Vistos estes autos de Recurso Ordinário em que figuram como recorrente ATENTO BRASIL S/A e, como recorrido, LIDIANE SENA DA SILVA.

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1 Acórdão - 7a Turma JUSTA CAUSA CONFIGURADA DESÍDIA EXISTÊNCIA DE REITERADAS E EXCESSIVAS FALTAS INJUSTIFICADAS - ÔNUS DA PROVA - FATO MODIFICATIVO ENCARGO DA PARTE RÉ DESINCUMBIDO A CONTENTO O artigo 818 da CLT contém norma precisa sobre o ônus da prova, distribuindo-o de modo uniforme e equilibrado entre as partes, a quem incumbe evidenciar os fatos constitutivos, modificativos, impeditivos ou extintivos, sejam quais forem as respectivas alegações. Assim, competia à parte ré o ônus (processual) de comprovar a desídia de seu ex-empregado no cumprimento das tarefas sob sua responsabilidade, do qual se desincumbiu. No caso concreto, restou provado que a parte autora praticou ato desabonador de sua conduta a justificar a aplicação da pena de demissão por justa causa. Recurso ordinário conhecido e a que se dá provimento. Vistos estes autos de Recurso Ordinário em que figuram como recorrente ATENTO BRASIL S/A e, como recorrido, LIDIANE SENA DA SILVA. R E L A T Ó R I O Recorre ordinariamente a parte ré, às fls. 220/222, da r. sentença de fls. 215/219, proferida pela MM. 81ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, da lavra do Exmº André Luiz Amorim Franco, que julgou parcialmente procedentes

2 os pedidos formulados na inicial. Aduz que a justa causa não decorreu de um único ato que impossibilitasse a continuidade do pacto laboral, mas pela reincidência em vários atos faltosos (desídia), com reiteradas faltas e atrasos injustificados. Mesmo após várias advertências e suspensões, por indisciplina, a autora voltou a faltar sem justificativa. Sustenta, assim, que as inúmeras ausências da reclamante trouxe imensos prejuízos para a operacionalização da organização das escalas de trabalho da empresa, motivos pelo qual requer a improcedência dos pedidos constantes da inicial relativos a dispensa imotivada sustentado pela autora, sendo que as verbas devidas pela demissão por justa causa foram corretamente quitadas. Contrarrazões às fls. 227/229, sem argüições preliminares. Deixou-se de dar vista ao Ministério Público do Trabalho, por não se tratar de hipótese que o Parquet entenda justificar sua intervenção, conforme relação constante no Anexo ao Ofício PRT/1ª Reg. nº 27/08 - GAB, de , em consonância com o disposto no Provimento nº 01/2005, da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho. V O T O Admissibilidade O recurso ordinário interposto pela parte ré é tempestivo (fls. 219 e 220), subscrito por advogado regularmente constituído nos autos (fls. 48/5207 e 304) e com regular recolhimento das custas e do depósito recursal (fls. 222/verso e 223). Questões meritórias Justa causa Desídia A sentença de 1º Grau afastou a dispensa por justa causa, sob o seguinte fundamento:...não se comprovou que a reclamante fosse faltadora contumaz injustificada. (...)...a prova documental anexada, por si só, é insuficiente para a configuração da penalidade máxima... (fl. 217). A reclamada, em seu recurso ordinário, alega que a justa causa

3 aplicada não decorreu de um único ato que impossibilitasse a continuidade do pacto laboral, mas pela reincidência em vários atos faltosos (desídia), com reiteradas faltas e atrasos injustificados. Sustenta, ainda, que mesmo após várias advertências e suspensões, por indisciplina, a autora voltou a faltar sem justificativa. Em sendo assim, aduz que as inúmeras ausências da reclamante trouxe imensos prejuízos para a operacionalização da organização das escalas de trabalho da empresa, motivos pelo qual requer a improcedência dos pedidos constantes da inicial relativos a dispensa imotivada sustentado pela autora, sendo que as verbas devidas pela demissão por justa causa foram corretamente quitadas. Razão lhe assiste. Com a devida vênia a sentença recorrido, restou devidamente e fartamente comprovada as incontáveis faltas injustificadas durante todo o período laboral, bem como as respectivas advertências e suspensões, que culminaram na dispensa por justa causa. A justa causa há que ser comprovada de forma robusta, de modo a inviabilizar a continuidade da relação empregatícia, e para isso deve-se levar em consideração a personalidade do agente, a intencionalidade na prática do ato faltoso, o passado do empregado na empresa, em face das consequências negativas que provoca na vida profissional do empregado. Segue aresto neste sentido: JUSTA CAUSA - A dispensa por justa causa exige prova circunstanciada e convincente, a demonstrar a gravidade da falta, a tal ponto que impeça o prosseguimento do vínculo empregatício. Na lição do insigne Mozart Victor Russomano, "a justa causa, algumas vezes, se revela por sua qualidade, outras vezes por sua quantidade (Martinez y Martinez, El Contrato de Trabajo, p. 530).(...). O importante é que, em uma e outra condição, a conduta do empregado implique em violação apreciável de seus deveres, de modo a ficar quebrada ou abalada a confiança que o empregador nele depositava e sobre a qual repousa, necessariamente, todo e qualquer contrato de trabalho". (...) (Processo RO TRT a 3ª Região Relatora Emília Facchini DJ/MG 02/02/2006)

4 A alínea e do art. 482 da Consolidação das Leis do Trabalho prevê que o empregado que incorrer em desídia no desempenho de suas funções, pode ter seu contrato de trabalho rescindido por justa causa. Desídia, conforme definição de Maurício Godinho Delgado, é tipo jurídico que remete à ideia de trabalhador negligente, relapso, culposamente improdutivo (in Curso de Direito do Trabalho, 3ª edição). O empregado desidioso, assim, é aquele que age com desinteresse e desatenção contínuos, sendo contumaz o desleixo na realização de suas tarefas contratuais. O tipo legal exige um comportamento displicente de forma prolongada e contínua, que revele de forma inconfundível o descaso do empregado pelo resultado do seu trabalho. Délio Maranhão, discorrendo sobre desídia, assim leciona, verbis: Desídia Obriga-se o empregado a dar, no cumprimento de sua prestação de trabalho, aquele rendimento quantitativo e qualitativo que o empregador pode, legitimamente, esperar de uma execução de boa-fé do contrato. A violação desta obrigação constitui a desídia. É a negligência no cumprimento das obrigações contratuais. Pressupõe, conseguintemente, culpa. (...) A desídia revela-se, freqüentemente, por uma síntese de faltas leves - na expressão de Evaristo de Moraes Filho. Mas um só fato, isolado, pode, igualmente, 7revelá-la, dependendo do grau da negligência do empregado e do prejuízo dele resultante para o empregador. Faltas menores, anteriores, e já punidas (advertência, suspensão) poderão ser consideradas para a configuração da desídia. Não haverá bis in idem, porque esta decorrerá não de cada uma delas, mas, como diz Evaristo, de sua síntese. Esta pressupõe faltas da mesma natureza, ou afins. E, evidentemente, uma última falta (a última gota...), ainda não, anteriormente, punida. (in Direito do Trabalho, 7ª edição, editora da Fundação Getúlio Vargas grifei)

5 No caso concreto, a prova dos autos revela as inúmeras faltas injustificadas e demonstram que, de fato a autora reiteradamente e excessivamente faltou ao trabalho sem apresentar nenhuma justificativa, incidentes que foram acompanhados de aplicação das sanções de advertência, suspensão e, por fim, demissão por justa causa. Vejamos. Na simples observância das Folhas de Controle de Ponto trazidas aos autos, através dos documentos de fls. 140/157, conclui-se restar indene de dúvida o absurdo excesso de faltas injustificadas, pois praticamente não passou sequer um mês, durante todo o contrato de trabalho (pouco mais de dois anos), sem que a autora tenha faltado ao trabalho sem justificativa. Constata-se, ainda, as respectivas advertências e suspensões, conforme retratadas às fls. 134/139, o que vem demonstrar que houve progressividade, proporcionalidade e imediatidade na aplicação destas sanções. Relevante destacar que em nenhum momento da instrução processual, tampouco na assentada de fl. 213, a autora impugnou tais documentos, assim como igualmente não se insurgiu contra os motivos apontados pela parte ré. A parte ré, portanto, desincumbiu-se do ônus (processual) de comprovar suas alegações de desídia da parte autora a justificar a resolução do contrato, motivo pelo qual declaro válida a justa causa aplicada pela empregadora. Dou provimento a recurso ordinário, para julgar improcedência os pedidos constantes da inicial relativos a dispensa imotivada sustentado pela autora, em face de ser decretada correta a demissão por justa causa por desídia, sendo que as verbas devidas a este título foram corretamente quitadas. Pelo exposto, conheço do recurso interposto pela parte ré, e, no mérito dou-lhe provimento, nos termos da fundamentação supra. Relatados e discutidos. A C O R D A M os Desembargadores da 7ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, conhecer do recurso interposto pela parte ré, e, no mérito dar-lhe provimento, nos termos da

6 fundamentação supra. Rio de Janeiro, 05 de outubro de Juiz EVANDRO PEREIRA VALADÃO LOPES Relator /gg