Clóvis Torres, Consultor Geral

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1 Coletiva de imprensa Vale S/A Vale Day Londres 04 de Dezembro de 2015 Com a participação de: Luciano Siani Pires, Diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores Peter Poppinga, Diretor-executivo de Ferrosos Jennifer Maki, Diretora-executiva de Metais Básicos Roger Downey, Diretor-executivo de Fertilizantes e Carvão Clóvis Torres, Consultor Geral Luciano Siani Pires: Boa tarde, estamos aqui no nosso dia anual de investidores em Londres. Infelizmente é um evento marcado pelas consequências da tragédia no estado de Minas Gerais. Antes de iniciarmos com as perguntas e respostas, gostaríamos de reafirmar o nosso total empenho em restaurar, junto com a Samarco, a dignidade das comunidades e das pessoas afetadas, e como a missão da nossa organização, como já dissemos, restaurar o Rio Doce a um estado melhor do que estava antes. Esta é a missão de 75 mil pessoas na Vale. Nós queremos olhar para o passado daqui a uns anos e dizer que foi uma tragédia, mas o legado e a oportunidade permitem que nós transformemos a região, que está intrinsecamente ligada à Vale, não apenas porque nosso nome vem formalmente do rio, mas também porque nossa ferrovia cruza as comunidades de ambos os lados do rio, nossos empregados vivem nas cidades afetadas e os empregados da Samarco vivem nas cidades afetadas. Nossa história está intrinsecamente interligada, como organização e como indivíduos, com a história do Rio Doce, portanto não existe ninguém mais interessado em restaurar o rio para condições melhores do que as anteriores do que a Vale. Então temos todo o compromisso e o empenho de 75 mil pessoas. Diana Kinch: Olá, Diana Kinch, da Platts. A agência Fitch alertou outro dia que poderia rebaixar a Vale baseada em fatores que incluem o desastre da Samarco. A Vale está preocupada com isso? Em termos práticos qual seria a diferença, considerando que seu Capex está diminuindo substancialmente? 1

2 Luciano Siani Pires: A Fitch atribuiu uma classificação BBB+ à Vale. Nós acreditamos que seja uma classificação justa no sentido de que captura a virada nas finanças da empresa. Está fundamentada na nossa capacidade de finalizar projetos e começar a desalavancar a companhia. A Fitch reagiu, não apenas à incerteza sobre a Samarco, mas também e principalmente à recente deterioração dos mercados. Nós também acreditamos que é uma avaliação justa, dadas as condições do mercado e a incerteza no mercado de commodities, essa que nos colocou em outlook negativo. Mesmo que a Fitch rebaixe a Vale, o rating da Vale de acordo com a Fitch ainda estaria no mesmo nível das outras agências de rating Moody s e Standard & Poor s porque a Fitch é a que atribui o rating mais alto à Vale entre as três grandes agências. Ben Seeder: Ben Seeder, da SNL. Quanto da produção de pelotas foi tirada do mercado pelo desastre da barragem? O que vocês acreditam que vai acontecer com o prêmio de pelotas como resultado disso? Peter Poppinga: A Samarco estava produzindo cerca de 30 milhões de toneladas ao ano, mas isso agora está fora do mercado a partir do próximo ano, porque ainda há algumas vendas sendo realizadas até o fim deste ano, e vai afetar muito mais o mercado de RD porque há, como vocês devem saber, apenas três ou quatro grandes fornecedores no mercado de RD, e a Samarco é um dos principais fornecedores. Nós esperamos que o mercado de RD sofra uma pressão nos próximos meses e tudo depende de quando a Samarco poderá retornar. No segmento de alto-forno ainda não pudemos sentir. Os prêmios estão deprimidos na China, mas a China, como vocês sabem, não é um mercado de prêmios de pelotas representativo, onde você tenha os prêmios estabelecidos, porque é um país consumidor de lump, devido à Austrália, e eles têm suas próprias pelotas. Os prêmios que nós vemos na China não devem ser tomados como sendo representativo dos mercados, mas o mercado de alto-forno está um pouco mais pressionado do que o mercado de RD e vai levar mais tempo para se reequilibrar. Jessie Riseborough: Jessie Riseborough, da Bloomberg. Luciano, pode nos dar uma explicação sobre o que acha que pode ter ocorrido em relação ao desastre da barragem? Clóvis Torres: De momento não temos nenhuma informação. Como sabem, a polícia está envolvida, e isso porque houve fatalidades, eles estão fazendo uma investigação. A BHP e a Vale contrataram Cleary Gottlieb, de Nova York, para também fazer uma investigação independente e não temos ainda os resultados. Esperamos ter nos próximos meses esses resultados. 2

3 Alex MacDonald: Alex MacDonald, do Wall Street Journal. Dado que já passaram mais de duas semanas desde o desastre, já houve demissões ou suspensões como resultado do ocorrido? Clovis Torres: Bom, primeiramente, precisamos de toda nossa força de trabalho no momento, em especial da Samarco. Eles conhecem bem região, a barragem. Nós não chegamos ainda a nenhuma conclusão sobre os resultados da investigação. No momento, eles fazem parte da comunidade, a maioria dos nossos empregados vive ali em Mariana. Não vamos determinar imediatamente quem vai ser culpado, quem vai ser despedido. Nós temos comitês do Conselho que recebiam a cada três meses relatórios sobre as barragens, então não tivemos razões para acreditar que havia algo errado com a barragem. Até o resultado das investigações serem apresentados para nós não nos apressaremos em chegar às conclusões. Luciano Máximo: Luciano Máximo, do Valor Econômico, boa tarde. Gostaria de saber se vocês têm algum comentário sobre os processos judiciais que estão começando a chegar contra a Vale da parte de investidores nos Estados Unidos. Clóvis Torres: Bom, o que nós tivemos foi publicado nos jornais, é tudo o que nós temos. Além disso não temos mais nada. Como todos sabem, os Estados Unidos são muito conhecidos por terem vantagens nos tribunais e, nesse momento, é isso que estamos considerando. Se não houve resultados das investigações e, como viram, o valor das ações de todas as empresas de mineração baixou devido aos preços dos produtos de base, eu espero que eles tenham algo realmente muito bom se quiserem ganhar nos tribunais. Hector Forster: Hector Forster, Platts. Uma pergunta para Peter, por favor. Peter, você fez alguns comentários sobre projeções em relação a prêmios para minérios de alto teor e os relativos spreads entre, digamos, o Iodex e outros benchmarks parecidos. Poderia nos dar um exemplo de para onde você vê essa diferença se movendo no próximo ano, em que o S11D terá seu start-up e num contexto em que o pellet feed está muito limitado em termos de prêmios? Peter Poppinga: Bom, nós não podemos falar sobre o próximo ano, não vai haver quantidades significativas que vão entrar no mercado, mas em termos dos prêmios, como eu já mencionei, nós temos duas macrotendências. Primeiro, nós temos o fato de que o mercado não necessita de produtividade de momento. Cerca de 200 milhões de toneladas de produtores de alto custo saíram do mercado nos últimos três anos e por coincidência ou não, esse pessoal tinha produto de baixa qualidade. Esses efeitos 3

4 todos juntos resultam na situação que nós vemos hoje, em que os descontos do minério de baixa qualidade estão baixando, mas isso é no curto prazo. Em médio prazo nós acreditamos que o mercado vai se equilibrar para uma situação normal em que o minério de alto teor vai receber prêmios mais elevados. Temos essa situação baseada no fato de que teremos fechamentos de altos-fornos, que usam normalmente esse material de baixa qualidade. Além disso, eu mostrei na minha apresentação a curva de custos e estamos investindo no lado esquerdo da curva de custos, então estamos investindo em minas muito competitivas. O que a indústria provavelmente vai fazer nos próximos anos, devido à depletion que normalmente é subestimada pelo mercado, é investir no lado direito da curva de custos. Isso significa custos mais altos ou qualidade muito mais baixa. Portanto, a médio prazo, a relação entre os prêmios vai ser restabelecida, com certeza. Nina Nasman: Nina Nasman, Steel First. Eu gostaria de saber se podem nos dar as últimas notícias sobre as operações em Moçambique, principalmente o status de Nacala, e coo vocês veem a produção e os embarques no próximo ano? Roger Downey: Com a venda do primeiro embarque de Nacala, que aconteceu no início desta semana o primeiro embarque foi feito na segunda-feira nós temos uma nova fase para Moçambique e para nossas operações em Moatize. A ferrovia já está funcionando, claro, e com isso nós temos uma plataforma para começarmos a expandir o projeto até toda a sua capacidade. Nina Nasman: Você poderia dar algum detalhe de produção e embarques para os próximos anos? Roger Downey: Sim. Está tudo no nosso website. Lá tem uma apresentação com todos os números, com os custos e os volumes. Até 2020, teremos o projeto em plena capacidade, produzindo 18 milhões de toneladas. Nós ajustamos o ramp-up para as condições do mercado para que possamos adiar quaisquer investimentos necessários até os preços melhorarem. Eric Onstad, da Reuters: Esta pergunta é para Jennifer: você nos disse que no projeto VNC estava considerando todas as opções. Pode nos informar com detalhes que opções são essas? 4

5 Jennifer Maki: Acho que vou dizer apenas que estamos considerando todas as nossas opções, enquanto temos o plano de produção e as metas de redução de custo para o próximo ano, mas temos outro projeto para olhar todas as opções. Eric Onstad: Você não pode dizer quais são? Jennifer Maki: Não. Eric Onstad: Em quanto tempo tomará essa decisão? Jennifer Maki: Nós vamos ver com o desenvolver do ano. Katerina Petroff: Katerina Petroff, da Bloomberg. Vocês considerariam uma parceria com a Glencore para reduzir os custos com as operações no Canadá? Jennifer Maki: Nós temos uma boa relação com a Glencore. Nós temos uma série de projetos que fizemos no passado, e estamos discutindo outro agora. É um acordo de cooperação para a exploração relacionado ao nosso projeto Victor e à Nickel Rim Deep deles. As discussões estão avançando bem, portanto é algo que está em ação no momento. Ben Seeder, da SML: Tenho duas perguntas. Há alguma estimativa sobre o custo total para a Samarco, quais seriam os custos legais totais? E a segunda tem a ver com o caso da Guiné, caso de Simandou, o que está acontecendo com o processo judicial com a Rio? Isso já foi completamente resolvido? Clóvis Torres: Em relação às estimativas de custos legais com a Samarco, nós não temos. Como nosso amigo do Valor Econômico mencionou agora há pouco, têm algumas notícias sobre processos de classe nos Estados Unidos que são, normalmente, caros por conta dos custos processuais envolvidos. Esperamos que eles cheguem a uma rápida conclusão de que não há nada ali, mas de qualquer forma teremos que pensar nisso no futuro. Quanto aos custos legais, isso depende da rapidez com que se resolverá o processo. É algo que também deve acontecer com esse fundo, que o governo mencionou no 5

6 processo que abriu na sexta-feira passada. Nós não conseguimos ver o processo ainda, a petição. Falamos com o procurador-geral e a ideia, basicamente, é obter uma porcentagem das receitas de vendas da Samarco, o que para nós, como advogados, é uma medida diferente para danos, então temos que ver com que rapidez as coisas andam, se elas andam rápido, e se vão à frente. Estamos esperando para ver o quadro total. Assim que formos citados e tivermos acesso à petição poderemos avaliar se vai levar muito tempo ou não. Nós entendemos a ideia do Procurador-Geral de trazer a jurisdição para os tribunais federais no Brasil. Uma vez que isso é estabelecido, qualquer outra ação judicial terá de ir para lá. Será uma jurisdição exclusiva dos tribunais federais. Isso pode levar algum tempo, mas esperamos que, antes disso, possamos ter discussões positivas com o governo e não queremos alongar isso no tribunal. Você viram que anunciamos um fundo voluntário - Vale e BHP - para lidar com todas as consequências do acidente, estamos dispostos a fazer isso sem precisar ir para o tribunal. Quanto a Simandou, estamos contentes que isso foi resolvido. Vocês devem se lembrar que no ano passado o único acordo que eu disse que faríamos era para a Rio Tinto pagar as nossas custas judiciais. Infelizmente não recuperamos essas despesas processuais e esperamos que eles não entrem com recurso. Mas se fizerem isso, eu imagino que depois de um ano e meio de investigações eles sabem que nada aconteceu. Assim, se o recurso prosseguir, vamos continuar defendendo a nossa posição contra eles. Luciano Siani Pires: Independentemente dos casos jurídicos que obviamente exigem muita atenção, nós não devemos perder de vista que a meta é para recuperar o rio, e a Vale já firmou um compromisso com a sociedade brasileira para fazer isso, e nós temos algo, que mais ninguém tem, que é a capacidade de execução. Mais importante que os recursos financeiros que nós vamos colocar nesse projeto, vamos implementar todas nossas capacidades de execução, porque temos muita capacidade nesse sentido, como sabem, para recuperar o rio. Jornalista: Pode explicar um pouquinho mais sobre como recuperar o rio? E a segunda pergunta tem a ver com o momento politico brasileiro atual. Como esse impeachment que está acontecendo agora no Congresso poderá afetar os negócios? Qual é visão da Vale sobre a situação politica? Luciano Siani Pires: São várias iniciativas que podem ser feitas para recuperar o rio. Por exemplo: 80% da vegetação do rio já foi devastada antes do acidente, e a Vale tem 96 mil hectares de reserva ambiental que tem capacidade de produzir 5 milhões de mudas para plantar na margem do rio por ano. Isso é um grande exemplo. 6

7 Outra coisa que podemos fazer é unir as capacidades profissionais de gestão de projetos ligadas a isso. Pretendemos envolver todas as ONGs. Acreditamos que isso deve ser muito fragmentado e que em pequenas organizações há uma grande experiência que, sob um guarda-chuva maior e um programa coordenado, pode ser usada com mais eficiência. Agora eu posso dizer que estamos muito ocupados elaborando esse plano em termos de como podemos mobilizar a sociedade. Há outras empresas que têm interesse no rio também. Há muitas empresas que trabalham nas proximidades do rio, assim como nós, então nosso objetivo é descobrir como podemos direcionar esse esforço para obtermos resultados, que é o que importa. Clóvis Torres: Também pretendemos envolver os dois governos, estadual e federal, nesse fundo porque há seis, oito anos atrás já tinham identificado a necessidade de reabilitar o rio, recuperá-lo. O jornal Valor Econômico tem um grande artigo de 2014 falando sobre isso, que os dois governos estavam se unindo para recuperar o rio devido à falta de água para a região. Luciano Siani Pires: Quanto à situação do cenário político, nós gostaríamos de ver uma resolução do impasse que existe, queremos estar numa situação de confiança restaurada para que nós possamos continuar com as nossas vidas e nossos negócios. Muito obrigado. Cristiane Lebelem: Cristiane, do Brazilian News. Eu gostaria que explicassem um pouco mais. Vocês disseram que iriam recuperar o rio, mas e as famílias? Elas estão dizendo que está faltando apoio. Vocês poderiam explicar um pouco sobre elas? Peter Poppinga: Quanto às famílias, a Samarco está fazendo o seu melhor. A Samarco tem uma meta de até o Natal cada família receber uma nova casa, e isso não é fácil, porque às vezes as pessoas querem voltar para o lugar onde aconteceu o desastre e querem estar perto dos amigos. É uma solução entre o que pode ser feito e o que está sendo feito, temos umas dez ou 20 famílias com novas casas já, e dentro de dez dias, todo mundo deverá ter uma nova casa. Clóvis Torres: Essa é a ideia. Mas como o Peter disse, não há acordo fácil. Existem as propostas, mas, às vezes, as famílias não aceitam. Nós estamos fazendo tudo que podemos. A Samarco já alocou todos em hotéis, eles têm comida, bebida e um salário mínimo sendo pago para ajudar em suas necessidades imediatas. Estamos fazendo tudo o que podemos fazer, mas a área onde estavam localizadas as casas não pode ser restaurada com rapidez, por isso temos que olhar outras áreas que possam ser identificadas. Algumas casas na cidade já foram identificadas e algumas já foram compradas, outras alugadas. Temos oferecido uma série de opções, mas às vezes é difícil por causa de 7

8 toda a complexidade e a sensibilidade do assunto no momento. As famílias estão muito emocionadas e, logicamente, a cidade inteira está muito emocionada, por isso, de certa forma, é um processo de convencimento que precisa de psicólogos e sociólogos, e todos nós estamos trabalhando juntos para obtermos o melhor resultado. Hecter Forster: Hecter Forster, de Platts. Eu gostaria de perguntar ao Roger, que ele me ajudasse a entender como anda o project finance de Moatize, se o atraso se deve ao fatode que nós temos preços de carvão muito baixos ou vários bancos de apoio ao JBIC ainda não são parte do consórcio, ou se vocês tiveram problemas em ver o carvão ser aceito de forma ampla em lugares como Japão, Coreia e talvez Europa. Pelo que ouvi, o carvão é de muito boa qualidade e parece haver muito interesse, e a produção até agora tem sido mais ou menos vendida. É um mercado muito apertado, pelo que tenho ouvido. Mas você vê progresso ainda mais em termos de financiamento do projeto e, em seguida, de maiores vendas desse carvão de relativa alta qualidade e alto CSR? Roger Downey: Eu vou começar falando sobre o mercado e depois eu passo para Luciano, cuja equipe coordena a parte do project finance. Sim, o carvão de Moatize é muito bom e tem sido muito bem aceito no mercado. Ele apresenta um pequeno desconto em relação ao Peak Downs e eu acho que, com Moatize sendo do tamanho que é, é uma mina que vai continuar por pelo menos cinco décadas. Em algum momento, quando Peak Downs estiver esgotado, pode até se tornar o novo benchmark. Tem sido muito bem aceito nos países que você mencionou, no Japão, na Coreia do Sul, especialmente em Taiwan, no Brasil, na Índia e na Europa, por causa de suas boas propriedades de coque. Estamos agora desenvolvendo os mercados de carvão térmico, o nosso principal mercado será a Índia e basicamente já vendemos tudo para fora. Antes nós não tínhamos a logística necessária, mas com o início das operações do Corredor de Nacala, como mencionei anteriormente, esses dias ficaram para trás e até 2016 vamos dobrar a produção de Eu passo a palavra para o Luciano falar sobre o project finance. Luciano Siani Pires: Todas as instituições que estão trabalhando no project finance renovaram recentemente o seu compromisso com o projeto para que não haja obstáculos em termos de condições ou tamanho dos compromissos, mas é um grupo grande. Temos também dois governos diferentes. Estamos falando de quatro entidades ou concessões diferentes, por isso a enorme complexidade do negócio é o que está fazendo com que ele demore. Uma vez que envolve quatro concessões diferentes, você precisa ter acordos com todos os partidos, e os governos são uma parte fundamental dos contratos de concessão. Portanto, é mais uma questão de trabalhar com os detalhes do que de falta de compromisso. 8

9 Peter Poppinga: Apenas para complementar a questão das famílias. A Mônica acabou de me lembrar algo que talvez haja um mau entendido. Até o Natal todas as pessoas terão uma casa nova, mas hoje ninguém está vivendo em condição precária. Todas as famílias estão instaladas em bons hotéis e as pessoas estão cuidando disso. Eles estão mudando agora dos hotéis para as casas. Até o Natal todos sairão dos hotéis e estarão em casas. Não há nenhuma família que não esteja em um hotel ou com outra família. Eu não tenho o número exato, porque essa informação vem da gestão de Samarco. O que eu sei é que ontem 20 famílias se transferiram para novas casas. Está indo bem, e o ritmo está aumentando. Não entendam errado, não tem ninguém vivendo em condições precárias. Se ainda não têm uma nova casa estão bem alocadas em bons hotéis e até o Natal todo mundo vai sair dos hotéis e estar em boas casas. 115 famílias já estão nas casas próprias. Nidaa Bakhsh: Nidaa Bakhsh, da Lloyd s List. Eu gostaria de perguntar sobre seus planos de desinvestimentos para o próximo ano. Eu acredito que tinha 11 VLOCs nessa lista. Vocês estão esperando levantar, no total, de US$ 4 bilhões a US$5,5 bilhões disso? Eu só queria saber como estão indo as negociações para vender os navios. Com quem vocês estão falando além dos chineses, e quanto vocês esperam arrecadar com essa venda? As operações da Samarco foram suspensas após o desastre. Quanto tempo vai durar essa suspensão? Pode ser permanente ou é apenas algo temporário? Sobre o S11D, eu só gostaria de saber que volumes que vocês estão projetando para o próximo ano? Obrigada. Luciano Siani Pires: Nós não temos uma meta de vendas, nós traçamos apenas as opções. Se você pensar sobre os VLOCs, que foram mencionados, estamos falando de 11 deles. Em vendas passadas, levantamos em torno de U$ 110 milhões para cada um, de modo que o preço deve estar na mesma faixa. Sem divulgar, poderei dizer que continuamos tendo muito interesse nos navios, e como já me referi na apresentação, o principal motor é ter taxas de frete mais competitivas sobre os acordos de leasing. Clóvis Torres: Quanto ao tempo para recuperação da licença, temos que considerar que a licença é para o conjunto das operações da Samarco, como a mina, usinas de processamento, as barragens, o mineroduto. Neste sentido, são alternativas à barragem de rejeitos onde houve uma ruptura. Isto poderia ser recuperado, mas estamos em conversação com as autoridades. Acredito que a Samarco tem falado com o departamento de mineração no Brasil e as diferentes autoridades a este respeito, para ver se alguma dessas opções poderia ser adotada, para que ela 9

10 voltasse ao trabalho e assim 6 mil funcionários da empresa pudessem voltar a trabalhar. Peter Poppinga: A capacidade do Sistema Norte como um todo será de 165 milhões de toneladas. Nós não estamos separando mais a Serra Norte da Serra Sul, haverá um único sistema integrado. O S11D inicia no segundo semestre de 2016, e vamos preencher primeiro todo o pipeline porque há muito estoque intermediário envolvido. Uma pequena quantidade vai chegar ao mercado em 2016, mas a capacidade total do sistema no próximo ano, em termos de logística no Norte e no Sul, vai ser de 165 milhões de toneladas. Jornalista não-identificado: Nós ouvimos algumas mineradoras, como Glencore, cortando seus dividendos; nós temos a expectativa de a Anglo fazer o mesmo. Eu gostaria de perguntar: dada a combinação da situação dos preços de commodities e também a Samarco, vocês estão considerando cortar seus dividendos? A outra questão que eu tinha era sobre prováveis baixas contábeis. Eu sei que vocês tiveram US$ 443 milhões. Podemos esperar mais e quando? Além disso, quando você mencionou o impasse político e como isso poderia ser resolvido, como isso está impactando a Vale no momento? Luciano Siani Pires: A primeira pergunta foi sobre dividendo. Os acionistas vão se reunir em janeiro para anunciar, como costumamos fazer, e nós salientamos que temos flexibilidade para ter um pequeno dividendo para 2016, porque já cumprimos nossa obrigação em relação ao dividendo mínimo corporativo de acordo com a lei corporativa e o dividendo mínimo preferencial. A respeito dos US$ 443 milhões, não é uma provisão, é uma perda estimada de receita e lucro, então é um efeito de perdas e lucros. Eu diria que a situação econômica e a incerteza atuais estão impactando a Vale e outras empresas por meio de um aumento no custo de capital. Ou seja, os rendimentos dos títulos aumentaram substancialmente ao longo dos últimos meses. Jornalista: Vocês estão considerando baixas contábeis com a Samarco? Luciano Siani: O ciclo de baixa contábil, por assim dizer, acontece a cada fim de ano, e vamos analisar todos os casos. Hoje, o declínio dos preços das commodities é uma força muito maior no sentido de eventuais ajustes no balanço patrimonial do que o evento Samarco. 10

11 Diana Kinch, de Platts: A Vale está considerando o reprocessamento dos rejeitos que estavam na barragem de rejeito? Este não é o primeiro acidente que aconteceu com barragens de rejeitos; obviamente é um problema sério. É possível concentrar esses finos e vendê-los de volta para o mercado? Vocês têm alguma estratégia para tentar fazer isso? Peter Poppinga: Existem opções mais baratas para restaurar a Samarco, mas como estamos focados agora muito mais na frente humanitária, a Samarco está focada muito mais nisso. Claro que vai chegar o momento de estudarmos as opções de reiniciar, mas há outras opções atualmente onde você pode, por exemplo, colocar os fluxos existentes para operar e rejeitos de depósito, por exemplo, em cavas exauridas; é uma cava de rejeitos. Há algum espaço lá. O que você mencionou é o futuro da indústria de minério de ferro, como você - eu acho que foi você - escreveu recentemente em uma matéria muito boa que eu li. Esse é o futuro da indústria de minério de ferro. As pessoas pensam que há apenas uma onda na indústria de minério de ferro. Estamos agora, pelo menos na terceira ou quarta onda através dos ciclos, e reprocessamento de rejeitos é um deles. Vou te dar um exemplo da Samarco e da Vale. A Vale, no Sistema Norte, vai reprocessar todos os rejeitos que depositamos no passado em alguns anos. Houve peneiramento úmido; agora, estamos mudando tudo para peneiramento a seco nos corredores e todos esses rejeitos lá, que são de boa qualidade, serão reprocessados e, em dez anos, estarão extintos. Será uma grande mudança para a Vale: não só nos corredores, mas também em outros. Mas isso leva tempo, é preciso pesquisa, mas é certamente a tendência no futuro. A tendência no futuro será processar o mais a seco que você puder, como já estamos fazendo em corredores e no Sistema Sul, e quando você tiver de gerar rejeitos peneiramento a úmido então tentará recuperar o máximo que puder, e tentar fazer a disposição dos rejeitos de maneiras diferentes da que estamos fazendo hoje. Há muitas opções e esta opção que você mencionou é uma delas. Jornalista não-identificado: Eu tenho outra questão sobre desinvestimentos dos ativos não-prioritários da empresa. Vocês estão em processo de venda de sua parte na MRN, no momento. Isso quer dizer que a bauxita não é prioritária? Vocês estão olhando mais desinvestimentos nessa área? A mesma pergunta vale para ativos de alumínio. Luciano Siani Pires: Sim, bauxita não é prioritária para a Vale, e já dissemos isso muitas vezes. Não temos mais nenhum ativo relacionado à cadeia de suprimento do alumínio além dessa mina, que pretendemos vender. 11

12 Katerina: Katerina, da Bloomberg. A Vale já foi notificada sobre o pedido do Ministério Público brasileiro para interromper o processamento na mina de Onça Puma? Clóvis Torres: A ação judicial que os procuradores no Norte impetraram contra a Vale foi para a mina, para parar a mineração na região, e foi o que fizemos. Paramos de minerar. Tínhamos um estoque que serve por alguns meses, então enquanto tivemos estoque vamos beneficiar na planta. Eu acredito que os procuradores não estavam tentando fechar a mina e provocar a demissão de todos os trabalhadores, acreditamos que não era a intenção dele. Sua intenção era com a mina e foi isso que nós fizemos. Katerina: Dois dias atrás saiu uma notícia dizendo que o procurador apresentou uma nova reclamação pedindo a interrupção do beneficiamento e não da mina. Clóvis Torres: Assim que formos notificados responderemos a isso. Katerina: Então vocês não foram notificados? Clóvis Torres: Não. Ben Seeder: Uma pergunta sobre o preço do minério de ferro. Os preços estão abaixo de US$ 40 agora, ou bateram isso, e isso é após a retirada súbita de 30 milhões de toneladas de produção. As principais empresas de minério de ferro estão começando a pensar que essa estratégia de investir continuamente em grandes projetos é um erro? Peter Poppinga: Eu não posso falar em nome dos meus concorrentes. Para a Vale, eu posso dizer, que temos a estratégia correta, não é baseada em volume, mas em margens. Nós vamos otimizar nossas margens com base na eficiência das operações, produtividade, redução de custos. O que você mencionou, dos 30 milhões da Samarco saindo do mercado, ainda não teve influência. Terá, mas é um engano pensar que isso está tendo uma influência imediata: os preços são estabelecidos na China e a China não consome pelotas do mercado transoceânico. O importante é saber é que, em 2015, 120 milhões de toneladas do transoceânico saiu do mercado e você pode ver o efeito hoje porque a demanda não está acompanhando, então há uma redução. Haverá muito menos consumo de aço este ano do que tivemos 12

13 no ano passado e estamos prevendo uma menor produção de aço este ano do que no ano passado. No próximo ano, deverá haver ainda menos na China, mas isso será compensado por outras partes do mundo. Agora, há 120 milhões de toneladas de oferta em excesso, mas para o próximo ano as cartas da oferta estão na mesa; a dúvida é sobre a demanda. No próximo ano, sabemos que haverá de 60 a 70 milhões de toneladas de nova oferta. 120 milhões de toneladas entraram no mercado transoceânico este ano. No próximo ano, quase metade disso vai entrar. Com Roy Hill e Minas-Rio aumentando, e todos as majors aumentando, te dá a taxa normal de exaustão. É por isso que eu acho que o grande terremoto que estava previsto para acontecer aconteceu este ano. No próximo ano, a nova oferta entrando no mercado corresponde à taxa de exaustão natural no mundo, o que deve ter um efeito neutro. Luciano Siani Pires: A Samarco ainda está vendendo os seus estoques, por isso a partir de uma perspectiva de vendas a produção não chegou a sair do mercado ainda. Jornalista não-identificado: Em termos de barragens, a Samarco e a Vale têm metodologias ou abordagens diferentes para cuidar de barragens? Segunda pergunta: a BHP estava ciente de que a Vale estava colocando o material na barragem da Samarco? Peter Poppinga: No nível do Conselho... Como vocês sabem, o Conselho da Samarco é bem diferente de outros conselhos. É um conselho de alto nível. Nós nos reunimos três vezes por ano e discutimos questões estratégicas e orçamentos. A governança da Samarco em barragens é diferente da governança da Vale. Eles têm um comitê independente de inspeção de barragens, onde vários especialistas de todo o mundo se reúnem periodicamente, verificam as barragens, e opinam diretamente ao Conselho Executivo da Samarco. Isso, então, é traduzido em resumos para o Conselho de Administração e aos representantes dos acionistas. A Vale é organizada de forma diferente. Não temos esse conselho independente. Nós temos os nossos próprios especialistas e consultores e eles assinam com a gente nos relatórios de barragens. Será que a BHP sabe? Presumo que eles saibam, porque isso é de conhecimento comum. Clovis Torres: É parte da governança e a Vale não podia votar sobre isso. Houve uma proposta; o contrato foi aprovado, e o voto foi da BHP, o outro acionista. 13

14 Luciano Siani: Bem, muito obrigado pela sua presença hoje. 14