Qualidade de vida e qualidade de vida no trabalho: um retrato sobre a percepção da literatura atual e as ações das empresas brasileiras
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- Jonathan Balsemão Minho
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1 Qualidade de vida e qualidade de vida no trabalho: um retrato sobre a percepção da literatura atual e as ações das empresas brasileiras Luciana da Silva Timossi (UTFPR) lucianatimossi@yahoo.com.br Antonio Carlos de Francisco (UTFPR) acfrancisco@utfpr.edu.br Ariel Orlei Michaloski (UTFPR) ariel@interponta.com.br Resumo: O objetivo deste estudo foi: analisar como as atuais bibliografias na área acadêmica e as empresas estão tratando dos assuntos qualidades de vida (QV), qualidades de vida no trabalho (QVT) e suas relações. Envolveu levantamento bibliográfico, onde a coleta de dados foi baseada em teses e dissertações publicadas no período de 1997 a Ao todo foram selecionados 57 estudos, sendo 17 teses e 40 dissertações. Em um segundo momento, investigou-se o contexto produtivo e as ações praticadas e relatadas pelas empresas brasileiras eleitas como as melhores empresas para se trabalhar. Os resultados mostram que desde 1997 até 2006 ocorreu um aumento da quantidade geral de publicações relacionadas tanto a QV quanto a QVT. Principalmente se considerados aqueles estudos que abrangem à interação entre ambas. A área de pesquisa que mais explorou esta visão foi a Engenharia de Produção, responsável por 80% das publicações desde 2001 até Na área empresarial foi verificado quanto ao Índice de Qualidade do Ambiente de Trabalho escores altos, acima de 81, e com média geral de 87,5. O Índice de Qualidade na Gestão de Pessoas aponta escore médio de 68,08, e os escores relacionados à saúde obtiveram aprovação média de 83,67%. Conclui-se que existe uma convergência entre o que a literatura atual preconiza em relação à importância de olhar o ser humano em um contexto amplo e abrangente e as ações praticadas pelas organizações estudadas, tidas como modelos da gestão de pessoas. Palavras-chave: Qualidade de Vida (QV); Qualidade de Vida no Trabalho (QVT); Gestão de pessoas. 1. Introdução Há algumas décadas as atenções estão aos poucos sendo direcionadas para o foco da valorização da gestão do capital humano das organizações. Neste sentido percebe-se que cresce o número de empresas que vêem investindo recursos em programas de: promoção da saúde do trabalhador, QV e QVT. Estas iniciativas, além de valorizar os indivíduos, acabam por beneficiar a empresa no relacionamento com seus colaboradores e na qualidade dos produtos, tornando-se então diferenciais competitivos. Este estudo desenvolveu-se em dois contextos diferenciados: primeiramente no contexto da literatura acadêmica atual sobre o assunto QV e QVT, e em seqüência no contexto produtivo com a investigação das empresas que possuem programas que, de alguma maneira, contemplam o bem estar e a saúde de seus colaboradores. O objetivo principal desta pesquisa foi analisar como as atuais bibliografias na área acadêmica e as empresas estão tratando do assunto QV, QVT e as inter-relações e influências que ocorrem entre ambos os fatores. Além de investigar se existem disjunções entre o que a literatura diz e o que as empresas estão praticando em relação à QV e a QVT.
2 Neste contexto, através desta pesquisa aplicada, exploratória e predominantemente qualitativa, realizada sob a forma de investigação bibliográfica e investigação de casos, pretendeu-se responder a seguinte questão: Quais as relações observadas em teses, dissertações e nas organizações de trabalho sobre os temas: QV, QVT, abrangendo também a visão dicotômica do homem ora visto como trabalhador ora como indivíduo? Mesmo sendo a QV e QVT temas bastante discutidos, a relevância está em investigar se existem disjunções entre o que a literatura atual preconiza e as ações praticadas pelas empresas brasileiras classificadas como melhores empresas para se trabalhar, tendo em vista, que estas organizações são apresentadas como modelos de inovação na gestão de pessoas. 2. A qualidade de vida como resultado da interação de múltiplos fatores: entre eles a qualidade de vida no trabalho A sociedade e as pessoas, tanto no papel de trabalhadores como no de consumidores de produtos e serviços, estão atualmente mais exigentes, tentando encontrar um ponto de equilíbrio entre sua vida e o trabalho. Para conseguir este equilíbrio administram ao mesmo tempo fatores como: saúde, trabalho e produtividade; trabalho, vida pessoal e lazer; trabalho estilo de vida e qualidade de vida. Considerando que ambos interagem a todo o momento e, que o trabalho e também a QVT, determinam todo um contexto e comportamento do indivíduo em relação ao seu estilo de vida diário e a sua QV, se percebe que pesquisar sobre a QV envolve também conhecer as condições de satisfação e a QVT. Nesta mesma ótica, Nahas (2001, p. 09) diz que pelo menos duas realidades se interpõe em nosso dia-a-dia e podem ser consideradas no estudo da qualidade de vida: a realidade da vida social familiar (aí incluindo o lazer) e a realidade do trabalho. Alguns autores como Loscocco e Roschelle, em 1991, propuseram que a qualidade de vida deve ser analisada como a resultante desta composição de realidades e não separadamente. Esta posição destaca a importância de entender e observar o indivíduo de uma forma mais abrangente, e não de forma segmentada, ora trabalhador ora sujeito. Quilici e Xavier (2006, p. 02) esclarecem este pensamento quando destacam que não se trata mais de levar os problemas de casa para o trabalho, e sim de levarmos para casa os problemas, as tensões, os receios e as angústias acumulados no ambiente de trabalho, o que acaba por influenciar tanto o comportamento quanto a saúde das pessoas, mesmo que estas façam o possível para evitar. Existem vários levantamentos que dão margem à hipótese que há estreitos laços entre a QVT e a QV em geral (GRANDJEAN, 1998). Um primeiro exemplo é o estudo realizado por Dezan et. al. em 2005, com mulheres que trabalham em tele marketing, o qual mostrou uma correlação linear entre o ângulo de cifose e o tempo trabalhado em anos. Um outro exemplo foi dado por Cooper (2005, p. 06) quando este discorre sobre a percepção que os gerentes têm sobre as muitas horas de trabalho onde 69% destes executivos relatam que estas horas prejudicam sua saúde, 77% que afetam de forma adversa seu relacionamento com os filhos, 72% que prejudicam seu relacionamento com seu parceiro. Estes dois exemplos vêem reforçar a idéia de relação entre QV dentro e fora do trabalho, e que as atitudes durante o trabalho refletem na vida do indivíduo como um todo. Considerando que são nas empresas ou no ambiente de trabalho que as pessoas passam a maior parte de suas vidas, e que hoje o trabalho é algo muito importante e relevante na vida das pessoas, a saída então se resume a ser feliz no trabalho. Deste modo, as avaliações relacionadas à QV precisam atentar e considerar também a QVT como um domínio essencial, tendo em vista que, qualquer experiência do sujeito em seu ambiente laboral, podendo ser positiva ou negativa, refletirá consequentemente da mesma forma em outras esferas de sua vida. Sendo o caminho inverso também facilmente percorrido.
3 Corroborando, Mendes (2000, p. 25) relata que a QVT tem sido focalizada na imprensa falada e escrita, mas no entendimento dos especialistas da área, a satisfação no trabalho não pode estar isolada da vida do indivíduo como um todo. Isso ocorre porque o trabalhador para desenvolver suas atividades precisa estar saudável de forma a manter seu desempenho e sentir-se satisfeito com ele mesmo. Do mesmo modo que o homem está inserido em um processo contínuo de mudança em busca do equilíbrio saudável as empresas também estão neste mesmo contexto, desenvolvendo estratégias para acompanhar o aumento da complexidade das relações de mercado. A QVT pode ser enquadrada como uma destas estratégias, observando que inúmeras organizações estão dispensando maior atenção às questões relacionadas à valorização do capital humano. Para França (2001, p. 03) a QVT representa hoje uns dos maiores desafios empresariais. Não é uma tarefa simples conciliar competitividades aos novos padrões de conhecimento, aliados a qualificação profissional aos novos estilos e vida. Deste modo, a forma com que as organizações de trabalho entendem, percebem e executam a QVT pode ser evidenciada pelas iniciativas que as mesmas adotam em relação à gestão de seu capital humano. 4. Metodologia Este estudo envolveu levantamento bibliográfico, sendo que primeiramente a coleta de dados foi baseada em teses e dissertações publicadas no período de 1997 a Para a seleção destas teses e dissertações, os temas QV, QVT ou ambos deveriam aparecer ao menos em um destes momentos: título, resumo, palavras chaves ou sumário. Ao todo foram selecionados 57 estudos, sendo 17 teses e 40 dissertações. A figura 1 mostra a distribuição dos estudos QV QVT QV mais QVT TESES DISSERTAÇÕES Figura 1 Distribuição dos estudos de acordo com o tema abordado Em um segundo momento, investigou-se o contexto produtivo e as ações praticadas e relatadas pelas empresas brasileiras eleitas como melhores empresas para se trabalhar. Esta relação é divulgada anualmente pelas Revistas Exame e Você S/A, desde E tem como metodologia para a seleção das organizações um cruzamento das práticas desenvolvidas pelas empresas, com a percepção dos colaboradores. Desta forma, o Índice Geral das Melhores Empresas para Trabalhar é composto por 70% da percepção do colaborador, 25% das políticas e práticas de recursos humanos e 5% de uma visita realizada a empresa por um representante do Guia das Melhores Empresas (GUIA EXAME e VOCÊ S/A, 2006). Para a coleta dos dados selecionou-se dentre a 150 empresas divulgadas, as 10 empresas melhores colocadas na avaliação do Guia As Melhores Empresas para Você Trabalhar (2006), A tabela 1 apresenta as 10 empresas e os setores produtivo-econômicos a que pertencem. Empresas e Classificação Setor Produtivo 1ª Masa Plástico e borracha 2ª BV Financeira Serviços financeiros 3ª Serasa Serviços financeiros 4ª Promon Serviços diversos 5ª Landis + Gyr Eletroeletrônicos
4 6ª Arcelor Metalurgia e siderurgia 7ª Eurofarma Farmácia, higiene e limpeza 8ª Fras - Le Automotivo 9ª Accor Serviços diversos 10ª Albras Metalurgia e siderurgia Fonte: Guia EXAME e VOCÊ S/A, p. 53, Tabela 1 Ranking das 10 melhores empresas para você trabalhar Este estudo concedeu especial atenção a dois fatores que compõem a avaliação total para a classificação das empresas: o Índice de Qualidade do Ambiente de Trabalho e o Índice de Qualidade na Gestão de Pessoas. O primeiro porque aborda as questões da QV e da QVT, e o segundo porque abrange a questão de investimentos com a saúde dos colaboradores. Para analisar os índices, foram verificadas as ações praticadas pelas organizações, e as ações melhores avaliadas pelos colaboradores referentes à: QV, QVT e promoção da saúde. 5. Resultados e Discussão 5.1 Área acadêmica Através da análise dos 57 estudos, percebe-se que, partindo de 1997 ocorreu um importante aumento do interesse da área acadêmica em pesquisar sobre QV e QVT. A figura 2 apresenta este aumento considerando a distribuição anual dos estudos e temas abordados. 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% QV QVT QV+QVT Figura 2 Distribuição anual dos estudos de acordo com os temas abordados Verifica-se que os estudo relacionados a QV triplicaram nos últimos 10 anos, passando de 6%, em 1997 e 1999, para 18% em 2001, 2003, 2005 e Analisando somente a QVT, ocorreu um aumento a partir de 2000, sendo 2001 o ano de maior quantidade de pesquisas, 33%. Já os estudos que abordam ambos os temas, QV mais QVT, e também suas relações, começam a surgir a partir de 2000 com 5%, nos anos de 2001, 2002, 2003 e 2004 ocorreram oscilações na quantidade de publicações, sendo respectivamente de 16%, 21%, 5% e 16%. No ano de 2005 foi registrada a maior quantidade de publicações, 26%, voltando a 11% em O maior relevância nestes resultados é o aumento registrado desde 1997 até 2006 da quantidade geral de publicações relacionadas tanto a QV geral dos indivíduos quanto a QVT. Principalmente se considerados aqueles estudos relacionados a interação entre ambas, QV mais QVT. Ao que parece, os pesquisadores estão atribuindo uma nova abordagem a temas já bastente discutidos, além de confirmarem a visão de Santana (2002, p. 66) quando este afirma que na análise da qualidade de vida é preciso levar em consideração as condicionantes de qualidade de vida intra e extra trabalho. Esta mudança de entendimento está sendo consolidada após a verificação de que as experiências vivenciadas pelas pessoas seja no ambiente organizacional ou social afetam de forma global o sujeito. Discorrendo também sobre este aspecto Danna e Griffing (1999) apud Añez (2003 p. 40) salientam que o trabalho
5 e a vida pessoal não são duas coisas separadas, mas domínios inter-relacionados e entrelaçados com efeitos recíprocos um no outro. Ainda neste contexto, foi também verificada as áreas de pesquisa que mais se interessaram em explorar a interação entre a QV e a QVT na vida dos indivíduos. Percebe-se que ocorre um detaque para a Engenharia de Produção como mostra a figura 3. Figura 3 Áreas de pesquisa com interesse na interação entre a QV e a QVT De acordo com os dados levantados de 2001 a 2006, a Engenharia de Produção foi responsável por 80% das publicações que relacionam a importância de avaliar a pessoa em um contexto mais abrangente. Entende-se deste modo, que para avaliar a QV também é importante atentar para a QVT, sendo esta visão em conjunto, uma alternativa para interromper e impedir a visão dicotômica do homem, ora trabalhador ora sujeito. 5.2 Área empresarial Na esfera empresarial, muitas organizações de trabalho compreenderam que a necessidade de desenvolver programas voltados e em favor dos colaboradores é resultado tanto da maneira com que o sistema produtivo se desenvolve, de forma contínua, quanto da aliança profissional da empresa com a necessidade dos colaboradores. No Brasil, algumas empresas a cerca de 15 anos, adaptaram os modelos de programas de promoção da saúde do trabalhador e programas de qualidade de vida de empresas dos Estados Unidos com o objetivo de reduzir custos com assistência médica, absenteísmo, acidentes, melhorar a segurança e o bem estar dos colaboradores em uma visão global (COSTA e FRANÇA, 2001). A seguir são apresentados os dados obtidos pelas empresas quanto ao Índice de Qualidade do Ambiente de Trabalho, Índice de Qualidade na Gestão de Pessoas e avaliação dos investimentos em saúde. Os índices são avaliados em uma escala de (0) a (100). Onde o (0) representa total insatisfação dos colaboradores e o (100) representa a total satisfação, ou seja, quanto mais os escores se aproximam de 100 melhor avaliada foi a organização. Colocação Índice de qualidade do Índice de qualidade das empresas ambiente de trabalho na gestão de pessoas Saúde 1ª 94,5 47,6 66,7 2ª 91,8 62,8 80 3ª 89,5 69,1 83,3 4ª 89 53,6 50 5ª 88,3 66,5 96,7 6ª 86, ,3 7ª 86,3 72,5 71,7 8ª 84,2 69, ª 83,6 79, ª 81,4 82,6 100 Fonte: Adaptado de Guia EXAME e VOCÊ S/A, 2006.
6 Tabela 2 Resultados do Índice de Qualidade do Ambiente de Trabalho, Índice de Qualidade na Gestão de Pessoas e saúde Quanto ao Índice de Qualidade do Ambiente de Trabalho destacam-se escores altos, acima de 81, e com média geral de 87,5. O Índice de Qualidade na Gestão de Pessoas aponta escore médio de 68,08. Os escores relacionados à saúde obtiveram aprovação média de 83,67%. Considerando que estes índices representam uma avaliação das práticas e políticas de gestão dos recursos humanos, e também a percepção dos colaboradores sobre suas relações com a empresa, com o trabalho em si, com os colegas e com os chefes, pode-se entender que está ocorrendo uma sintonia entre o que os colaboradores acreditam e o que as empresas vêm atendendo, criando assim maior identificação e satisfação com a organização e com o trabalho. A satisfação no trabalho é um fator de produção tão importante como qualquer outro. Isso ocorre quando o trabalhador no desenvolvimento de suas atividades está saudável e comprometido, de forma a manter sua performance e sentir-se satisfeito com ele mesmo (BARBOSA, 2006). Visto desta forma, a satisfação no trabalho precisa estar unida à vida do colaborador como um todo, e não isoladamente, algumas vezes isso requer mudanças na forma da empresa gerir seu capital humano. Esta mudança é descrita por França (2004, p. 79) quando a autora afirma que as novas condições de trabalho mudam profundamente o estilo gerencial da empresa: a liderança autoritária e centralizadora dá lugar a uma gestão mais aberta; controles e normas são transformados em missões e visões compartilhadas. Em relação a existência de preocupação por parte das 10 empresas com a QV de seus trabalhadores a figura 4 mostra a média geral da opinião dos próprios colaboradores. Figura 4 Opinião dos colaboradores se há preocupação da empresa quanto a QV Fonte: Adaptado de Guia EXAME e VOCÊ S/A, A seguir são apresentadas às principais ações realizadas pelas 10 melhores empresas para se trabalhar quanto à gestão da QV, QVT e saúde de seus colaboradores. Área Assistência médica Programas para as populações especiais Ações preventivas Diversos Ações mais praticadas pelas organizações Assistência médica e odontológica 100% subsidiada para todos; Há médicos de várias especialidades à disposição na empresa incluindo assistência psicológica e a possibilidade de fazer exames; O plano de saúde garante internação em apartamento individual extensivo para cônjuges e filhos de funcionários; Subsídio para a compra de medicamentos. Controle de diabetes, hipertensão, obesidade, estresse, uso de drogas, alcoolismo, tabagismo e problemas psicológicos. Palestras sobre câncer de mama; academia de ginástica; orientação nutricional; ginástica laboral. Horário de trabalho flexível, massagens, salas de descanso, aulas de ioga e espaço para meditação, promoção de atividades como
7 caminhadas e corridas. Fonte: Adaptado de Guia EXAME e VOCÊ S/A, Tabela 3 Ações executadas pelas empresas Em um estudo realizado por Tolfo e Piccinini em 2001 foi verificada uma significativa similaridade entre os itens definidos como essenciais para que uma empresa seja local excelente para trabalhar e o modelo de Walton (1973) sobre qualidade de vida no trabalho (TOLFO E PICCININI, 2001). Esta realidade que envolve a necessidade e a tomada de decisão da empresa por implantar ações específicas voltadas aos colaboradores é justificada tendo em vista que é no local de trabalho que as pessoas passam boa parte de suas vidas. Segundo Alvarez (2002, p. 05) é de fundamental importância desenvolver programas que promovam a qualidade de vida do trabalhador no seu sentido mais global. Sendo justificadas por diferentes motivos: escolhas dos dirigentes, da cultura da empresa, do comportamento dos concorrentes e decorrentes dos produtos que estão no mercado (FRANÇA, 2001). É importante frisar ainda a necessidade da organização observar o colaborador com um olhar mais abrangente atentando para o seu comportamento quando este está fora do local de trabalho. Deste modo, a empresa pode desempenhar um importante papel na construção da saúde de seu colaborador oferecendo oportunidades e meios de conscientização para fundamentar as mudanças comportamentais. 6. Conclusão A investigação realizada por este estudo conclui que na área acadêmica desde 1997 ocorreu um importante aumento do interesse em pesquisar sobre QV e QVT. Verifica-se que os estudo relacionados à QV triplicaram nos últimos 10 anos, passando de 6% para 18%. Analisando somente a QVT, o aumento da quantidade de publicações ocorreu a partir de 2000, sendo 2001 o ano em que houve a maior quantidade de pesquisas 33%. Já os estudos que abordam ambos os temas, QV mais QVT em um contexto mais abrangente, contemplando suas relações, começam a surgir a partir de 2000 com 5%. Em seqüência nos anos de 2001, 2002, 2003 e 2004 ocorreram oscilações na quantidade de publicações, sendo respectivamente de 16%, 21%, 5% e 16%. No ano de 2005 foi registrada a maior quantidade de publicações, cerca de 26%, voltando a 11% em O relevante nestes resultados é o aumento registrado desde 1997 até 2006 da quantidade de publicações relacionadas tanto a QV quanto a QVT. Principalmente se considerados aqueles estudos relacionados à interação entre ambas QV mais QVT. Ao que parece, os pesquisadores estão atribuindo uma nova abordagem a temas já bastante discutidos, confirmando que, para analisar a QV de forma fidedigna é importante levar em consideração a QV dentro e fora do ambiente laboral. A área de pesquisa que mais explorou esta visão foi a Engenharia de Produção, responsável por 80% das publicações desde 2001 até Na área empresarial analisando, as 10 empresas melhores colocadas no Guia As Melhores Empresas para Você Trabalhar (2006), foi verificado quanto ao Índice de Qualidade do Ambiente de Trabalho escores altos, com média geral de 87,5. O Índice de Qualidade na Gestão de Pessoas aponta escore médio de 68,08. E os escores relacionados à saúde obtiveram média de 83,67%. Estes dados levam a entender que está ocorrendo uma sintonia entre o que os colaboradores acreditam e o que as empresas vêm atendendo, criando assim maior identificação e satisfação com a organização e com o trabalho. Uma observação importante se refere às diversas ações praticadas pelas organizações como: assistência médica e odontológica 100% subsidiada para todos incluindo cônjuges e filhos de funcionários; controle de diabetes; hipertensão; obesidade; estresse; uso de drogas; alcoolismo; tabagismo; problemas psicológicos; ginástica laboral; palestras sobre câncer de
8 mama; academia de ginástica e orientação nutricional. Todas estas iniciativas não se restringem a dar atenção ao colaborador somente enquanto este se encontra no local de trabalho. As empresas estão percebendo que as ações, independente se são intra ou extra trabalho aumentam a satisfação, identidade e motivação pelo trabalho. Gerando assim retornos para a própria empresa, já que colaboradores saudáveis têm uma relação mais fina com a organização a qual pertence, e são capazes de gerar maior lucratividade. Por fim conclui-se que existe uma convergência entre o que a literatura atual preconiza em relação à importância de olhar o ser humano em um contexto amplo e abrangente e as ações praticadas pelas organizações estudadas, tidas como modelos da gestão de pessoas. Referências ALVAREZ, B. R. Estilo de vida e hábitos de lazer de trabalhadores, após 2 anos de aplicação de programa de ginástica laboral e saúde caso Intelbras. Florianópolis, f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) Universidade Federal de Santa Cataria. AÑEZ, C. R. R. Sistema de avaliação para a promoção e gestão do estilo de vida saudável e da aptidão física relacionada à saúde de policiais militares. Florianópolis, f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) Universidade Federal de Santa Cataria. BARBOSA, M. A. P. Qualidade de vida percebida no trabalho e os serviços de manutenção: estudo de caso em uma indústria no Estado do Ceará. In: XXVI ENEGEP Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Fortaleza, p. 1-6, COOPER, C. L. A natureza mutante do trabalho: o novo contrato psicológico e os estressores associados. In: ROSSI, A. M.; PERREWÉ, P. L.; SAUTER, S. (Org.) Stress e qualidade de vida no trabalho: perspectivas atuais da saúde ocupacional. São Paulo: Atlas, COSTA, I. F.; FRANÇA, A. C. L. Qualidade de vida no trabalho: o estudo qualitativo na empresa natura. In: V SEMEAD, São Paulo, p , DEZAN, V. H.; NOGUEIRA, L.; SARRAF, T. A.; PROVENSI, C. G.; RODACKI, A. L. F. Postural alterations and occurrence of back pain in telemarketing operators. Fiep Bulletin. vol. 75, n. 000, p , FRANÇA, A. C. L. Treinamento e qualidade de vida. São Paulo: Universidade de São Paulo, Disponível em Acesso em 27 de junho de FRANÇA, A C. L. Qualidade de Vida no Trabalho: QVT. 2. ed. São Paulo: Atlas, GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, GUIA EXAME; VOCÊ S/A. As 150 melhores empresas para você trabalhar. [s.l., s.n.] Edição especial, MENDES, R. A. Ginástica Laboral (GL): implantação e benefícios nas indústrias da cidade industrial de Curitiba (CIC). Curitiba, f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) Universidade Tecnológica Federal do Paraná. NAHAS, M. V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 2. ed. Londrina: Midiograf, QUILICI, R. F. M.; XAVIER, A. A. P. Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) em uma empresa estocadora de soja na região dos Campos Gerais: um estudo comparativo sobre satisfação/motivação. In: XXVI ENEGEP Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Fortaleza, p. 1-8, SANTANA, A. M. C. A produtividade em uma unidade de alimentação e nutrição: aplicabilidade de um sistema de medida e melhoria da produtividade integrando a ergonomia. Florianópolis, f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) Universidade Federal de Santa Catarina. TOLFO, S. R.; PICCININI, V. C. As melhores empresas para trabalhar no Brasil e a qualidade de vida no trabalho: disjunções entre a teoria e a prática. Revista RAC. v. 5, n. 1, p , Agradecimento: Os autores agradecem o apoio concedido pela Capes através do suporte financeiro recebido à elaboração da pesquisa.
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