D E C I S Ã O M O N O C R Á T I C A

Transcrição

1 EXECUÇÃO FISCAL. ICMS. SÓCIO ADMNISTRADOR. FIANÇA. PARCELAMENTO. INADIMPLEMENTO. O sócio que presta fiança para garantir as dívidas da sociedade, para fins de parcelamento, é parte legítima para figurar no pólo passivo da execução. Cuida-se de responsabilidade de natureza contratual, razão pela qual não depende da prova de ato ilícito. Negado seguimento ao recurso. AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº (N CNJ: ) VAINE HEUSER PUERARI ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE CAXIAS DO SUL AGRAVANTE AGRAVADO VIDRAÇARIA GOMES MAIA LTDA E OUTROS INTERESSADO D E C I S Ã O M O N O C R Á T I C A 1. Trata-se de agravo de instrumento interposto por VAINE HEUSER PUERARI contra a decisão da MM. Juíza de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de Caxias do Sul que, nos autos da execução fiscal que lhe move o ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, juntamente contra VIDRAÇARIA GOMES MAIA LTDA, EDINEI LUIZ REIS GIL, MARIA INÊS ELIZEU GIL E CLAIR ALBERTO PUERARI, para haver a quantia de CZ$ ,66, relativa a crédito de ICMS informado, em atraso, aparelhada nas certidões de dívida ativa n.º 13/88 a 15/88, rejeitou a exceção de préexecutividade na qual argüiu a ilegitimidade passiva ad causam, porquanto jamais praticou atos de gestão na sociedade. É o relatório. 1

2 2. A Agravante prestou, em 09 de setembro de 1986, fiança em garantia aos débitos fiscais da empresa VIDRAÇARIA GOMES MAIA LTDA., no montante de CZ$ ,43 (fl. 12), para assegurar a concessão de parcelamento à sociedade, comprometendo-se a pagar a totalidade do débito em execução em caso de inadimplemento da moratória 1. Por força do inadimplemento, é responsável, na qualidade de fiadora da dívida da devedora-afiançada, nos termos do artigo 4º, inciso II, da Lei n.º 6.830/80. A esse propósito, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp /SP, Relator Ministro Hélio Mosimann, Segunda Turma, julgado em 25/08/1997, DJ 29/09/1997, p , verbis: EXECUÇÃO FISCAL. CREDITOS DE ICM. FIADOR JUDICIAL. POSIÇÃO IDENTIFICADA COM A DO DEVEDOR PRINCIPAL. EXIGIBILIDADE DO PAGAMENTO DA DIVIDA. PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO. PRESCRIÇÃO CONSUMADA. CONTAGEM DO PRAZO PRESCRICIONAL. SENDO O FIADOR JUDICIAL AQUELE QUE PRESTA, NO CURSO DO PROCESSO, GARANTIA EM FAVOR DE UMA DAS PARTES, A SUA POSIÇÃO SE IDENTIFICA COM A DO DEVEDOR PRINCIPAL; TORNA-SE SOLIDARIO. PODE, O 1 declaram responsabilizar-se perante a SECRETARIA DA FAZENDA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, como FIADORES e principais pagadores pelos créditos tributários decorrentes do IMPOSTO DE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS ICM e acréscimos legais, relativos aos AUTOS DE LANÇAMENTO ALs nº , de , , de , nº , de , e objetos, nesta data, de PARCELAMENTO concedido em 24 (vinte e quatro) vezes, devido por VIDRAÇARIA GOMES MAIA LTDA. (...), se por esta não solvidos nos prazos estabelecidos pelas normas que regem o PARCELAMENTO DE CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS, cujo montante dos saldos atingem a importância de Cz$ ,43 (...), concordando, desde já, com o pagamento das parcelas atrasadas, e que não venham a ser ressarcidas pela AFIANÇADA (...). (fl. 12). 2

3 CREDOR EXIGIR DELE, DESDE LOGO, O PAGAMENTO DA DIVIDA. DESNECESSARIA A CITAÇÃO DO FIADOR, BASTANDO SUA INTIMAÇÃO, EFETUADA A PENHORA, A EXECUÇÃO PODE PROSSEGUIR NOS PROPRIOS AUTOS. A ORDEM DE CITAÇÃO, ANTES DA VIGENCIA DA LEI N /80, NÃO TEM EFEITO INTERRUPTIVO DA PRESCRIÇÃO. TENDO A INTIMAÇÃO DO FIADOR, QUE CORRESPONDE A CITAÇÃO, OCORRIDO MAIS DE OITO ANOS APOS ROMPIDO O COMPROMISSO DO FINANCIAMENTO PELO QUAL SE RESPONSABILIZOU, EM RELAÇÃO A ELE TAMBEM FLUIU O PRAZO QUINQUENAL. No mesmo diapasão a jurisprudência desta Câmara, conforme se depreende do julgamento da Apelação Cível nº , Relatora Desembargadora Denise Oliveira Cezar, julgado em 18 de agosto de 2011, assim ementado: APELAÇÃO. DIREITO TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. ICMS. IMPOSTO APURADO NO TRÂNSITO DE MERCADORIAS. CDA. AUSÊNCIA DE NULIDADE. REQUISITOS DO ART. 202 DO CTN. PRESUNÇÃO DE LIQUIDEZ E DE CERTEZA. CARÁTER INSTRUMENTAL. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZOS À DEFESA. A CDA goza de presunção de liquidez e de certeza, após regular inscrição do débito. No caso concreto, foram preenchidos os requisitos do artigo 202 do CTN. Reconhecimento da higidez da CDA que aparelha a execução fiscal impugnada, em face de seu caráter instrumental e da não comprovação de prejuízos à defesa da parte executada. MULTA, JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA. INEXISTÊNCIA DE EXCESSO OU ILEGALIDADE. Caso em que não restou comprovado excesso de execução quanto aos juros moratórios, ônus que cabia à empresa executada. A aplicação da correção monetária sobre a multa e o capital principal está prevista no art. 72 da Lei Estadual nº 6537/73, não se constituindo ilegalidade, mas forma de atualização monetária. Precedentes. MULTA DE 120%. CARÁTER CONFISCATÓRIO NÃO CONFIGURADO. A multa fiscal de 120% aplicável ao caso tem base legal, nos termos do art. 9º, inciso III, da Lei Estadual nº 6.537/73 e não se apresenta confiscatória diante da gravidade da infração tributária, material e qualificada, que a justifica. LEGITIMIDADE PASSIVA DOS SÓCIOS. RESPONSABILIDADE 3

4 PELO ADIMPLEMENTO DO DÉBITO NA CONDIÇÃO DE FIADORES. O fiador pode ser sujeito passivo da execução fiscal, porque é responsável tributário, nos termos dos arts. 828, II, do Código Civil, e 4º, II, da Lei de Execuções Fiscais. Preliminar de ilegitimidade passiva afastada. Precedentes. RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO. Corte: A esse propósito, também, os seguintes precedentes desta APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS QUE FIGURAM COMO FIADORES NA CDA. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. Trata-se de recurso de apelação interposto contra sentença que julgou parcialmente procedente os embargos à execução fiscal, apenas para o efeito de reduzir a multa aplicada ao cálculo exeqüendo. O presente recurso de apelação apresenta inovação recursal, porquanto se insurge contra a ilegitimidade passiva dos embargantes, ponto este que não fez parte dos pedidos constantes na exordial, nem ao menos foi apreciado pela r. sentença fustigada. Não obstante, a reconhecida inovação recursal há de ser considerada, porquanto revela questão de legitimidade das partes, matéria de ordem pública, e, por conta disso, merece apreciação. A Certidão de Dívida Ativa que embasa a execução embargada aponta como co-responsáveis e/ou fiadores os ora embargantes. Ainda, os próprios embargantes, na inicial dos embargos reconhecem a sua legitimidade para com a dívida em execução, porquanto seriam avalistas da mesma. Embora a nomenclatura da garantia seja diversa daquela indicada na CDA, denota-se, ao menos, o reconhecimento por partes dos apelantes, de responsabilidade perante a dívida exeqüenda. Destarte, o caso em tela não se trata de redirecionamento da ação executiva, mas sim de pessoas físicas que se encontram coobrigadas, porquanto existente in casu o instituto da fiança. Consoante reza o artigo 828, inciso II, do CC e o artigo 4º, inciso II, da Lei de Execuções Fiscais, o fiador pode ser sujeito passivo da execução fiscal, porque é responsável tributário. Precedentes desta e. Corte. Legitimidade Passiva dos embargantes configurada. Reconhecida a responsabilidade dos sócios na qualidade de fiadores. Impositiva a redistribuição dos ônus sucumbenciais, tendo em vista que ao menos em parte os embargantes restaram vencedores na demanda (redução da multa). As pessoas jurídicas de direito público são isentas do pagamento de custas 4

5 processuais nos termos da Lei , de que alterou o art. 11 do Regimento das Custas (Lei 8.121/85). Excluídas as despesas judiciais, por força da ADI n.º APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. (Apelação Cível Nº , Vigésima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Niwton Carpes da Silva, Julgado em 15/12/2011) APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. FIANÇA. REDIRECIONAMENTO. LEGITIMIDADE PASSIVA DO FIADOR. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. INOCORRÊNCIA. MANUTENÇÃO DA DECISÃO POR OUTROS FUNDAMENTOS. LIMITAÇÃO DA EXECUÇÃO AO QUANTUM DA GARANTIA PRESTADA. 1) O fiador pode ser sujeito passivo da execução fiscal. Inteligência dos arts , inciso II, do CC e 4º, inciso II, da LEF. 2) Estando as CDA s revestidas dos requisitos determinados pelos arts. 202, inciso I, do Código Tributário Nacional e 2º, inciso I, da lei nº 6.830/80, não há falar em nulidade, sendo prescindível a menção nas mesmas do nome do fiador a quem redirecionada a execução. 3) O prazo prescricional é de 5 (cinco) anos e transcorre a partir da constituição definitiva do crédito tributário, conforme previsto no art. 174 do CTN. Tal prazo é interrompido com a citação válida do devedor. Aplicável também, no caso, a alteração prevista na LC 118/2005, uma vez que o despacho de citação do fiador se deu depois da sua vigência. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº , Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Francisco José Moesch, Julgado em 10/06/2009) APELAÇÃO. DIREITO TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. ICMS. IMPOSTO INFORMADO, EM ATRASO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. Tratando-se de responsável tributário, que assinou como fiador e principal pagador, portanto, sem o benefício de ordem, a prescrição contra ele foi interrompida pela citação da afiançada (CTN, art. 125, III). Ademais, não há falar em prescrição intercorrente se em momento algum o processo ficou paralisado por desinteresse do exeqüente. RECURSO PROVIDO. (Apelação Cível Nº , Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Julgado em 21/09/2009) 5

6 Cuida-se de responsabilidade de natureza contratual e não de ato ilícito imputado ao administrador. Irrelevante, portanto, a falta de prova da dissolução irregular. Registre-se que a mera alegação de desconhecimento da situação da sociedade, termos contratuais e atos de gestão não ilide a responsabilidade de quem voluntariamente se responsabiliza por dívida, mediante assinatura de termo de fiança. Não há prova nos autos de ter ocorrido vício da vontade na efetivação do termo, cujo ônus incumbia à Agravante, forte no artigo 333, inciso I, do Código de Processo Civil. Diante disso, a Agravante possui legitimidade para figurar no pólo passivo da execução. Ante o exposto, nego seguimento ao recurso. Intime-se. Porto Alegre, 16 de abril de Des.ª Maria Isabel de Azevedo Souza Relatora 6