Empreendedorismo. Tópico 2 A Paixão pelo Negocio A Busca do Intangível

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1 Empreendedorismo Tópico 2 A Paixão pelo Negocio A Busca do Intangível

2 Conteúdo 1. Objetivos do Encontro Introdução O paradigma ultrapassado O novo paradigma a auto-realização Sonho, paixão, ideias e oportunidades Síntese... 9 Referências Bibliografia Complementar... 11

3 Página 3 de Objetivos do Encontro Identificar as razões pessoais para tornar-se empreendedor; Refletir sobre o sonho e a paixão pelo negócio, aspectos inerentes ao comportamento relatado em estudos de casos de empreendedores de sucesso. 2. Introdução No tópico anterior, iniciamos as atividades de nossa disciplina refletindo sobre a formação de empreendedores. Neste tópico, trataremos de um aspecto transcendente na vida do empreendedor: a paixão pelo negócio e pela arte de empreender, ou seja, a força que impulsiona a criação e a gestão de negócios e que está além do retorno financeiro. É evidente que a sustentabilidade do negócio (o retorno financeiro e o lucro) são condições imprescindíveis para sua sobrevivência, e todas as ações concretas para manter esse estado podem ser consideradas como obrigatórias para toda empresa (seja ela com fins lucrativos ou não). As competências para a gestão financeira adequada serão tratadas em tópicos específicas nesta disciplina e complementadas por outras deste módulo e ao longo de todo o curso. No entanto, o presente tópico irá tratar de outros aspectos: a transcendência, a paixão pelo negócio, o prazer de concretizar o sonho - posturas características relatadas por muitos empreendedores de sucesso. 3. O paradigma ultrapassado Dolabela (1999, p.19) afirma que vivemos em uma época em que as pessoas sentem-se impregnadas com a síndrome do empregado, que também pode ser chamada de síndrome da dependência, na qual, mesmo possuindo alto grau de capacitação técnica, a pessoa não consegue criar algo, apenas executa ações solicitadas. O autor

4 Página 4 de 11 propõe que seja estimulada, nas escolas, a disseminação do vírus de empreendedor, pelo qual (...) mais importante do que saber fazer é criar o que fazer, conhecer a cadeia econômica, o ciclo produtivo, entender do negócio. Saber transformar necessidades em especificações técnicas. Enfim, transformar conhecimento em riqueza. (DOLABELA, 1999, p. 20) Vivemos, ao longo do século XX, um paradigma do emprego, que transferiu para a maioria das atividades profissionais valores similares aos dos operários fabris, ou seja, o funcionário tende a ter uma postura passiva, aguardando as ordens a serem executadas. Não é raro ouvir relatos de funcionários repetindo frases de seus chefes, tais como: Você é pago para fazer e não para pensar!. Essa postura, tanto por parte dos gestores como dos colaboradores, entretanto, é inadequada às exigências do mercado de trabalho atual, cuja demanda por atitudes próativas, criativas e com maior grau de comprometimento com o negócio cresce exponencialmente. Os funcionários das grandes corporações vivem uma situação crescente de descontentamento, reforçada com alto grau de estresse, que afeta diretamente a saúde e o relacionamento pessoal. Dolabela (1999, p. 20) afirma que (...) as grandes empresas continuam gerando empregados infelizes. O mercado também não oferece postos de trabalho suficientes para comportar todos os potenciais trabalhadores. O desemprego é alto para todos os níveis de formação e para a maioria das profissões. A crença de que é possível agir concretamente na mudança desse paradigma impulsiona o desenvolvimento de programas para a disseminação da cultura empreendedora. A formação do espírito empreendedor não se dá de fora para dentro (da escola para a turma, do professor para o aluno), mas é um processo de transformação interna, que só poderá ser realizado pelo próprio aluno. As atividades desta disciplina e do presente módulo foram organizadas para contribuir para que você, aluno, desenvolva em si próprio as competências, habilidades e atitudes adequadas à sua transformação em empreendedor.

5 Página 5 de O novo paradigma a auto-realização A empresa é a realização do sonho, a projeção do ego, a exteriorização do que se passa no âmago de uma pessoa. (DOLABELA, 1999, p. 24) O paradigma do trabalho está sofrendo profundas modificações. Esse processo iniciouse no final do século XX e, sem dúvida, irá marcar significativamente o século XXI. No livro O Ócio Criativo (2001), Domenico de Masi tem a coragem de argumentar acerca da importância do tempo livre e dá pistas para que as pessoas possam planejá-lo de forma a organizar suas atividades a fim de que a vida não se restrinja à carreira profissional, mas contemple também a pessoal, a cultural, a familiar, a religiosa, a de lazer, ou seja, o próprio ócio. A teoria de De Masi compreende que a sociedade caminha para uma diminuição progressiva do tempo de trabalho e um aumento do tempo livre. O autor traça um retrato da sociedade pós-industrial, estabelecendo uma análise histórica ligada ao desenvolvimento social, econômico, político e cultural, que abrange o trabalho, a ciência e a tecnologia, as transformações do modo de produção capitalista e intenta uma previsão dos desdobramentos que essas questões terão nos próximos anos. Não pretendemos, aqui, discutir nem tampouco validar a teoria de De Masi. A citação ao referido autor foi realizada para ilustrar uma crescente preocupação com a autorealização e a mudança do paradigma do trabalho iniciada no final do século XX. Acredita-se, atualmente, que o sucesso profissional, quer seja de empreendedores, empresários ou de colaboradores/funcionários, só é alcançado se a pessoa sentir-se realizada pessoalmente. A realização pessoal e a qualidade de vida são compreendidas como fatores determinantes no sucesso profissional. A crença de que o trabalhador deixava seus problemas pessoais do lado de fora dos muros da empresa está totalmente ultrapassada. Além das teorias sobre o ócio, podemos citar também o avanço no conhecimento sobre inteligência emocional.

6 Página 6 de 11 Até há bem pouco tempo, escolas e empresas valorizavam somente a inteligência medida pelos testes de QI (Quociente de Inteligência), ou seja, a capacidade lógica de raciocínio. Os estudos sobre inteligência emocional comprovam que cada pessoa possui diferentes tipos de inteligência. No livro O Poder da Inteligência Emocional, Daniel Goleman, Richard Boyatzis e Anne McKee apresentam resultados de pesquisas que indicam ser a Inteligência Emocional a responsável por cerca de 80% das competências que distinguem os líderes espetaculares dos medianos. Emoções em equilíbrio abrem portas, garante o psicólogo norte-americano Goleman. Entretanto, inteligência emocional sem inteligência racional também não funciona. É preciso que elas sejam harmônicas, complementares e estejam em equilíbrio. Se pensarmos que a maioria das situações de trabalho envolve o relacionamento entre pessoas, podemos concluir que pessoas com qualidades de relacionamento humano - como afabilidade, compreensão, gentileza - têm mais chances de alcançar o sucesso. Algumas aptidões básicas para alcançar a inteligência emocional são: Conhecer as próprias emoções: é preciso saber identificar e medir a intensidade de seus sentimentos. A partir daí, fica mais fácil definir até onde eles estão influenciando você mesmo e os que o cercam. Capacidade de empatia: conseguir se colocar no lugar do outro e - mais do que isso - conseguir sentir como o outro. Lidar com as emoções: mais que identificar suas emoções, é preciso conseguir expressar exatamente seus sentimentos. Você será capaz de evitar expressões emocionais ofensivas e improdutivas, além de poder aguardar o momento adequado para dizer o que quer. Porém, fique atento: isso é diferente de reprimir, suprimir ou engolir as emoções. Reconhecer as emoções nos outros: reconhecer os próprios erros em relação aos outros pode levá-lo a reparar possíveis danos. É preciso saber desculpar-se de verdade.

7 Página 7 de 11 Saber se relacionar: é a habilidade de estar consciente do próprio estado emocional, ao mesmo tempo em que se está em sintonia com o estado emocional daqueles que o cercam. Sobrevivência: nossas emoções foram desenvolvidas, naturalmente, através de anos de evolução. Como resultado, possuímos um sistema interno de orientação, que nos alerta quando as necessidades humanas naturais não são encontradas. Por exemplo, quando nos sentimos sós, nossa necessidade é encontrar outras pessoas. Tomadas de decisão: nossas emoções são uma fonte valiosa da informação e nos ajudam a tomar decisões. Os estudos mostram que, quando as conexões emocionais de uma pessoa estão danificadas no cérebro, ela não pode tomar nem mesmo as decisões simples. Por quê? Porque não sentirá nada sobre suas escolhas. Ajuste de limites: quando nos sentimos incomodados com o comportamento de uma pessoa, nossas emoções nos alertam. Se aprendermos a confiar em nossas emoções e sensações, seremos capazes de ajustar nossos limites, que são necessários para proteger nossa saúde física e mental. Comunicação: nossas emoções ajudam-nos a comunicar com os outros. Nossas expressões faciais, por exemplo, podem demonstrar uma grande quantidade de emoções. Com o olhar, podemos sinalizar que precisamos de ajuda. Também é necessário que nós sejamos eficazes para escutar e entender os problemas dos outros. União: nossas emoções são, talvez, a maior fonte potencial capaz de unir todos os membros da espécie humana. Claramente, as diferenças religiosas, culturais e políticas não permitem isso, apesar de as emoções serem universais. Os estudos de Psicologia afirmam que a forma como reagimos em situações de medo, angústia, solidão ou a forma como sentimos prazer e como nos sentimos realizados são aprendidas a partir das experiências e dos relacionamentos que tivemos principalmente na primeira infância. Por isso, Daniel Goleman afirma que, para um adulto melhorar sua própria inteligência emocional, a primeira tarefa é desaprender e reaprender, devido ao fato de que seus hábitos emocionais foram aprendidos na infância.

8 Página 8 de 11 Essas teorias (ócio criativo e inteligência emocional) contribuem para o desenvolvimento de um novo paradigma do trabalho. Esse paradigma pode ser perfeitamente aplicado nos processos de formação de empreendedores, pois as pesquisas confirmam que os empreendedores de sucesso são capazes de sentir autorealização pessoal na atividade que exercem. A auto-realização só é possível de se atingir quando os vários elementos que formam nossa vida caminham de forma integrada, harmônica e agradável. Não é possível uma pessoa trabalhar comprometida e com alegria, se sua família não está bem. Não é possível focar suas energias no trabalho, se a pessoa sente-se em falta com sua vida religiosa/espiritual, pois a transcendência espiritual faz parte de todas as culturas humanas. Não é possível ser eficaz e eficiente, se a pessoa não conseguir desfrutar de momentos de lazer, relaxamento e descanso periódicos. A qualidade da atuação profissional está diretamente ligada à qualidade das demais carreiras que compõem a vida: pessoal, familiar, religiosa/espiritual, de laser, cultural etc. O empreendedor de sucesso tem forte vínculo emocional com seu trabalho. Ele se sente realizado e feliz com sua atuação. Acredita que está fazendo o melhor e, efetivamente, faz. Não mede esforços para realizar seus planos e concretizar seus sonhos. O prazer, a alegria, a sensação de bem-estar acompanham a maioria dos casos de empreendedores de sucesso. 5. Sonho, paixão, ideias e oportunidades Como surgem as ideias inovadoras? O sonho e a paixão são sentimentos que envolvem a concepção de um novo empreendimento. Esses sentimentos dão vida e significado aos projetos nascentes. As ideias, geralmente, surgem envolvidas nesses sentimentos. Assim, elas ganham força e impulsionam a realização das ações.

9 Página 9 de 11 Apaixonar-se pelos projetos é pensar neles durante todo o tempo: no escritório, nas pesquisas na Internet, durante o telejornal, nas reuniões de amigos, nos encontros familiares, nos contatos profissionais, nas leituras de periódicos, ou seja, o empreendedor aproveita todas as ocasiões para coletar informações e lapidar sua ideia. A construção de um negócio inovador envolve, necessariamente, um processo de prospecção (antecipação de cenários futuros) e análise do mercado e da concorrência, realizados tanto em termos formais (utilizando-se de todas as metodologias da área de Administração, Economia e Finanças) quanto em termos informais, que são criados a partir da capacidade do empreendedor em se aproveitar das situações. A paixão que envolve essa fase é altamente positiva e fornece energia para o gestor impulsionar o desenvolvimento ou a formatação de novo negócio. As boas ideias são oportunidades? Dolabela (1999) faz uma distinção bastante pertinente entre ideias e oportunidades. O autor afirma que nem todas as boas ideias poderão se tornar oportunidades concretas. Ele esclarece que, embora a paixão e o sonho sejam sentimentos importantes para impulsionar a ideia inovadora, eles podem vir a ofuscar a análise da viabilidade do negócio. O empreendedor deve equilibrar a paixão, o sonho e a ideia inovadora e brilhante com as condições concretas que o negócio oferece, sem, contudo, perder a razão primeira de seu projeto: a busca do intangível. O intangível, nesse contexto, é a auto-realização, é a satisfação pessoal sentida pelo empreendedor ao ver seu sonho concretizado, ao perceber sua ideia gerando valor e crescendo. 6. Síntese

10 Página 10 de 11 Neste tópico, refletimos juntos sobre a paixão por empreender, que é a força que impulsiona o empreendedor a concretizar seus sonhos. No próximo tópico, trataremos do perfil do empreendedor, nele você poderá refletir sobre sua personalidade, olhar para dentro de si e avaliar quais características pessoais contribuem para uma postura empreendedora. Até lá

11 Página 11 de 11 Referências DRUCKER, P. F. Inovação e Espírito Empreendedor - Prática e Princípios. Rio de Janeiro: Pioneira, DOLABELA, Fernando. O Segredo de Luísa uma idéia, uma paixão e um plano de negócios: como nasce o empreendedor e se cria uma empresa. São Paulo: Cultura Editores Associados, DE MASI, Domenico. O Ócio Criativo. 4. ed. Rio de Janeiro: Sextante, p. Bibliografia Complementar Global Entrepreneurship Consortiun. Disponível em: SEBRAE. Disponível em: