1ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS PROCESSO Nº

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1 1ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS PROCESSO Nº: /01 RECORRENTE: PAULO ROBERTO DE CARVALHO HEITOR RECORRIDO: UNIÃO FEDERAL JUÍZO DE ORIGEM: 03º JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DO RIO DE JANEIRO JUIZ SENTENCIANTE: MARCO FALCAO CRITSINELIS RELATORA: DRA. LILEA PIRES DE MEDEIROS 83 EMENTA /VOTO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO. EQUIPARAÇÃO COM O BENEFÍCIO CONFERIDO AOS SERVIDORES DO TCU. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA ISONOMIA. NATUREZA INDENIZATÓRIA CUJA FINALIDADE É RESSARCIR CUSTOS COM ALIMENTAÇÃO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. Trata-se de ação em que a parte autora, ora recorrente, pugna pela equiparação do valor recebido a título de auxílio-alimentação com o valor de idêntico benefício conferido aos servidores do Tribunal de Contas da União, além do pagamento de diferenças pretéritas. A sentença (fls. 40/46) julgou improcedente o pedido por entender que não cabe ao Judiciário alterar os parâmetros fixados pela Administração para o pagamento do auxílio-alimentação, a teor do enunciado nº 339 da súmula do Supremo Tribunal Federal. No recurso inominado (fls. 51/66), a parte autora argumenta que o princípio da isonomia obrigaria a Administração a tratar de forma igual aqueles que se encontram em situação igual servidores públicos sujeitos ao mesmo regime jurídico. Acrescenta que o enunciado supracitado é inaplicável ao caso em tela, uma vez que o auxílio alimentação possui natureza indenizatória, por esta razão a majoração do benefício não implicaria em aumento de vencimento. Em contrarrazões (fls. 70/79), a UNIÃO FEDERAL pugna pela manutenção da sentença, uma vez que não caberia ao Poder Judiciário alterar os parâmetros fixados pela Administração para o pagamento de auxílio-alimentação. É o relatório. Em primeiro lugar, entendo ser o pedido formulado juridicamente possível, pois a pretensão versa sobre o pagamento, em determinado valor, de verba remuneratória já prevista no ordenamento jurídico, de caráter indenizatório, instituída em lei, e não a criação de uma regra inovadora, em substituição da iniciativa do Presidente da República. Desse modo o credenciamento do pedido não significa lesão aos princípios do devido processo legal (art. 5º LIV CF) ou da legalidade (art. 5º II CF).

2 84 Ressalte-se que a pretensão não visa à criação de nova rubrica remuneratória, mas ao pagamento de verba já prevista em lei, de acordo com as normas constitucionais e legais que regem a relação jurídica de natureza funcional mantida entre as partes. Em segundo lugar, vale esclarecer ainda, antes de enfrentar diretamente as questões afetas ao mérito da relação de jurídica de direito material deduzida em juízo, que a prescrição da pretensão à cobrança de valores relativos a diferenças remuneratórias postuladas por servidores ocupantes de cargos públicos em face da União Federal, autarquias e fundações federais rege-se pelo disposto no artigo 1º do Decreto nº /32, dado tratar-se de relação jurídica submetida ao regime de Direito Administrativo. Não há que se falar em prescrição bienal ou trienal, pois não se trata de relação jurídica de direito privado. Desse modo, não se aplicam os prazos prescricionais do Código Civil, mas sim a norma especial para relações jurídicas administrativas da Fazenda Pública, qual seja, o Decreto /32. Outrossim, não incide o art. 10 do Decreto /32 como autorizador de uma eventual redução do período de cinco anos pelo Código Civil de 2002, vez que a intenção do artigo em questão sempre foi a de acatar prazos prescricionais menores, mas apenas aqueles vigentes em 1932, evidenciando se tratar de norma de natureza transitória. Entender-se diferentemente pela aplicação hoje de prazo previsto no Código Civil à prescrição contra a Fazenda Pública, seria aceitar a possibilidade de derrogação de norma especial por norma geral. Sendo assim, a prescrição, no caso concreto, só afeta as parcelas vencidas antes dos cinco anos que precedem a propositura da ação. No mérito, tenho como impositiva a procedência do pedido formulado. Vejamos. O objeto desta demanda diz respeito a benefício de auxílio-alimentação cujo direito é reconhecido a todos os servidores públicos federais, por força do disposto na norma do artigo 22 da Lei n /92, com redação dada pela Lei n /97: Art. 22. O Poder Executivo disporá sobre a concessão mensal do auxílioalimentação por dia trabalhado, aos servidores públicos federais civis ativos da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 1997) 1º A concessão do auxílio-alimentação será feita em pecúnia e terá caráter indenizatório. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 1997) A lei não estabeleceu de pronto o valor do benefício, remetendo aos administradores sua regulamentação e fixação. Indene de dúvidas, no entender deste julgador, que a disparidade de tratamento remuneratório a servidores federais, tal qual noticiada na causa de pedir desta demanda, fere princípios basilares do ordenamento jurídico pátrio, mostrando-se anti-isonômica e desarrazoada.

3 De fato, o artigo 41 da Lei n /90, que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais, estatuto a que se submetem todos os servidores da União, estabelece o seguinte: 85 Art. 41. Remuneração é o vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei. 1o A remuneração do servidor investido em função ou cargo em comissão será paga na forma prevista no art o O servidor investido em cargo em comissão de órgão ou entidade diversa da de sua lotação receberá a remuneração de acordo com o estabelecido no 1o do art o O vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens de caráter permanente, é irredutível. 4o É assegurada a isonomia de vencimentos para cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder, ou entre servidores dos três Poderes, ressalvadas as vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho. 5o Nenhum servidor receberá remuneração inferior ao salário mínimo. (Incluído pela Lei nº , de 2008) O auxílio-alimentação não pode ser considerado vantagem de caráter individual ou relativa à natureza e ao local de trabalho, pois diz respeito a uma das necessidades básicas do ser humano que é a alimentação. Por isso, o valor do auxílio-alimentação pago aos servidores de algum dos três Poderes ou do mesmo Poder, que tenham atribuições assemelhadas, deve ser idêntico, sob pena de violação do 4º, artigo 41, transcrito acima, bem como do caput do artigo 5º da Constituição da República. Vale ressaltar que o tratamento diferenciado dá azo a que tanto servidores da parte ré quanto do Tribunal de Contas da União lotados na mesma Unidade da Federação, recebam valores diferentes, apesar de residentes na mesma cidade. Não foi, portanto, o custo de vida, e por reflexo, com alimentação, que embasou o tratamento diferenciado no pagamento da verba indenizatória. Ao contrário, o tratamento diferenciado adveio de fundamento não albergado em lei, verdadeiramente anti-isonômico e desarrazoado, qual seja, o órgão de lotação do servidor. A distinção de valores pagos a título de auxílio-alimentação, verba essencialmente indenizatória, no âmbito da União, fere, inclusive, no entender deste julgador, a própria norma constitucional insculpida no artigo 39, 1º, da Constituição da República, sendo esta estrutural, portanto, do regime jurídico dos servidores públicos, já que não se vislumbra fundamento fático-jurídico razoável para que servidores públicos submetidos ao mesmo regime jurídico e que exercem atividades afins recebam valores diferenciados da verba em questão. Ainda que houvesse hierarquia entre os órgãos de lotação, o que se suscita a título de argumentação e melhor fundamentação, questionável seria a fixação de valores diferenciados a título de ressarcimento de gastos com alimentação, eis que,

4 objetivamente, esta despesa não varia em decorrência de exigências funcionais associadas, de forma peculiar, aos graus hierárquicos dos cargos. 86 Assim sendo, não houvesse normas constitucionais e legais, inclusive específicas ao regime jurídico funcional do servidor público federal, a embasarem o tratamento equânime postulado, o que mais uma vez se suscita apenas por amor ao debate, ante os fundamentos já acima expostos, certo é que o pagamento de verba indenizatória, de natureza alimentar, de forma diferenciada a servidores submetidos ao mesmo regime jurídico, que exercem funções afins, apenas em decorrência do órgão nos quais lotados, implica flagrante discrímen desarrazoado, eis que trata de forma desigual, sem qualquer conexão lógica para tanto, trabalhadores que se encontram na mesma situação fáticojurídica funcional. Posto isso, não vislumbro outra solução senão a procedência do pedido formulado. Vale ressaltar, ainda, que não se aplica ao caso concreto o entendimento jurisprudencial firmado na Súmula 339 do STF Supremo Tribunal Federal, já que não se está a criar/majorar verba remuneratória não prevista em lei ou discrepante desta, mas, ao contrário, adequando benefício indenizatório já instituído aos seus parâmetros constitucionais e legais. No que se refere aos critérios de incidência de correção monetária e juros de mora, ante o julgamento conjunto das ADIs 4357 e 4425, pelo Supremo Tribunal Federal, acolho o recente entendimento firmado pela Turma Nacional de Uniformização no julgamento do processo nº , razão por que sobre as diferenças deverão incidir correção monetária pelo IPCA-E de acordo com Manual de Orientação de Procedimentos de Cálculos na Justiça Federal CJF, desde a data em que a parcela se tornou devida, e juros moratórios de 0,5% (meio por cento) ao mês, a partir da citação. Ante o exposto, CONHEÇO e DOU PROVIMENTO ao recurso para julgar PROCEDENTE o pedido e condenar a parte ré ao pagamento do valor, a ser apurado na fase de execução, referente às diferenças entre os maiores valores pagos aos servidores lotados no Tribunal de Contas da União e o valor recebido pela parte autora, no período indicado na petição inicial, referente ao benefício de auxílio-alimentação, respeitada a prescrição quinquenal e data de ingresso do servidor no quadro do Órgão. Sobre as diferenças deverão incidir correção monetária pelo IPCA-E de acordo com Manual de Orientação de Procedimentos de Cálculos na Justiça Federal CJF, desde a data em que a parcela se tornou devida, e juros moratórios de 0,5% (meio por cento) ao mês, a partir da citação. O valor dos atrasados fica limitado ao teto dos Juizados Especiais Federais, observados os Enunciados 47, 48 e 52 das Turmas Recursais do Rio de Janeiro. Sem condenação em honorários por se tratar de recorrente vencedor. Intimadas as partes e certificado o trânsito em julgado dê-se baixa e encaminhem-se os autos ao juizado de origem.

5 87 ACÓRDÃO A Turma, por unanimidade, conheceu e, por maioria, deu provimento ao recurso, nos termos do voto da Relatora, vencida a Juíza Federal Adriana Menezes de Rezende, que votou no sentido de negar-lhe provimento. Votaram a Relatora e as Juízas Federais Fátima Maria Novelino Sequeira e Adriana Menezes de Rezende. Rio de Janeiro, 04 de dezembro de LILEA PIRES DE MEDEIROS Juíza Federal Relatora da 1ª Turma Recursal do Rio de Janeiro