MOVIMENTOS MANDIBULARES. Autor: HENRIQUE CERVEIRA NETTO Texto para AUDIOVISUAL (revisado 1995)
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1 1 Autor: HENRIQUE CERVEIRA NETTO Texto para AUDIOVISUAL (revisado 1995) Nota do autor: O presente trabalho foi desenvolvido, originalmente, como um texto de apresentação AUDIOVISUAL. A disposição em forma de diálogo foi mantida por acreditarmos que torna sua leitura mais agradável, sem a conotação clássica de texto informativo. Alguns dos conceitos apresentados deverão ser cotejados com estudos recentes e poderão sofrer alguma reavaliação. No entanto consideramos que alterações conceituais, se as houve, são de pequena monta e não invalidam a finalidade didática deste trabalho. - Para que estudar os movimentos mandibulares? - Porque se você pretende restaurar o aparelho mastigatório de alguém, precisa saber como esse aparelho funciona! -Bem, eu sei que há os dentes, que estão presos aos ossos; uma parte se move e daí se mastiga! - Bem...se do movimento resulta a mastigação, o importante será sabermos como se dá esse movimento. Se entendermos que as relações dos arcos dentais, que resultam no ato de mastigar são, na realidade, o resultado de um conjunto de movimentos, será necessário estudar cada um deles separadamente para depois podermos englobá-los e compreendê-los. - Assim me parece muito difícil e complicado; como vamos dividir em partes se você está dizendo que a mastigação é o conjunto dos movimentos? - Estudando separadamente cada um dos componentes do aparelho que exerce a função primordial na execução dos movimentos, para depois estudar cada movimento. - E isso pode ser feito com os movimentos mandibulares? - Evidentemente! - E por onde começamos? - Pelo estudo da ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR. - O que é isso?
2 2 - Imagine um crânio em norma lateral. Você verá, como parte integrante do conjunto crânio-facial, atrás do arco zigomático, uma articulação: é a articulação temporomandibular. A parte fixa da articulação está ligada ao osso Temporal e é formada por uma cavidade ou fossa, que se denomina: CAVIDADE GLENOIDE. Como, na cavidade glenoide se aloja a parte móvel da articulação ou seja, a própria mandíbula, poderíamos denominar essa cavidade de fossa mandibular ou cavidade articular. - Vejamos: se você examina uma cavidade, ela tem de ser limitada por paredes; assim sendo, a cavidade glenoide será limitada, na sua porção anterior, pelo côndilo temporal, que é uma continuação do osso Temporal. Mas como esse estrutura limita a cavidade articular, também poderia ser chamada de: tubérculo articular. O tubérculo articular, sendo uma eminência óssea, possui vertentes e assim podemos identificar uma vertente anterior e uma vertente posterior ao tubérculo articular. - Estou notando uma coisa interessante: a vertente posterior do tubérculo articular, corresponde à vertente anterior da cavidade glenoide! - Isso mesmo: a vertente posterior do tubérculo articular e a vertente posterior da fossa mandibular, formam a cavidade glenoide. - Estou começando a achar fácil... - Não é difícil...agora vejamos uma coisa: nessa cavidade vai se alojar a parte móvel da articulação. - Já sei: o côndilo da mandíbula! - Côndilo ou processo condilar, que é constituído pela porção superior do ramo da mandíbula onde identificamos: o colo do côndilo e a cabeça ou côndilo propriamente dito, em forma helipsoide, que se constitui na porção móvel, óssea, do conjunto articular. - Deixe ver se entendi bem... Existe uma cavidade, a cavidade glenoide ou fossa articular; essa cavidade é limitada pelo tubérculo articular, cuja vertente posterior forma uma das paredes da cavidade. Nessa cavidade alojam-se os côndilos da mandíbula. Mas se os côndilos estão contidos, limitados, entre as paredes da fossa ou cavidade, só serão possíveis os movimentos de abertura por rotação!?
3 3 - Acontece que, em determinadas circunstâncias, os côndilos podem se deslocar pelas vertentes do tubérculo articular. - Quer dizer que eles deslizam por essa vertente? - Isso mesmo. Na maioria dos movimentos mandibulares, os côndilos descrevem a vertente posterior do tubérculo articular ou, se você preferir, a vertente anterior da cavidade glenoide, podendo atingir a crista do tubérculo ou mesmo pequena porção da vertente anterior. - Então todo o tubérculo faz parte da articulação temporomandibular? - Não; nem todo o tubérculo se constitui na articulação. O que nos interessa é aquela região da vertente que se relaciona com os côndilos em movimento. Chama-se face articular do tubérculo temporal, aquela área onde se dão os movimentos condilares. - Quer dizer que a cavidade glenoide é mais ampla e apenas parte dessa área está relacionada com o movimento condilar? - Isso mesmo. - Então porque não se estuda apenas a face articular ao invés de ficarmos perdendo tempo com tubérculo, etc. - Porque a face articular de cada articulação difere da outra; de indivíduo para indivíduo e no mesmo indivíduo, do lado direito para o lado esquerdo. - E porque? - Porque além das diferenças de estrutura óssea há outros elementos que interferem na articulação temporomandibular condicionando determinadas trajetórias, para cada possibilidade de movimento. Imagine que houvesse contato direto entre o côndilo e a vertente da cavidade glenoide: haveria atrito com conseqüente desgaste! - E como impedir o contato e eliminar o atrito? - A Natureza previu tudo! Como em qualquer articulação do corpo, há um sistema de proteção. A cavidade glenoide e os côndilos, são totalmente recobertos por uma membrana, a membrana sinovial, auto-lubrificada pelo líquido sinovial. Como você pode ver, a natureza inventou a lubrificação automática, antes dos fabricantes das turbinas! - Então a membrana sinovial é o que protege o côndilo?
4 4 - Não é bem assim...além da membrana sinovial há outra estrutura fibro-cartilaginosa, o menisco ou disco articular, que se interpõe entre os côndilos e as paredes da cavidade glenoide. - Mas se existe um disco ou menisco, interposto entre o côndilo, o teto e as paredes da cavidade glenoide, isso quer dizer que, na realidade não temos uma cavidade articular, temos DUAS: uma estaria situada entre o menisco e as paredes superior e anterior da cavidade glenoide, seria a cavidade supra-meniscal; a outra estaria situada entre o menisco, que forma o seu teto e a cabeça do côndilo; seria a cavidade infra-meniscal. Em resumo: acima do menisco, temos a cavidade supra-meniscal e abaixo do menisco, temos a cavidade infra-meniscal. - O seu raciocínio está correto. No entanto o que existe realmente, são duas articulações, autônomas porém interdependentes. A cavidade supra-meniscal forma a articulação menisco-temporal, entre o menisco e o osso Temporal e a cavidade infra-meniscal forma a articulação menisco-mandibular, entre o menisco e a mandíbula. - Quer dizer que cada indivíduo possui duas articulações temporomandibulares e que cada uma delas é dividida em mais duas: QUATRO ARTICULAÇÕES? - Exatamente! - Isto está ficando muito complicado para o meu gosto... - Não é complicado, mas complexo. Quando analisarmos os movimentos condilares, nas articulações, você entenderá melhor. - Porque? Ainda tem mais?! - É lógico. - Estou desistindo... - Calma...Salta aos olhos que o menisco não pode estar solto entre o côndilo e o teto da cavidade. A cada movimento condilar ele seria ejetado da articulação! Envolvendo o conjunto articular existe uma estrutura: a Cápsula Articular, com inserções que vão do colo dos côndilos ao maciço crânio facial. - Cuja função seria a de manter as relações do conjunto côndilos/meniscos durante a dinâmica articular!
5 5 - Muito bem. E para dar estabilidade e fixar os limites dos movimentos condilares existem os ligamentos: ligamento Estilo-mandibular, ligamento Esfeno-mandibular e ligamento Têmporo-mandibular, que se completam na formação da própria cápsula articular. - Tem coisa de mais nessa articulação. Se já existe a cápsula, para que servem os ligamentos? - Realmente é um conjunto único, constituído pela cápsula e ligamentos. Não se podem separar uns dos outros. A cápsula é formada, em parte, pelos ligamentos e estes formam-se à partir da própria cápsula articular. Entenda que essa estrutura tem que manter as posições dos meniscos em relação aos côndilos, em movimento e eventualmente limitar a amplitude das trajetórias condilares. Daí a necessidade dos ligamentos. - Quer dizer que quando não houver interferência dental ou muscular, a situação articular seria ditada exclusivamente pelos ligamentos e pela cápsula? - Quase certo! O que se espera é que as posições mandibulares, orientadas pelos dentes, estejam dentro dos limites permitidos pela cápsula articular. Podemos considerar a articulação temporomandibular, como aquela parte do sistema que orienta as trajetórias, suas limitações ou áreas do movimento condilar individual. Como temos dois côndilos, o movimento final da mandíbula será o resultado da interação dessas articulações. Daí a necessidade de entendermos perfeitamente o que pode ocorrer em cada uma delas, em cada possibilidade de movimento, para depois conjugar cada possibilidade com as outras e extrapolar o movimento final da mandíbula. - Donde se conclui que o movimento mandibular será sempre um movimento composto; daí sua aparente complexidade. - Matou a charada! - Já que você agora conhece a anatomia da articulação temporomandibular, podemos iniciar o estudo dos movimentos mandibulares, individualmente e de maneira esquemática. Estudaremos três movimentos básicos: abertura e fechamento; lateralidade direita e esquerda; propulsão e retropulsão. Como ponto de partida, consideraremos a mandíbula em repouso, os músculos elevadores e abaixadores em tonus e os dentes mantendo entre si um espaço a que denominamos de
6 6 Espaço Funcional Livre ou Espaço Inter-oclusal. Essa posição mandibular corresponderia à situação inicial e terminal do ciclo de movimento. Vamos iniciar nosso estudo pelo: MOVIMENTO DE ABERTURA E FECHAMENTO Se partirmos da posição de repouso e havendo dentes presentes, a passagem da posição de repouso para uma posição de contato dental, cria uma situação a que se convencionou chamar de posição de Oclusão Central. - Já vem você com nomes novos. Porque não chamamos simplesmente de posição de oclusão? - É necessário diferenciar a posição mandibular ditada pelos dentes e que é variável, da posição ditada pelas articulações temporomandibulares. Assim sendo, se os côndilos estiverem em sua posição mais póstero/superior dentro das cavidades glenoides, dizemos que a mandíbula está em Relação Central. Nessa posição, há a possibilidade de rotações condilares, sem modificação da posição relativa do côndilo às vertentes da cavidade. - Teríamos uma rotação dos côndilos em torno de um eixo de rotação? - Certo. Se há rotação, sempre poderemos determinar um eixo em torno do qual deu-se o movimento. Convencionou-se denominar esse eixo de: Eixo Terminal de Rotação ou Eixo de Bisagra. Ora, se consideramos um eixo terminal de rotação ou eixo de bisagra como o resultado de uma rotação pura condilar, isto indica que não houve deslocamento antero/posterior dos côndilos. Se não houve deslocamento condilar, não haverá necessidade de deslocamento dos meniscos, portanto só há uma possibilidade para esse tipo de movimento. - Qual seria? - Esse movimento ocorrer na articulação infra-meniscal ou menisco-mandibular. - Vejamos: o movimento na articulação menisco-mandibular é o resultado de uma posição ditada pela cápsula e pelos ligamentos. - Donde poder ser chamada de Posição Ligamentosa.
7 7 - Estamos estudando a passagem da posição POSTURAL para a posição de OCLUSÃO em RELAÇÃO Central. Certo? - Certo! A posição postural é uma posição de repouso mandibular (muscular) em Relação Central (articular) que, pôr sua vez é a condição para que ocorram as rotações puras condilares. Para Mc Collum, a amplitude desse movimento situa-se em torno de 20 mm. de abertura, ao nível dos incisivos; porém e isto é muito importante, essa rotação pura somente ocorrerá quando os côndilos estiverem em Relação Central. Atualmente associase o movimento de rotação pura condilar ao conceito de Relação Central sem a preocupação, dominante em épocas anteriores, de definir uma posição condilar no interior da cavidade glenoide. Dessa forma, em havendo um arco de fechamento articular, independente da musculatura e reproduzível, podemos dizer que essa é uma posição de Relação Central. - E os dentes? - Na realidade atrapalham tudo! Por isso, vamos continuar nosso estudo considerando uma oclusão ideal, que não interfira com as posições condilares. Nessas circunstâncias, estudaremos apenas a condição articular para, depois, estudarmos as relações dentais (oclusão) em outro trabalho. Voltando ao movimento de abertura teríamos: rotações condilares, em torno do eixo de bisagra, da posição de oclusão em Relação Central, até cerca de 20 mm. de abertura da boca e vice/versa. Com a ampliação desse movimento e devido a ação dos músculos abaixadores, em conjunto com os músculos propulsores (notadamente os músculos Pterigoideus laterais), os côndilos iniciam um movimento para diante; tipicamente um movimento de translação. - Se os côndilos se deslocam para diante, haverá necessidade do deslocamento meniscal? - O deslocamento do conjunto côndilo/menisco vai relaciona-los com a vertente anterior da cavidade glenoide. - Face articular da vertente e parte fundamental da articulação. - A face articular da vertente anterior da cavidade glenoide vai imprimir uma trajetória descendente aos côndilos, trajetória esta que forma um ângulo com o plano horizontal, mais ou menos pronunciado, dependendo da posição do menisco e da inclinação da vertente óssea da articulação.
8 8 - Se temos um deslocamento póstero-anterior do côndilo, o eixo bicondilar passa a descrever um movimento de translação para frente e para baixo. No entanto como continua o movimento de rotação condilar, temos um movimento composto que denominamos de: movimento de roto-translação ou trans-rotação condilar. E se o menisco se desloca com o côndilo, as articulações envolvidas serão a articulação supra e inframeniscais: menisco-temporal e menisco-mandibular. - A trajetória póstero- anterior dos côndilos foi notada por Bonwill em 1858 que, no entanto, não levou em consideração o ângulo das vertentes da cavidade glenoide. Devido a primazia na descrição desse fenômeno, deu-se o nome de movimento de Bonwill ao movimento póstero-anterior dos côndilos, durante o movimento de abertura da boca. - Sabemos que os côndilos descrevem a face articular, numa trajetória descendente e esse conhecimento deve-se a Walker que, em 1896, determinou a trajetória condilar em relação ao plano oclusal. - Você sabia que na época houve muita discussão para se estabelecer se o movimento condilar era de trás para a frente ou de cima para baixo? Hoje sabemos que a trajetória condilar é póstero-anterior e angulada; dão-se, conjuntamente, os movimentos de Bonwill (que é horizontal) e de Walker (que é vertical). Daí designar-se o movimento total de movimento de Bonwill-Walker ou simplesmente Trajetória Sagital do côndilo. - E quando termina o movimento? - O movimento de abertura tem sua máxima amplitude quando os côndilos atingirem sua posição máxima anterior e inferior, permitida pela cápsula e ligamentos e mantidas pelos músculos abaixadores e propulsores, tendo descrito toda a face articular da articulação temporomandibular. - Entendo que a face articular da vertente é a área relacionada com a trajetória condilar e depende, exclusivamente, da amplitude dessa trajetória. - O movimento inverso, de fechamento da boca, dá-se as custas dos músculos elevadores da mandíbula dos quais o principal responsável pela trajetória de fechamento é o músculo Temporal. Pela contração seletiva de seus feixes: anterior, médio e posterior, o músculo Temporal traciona a Apófise Coronoide ou o ramo ascendente da mandíbula, para cima e
9 9 para trás, levando o conjunto: côndilos/meniscos, a deslizarem pela face articular em direção à porção profunda da cavidade glenoide. - Pelo que vimos, quando estudamos posição postural, podemos concluir que: ultrapassado esse ponto, a tendência seria terminar a translação condilar e o movimento se limitar a uma rotação até a posição de oclusão. - Se, no fechamento, os côndilos chegaram à situação de Relação Central, a continuação do movimento passa, novamente, à articulação menisco-condilar, com rotação em torno do eixo de bisagra, até a posição de oclusão em Relação Central. Não teríamos interferência da articulação supra-meniscal na última fase (ou etapa) do movimento. - É sempre assim? - Depende do arco reflexo neuromuscular. Mas para o nosso estudo presente, vamos considerar coincidência entre as posições de Oclusão e a de Relação Central. - Vamos estudar, agora: O MOVIMENTO DE PROPULSÃO E RETROPULSÃO: Para que haja propulsão mandibular, há a necessidade da contração simultânea dos feixes bilaterais dos músculos Pterigoideus laterais. - Se os músculos Pterigoideus laterais se contraírem simultaneamente, irão tracionar os dois côndilos, simultaneamente, numa trajetória póstero-anterior, num movimento semelhante ao movimento de abertura máxima. - Certo! - Nesse caso os côndilos irão se deslocar pela face articular da vertente anterior da cavidade glenoide. - Donde se conclui que há uma analogia entre a situação articular: durante a propulsão mandibular e a posição de abertura máxima. Em ambos os casos, os côndilos descrevem a face articular, numa trajetória descendente, cuja inclinação dependerá do deslocamento meniscal e do ângulo da vertente (óssea) anterior da cavidade glenoide. - E como há um movimento composto de translação, teremos o envolvimento da articulação supra-meniscal ou mensico-temporal. - Havendo dentes anteriores, após um pequeno deslocamento protrusivo da mandíbula, haverá contato entre o bordo incisal dos dentes inferiores com a face palatina dos dentes
10 10 superiores. Na continuidade do movimento mandibular, esse contato orientará um deslizamento dos dentes inferiores, que descrevem a face palatina dos dentes superiores, em direção ao seu bordo incisal. - Como é que não quebra tudo? Se cada vez que a mandíbula caminha para diante, há um contato dental, deveria haver um desgaste pronunciado dos dentes anteriores! - Acontece que a vertente anterior da cavidade glenoide imprime uma trajetória descendente aos côndilos e portanto à mandíbula, de forma a harmonizar a trajetória mandibular ditada pelas articulações (denominada: Guia Condilar) com trajetória ditada pela face palatina dos dentes anteriores superiores (chamada: Guia Incisal). - Então haverá um abaixamento total da mandíbula durante o movimento de propulsão? - Sim! Inclusive cria-se um espaço entre os dentes posteriores, que é denominado de Espaço de Christensen em homenagem ao autor que primeiro observou esse fenômeno. - Ao abaixamento mandibular posterior, durante o movimento de propulsão, denomina-se Fenômeno de Christensen. - Bem...A retropulsão ou volta à posição de Relação Central, dá-se pela contração simultânea dos feixes posteriores do músculo Temporal e na etapa final, pela contração dos feixes: médio, oblíquo e anterior, desse músculo, num tipo de ação idêntico ao que presenciamos durante o movimento de fechamento da boca. - Está faltando explicar o movimento de: lateralidade. - Agora que já estudamos o movimento de propulsão, torna-se fácil entender o movimento de lateralidade. Esse movimento resume-se numa propulsão unilateral! - Apenas um dos côndilos? - Sim...Enquanto um dos côndilos caminha para diante (e para baixo) o outro permanece como um pivot para o movimento. Imagine que vamos executar um movimento mandibular de lateralidade para a esquerda. Para que esse movimento possa ocorrer é necessário que o côndilo do lado oposto à direção do movimento (côndilo direito) se desloque para frente, enquanto o côndilo do lado do movimento (côndilo esquerdo) gira sobre si mesmo.
11 11 - Mas quando o côndilo direito se deslocar para diante encontrará a face articular da vertente do tubérculo articular... - Se fizermos uma analogia com o movimento de propulsão, concluiremos que a continuidade de movimento anterior do côndilo, obriga ao deslizamento pela vertente anterior da cavidade glenoide. - Nesse caso, o côndilo executa uma trajetória inclinada para frente e para baixo? - Evidentemente! Para a frente, devida à contração dos músculos propulsores; para baixo devido a inclinação da vertente da articulação e também em direção à linha mediana, pois a mandíbula, sendo um osso único, tem seu apoio no outro côndilo (côndilo de apoio). - Então temos um movimento composto? - Sim! - Mas se o côndilo que se desloca (côndilo orbitante), caminha para frente, para baixo e para a linha mediana, haverá o afastamento dos dentes desse lado?! - Os dentes se afastam no lado de onde se origina o movimento. Daí chamar-se de lado de balanceio ao lado da mandíbula em que se dá o deslocamento condilar. - Seria o lado oposto ao sentido do movimento? - Certo...movimento para a esquerda: balanceio direito; movimento para a direita: balanceio esquerdo! - Pé com palha...pé sem palha... - Esse afastamento dos dentes do lado de balanceio, tem sua origem no Fenômeno de Christensen que se observa durante o movimento de propulsão e da mesma forma, depende da inclinação da vertente articular e da guia canina (ângulo da face palatina do canino superior com o canino inferior) que estão relacionadas. - E o outro lado? - O côndilo do lado do movimento, tende a compensar todos esses deslocamentos, principalmente se levarmos em consideração que, se de um lado há o afastamento dos arcos (lado de balanceio) do lado oposto haverá uma maior aproximação. - Enquanto um lado descansa o outro trabalha! - Exatamente. O lado oposto ao lado de balanceio chama-se lado de trabalho.
12 12 - Vamos recapitular: No movimento para a direita o côndilo esquerdo caminha para frente, para baixo e para a linha mediana. É o lado de balanceio porque houve o afastamento dos arcos desse lado. Durante o movimento o côndilo direito permanece na cavidade glenoide, os dentes mantém sua oclusão desse lado que é o lado de trabalho, assim chamado devido ao contato oclusal. - Então ficou bem claro qual é o lado de trabalho e qual o lado de balanceio? - Ficou. - Muito bem... O côndilo de balanceio executa uma trajetória inclinada em relação aos planos sagital, horizontal e frontal. Denomina-se ângulo de Bennett ao ângulo formado entre a trajetória condilar e o plano sagital projetado no plano horizontal. Essa inclinação (ou ângulo) está intimamente relacionada com a anatomia da parede interna da cavidade glenoide. A determinação do ângulo de Bennett é importantíssima, pois nos fornece a amplitude do movimento lateral do côndilo de trabalho (ou apoio). - Ao movimento lateral do côndilo de trabalho, denomina-se movimento de Bennett em homenagem à Bennett que foi seu descobridor. O movimento de Bennett, característico dos movimentos de lateralidade da mandíbula, é uma conseqüência do ângulo do deslocamento medial do côndilo orbitante (ou de balanceio) e tende a compensar esse deslocamento. Compreende-se que quanto mais para medial for o deslocamento condilar (côndilo orbitante ou de balanceio), maior será o movimento de Bennett (do lado oposto) e em se considerando que, desse lado há o contato dental, depreende-se que esses contatos serão influenciados por esse relacionamento. - O conjunto: ângulo de Bennett e movimento de Bennett, orienta a inclinação dos sulcos e vertentes dos dentes posteriores, para os movimentos excêntricos da mandíbula. - Posselt, estudou exaustivamente os movimentos mandibulares e estabeleceu um gráfico que é conhecido como gráfico de Posselt. Como, nesse gráfico, estão descritas as trajetórias máximas passíveis de serem executadas pela mandíbula segundo o plano sagital, denomina-se de Gráfico dos Movimentos de Borda ou Movimentos Bordejantes da mandíbula.
13 13 - O gráfico de Posselt representa a trajetória do ponto incisivo quando a mandíbula executa os movimentos permissíveis pela articulação temporomandibular e músculos projetado no plano sagital. - Na primeira fase do movimento, partindo-se da posição de Relação Central, teremos rotação em torno de um eixo; o eixo terminal de rotação. Ultrapassada a fase inicial de abertura, entre a posição de oclusão e a posição postural de repouso, amplia-se o movimento de abertura entrando em ação os músculos propulsores em conjunto com os músculos abaixadores, levando os côndilos a transladarem em direção à face articular da vertente anterior da cavidade glenoide. Associam-se os movimentos de rotação e de translação, com os côndilos percorrendo a face articular em direção ao tubérculo articular ou côndilo temporal. - Diz-se dessa articulação ser mista pois envolve as articulações menisco-temporal e menisco-mandibular. - A situação de máxima abertura envolve os côndilos posicionados na sua localização máxima inferior e máxima anterior, permissível pela cápsula e pelos ligamentos. - A partir dessa posição, Posselt descreve o fechamento mandibular, em direção à sua posição máxima protrusiva. A mandíbula fecha, com os côndilos girando (rotação) sobre o tubérculo temporal, num movimento essencialmente de rotação, uma vez que não haverá deslocamento antero-posterior dos côndilos em relação à articulação temporomandibular. - Para que essa posição seja mantida é necessário que os músculos propulsores (notadamente o músculo Pterigoideu lateral) mantenham seu estado de contração máxima, durante todo o arco de fechamento. - No que respeita à articulação temporomandibular, há o envolvimento da articulação menisco-mandibular, limitada pela cápsula e pelos ligamentos. Cessa o movimento na posição de oclusão em máximo protrusivo, quando os dentes limitam o movimento mandibular. - O trajeto entre a posição máxima protrusiva e a posição de Relação Central, ocorre como resultado do relaxamento dos músculos propulsores, acompanhado pela ação dos músculos elevadores. Esse tipo de ação muscular, permite (ou condiciona) o deslocamento
14 14 antero-posterior dos côndilos pela vertente anterior da cavidade glenoide, no sentido tubérculo - fossa. - A porção superior do gráfico de Posselt, varia conforme analisamos indivíduos dentados e desdentados. No caso de dentados, há o contato dos dentes anteriores que condiciona o aparecimento sucessivo de rotações e transrotações para o: encontro, descruzamento, deslize e oclusão dos dentes. Notam-se as variações possíveis no gráfico: trajetória plana ou quase plana para desdentados e escalonada para dentados. Em ambos os casos, a posição inicial e terminal dos movimentos corresponde à RELAÇÃO CENTRAL. - É bastante instrutivo associarmos o gráfico de Posselt com o Gráfico de Gysi. Gysi obteve um gráfico que representa os movimentos excêntricos (lateralidade e protrusão) da mandíbula, no plano horizontal. Seu gráfico também é conhecido como Arco Gótico de Gysi, devido à conformação típica, em forma de ponta de flecha, de seu traçado. O ponto de intercessão das linhas, representa a posição de Relação Central. No entanto, um arco gótico pode ser obtido em praticamente qualquer posição vertical. Nessas condições, é possível superpor ao gráfico de Posselt n gráficos de Gysi, em várias situações de abertura, de modo a obtermos uma figura tridimensional, que seria a representação gráfica de todas as posições máximas atingíveis pela mandíbula durante seus movimentos. Esse sólido representaria os movimentos BORDEJANTES e a uma figura desse tipo, que engloba todas as possibilidades de trajetórias mandibulares, convencionou-se chamar de: ENVELOPE DE MOVIMENTO. Revisão: D.M.O.P. da F.O.S.J.C. - UNESP (1995) É permitida a reprodução impressa deste documento desde que não seja para fins comerciais.
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