Hipotermia em Cabritos e Cordeiros Recém-nascidos
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- Ana Espírito Santo Teixeira
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1 Hipotermia em Cabritos e Cordeiros Recém-nascidos Define-se como hipotermia (hipo: diminuição e termia: temperatura), a redução significativa da temperatura corporal ao nível mais baixo da média normal, que no caso dos cabritos ou cordeiros é em média 39,5 C. Animal Respiração Pulso p/ minuto Temperatura retal Cabrito ,5 a 40,5 Cordeiro ,5 a 40,5 Os médios ruminantes são homeotérmicos, e como tais, mantêm uma temperatura corporal constante e estável. Para manter a homotermia é preciso uma taxa metabólica máxima do cordeiro e/ou cabrito (cerca de 18 kcal/hora). É improvável que animais vivam mais que algumas horas sem que essa exigência seja atendida. Características A enfermidade está relacionada a fatores como: - Subnutrição das matrizes no período de pré-parto; - Sensibilidade ao frio, que depende diretamente da reserva animal (gordura); - Plano estabelecido para os filhotes; - Fornecimento de colostro pós-nascimento; - Fatores ambientais; - Incidência direta de chuvas e corrente de vento. Nas regiões frias, a hipotermia representa uma das principais causas de mortalidade em neonatos. Tais fatores estão relacionados com duas características da vida fetal: - Tamanho da placenta, através da qual são fornecidos nutrientes e o oxigênio ao feto; - Alimentação ministrada às matrizes, o que determina a quantidade de nutrientes disponíveis. A enfermidade apresenta sintomatologia progressiva e produz uma diminuição das funções vitais. Necessita de interferência para que a temperatura seja normalizada e os parâmetros fisiológicos normais restituídos. Ocorrências A hipotermia poderá acontecer nas seguintes situações:
2 - Animais idosos - sobretudo os que apresentam baixa escore corporal (animais muito magros), caquéticos (animais que apresentam alteração profunda no seu estado geral) e débeis (animais que apresentam fraqueza física muito acentuada, devida à alimentação insuficiente ou inadequada, carência de vitaminas ou anorexia (falta de apetite). - Remissão de quadros febris, por convalescença às infecções. - Debilidade neonatal. - Anemias. - Intoxicações. - Icterícias. Em todas estas situações são considerados três tipos de hipotermia: 1 - Por defervescência - quando os sintomas declinam por eliminação dos agentes pirogênicos (agentes que podem produzir febre, como um agente infeccioso); 2 - Por agravamento dos sintomas - ocorre quando há diminuição da temperatura e aumento da pulsação (ver tabela 1). Pode ocorrer por fadiga dos centros termorreguladores; 3 - Por intoxicação - ocorre quando substâncias tóxicas deprimem os centros produtores de calor. Considera-se que uma hipotermia patológica acompanha os estados de colapso circulatório ou metabólico. As respostas fisiológicas e bioquímicas que contribuem para o equilíbrio da termorregulação e perda de calor são complexas, porém, sabe-se que as respostas têm início quando a temperatura ambiente é inferior à temperatura crítica (até 28 C), quando o indivíduo tem que aumentar sua taxa metabólica para manter sua temperatura interna. A temperatura crítica para neonatos é mais alta que para animais adultos. Quase todos os borregos e/ou cabritos nascidos ao ar livre sofrerão estresse por excesso de calor e frio. Temperatura crítica de cordeiros e cabritos recém-nascidos Idade Peso ao nascer 3Kg 4,5kg 1 6 horas 37 C 32 C horas 33 C 26 C horas 31 C 22 C
3 A temperatura crítica determina o aumento da produção de calor, que influencia na demanda de energia e provoca efeitos negativos sobre o apetite e consequentemente sobre a produtividade. A exposição ao frio reduz inicialmente o apetite. Slee observou perdas de até 5kg durante o inverno. Sobrevivência Os principais fatores que influenciam na sobrevivência das crias são: - Raça - há estudos sobre a variação de temperatura corporal em cordeiros recém-nascidos de diferentes raças, pressupondo taxas diferentes de mortalidade. - Peso ao nascer - quanto maior o peso dos fetos ao nascimento, maiores serão suas condições de sobrevivência. A superfície corporal de um cordeiro pequeno é proporcionalmente mais elevada que a de um cordeiro maior. Isto significa que - em relação ao peso corporal - um cordeiro pequeno perde calor mais rapidamente que um cordeiro maior. Mortalidade por insuficiência térmica Peso ao nascer Número de cordeiros Número de Mortalidade mortos 1,5 a 2,0 kg % 2,1 a 2,5 kg ,78 % 2,6 a 3,0 kg ,89 % 3,1 a 3,5 kg ,11 % 3,6 a 4,0 kg ,88 % 4,1 a 4,5 kg ,79 % 4,6 a 5,0 kg ,92 % 5,1 a 5,5 kg ,74 % 5,6 a 6,0 kg ,84 % 6,1 a 6,5 kg ,0 % Fonte: Garcia (1986) - Umidade ambientes úmidos predispõem os neonatos à enfermidade. - Condições climáticas deve-se fornecer abrigo aos recém-nascidos contra chuvas e correntes de vento. - Alimentação das matrizes uma alimentação deficiente no terço inicial da gestação poderá determinar o tamanho da placenta, que poderá trazer graves consequências ao desenvolvimento do feto. É essencial estabelecer um programa nutricional adequado às matrizes no terço final de gestação, visando ao máximo crescimento potencial dos fetos. Uma alimentação deficiente resulta em fetos pequenos e com poucas reservas energéticas. É provável que fêmeas mal alimentadas apresentem pouca ou nenhuma produção leiteira.
4 - Nível nutricional das pastagens. - Habilidade materna - A sobrevivência das crias está limitada às suas condições de reservas de energia corpórea (gordura) que dependerá principalmente da nutrição pré-natal de sua mãe com cerca de 300 kcal/kg. Fêmeas submetidas a essa dieta irão parir filhotes com reserva suficiente para sobreviverem por cerca de 12 horas sob mau tempo e cerca de 3 dias sob tempo bom. Colostro - Diretamente relacionada a estas variáveis estão à rapidez com que o filhote levanta-se e mama o colostro após o nascimento. O colostro é essencial à sobrevivência dos recém-nascidos, visto que as imunoglobulinas (IgG e IGA) ajudam na prevenção das enfermidades. A ingestão precoce de colostro tem uma vantagem adicional para os recémnascidos. Ele ajuda mais aqueles que apresentam boas reservas enérgicas, gerando um incremento na produção de calor de até 17%, o que aumenta sua resistência à hipotermia. Caso a matriz não disponha de colostro ou este não seja suficiente, pode-se fornecer se necessário, por meio de sonda gástrica, colostro artificial que consiste em: - 2 litros de leite - 5 ovos - 3 colheres de destrose (mel de abelha) - 3 colheres de farinha Láctea - 3 colheres de leite de soja - 3 colheres de calcigenol Esta mistura poderá ser congelada e guardada. Deve ser fornecida aos recémnascidos na razão de 50 ml/kg, 2 ou 3 vezes ao dia. Fatores que influenciam Os fatores que afetam a perda de calor podem dividir-se em fatores que dependem dos neonatos e fatores que dependem do meio-ambiente. Alexander (1962) cita que quando se expõe um recém-nascido a baixas temperaturas, a produção de calor acontece por dois mecanismos: 1 - Metabolismo da gordura corporal; 2 - Fatores ambientais.
5 A produção de calor deficiente tem estreita relação com a carência aguda de oxigênio, o que pode ocasionar morte prematura dos neonatos por hipóxia (carência de oxigênio). Eles permanecem letárgicos, gerando pouco calor orgânico, o que torna a hipotermia inevitável. Recém-nascidos prematuros que sofreram hipóxia no momento do seu nascimento estão especialmente predispostos a sofrer hipotermia, bem como animais procedentes de partos duplos ou triplos. Perdas de calor orgânico por conta da inanição (fome) dos neonatos por um período superior a 6 horas causam o abaixamento dos níveis de glicose no sangue (hipoglicemia). Os principais fatores que afetam a perda de calor são a temperatura e a velocidade do vento. As matrizes podem reduzir consideravelmente as perdas de calor do recém-nascido, secando-o imediatamente após o parto e proporcionando-lhes abrigo. Prevenção A prevenção dá-se pela aplicação prática dos conhecimentos de manejo e pelo histórico da ocorrência de casos na região. Se a maioria dos casos apresentase a partir de 12 horas, é provável que a inanição seja a principal causa. Nesse caso deve-se ter cuidado com a alimentação das gestantes no terço final de gestação e logo após o parto. Por ocasião do parto, é interessante separar e dispensar maiores cuidados aos recém-nascidos, sobretudo de ovelhas débeis e/ou muito velhas. Lesões A hipotermia só pode ser diagnosticada tomando-se a temperatura retal dos cordeiros. Em último caso, o exame pós-morte (necropsia) poderá indicar as causas do problema (estômago vazio, pouca reserva energética, sinais de desidratação, peso corporal débil, etc.). Considera-se ligeiramente hipotérmico, o animal que apresenta temperatura entre 37 C e 39 C. É gravemente hipotérmico quando apresenta temperatura inferior a 37 C. Tratamento Recém-nascidos débeis que apresentarem temperatura inferior a 38 C deverão ser secos e posteriormente aquecidos e alimentados (com colostro até 12 horas após o nascimento e com leite após esse período). Se o estado de debilidade for grave, deve-se aplicar, por via intraperitoneal, uma solução de glicose a 20%, na razão de 30 ml, mais antibióticos de ação prolongada por via parenteral. Se for necessário, ministrar - via sonda gástrica ml de colostro artificial três vezes ao dia, até que o cabrito ou cordeiro consiga mamar por conta própria. Deve-se tomar a temperatura de hora em hora, até que a mesma se restabeleça.
6 Fonte: Revista O Berro Nº 80 - Agosto/2005.
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