EFEITO DO PROCESSO DE TREINAMENTO TÉCNICO-TÁTICO NO NÍVEL DE CONHECIMENTO DECLARATIVO DE JOVENS PRATICANTES DE VOLEIBOL

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1 ARTIGO EFEITO DO PROCESSO DE TREINAMENTO TÉCNICO-TÁTICO NO NÍVEL DE CONHECIMENTO DECLARATIVO DE JOVENS PRATICANTES DE VOLEIBOL Hugo Cesar Martins Costa 1 Cláudio Olivio Vilela Lima 1 Cristino Júlio Alves da Silva Matias 1 Pablo Juan Greco 1 RESUMO Grande atenção tem sido dada nas últimas décadas ao ensinoaprendizagem-treinamento dos jogos esportivos coletivos. A literatura aponta que processos metodológicos enfatizam demasiadamente o componente técnico e dão pouca relevância ao componente tático. Os objetivos deste estudo foram verificar como tem sido realizado o processo de ensino-aprendizagem-treinamento em uma equipe feminina de voleibol e se esse processo favorece o desenvolvimento do conhecimento tático das jogadoras. Vinte e uma jogadoras (idade média de 13,8 anos) pertencentes a um clube participaram da pesquisa. Para realizar a categorização do processo de ensino-aprendizagemtreinamento, foram filmadas 18 sessões consecutivas de treinamento e posteriormente analisadas através de um instrumento desenvolvido e validado por Nascimento e Barbosa (2000). Na verificação do desenvolvimento do conhecimento tático, utilizou-se o teste validado por Paula e Greco (1999). O teste de conhecimento tático foi aplicado no início e no final das sessões de treino registradas. Na análise dessas sessões, observou-se principalmente equilíbrio no tempo destinado às atividades cuja função foi direcionada à fixação e diversificação da técnica (42,8%) e àquelas realizadas em formas modificadas de jogos (44,3%). Quanto ao conhecimento tático, verificou-se aumento do parâmetro conhecimento declarativo (p=0,03), enquanto no parâmetro tomada de decisão não se observaram diferenças (p=0,20). Esses Recebido para publicação em 01/2007 e aprovado em 07/ Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais. Centro de Excelência Esportiva (CENESP). Laboratório de Psicologia do Esporte (LAPES). Grupo de Estudos em Cognição e Ação (GECA). R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 15, n. 2, p. 5-19,

2 resultados demonstraram que o treinador tem planificado suas sessões de forma a dedicar atenção tanto ao componente técnico quanto ao tático, sendo este último especialmente contemplado através das atividades de jogos modificados (44,3%). Possivelmente, essa estrutura de treinamento possa ter auxiliado o desenvolvimento do nível de conhecimento tático avaliado. Palavras-chave: treinamento técnico-tático, métodos de ensino, conhecimento tático, voleibol. INTRODUÇÃO Os jogos esportivos coletivos, designação dada às modalidades como basquetebol, futebol, futsal, voleibol e handebol, ocupam indubitavelmente lugar de destaque entre as práticas da educação física e o esporte formal e escolar na sociedade contemporânea (GARGANTA, 1995). Esse grupo de modalidades esportivas está presente nos vários níveis do sistema de formação e treinamento esportivo (GRECO; BENDA, 1998), desde o esporte escolar até o alto nível de rendimento. Os jogos esportivos coletivos são caracterizados pela presença freqüente de situações de grande imprevisibilidade, fazendo com que os seus praticantes necessitem adotar permanentemente atitudes táticas e estratégicas (GARGANTA, 1995). Assim, a tomada de decisão ganha importância nesse tipo de atividade esportiva, o que torna crucial o seu desenvolvimento ao longo do processo de ensino-aprendizagemtreinamento. Considerando as características dessas modalidades, os estudos têm sido direcionados não somente aos componentes relacionados ao rendimento físico, mas também aos componentes inerentes à capacidade tática (COSTA et al., 2002). Pesquisas têm analisado mudanças na capacidade tática no decorrer do tempo ao serem implementadas diferentes metodologias de treinamento técnico-tático (FRENCH et al., 1996; HARRISON et al., 1998; MENDEZ-GIMENEZ, 1999; MESQUITA et al., 2005; TURNER; MARTINEK, 1992, 1999). Algumas variáveis relacionadas a essa capacidade são freqüentemente testadas por meio de parâmetros como a competência de tomar decisões em situações reais de jogo (MESQUITA et al., 2005) e o conhecimento tático que os indivíduos apresentam em relação à modalidade que está sendo pesquisada (FRENCH et al., 1996; HARRISON et al., 1998; TURNER; MARTINEK, 1992, 1999). 6 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 15, n. 2, p. 5-19, 2007

3 Dois tipos de conhecimento tático têm sido considerados relevantes para o desempenho nas ações esportivas: o conhecimento declarativo e o conhecimento processual (COSTA et al., 2002). O desempenho nos jogos esportivos coletivos tem sido correlacionado positivamente tanto com o conhecimento declarativo (FRENCH; THOMAS, 1987) quanto com o conhecimento processual (IGLESIAS et al., 2005). Em relação ao conhecimento tático declarativo, já foram apresentados no Brasil alguns resultados de estudos em modalidades como voleibol, futsal e handebol (GRECO et al., 1998; BONTEMPO, 2000; MATIAS, 2001; GRECO et al., 2002; LIMA et al., 2005). O conhecimento tático declarativo no voleibol começou a ser avaliado através de um instrumento validado por Paula e Greco (1999), sendo, portanto, relevante nas pesquisas integrar este teste com análises dos métodos de treinamento para se observar a influência das características do ensino sobre o nível de conhecimento declarativo dos praticantes. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar o nível de conhecimento declarativo no decorrer de 18 sessões de treinamento técnico-tático de voleibol, bem como analisar o método de ensino aplicado pelo treinador. MATERIAL E MÉTODOS AMOSTRA A pesquisa foi realizada com uma equipe de voleibol feminino da categoria mirim pertencente a um clube da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. Participaram 21 jogadoras, com idade média de 13,8 ± 0,4 anos e experiência média de treinamento da modalidade em clubes de 1,2 ± 0,7 meses. A equipe participava das competições metropolitanas e estaduais organizadas pela Federação Mineira de Voleibol. A freqüência de treino era de cinco sessões semanais (duração média de uma hora e vinte minutos). No momento da investigação a equipe se encontrava a aproximadamente seis semanas do início da primeira competição do ano. Antes de se iniciar a coleta dos dados, o treinador da equipe recebeu uma carta-convite, contendo informações gerais sobre os objetivos do estudo. Posteriormente, as atletas e seus responsáveis também foram também informados sobre a pesquisa e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 15, n. 2, p. 5-19,

4 TESTE DE CONHECIMENTO TÁTICO Na avaliação do conhecimento tático utilizou-se o teste de conhecimento tático de diagramas do voleibol (TCTD-VB), validado por Paula e Greco (1999), com o objetivo de medir o nível de conhecimento declarativo do praticante dessa modalidade. O TCTD-VB é composto por 25 diagramas, que possibilitam analisar representações esquemáticas de situações de saque, ataque e defesa no voleibol (Figura 1), sendo elas projetadas na forma de slides, para serem visualizadas em uma tela. No TCTD-VB, oito slides são utilizados com exemplos e mostrados inicialmente, a fim de que o atleta possa compreender como se devem elaborar as respostas. As outras 17 imagens de situações de jogo possibilitam avaliar o conhecimento tático declarativo do participante. Cada diagrama é projetado por cinco segundos; após esse período, a imagem é retirada, substituindo-se por outra de fundo branco, dando tempo aos voluntários de elaborarem a resposta às perguntas relacionadas à situação do diagrama projetado, dispondo para isso do tempo que for necessário. As respostas de cada questão se dividem em dois níveis, sendo o primeiro relacionado a que decisão tática deve ser tomada na situação apresentada tomada de decisão declarada (TD), enquanto no segundo nível o voluntário deve escrever uma breve justificativa dessa decisão conhecimento declarativo (CD). As respostas são registradas no questionário entregue aos participantes. A correção do teste é feita mediante um gabarito construído a partir de respostas dadas por treinadores de voleibol peritos nesta modalidade, com o nível de concordância de no mínimo 80%. Primeiramente, avalia-se a TD e, a seguir, a justificativa. A pontuação valoriza tanto a tomada de decisão quanto a sua justificativa, que é somada à primeira caso o indivíduo tenha acertado. A pontuação é assim distribuída: - Resposta correta para a tomada de decisão: 100 pontos - Resposta errada para a tomada de decisão: nenhum ponto - Resposta correta da justificativa: de 6 a 100 pontos - Resposta errada da justificativa: nenhum ponto - Pontuação máxima por questão: 200 pontos - Pontuação máxima do teste: pontos 8 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 15, n. 2, p. 5-19, 2007

5 ATACANTE QUESTÃO GABARITO O que o jodador deve fazer TD: Largar: nessa situação (100 pontos) Bater ou largar Bloqueio bem posicionado (100 pontos) (50 pontos) CD: porquê? Defesa mal posicionada (100 pontos) (50 pontos) Figura 1 - Situação de ataque pertencente ao TCTD-VB. ANÁLISE DAS SESSÕES DE TREINAMENTO TÉCNICO-TÁTICO Para análise do processo de ensino-aprendizagem-treinamento aplicado pelo treinador, foi utilizado um instrumento desenvolvido por Nascimento e Barbosa (2000), o qual consiste em várias planilhas com o objetivo de classificar as situações do treinamento aplicado. No presente estudo foram usadas apenas as planilhas relacionadas à caracterização do treinamento técnico-tático com os itens condições e funções das tarefas, não sendo analisadas outras categorias do ambiente de treinamento, como, por exemplo, a conduta das atletas e do treinador, que será tema de outro trabalho. PROCEDIMENTOS A pesquisa se iniciou aproximadamente seis semanas antes da primeira competição da equipe voluntária naquela temporada. O TCTD-VB foi aplicado antes e após 18 sessões de treinamento. Cada uma das 18 sessões foi filmada, para posterior análise no laboratório de multimídia do GECA (Grupo de Estudos em Cognição e Ação). Para aplicação do teste foi escolhido, dentro das próprias instalações do clube, um local escurecido e afastado de interferências externas, objetivando facilitar a visualização das projeções e manutenção da concentração das voluntárias. Cada participante tinha um questionário-padrão, lápis e borracha. Foram dadas instruções para que as voluntárias se concentrassem nas tarefas do teste e evitassem fazer quaisquer comentários durante todo o período de sua aplicação. A duração média do teste, tanto no pré R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 15, n. 2, p. 5-19,

6 quanto no pós-teste, foi de aproximadamente uma hora. Como as situações de jogo apresentadas nos diagramas eram as mesmas em ambos os testes, os diagramas foram trocados de ordem na segunda aplicação, a fim de dificultar possível memorização das situações. ANÁLISE ESTATÍSTICA Para avaliação das sessões de treinamento filmadas, foi realizada uma análise estatística descritiva relacionada com as atividades desenvolvidas pelo treinador. Para verificar a presença de diferenças no conhecimento tático (TD e CD) entre o pré e o pós-teste, foi utilizado o teste de Wilcoxon, já que se trata de dados nãoparamétricos provenientes de um mesmo indivíduo em dois momentos distintos. Foi adotado um nível de significância de 5%. RESULTADOS A Tabela 1 mostra o resumo das atividades realizadas. Foram registradas 83 atividades no decorrer das 18 sessões de treino. Pôdese observar a presença de maior número de atividades relacionadas ao saque, ao ataque, à defesa e aos complexos de jogos. Tabela 1 - Freqüência de aparecimento das atividades em 18 sessões de treinamento e tempo despendido por cada tipo de atividade ATIVIDADES FREQÜÊNCIA TEMPO (min) Saque 13 (15,7%) 120,5 (8,0%) Recepção 7 (8,4%) 45,5 (3,0%) Levantamento 0 (0,0%) 0 (0,0%) Ataque 13 (15,7%) 184,5 (12,3%) Bloqueio 8 (9,6%) 86,5 (5,8%) Defesa 19 (22,9%) 206,5 (13,7%) Complexo de jogo 21 (25,3%) 667,5 (44,3%) Jogo 2 (2,4%) 195 (12,9%) Saque 13 (15,7%) 120,5 (8,0%) TOTAL 83 (100,0%) 1506 (100,0%) 10 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 15, n. 2, p. 5-19, 2007

7 O Gráfico 1 apresenta a distribuição percentual do tempo de treinamento, analisada através da categoria condição da tarefa. As tarefas classificadas como fundamento individual e combinação de fundamentos adotaram conjuntamente uma função de fixação e diversificação da técnica, enquanto os complexos de jogos demonstraram função relacionada à aplicação da técnica. Portanto, verificou-se equilíbrio entre atividades relacionadas ao aperfeiçoamento técnico (42,8%) representado por fundamento individual/combinação de fundamentos e o aperfeiçoamento tático (44,3%) representado pelos complexos de jogos. 12,9% 29,6% 44,3% 12,9% Fundamento individual Conbinação de fundamentos Complexo de jogos Jogos Gráfico 1 - Distribuição percentual do tempo destinado a diferentes condições da tarefa. O Gráfico 2 mostra a soma dos pontos obtidos pelas 21 jogadoras que responderam o teste de TCTD-VB. Ao se comparar a pontuação relacionada à TD, não foi verificada diferença entre o resultado do pré-teste e o do pós-teste. No entanto, na comparação do CD, ou seja, das justificativas dadas pelas jogadoras, observou-se um valor estatisticamente superior no pós-teste (p=0,037) quando comparado ao pré-teste, demonstrando evolução desse parâmetro no decorrer das sessões de treinamento * Pré-teste Pós-teste 0 TOMADA DE DECISÃO CONHECIMENTO DECLARATIVO Gráfico 2 - Comparação da soma dos pontos obtidos pelas jogadoras no TCTD-VB nas situações pré-teste e pós-teste; * p < 0,05. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 15, n. 2, p. 5-19,

8 DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Como mencionado anteriormente, o conhecimento tático tem sido avaliado como um dos parâmetros de rendimento tático nos jogos esportivos coletivos. Outros estudos também avaliaram o nível de conhecimento tático através do mesmo teste aplicado no presente estudo. Greco et al. (2002) realizaram uma pesquisa com equipes colegiais que representaram as seleções de voleibol de seis Estados brasileiros. Com relação aos indivíduos do sexo feminino, a amostra foi composta de 58 atletas, com idade entre 11 e 14 anos. O desempenho médio no teste (TD + CD) foi de 39,8%, ou seja, 1.353,2 em pontos. Os resultados deste estudo foram aparentemente semelhantes aos dessa pesquisa, já que as voluntárias alcançaram em torno de 40,8% do desempenho máximo do teste. Apesar de as idades das duas amostras serem próximas, algumas diferenças merecem destaque, como o tempo médio de prática entre os grupos. Enquanto as voluntárias deste estudo demonstraram média de 1,2 ano de experiência com a modalidade, a amostra das seleções estaduais tinha 2,6 anos de prática. Vale ressaltar que a experiência registrada pelas voluntárias do presente estudo se refere ao tempo de treinamento especificamente em equipes de voleibol, descartando outros tipos de vivências esportivas nessa modalidade, como, por exemplo, a experiência escolar. Matias (2001) comparou o conhecimento tático de atletas da categoria infanto-juvenil 16/17 anos de idade que pertenciam à seleção nacional de voleibol e de atletas da mesma categoria, mas que não faziam parte da seleção brasileira. Também foi aplicado o teste de diagramas; o desempenho das atletas da seleção alcançou 57,3% das respostas corretas, enquanto as atletas não pertencentes à seleção obtiveram 56,9%. Não houve diferença estatística de conhecimento tático entre os dois grupos. Esse resultado foi semelhante ao encontrado por Costa et al. (2002) entre jogadores de futebol de diferentes níveis competitivos. Como era de se esperar, ao serem comparados os resultados deste estudo com aqueles encontrados por Matias (2001), pode-se perceber superioridade no nível de desempenho no teste de conhecimento tático por parte das jogadoras mais velhas, que 12 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 15, n. 2, p. 5-19, 2007

9 alcançaram mais de 50% da pontuação máxima, ao passo que as voluntárias do presente trabalho obtiveram pontuação em torno de 40%. Pesquisas têm avaliado o desenvolvimento da capacidade tática nos jogos esportivos coletivos. Mesquita et al. (2005) analisaram a contribuição de 12 sessões de treinamento de voleibol com base no ensino a partir de uma abordagem tática. Para avaliação da capacidade tática, foram utilizadas filmagens de situações de jogo de 2 contra 2, que posteriormente eram analisadas pelos pesquisadores. A amostra foi constituída de 25 de escolares de ambos os sexos, com idade entre 12 e 15 anos. Foi verificada evolução de parâmetros táticos, como tomada de decisão no ataque, ajustes durante a recepção e o desempenho tático geral. Foram observadas também algumas diferenças de desempenho entre os sexos antes do início do programa de treinamento, bem como no aproveitamento deste. Apesar de os autores terem avaliado o desempenho tático dos participantes, não foi verificado o impacto do programa de treinamento no conhecimento tático deles. Turner e Martinek (1992) compararam o efeito de duas abordagens de treinamento aplicadas ao hóquei: uma baseada no treinamento técnico e outra no treinamento tático. Quarenta e quatro voluntários com idade aproximada entre 13 e 14 anos participaram do estudo, sendo formado um grupo para cada método de tratamento. Foram realizadas 10 sessões de treinamento, com freqüência de uma vez por semana. Os autores avaliaram parâmetros relacionados ao desempenho técnico e tático durante situações de jogo, bem como o conhecimento tático declarativo e processual relacionado ao esporte. Com relação à análise do conhecimento tático, não houve diferença entre os grupos de treinamento. Não houve também evolução do conhecimento declarativo e processual no decorrer das sessões de treinamento. No entanto, em estudo posterior, Turner e Martinek (1999) demonstraram que o grupo de treinamento baseado na tática demonstrou vantagens tanto no desempenho de tático em situações reais de jogo, como no conhecimento tático, ao serem implementadas 15 sessões de treinamento. É importante mencionar que os testes de conhecimento declarativo e processual utilizados por esses autores se assemelham ao teste de conhecimento declarativo usado no presente estudo. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 15, n. 2, p. 5-19,

10 Assim como Turner e Martinek (1992), Harrisson et al. (1999) também estudaram o impacto de uma abordagem centrada na técnica e outra centrada na tática na aprendizagem do voleibol. Participaram do estudo 182 estudantes, iniciantes na modalidade esportiva testada. Foram medidas variáveis relacionadas ao desempenho técnico, tático e conhecimento, antes e após 32 sessões de treinamento, realizadas duas vezes por semana. Houve evolução em praticamente todas as variáveis analisadas, inclusive no conhecimento relacionado ao voleibol. Não foram demonstradas diferenças entre os grupos centrados na técnica e na tática. Os resultados relacionados à evolução do conhecimento tático declarativo no presente estudo mostraram que no quesito justificativa (CD) houve aumento no desempenho. Esse resultado está em concordância com aqueles apresentados pela literatura (HARRISSON et al., 1998; MENDEZ-GIMENEZ, 1999; TURNER; MARTINEK, 1992, 1999), os quais indicam que é necessário número de sessões de treinamento igual ou superior a 15 para observar melhoras no conhecimento tático dos praticantes. O valor superior de CD que as jogadoras do presente estudo apresentaram no pós-teste indica que elas foram capazes de justificar melhor as suas escolhas táticas, ou seja, dentro daquelas situações em que as voluntárias acertaram a TD, elas pareceram compreender melhor porque agiriam daquela maneira. No entanto, com relação ao quesito TD, não foi verificado aumento de desempenho. Pode ser que o tempo necessário para se obter melhora da TD seja um pouco maior, apesar de em outros estudos terem sido constatados aumentos desse parâmetro em menos de 18 sessões de treinamento (TURNER; MARTINEK, 1999). Como discutido, o tipo de treinamento técnico-tático proporcionado aos praticantes pode ser um fator importante no desenvolvimento do conhecimento tático (MENDEZ-GIMENEZ, 1999; TURNER; MARTINEK, 1999), já que em alguns estudos os métodos de abordagem centrada na tática parecem demonstrar superioridade no aumento de desempenho dessa capacidade, quando comparados com processos de treinamento centrados na técnica. Analisando a estrutura de treinamento a partir das filmagens realizadas, houve distribuição semelhante do tempo destinado às atividades com finalidade de desenvolvimento técnico (42,8%) e tático 14 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 15, n. 2, p. 5-19, 2007

11 (44,3%), sendo o restante do tempo dedicado ao treinamento do jogo formal, ou seja, dentro das suas regras oficiais. Isso demonstra uma estrutura de treinamento aparentemente diferente daquela apontada pela literatura, que geralmente tem um viés mais analítico, particularmente com ênfase no ensino da técnica (parte principal da sessão), seguido pela prática do jogo formal (GRECO; BENDA, 1998; MESQUITA et al., 2005). Deve-se ressaltar que a equipe estudada se encontrava no período pré-competitivo, momento também no qual outros autores observaram maior tempo destinado ao treinamento tático (MATIAS et al., 2006). O método de ensino-aprendizagem-treinamento utilizado pelo treinador não demonstrou ser centrado apenas no aperfeiçoamento técnico, visto que em boa parte do tempo total de treinamento aproximadamente 45% foram aplicadas atividades consideradas no quesito complexo de jogo, que visam principalmente o aprimoramento tático da equipe. Esse fator, auxiliado pela duração relativamente longa do estudo (18 sessões de treino) pode ter sido determinante no desenvolvimento de um dos parâmetros do conhecimento tático avaliado neste estudo. Recomenda-se para estudos futuros que seja realizado esse procedimento durante outros momentos do processo de ensinoaprendizagem-treinamento, bem como verificar a característica do método de ensino adotado (centrado na técnica ou na tática) no desenvolvimento do conhecimento tático dos indivíduos. ABSTRACT THE TECHNICAL-TACTICAL TRAINING PROCESS EFFECT IN THE DECLARATIVE KNOWLEDGE LEVEL OF YOUNG PRACTITIONERS OF VOLLEYBALL. Great attention has been given in the last few decades to the teachlearning-training of the collective sportive games. Literature shows that methodological processes give to much emphasis to the technician component and little relevance to the tactical component. The objectives of this study were to verify how the process of teach-learning-training in a feminine volleyball team has been carried through and if this process R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 15, n. 2, p. 5-19,

12 favors the development of the players tactical knowledge. Twenty-one players (average age of 13,8 years) had participated of the research. To carry through the category selection of the teach-learning-training process, 18 consecutive sessions of training that later had been analyzed through an instrument developed and validated by Nascimento and Barbosa (2000) had been filmed. In the verification of the tactical knowledge development, the test validated by Paula and Greco (1999) was used. The tactical knowledge test was applied at the beginning and in the end of the registered training sessions. In the analysis of these sessions, balance in the time destined to the activities was observed mainly whose function was directed to the setting and diversification of the technique (42.8%) and to those carried through in modified forms of games (44.3%). To the tactical knowledge, an increase of the declarative knowledge (p=0,03) parameter was verified, while in the taking decision parameter, none differences had been observed (p=0,20). These results had especially demonstrated that the trainer has designed its sessions in a way that dedicates attention to the technician component and to the tactician, being this last one contemplated through the activities of modified games (44.3%). Possibly, this training structure may have assisted the development of the tactical knowledge level evaluated. Keywords: technical-tactical training, education methods, tactical knowledge, volleyball. REFERÊNCIAS BONTEMPO, B. G. A. Influências do conhecimento de regras no conhecimento tático no voleibol Monografia (Graduação em Educação Física) Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, COSTA, J. C.; GARGANTA, J.; FONSECA, A.; BOTELHO, M. Inteligência e conhecimento específico em jovens futebolistas de diferentes níveis competitivos. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, Porto, v. 3, n. 4, p. 7-20, R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 15, n. 2, p. 5-19, 2007

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