PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE ALAGOAS

Transcrição

1 Apelação Cível n.º Relator: Des. Tutmés Airan de Albuquerque Melo Apelantes: João Norberto de Lima em causa própria (OAB-AL 523) Município de Maceió/AL Procurador: Sandro Soares Lima (OAB-AL 5.801) Apelado: João Norberto de Lima em causa própria (OAB-AL 523) Município de Maceió/AL Procurador: Sandro Soares Lima (OAB-AL 5.801) Acórdão nº /2010 APELAÇÃO CÍVEL. CONSTITUCIONAL. TETO SALARIAL. IGUALDADE ENTRE OS PROCURADORES DE QUALQUER UNIDADE DA FEDERAÇÃO. 1.Os procuradores em geral não se submetem ao subsídio de Prefeito como subteto ou limite. Pouco importa que sejam procuradores federais, estaduais ou municipais, pois onde a Magna Carta não distinguiu não cabe ao interprete assim proceder. Não há como dar outra interpretação ao texto do inciso XI do art. 37 da Constitucional Federal. 2. Apelação conhecida e não provida. Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível n.º , em que figuram como apelantes o Município de Maceió-AL e o Sr. Norberto de Lima Neto e, como apelado, o Sr. Norberto de Lima Neto e o Município de Maceió, devidamente qualificados e representados. ACORDAM os desembargadores integrantes da 1ª Câmara Cível, em conformidade com o do relator, à unanimidade, em tomar conhecimento dos apelos para NEGAR-LHES provimento, mantendo incólume a sentença de 1º grau. Tomaram parte no julgamento: des. Tutmés Airan de Albuquerque Melo Relator, des. Washington Luiz Damasceno Freitas e des. James Magalhães de Medeiros. Presidiu a sessão o des. James Magalhães de Medeiros. ApC nº de 10

2 Maceió, 12 de maio de Des. James Magalhães de Medeiros Presidente Des. Tutmés Airan de Albuquerque Melo Relator Apelação Cível n.º Relator: Des. Tutmés Airan de Albuquerque Melo Apelantes: Município de Maceió/AL Procurador: Sandro Soares Lima (OAB-AL 5.801) Apelado: João Norberto de Lima em causa própria (OAB-AL 523) Procurador: Sandro Soares Lima (OAB-AL 5.801) RELATÓRIO 1. O Município de Maceió/AL interpôs apelação cível, requerendo seu recebimento em ambos os efeitos, contra decisão do Juízo de primeiro grau que julgou procedente a ação ordinária movida pelo apelado. 2. Narrou o apelado, em sua petição inicial, que é Ex Procurador-Geral do Município de Maceió-AL, ora apelante, aposentado sob a vigência da Constituição Federal de 1967, tendo sido incorporado em seu salário-base quando da aposentação, determinadas vantagens pessoais, ocasionando um acréscimo de 141% (cento e quarenta e um por cento) sobre o salário-base atual. No entanto, informou que o município de Maceió deixou de pagar seus proventos integrais, sob o argumento de que o valor percebido ultrapassa os vencimentos do ApC nº de 10

3 Prefeito, gerando, assim, uma considerável redução de seus proventos. 3. Diante de tal situação, ingressou com demanda cautelar, sendo esta posteriormente convertida pelo juiz singular em ordinária, pleiteando o pagamento de seus proventos integrais, sem qualquer incidência de desconto referente ao teto salarial previsto no art. 37, XI da Constituição Federal de 1988, assim como a condenação do apelante nas verbas descontadas ilegalmente e juros advocatícios, todos devidamente corrigidos. 4. O pedido de antecipação de tutela foi indeferido, conforme decisão fls. 46/48. Contra tal decisão, o apelado interpôs agravo de instrumento, sendo este transformado em retido. 5. Contestando a demanda, o apelante alegou a inexistência de afronta à lei e à Constituição Federal de 1988, dizendo ter realizado os descontos para atender as normas estabelecidas na Constituição. 6. Instado a manifestar-se, o representante do Ministério Público ofereceu parecer, conforme fls. 82/87, e ao final pugnou pela transformação da ação cautelar em ordinária. 7. O juiz prolatou sentença de improcedência, determinando a restituição ao apelado dos valores ilegalmente descontados, devidamente corrigidos, assim como a abstenção da redução de quaisquer vantagens incorporadas aos seus proventos, recebendo-o em seu valor integral acrescidos das vantagens legais questionadas pelo município de Maceió, até sua absorção pelos eventos futuros. Ademais, condenou também o apelante ao pagamento de honorários advocatícios fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa. 8. Desta decisão, o Sr. João Norberto em sede de apelação, requereu a reforma da sentença a quo no tocante aos honorários advocatícios, pleiteando sua fixação em 20% (vinte por cento) sobre o quantum indenizatório apurado em liquidação judicial e não sobre o valor da causa. 9. Em seu recurso de apelação, o município de Maceió apenas repetiu os argumentos ApC nº de 10

4 da contestação, pugnando pela reforma da sentença. 10. Aberto o prazo para contrarrazões, somente o apelante, Sr. João Norberto se manifestou, repetindo os argumentos da petição inicial, requerendo, ainda, que o Juiz a quo não recebesse o recurso de apelação do município apelante, alegando sua intempestividade, sendo tal pedido indeferido, uma vez que o recurso foi interposto no prazo legal. É o relatório. Passo a expor meu voto. VOTO: ApC nº de 10

5 11. Analisando os requisitos de admissibilidade, percebe-se a conformidade da presente apelação quanto ao prazo e às demais imposições formais previstas em lei. Sendo assim, conheço do recurso por tempestivo e por atender aos requisitos legais. 12. Preliminarmente, cabe, nesta oportunidade, analisar o agravo de instrumento proposto pelo apelante e convertido em agravo retido pelo então relator do processo nº A decisão agravada consta das fls. 06 a 08 dos presentes autos, na forma de uma decisão interlocutória proferida pelo juiz, o qual deixou de conceder a antecipação da tutela pretendida. 14. Sustenta o agravante que o redutor constitucional aplicado sobre seus proventos teve como fundamento a necessidade de adequa-los ao teto remuneratório no âmbito municipal, ou seja, os vencimentos percebidos pelo prefeito. Informa, ainda, que a decisão agravada não merece prosperar, visto que tal benefício possui natureza alimentar, pugnando, ao final, pela suspensão do desconto provocado pelo referido redutor constitucional, restabelecendo o pagamento de seus proventos com todas as vantagens pessoais, em sede de tutela antecipada. 15. É sabido que o ordenamento jurídico pátrio proíbe a antecipação de tutela contra a Fazenda Pública que implique no pagamento de vencimentos e vantagem pecuniária, o que se estende, por interpretação lógica, aos proventos de aposentadoria. Tal entendimento encontrase positivado na Lei nº /66 em seu artigo 1º. Vejamos: Art. 1º. O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias asseguradas, em sentença concessiva de mandado de segurança, a servidor público federal, da administração direta ou autárquica, e a ApC nº de 10

6 servidor público estadual e municipal, somente será efetuado relativamente às prestações que se vencerem a contar da data do ajuizamento da inicial. 4º. Não se concederá medida liminar para efeito de pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias. 16. Aliado ao dispositivo acima, o Código de Processo Civil é categórico ao proibir a concessão de antecipação de tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado, motivo pelo qual CONHEÇO do agravo, para NEGAR-LHE PROVIMENTO. 17. Superada a análise do agravo convertido em retido, devidamente reiterado pelo apelante, passo a analisar o mérito da presente apelação. 18. Avaliando a peça recursal, percebe-se que o Município apelante elenca quatro equívocos na sentença atacada. São eles: 1) a carência de ação por inadequação da via eleita; 2) Julgamento extra petita; 3) Errônea equiparação do teto salarial; 4) Inexistência de direito adquirido por parte do autor. A parte adversa, por outro lado, recorreu da sentença apenas para que os honorários advocatícios fossem arbitrados em 20% (vinte por cento) sobre o quantum indenizatório apurado em liquidação judicial e não sobre o valor da causa. 19. No entender do apelante, inicialmente, o Magistrado de 1º grau agiu equivocadamente ao converter a ação cautelar em ordinária, quando deveria ter extinto o processo sem julgamento do mérito, por inadequação da via eleita. Ora, é evidente que não deve prosperar tal argumento. O juiz dispõe do poder geral de cautela para adotar as providências necessárias à preservação de situações jurídicas ou de fatos sem os quais não seria possível ou satisfatória a prestação jurisdicional. 20. Ademais, com base no princípio da fungibilidade previsto no art. 273, 7º do Código de Processo Civil, a escolha da via eleita não acarreta a extinção do processo se a finalidade prática dos atos processuais, em detrimento da forma, pode ser alcançada. Isto foi ApC nº de 10

7 acertadamente observado e reconhecido pelo magistrado a quo ao dispor, na sentença ora recorrida, que: (...) mais importante que a forma é a finalidade do processo, a sua efetividade. As formalidades processuais cedem em razão da finalidade e da função do processo. 21. Assim, embora tenha ajuizado ação cautelar, está claro que o autor não pretendeu obter um provimento de caráter instrumental e provisório, sendo possível ao magistrado convertê-la, nesse caso, em ação cabível para o provimento desejado. 22. Prosseguindo, sustentou o apelante que o magistrado sentenciante ao dizer que os procuradores municipais não se submetem ao teto salarial do prefeito e sim ao dos desembargadores julgou extra-petita fugindo do pedido do autor, que se limitou a requerer que suas vantagens pessoais fossem excluídas do teto salarial, pois foram incorporadas à època de sua aposentadoria, tratando-se, assim, de direito adquirido antes da criação do referido teto. 23. Definitivamente, não procede tal argumento. Tem-se por extra petita uma decisão que possua natureza diversa ou que conceda ao demandante objeto diferente do que foi pedido, levando em consideração fundamento de fato não suscitado por qualquer das partes. Ocorre que, no caso concreto isto não aconteceu, uma vez que o município apelante sustentou, tanto na contestação, como nas razões de sua apelação, que os procuradores municipais têm como teto salarial o subsídio do prefeito. 24. Assim sendo, além da decisão não ser extra petita, este assunto merece discussão, por estar interligado ao terceiro ponto elencado na apelação interposta pelo município de Maceió. Pois bem, analisando a decisão atacada, nota-se que o magistrado sentenciante realizou interpretação lógica de norma expressa na Constituição Federal. 25. Diferentemente do que afirmou o apelante, a sentença atacada acertou quando ApC nº de 10

8 percebeu que os vencimentos ou proventos dos procuradores municipais, excepcionalmente, foge do limite do subsídio do Prefeito. Vejamos: Art. 37 (...) XI- A remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, do detentores de mandato eletivo e dos demais agente políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados estaduais e distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite ao membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos. (grifei) 26. Numa simples leitura do dispositivo acima, observa-se que a Constituição estabeleceu um sub-teto específico, aplicando-o aos membros do Ministério Público, aos Defensores e aos Procuradores, cargo que deve ser considerado gênero, do qual os procuradores municipais são espécie. Sobre este tema, eis que disse o desembargador Rui Stoco 1, em seu voto no acórdão de nº 5.087/05-SP: 1 Apelação Cível nº /05 SP. Acórdão nº 5.087/05. J ª Câmara de Direito Público. Relator Des. Rui Stoco. ApC nº de 10

9 emerge claro e icto oculi que os Procuradores em geral como o são os autores não se submetem ao subsídio de Prefeito como subteto ou limite. Pouco importa que sejam procuradores federais, estaduais ou municipais, pois onde a Magna Carta não distinguiu não cabe ao intérprete assim proceder. Não há como dar outra interpretação ao texto do inciso XI do art. 37 da Constitucional Federal. Aliás há absoluta coerência nessa simetria pois todos exercem seus cargos atuando perante o Poder Judiciário ou gravitam em torno dele. (grifei) 27. Quanto ao argumento da inexistência de direito adquirido sustentada com base no art. 17 da ADCT da CF/88, só teria algum sentido para o deslinde da questão se, livre do redutor que a ele foi aplicado, os proventos do apelado ultrapassassem ao valor do subsídio mensal do cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça de Alagoas, teto a que se submetem, como vimos, os Procuradores, inclusive os Procuradores Municipais. 28. Resta, por fim, enfrentar o ponto referente à fixação dos honorários advocatícios suscitado pelo autor e apelante (Sr. Norberto). Em suas razões, o mesmo alega que a base de cálculo dos honorários (valor da causa) não foi coerente, pois não observou o zelo e trabalho praticado pelo advogado. Pois bem, tais alegações não merecem guarida, visto que o valor da causa não foi irrisório (R$ ,00), bem como o magistrado arbitrou o percentual máximo admitido pela tabela da OAB, de modo que entendo que os honorários arbitrados foram satisfatórios, não necessitando de maiores discussões. 29. Ante o exposto, CONHEÇO das presentes apelações do Município de Maceió-AL e do Sr. João Norberto de Lima, para NEGAR-LHES PROVIMENTO no sentido de manter a sentença atacada em sua integralidade. ApC nº de 10

10 Maceió, 12 de maio de Des. Tutmés Airan de Albuquerque Melo Relator ApC nº de 10