PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE RONDÔNIA SENTENÇA

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1 CLASSE N AÇÃO ORDINÁRIA/TRIBUTÁRIA Autor: Sindicato dos Servidores na Justiça do Trabalho dos Estados de Rondônia e Acre - SINJUSTRA Ré: União/Fazenda Nacional SENTENÇA Trata-se de ação de rito ordinário ajuizada pelo SINDICATO DOS SERVIDORES NA JUSTIÇA DO TRABALHO DOS ESTADOS DE RONDÔNIA E ACRE - SINJUSTRA, qualificado nos autos, contra a UNIÃO/FAZENDA NACIONAL objetivando assegurar o direito dos substituídos processuais a não recolher imposto de renda e contribuição previdenciária sobre o abono de permanência, bem como sejam restituídos o que fora recolhido indevidamente nos últimos 10 anos. Juntou documentos (fls. 18/42 e 46/48). A União/Fazenda Nacional apresentou contestação aduzindo, preliminarmente, a falta de interesse processual, bem como aplicação da prescrição quinquenal às ações ajuizadas após a entrada em vigor da Lei Complementar n. 118/05. No mérito afirma que o abono permanência possui natureza remuneratória, sendo hipótese de incidência do imposto Pág. 1/7

2 de renda. 65/67). Facultada a especificação de provas, as partes manifestaram desinteresse (fls. É o relatório. DECIDO. FUNDAMENTAÇÃO. Prima facie, acerca da preliminar de falta de interesse processual, verifica-se que essa merece acolhida conforme será demonstrado a seguir. No que cinge à incidência de contribuição social sobre o abono de permanência, a própria legislação se incube de excluir tal rubrica de sua base de cálculo, conforme dispõe o art. 4º, 1º, da Lei n /2004, in verbis: Art. 4º. A contribuição social do servidor público ativo de qualquer dos Poderes da União, incluídas suas autarquias e fundações, para a manutenção do respectivo regime próprio de previdência social, será de 11% (onze por cento), incidentes sobre: (...) 1º Entende-se como base de contribuição o vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei, os adicionais de caráter individual ou quaisquer outras vantagens, excluídas: (...) IX - o abono de permanência de que tratam o 19 do art. 40 da Constituição Federal, o 5º do art. 2º e o 1º do art. 3º da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de (negritou-se) Assim, percebe-se que a título de contribuição social, a referida rubrica não incide, conforme disposto na legislação supra, o que evidencia a falta de interesse Pág. 2/7

3 processual/necessidade do pedido nesta parte, afinal, por força de lei, o abono de permanência não integra a base de cálculo da contribuição social, ou seja, é desnecessária a intervenção judicial para excluí-la, não tendo a parte autora comprovado que, no presente caso, estar-se-ia incluindo o abono de permanência na base de cálculo contribuição. da referia Outrossim, no que diz respeito a preliminar de prescrição, anota-se que essa se confunde com o mérito, e com ele será analisada. Passa-se, pois, a análise do mérito. Acerca da natureza jurídica do abono de permanência, em que pese entendimento contrário do Superior Tribunal de Justiça/STJ, é assente na jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 1ª Região/TRF-1 o seu caráter indenizatório/compensatório, de forma a afastar de plano a incidência de imposto de renda. Isto é, o referido benefício constitui forma de compensação ao servidor ou ao magistrado que, mesmo após o preenchimento dos requisitos para a aposentação voluntária, permanece em atividade, não usufruindo do direito adquirido à percepção da aposentadoria, equiparando-se, assim, ao pagamento de férias ou de licença-prêmio não gozadas. Nesse sentido: CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. EMBARGOS INFRINGENTES. IMPOSTO DE RENDA: NÃO INCIDÊNCIA. ABONO DE PERMANÊNCIA. DIREITO INDIVIDUAL CONSTITUCIONAL. NATUREZA JURÍDICA. 1. O abono de permanência instituído pelo art. 3º, 1º, da EC 41/2003, que acrescentou o 19 ao art. 40, II, da CF, tem natureza indenizatória e não configura acréscimo patrimonial, o que afasta a incidência do imposto de renda. (TRF1, EI /DF, e-djf1 de 22/2/2012). 2. Embargos infringentes opostos pela Pág. 3/7

4 Fazenda Nacional a que se nega provimento. (EIAC , DESEMBARGADORA FEDERAL MARIA DO CARMO CARDOSO, TRF1 - QUARTA SEÇÃO, e-djf1 DATA:05/11/2013 PAGINA:38.) CONSTITUCIONAL, TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO SOB RITO ORDINÁRIO. ABONO DE PERMANÊNCIA. NATUREZA JURÍDICA. PARCELA INDENIZATÓRIA. DIREITO CONSTITUCIONAL ESTABELECIDO EM EQUIVALÊNCIA AO VALOR DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. IMPOSTO DE RENDA: NÃO-INCIDÊNCIA. EMBARGOS INFRINGENTES NÃO PROVIDOS. 1. O abono de permanência constitui forma de compensação ao servidor ou ao magistrado que, mesmo após o preenchimento dos requisitos para a aposentação voluntária, permanece em atividade, não usufruindo do direito adquirido à percepção da aposentadoria, revelando-se a nítida natureza indenizatória deste benefício, equiparado ao pagamento de férias ou de licença-prêmio não gozadas. (...) Se não incide o Imposto de Renda sobre a contribuição previdenciária, tampouco deverá incidir sobre o abono de permanência, estipulado para ser de valor equivalente ao da mencionada contribuição." (Precedente: AC /MA, Sétima Turma, na relatoria para o acórdão do Desembargador Luciano Tolentino Amaral, REPDJ de 22/02/2013, p. 470.) 4. Embargos Infringentes não providos. (EIAC , JUIZ FEDERAL RODRIGO DE GODOY MENDES (CONV.), TRF1 - QUARTA SEÇÃO, e-djf1 DATA:11/10/2013 PAGINA:563.) TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL. MANDADO DE SEGURANÇA. RECURSO CONTRA AGRAVO DE INSTRUMENTO JULGADO PREJUDICADO. AGRAVO REGIMENTAL. IMPOSTO DE RENDA SOBRE ABONO PERMANÊNCIA. NATUREZA INDENIZATÓRIA. NÃO INCIDÊNCIA. ART. 3.º, 1º, DA EC 41/2003. COMPENSAÇÃO APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO SOB PENA DE VIOLAÇÃO AO ART. 170-A DO CTN. AÇÃO AJUIZADA EM 07/07/2005. (...) 4 - O abono de permanência instituído pelo art. 3º, 1º, da EC 41/2003, que acrescentou o 19 ao art. 40, II, da CF, tem natureza indenizatória e não configura acréscimo patrimonial, o que enseja o afastamento do imposto de renda. (...) (AMS , JUIZ FEDERAL GRIGÓRIO CARLOS DOS SANTOS, TRF1-5ª TURMA SUPLEMENTAR, e-djf1 DATA:23/08/2013 PAGINA:999.) (negritou-se) Por fim, no que tange à prescrição dos valores a serem restituídos por repetição do indébito tributário, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal/STF é assente no sentido de que, no caso de ações ajuizadas após a entrada em vigor da Lei Complementar n. 118/2005, como a presente, estão prescritas as parcelas referentes aos créditos tributários Pág. 4/7

5 extintos há mais de cinco anos do ajuizamento da ação, não mais se utilizando a tese dos cinco mais cinco. Nesse sentido, é a jurisprudência que segue: TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. PIS E COFINS. EXCLUSÃO DO ICMS DA BASE DE CÁLCULO. RE /MG. COMPENSAÇÃO. POSSIBILIDADE. AÇÃO AJUIZADA APÓS LC 118/2005. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. PRECEDENTES. REMESSA OFICIAL, APELAÇÃO DA UNIÃO E APELAÇÃO ADESIVA, IMPROVIDAS. (...) 6. Aplicada a prescrição quinquenal, por se tratar de ação ajuizada posteriormente à vigência da LC n. 118/2005. Correção Monetária pelos índices adotados pela taxa SELIC. (...). (AMS , JUIZ FEDERAL ITELMAR RAYDAN EVANGELISTA, TRF1-6ª TURMA SUPLEMENTAR, e-djf1 DATA:06/12/2013 PAGINA:1898.) DIREITO TRIBUTÁRIO LEI INTERPRETATIVA APLICAÇÃO RETROATIVA DA LEI COMPLEMENTAR Nº. 118/2005 DESCABIMENTO VIOLAÇÃO À SEGURANÇA JURÍDICA NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DA VACACIO LEGIS APLICAÇÃO DO PRAZO REDUZIDO PARA REPETIÇÃO OU COMPENSAÇÃO DE INDÉBITOS AOS PROCESSOS AJUIZADOS A PARTIR DE 9 DE JUNHO DE (...). Afastando-se as aplicações inconstitucionais e resguardando-se, no mais, a eficácia da norma, permite-se a aplicação do prazo reduzido relativamente às ações ajuizadas após a vacatio legis, conforme entendimento consolidado por esta Corte no enunciado 445 da Súmula do Tribunal. (...). Além disso, não se trata de lei geral, tampouco impede iniciativa legislativa em contrário. Reconhecida a inconstitucionalidade art. 4º, segunda parte, da LC 118/05, considerando-se válida a aplicação do novo prazo de 5 anos tão-somente às ações ajuizadas após o decurso da vacatio legis de 120 dias, ou seja, a partir de 9 de junho de Aplicação do art. 543-B, 3º, do CPC aos recursos sobrestados. Recurso extraordinário desprovido. (RE , Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 04/08/2011, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-195 DIVULG PUBLIC EMENT VOL PP-00273) (destacou-se). Portanto, resta prescrita a pretensão de restituição/compensação das contribuições recolhidas em data anterior aos cinco anos do ajuizamento desta demanda. Logo, remanesce a pretensão da parte autora somente quanto aos pagamentos feitos nos últimos cinco anos que antecederam a presente ação (06/03/2008), pois aplicável ao caso o prazo prescricional previsto na LC n. 118/2005. Pág. 5/7

6 DISPOSITIVO. Em face ao exposto, JULGO EXTINTO O PROCESSO, no que diz respeito à incidência de contribuição social sobre o abono de permanência, em razão da falta de interesse processual/necessidade, nos termos do art. 267, VI, do CPC. JULGO PROCEDENTES os demais pedidos formulados na inicial, nos termos do art. 269, I, do CPC, para: a) DECLARAR a inexistência de relação jurídica tributária do Imposto de Renda IR sobre os valores pagos a título de abono de permanência; b) ANULAR os créditos já cobrados e, por isso, CONDENAR a União/Fazenda Nacional a restituir os valores cobrados de Imposto de Renda IR sobre o abono de permanência nos últimos 05 (cinco) anos anteriores ao ajuizamento desta ação, corrigidos pela Taxa Selic. As CUSTAS e os HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS deverão ser distribuídos recíproca e proporcionalmente entre as partes, tendo em vista a sucumbência recíproca (CPC, art. 21). Sentença sujeita a REEXAME NECESSÁRIO (art. 475, I, do CPC). Preclusas as vias impugnatórias, ARQUIVE-SE o processo. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Porto Velho/RO, 27 de maio de Pág. 6/7

7 Flávio Fraga e Silva Juiz Federal Substituto da 2ª Vara/SJRO. Pág. 7/7