fidelidade. 5. Uma sociedade que apresenta como elemento estrutural a monogamia não pode atenuar o dever de fidelidade - que integra o conceito de lealdade e respeito mútuo - para o fim de inserir no âmbito do Direito de Família relações afetivas paralelas e, por consequência, desleais, sem descurar que o núcleo familiar contemporâneo tem como escopo a busca da realização de seus integrantes, vale dizer, a busca da felicidade. 6. Ao analisar as lides que apresentam paralelismo afetivo, deve o juiz, atento às peculiaridades multifacetadas apresentadas em cada caso, decidir com base na dignidade da pessoa humana, na solidariedade, na afetividade, na busca da felicidade, na liberdade, na igualdade, bem assim, com redobrada atenção ao primado da monogamia, com os pés fincados no princípio da eticidade. 7. Na hipótese, a recorrente não logrou êxito em demonstrar, nos termos da legislação vigente, a existência da união estável com o recorrido, podendo, no entanto, pleitear, em processo próprio, o reconhecimento de uma eventual uma sociedade de fato entre eles. 8. Recurso especial desprovido. (REsp /MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/05/2014, DJe 25/06/2014) PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PENSÃO POR MORTE. O IMPEDIMENTO PARA O CASAMENTO IMPEDE A CONSTITUIÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL E, POR CONSEQUÊNCIA, AFASTA O DIREITO AO RATEIO DO BENEFÍCIO ENTRE A COMPANHEIRA E A VIÚVA, SALVO QUANDO COMPROVADA A SEPARAÇÃO DE FATO DOS CASADOS. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Esta Corte Superior já pacificou o entendimento de que a existência de impedimento para o casamento disposto no art do Código Civil impede a constituição de união estável e, por consequência, afasta o direito ao recebimento de pensão por morte, salvo quando comprovada a separação de fato dos casados, o que, contudo, não configura a hipótese dos autos. 2. Agravo Regimental desprovido. (AgRg no REsp /CE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 24/03/2015, DJe 17/04/2015) 9.. A decisão recorrida deve ser reformada. Considerando que, por decisão transitada em julgado, a Justiça Estadual de Sergipe decidiu que: 1) a existência de união estável entre Maria José dos Santos e José Roque de Jesus desde o ano de 1968 até a data da morte ( ); 2) a relação entre Lenícia Thereza Pinto e José Roque de Jesus era concubinato desleal, não é possível decidir de maneira contrária, sob pena de vulneração da coisa julgada (efeito negativo). Em sendo a relação de concubinato entre a autora e o instituidor da pensão, a Lenícia Thereza Pinto não pode ser considerada dependente para fins previdenciários. 10. Diante do exposto, CONHEÇO e DOU PROVIMENTO ao recurso inominado interposto por MARIA JOSÉ DOS SANTOS para, reformando a sentença recorrida, julgar improcedente o pedido. Sem condenação: 1) em custas, uma vez que não houve recolhimento por ser o autor beneficiário da justiça gratuita; 2) em honorários, uma vez que somente é cabível quando se tratar de recorrente-vencido (art. 55 da Lei n.º 9.099/95 e Enunciado 57 do FONAJEF). É como voto. FÁBIO CORDEIRO DE LIMA Juiz Federal - 2ª Relatoria da TRSE
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