MATERIAL DE FILOSOFIA PRÉ VESTIBULAR: SEMANA 01: MITO E LOGOS

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1 MATERIAL DE FILOSOFIA PRÉ VESTIBULAR: SEMANA 01: MITO E LOGOS O MITO É quase um consenso entre os estudiosos de Filosofia que existiu uma forma anterior à das explicações filosóficas, que podemos denominar de explicação mítica. Chamaremos aqui, pois, de mito, toda tentativa de explicação que antecede, em uma sociedade humana, as buscas de compreensão ancoradas mais firmemente na razão (Filosofia) ou mesmo em tentativas de experimentação para as teorias propostas (Ciência). O ser humano, nos primeiros estágios de seu desenvolvimento rumo à racionalidade, tinha extrema dificuldade para explicar os fenômenos que o cercavam. Qual é o motivo para períodos longos de seca, seguidos de outros, abundantes de chuvas? Por que, enquanto chove, os raios e os trovões se fazem presentes? Em função de quê a alternância do dia e da noite? Ou de forma mais existencial: De onde viemos? Para onde vamos? O que estamos exatamente fazendo aqui? Na ausência de respostas racionais ou científicas para questões de tão necessária compreensão, surgem então as explicações míticas. De acordo com Auguste Comte, num primeiro momento, as divindades serão forças da natureza fetichizadas, ou seja, que ganham uma vida diferente daquela que realmente possuem, e o sol se transforma em divindade, e a lua em outra, e a floresta em outra. As divindades africanas, presentes na umbanda ou no candomblé, até hoje são ligadas a forças ou elementos da natureza. Desse modo surgem também as divindades gregas, como Poseidon, o deus das águas, Atena, a deusa da guerra, ou Afrodite, a deusa do amor. Vale ressaltar que os deuses gregos são antropomórficos, ou seja, possuem forma humana, e, além disso, sentimentos humanos, como amor, e ódio. Mentem, enganam, o que demonstra claramente sua imperfeição, e não são, como o Deus abraãmico, seres com poder ilimitado. A dificuldade de abstração citada acima no texto, assim, não permitia aos gregos conhecer muitas coisas que os cercavam, tais como os fenômenos da natureza, e quando se deparavam com algo que, para eles, era inexplicável (como o trovão e o relâmpago, por exemplo) estes homens se espantavam, isto é, temiam, naturalmente, o desconhecido. Contudo buscavam conhecer o que estava acontecendo ao seu redor, isto é, conhecer a ordem natural do mundo, o que implica, também, compreender as causas e efeitos dos fenômenos naturais. A COSMOGONIA A palavra cosmogonia vem da junção de duas palavras Gregas, quais sejam: Cosmos que significa mundo ordenado e organizado e gonia que significa geração, nascimento. De maneira que cosmogonia pode ser compreendida como uma narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo, a partir de forças gerativas.

2 A MITOLOGIA A primeira explicação encontrada por estes bárbaros para os fenômenos se pautou na formação da sua primeira idéia de divindade, ou seja, os deuses criaram os relâmpagos e os trovões no intuito de se comunicar com os homens. Como já foi dito anteriormente, o conhecimento desses primeiros homens era estritamente baseado nos sentidos e, por isso, percebe-se nos relatos mitológicos a menção de deuses, com características humanas (como Zeus que trai sua esposa Era com uma humana e tem um filho semi-deus, Hércules; alem das constantes brigas entre os deuses), sendo que, de certo modo, existia um Deus para cada necessidade dos homens. Talvez por essa razão, atualmente, tem-se os mitos como fábulas ou contos folclóricos, o que é completamente errado. Os mitos gregos são provenientes de uma tradição oral muito forte, como na maioria dos povos antigos, sociedades ágrafas, transmitida de geração em geração pelos poetas. É necessário distinguir, no entanto, duas classes de poetas, quais sejam: os aedos, aos quais á atribuída a autoria das narrativas, dos quais os principais exemplos são Hesíodo (Teogonia) e Homero (Ilíada e Odisséia); e os rapsodos, responsáveis pela transmissão oral dos poemas. A questão central é que os autores dos poemas não são exatamente os aedos, mas as divindades que falariam por meio deles, como se pode notar pela citação abaixo, que pertence ao início da Ilíada, de Homero. Canta-me a cólera ó deusa funesta de Aquiles Pelida, causa que foi de os Aquivos sofrerem trabalhos sem conta e de baixarem para o Hades as almas de heróis numerosos e esclarecidos, ficando eles próprios aos cães atirados e como pasto das aves. (HOMERO. Ilíada. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996, p.43) Quem narra é a deusa, a musa, e isso está bem claro na passagem. É isso que faz com que o mito seja tão respeitado, à semelhança da Bíblia, escrita por homens e inspirada por Deus, e é esse o motivo pelo qual somente a confluência de uma série de fatores históricos, no seu conjunto, permitiu que essa forma de explicação de mundo fosse questionada com eficácia no imaginário grego. A guerra de Tróia, por exemplo, ocorre por causa de intrigas entre os deuses e deusas do Olimpo, e seu desfecho, a queda das muralhas, foi decidido pelo príncipe troiano Páris, antes sequer dos conflitos terem início. A idéia de um destino imutável e controlado pelos deuses é uma das estruturas lógicas presentes nas explicações míticas. O processo de ordenamento do mundo também é explicado, lembrando que para o grego não existe criação, pois tudo que existe sempre existiu. O surgimento ou domínio de alguns instrumentos ou técnicas, como o uso do fogo, também estaria explicado nas narrativas míticas. O NASCIMENTO A FILOSOFIA: LOGOS CONDIÇÕES HISTÓRICAS QUE PROPICIARAM O SURGIMENTO DA FILOSOFIA Podemos apontar como principais condições históricas para o surgimento da Filosofia na Grécia: - AS VIAGENS MARÍTIMAS, que geraram dois efeitos mais diretos: as trocas culturais, que conduziram os gregos a um contato com outros povos que originou a geometria, por exemplo, em função da experiência egípcia, ou a história, derivada das genealogias dos babilônios; e o descrédito com relação à palavra do poeta, pois a

3 desmistificação se deu, nesse momento, com a decadência do mito. Vale ressaltar que quem narrava os eventos passados não era exatamente o poeta, simples transmissor das informações que recebia das musas, que consistiam em divindades gregas. - A INVENÇÃO DO CALENDÁRIO, que demonstra o amadurecimento da capacidade de abstração ao qual havia chegado o povo grego, pois rompe-se com o tempo cíclico, baseado principalmente na natureza, para adotar uma noção linear, baseada sobretudo na observação astronômica, que permite, inclusive, uma maior precisão na datação dos eventos. - A INVENÇÃO DA MOEDA, que permitiu uma forma de troca que não se realizava através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhantes, mas uma troca abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização; - A INVENÇÃO DA ESCRITA ALFABÉTICA, que conduz, com a diminuição considerável do número de símbolos, assim como com a ampliação de seu grau de abstração, uma maior democratização do contato com a escrita. Vale ressaltar que os gregos não inventaram a escrita, mas um alfabeto com um número bastante reduzido de signos. A filosofia, assim como qualquer conhecimento sistematizado, demanda registro, por isso a escrita alfabética é tão relevante. - O SURGIMENTO DA POLIS (Cidade Estado), As póleis eram cidades relativamente pequenas, com autonomia bélica, econômica e política. Em função da geografia do território grego, extremamente acidentado, não foi possível organizar um grande império, o que conduziu à formação das Cidades Estados. Atenas, por exemplo, representa até hoje um modelo de democracia direta, aquela em que todos os cidadãos auxiliam a decidir as questões políticas. Na ágora, espaço circular no centro da cidade, os cidadãos se reuniam para decidir os rumos a serem tomados pela coletividade. Deve-se lembrar, no entanto, que os critérios de cidadania só abrangiam os homens, com maioridade, filhos de mulheres atenienses, que tivessem terras e escravos. Isso correspondia, na prática, a mais ou menos 10% da população total. No entanto, isso é muito diferente de uma época na qual as divindades falavam e os homens simplesmente concordavam em função da autoridade de quem falava. A COSMOLOGIA A palavra cosmologia é derivada de duas palavras Gregas, a saber: Cosmos que significa mundo ordenado e organizado e logos que significa pensamento racional. Dessa forma podemos defini-la como a busca de um conhecimento racional acerca da ordem do mundo, estudo do mundo existente, diferente das cosmogonias míticas, que se pretendiam narrativas de como a realidade havia se originado ou funcionava. A PALAVRA FILOSOFIA PHILO-SOPHIA O Pensador Auguste Rodin É atribuída ao filósofo grego Pitágoras de Samos (aquele do teorema!) a formulação da palavra filosofia. Ele afirmara que pertence aos deuses a sabedoria plena e completa, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos. A palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia, quer dizer sabedoria e dela vem à palavra sophos, sábio.

4 Filosofia significa, portanto, o amor, no sentido de amizade, pela sabedoria, e a postura do filósofo é justamente a daquele que busca constantemente, ciente que jamais possuirá totalmente o objeto do seu amor. De acordo com o filósofo da ciência do século XX Karl Popper, quanto mais conhecimento, maior é a consciência do indivíduo de sua ignorância. Desse modo, a prática filosófica dispensa o pedantismo, o exibicionismo intelectual, a arrogância. É em função disso que Sócrates se transforma no filósofo por excelência, com sua conhecida máxima: sei que nada sei. φ EXERCÍCIOS PROPOSTOS QUESTÃO 01: (UFU Jan/2001) A palavra Filosofia é resultado da composição em grego de duas outras: philo e sophia. A partir do sentido desta composição e das características históricas que tornaram possível, na Grécia, o uso de tal palavra, pode-se afirmar que: A) Sólon, mesmo sendo legislador, pode ser incluído na lista dos filósofos, visto que ele era dotado de um saber prático. B) a palavra, atribuída primeiramente a Parmênides, indica a posse de um saber divino e pleno, tornando os homens verdadeiros deuses. C) a Filosofia, como quer Aristóteles, é um saber técnico, possibilitando, pela posse ou não de uma habilidade, tornar alguns homens os melhores. D) a Filosofia, na definição de Pitágoras, indica que o homem não possui um saber, mas o deseja, procurando a verdade por meio da observação. QUESTÃO 02: (UFU Jul/2001) No poema Teogonia, as Musas aparecem ao poeta Hesíodo e dizem-lhe o seguinte: sabemos dizer muitas mentiras semelhantes aos fatos e sabemos, se queremos, dar a ouvir verdades (vv. 25-6) Com base neste trecho é correto afirmar: I- A Filosofia assemelha-se ao mito por entender que a verdade baseia-se na autoridade de quem a diz.

5 II- No mito, há espaço para contradições e incoerências, pois a verdade nele se estabelece em um plano diverso daquele em que atua a racionalidade humana. III- O mito entende que a verdade é, por um lado, uma conformidade com alguns princípios lógicos e, por outro, a verdade deve ser dita em conformidade com o real. IV- A crença e a confiança no mito provêm da autoridade religiosa do poeta que o narra. A) I e III são corretas. B) II e III são corretas. C) II e IV são corretas. D) III e IV são corretas. QUESTÃO 03: (UFU Mar/2002) Princípio dos seres ele [Anaximandro] disse (que era) o ilimitado Pois donde a geração é para os seres, é para onde também a corrupção se gera segundo o necessário ; pois concedem eles mesmos justiça e deferência uns aos outros pela injustiça, segundo a ordenação do tempo. Pré-Socráticos. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, A partir da análise do texto de Anaximandro, é correto afirmar que a filosofia, em contraposição ao mito, se caracteriza por: A) conceber o tempo como um passado imemorial sem relação com o presente. B) os seres divinos concedem, por alianças ou rompimentos, justiça e deferência uns aos outros. C) o mundo ser explicado por um processo constante e eterno de geração e corrupção, cujo princípio é o ilimitado. D) narrar a origem do mundo por meio de alianças e forças geradoras divinas. QUESTÃO 04: (UFU Fev/2003)

6 ( ) Assim, a magia e a mitologia ocupam a imensa região exterior do desconhecido, englobando o pequeno campo do conhecimento concreto comum. O sobrenatural está em todas as partes, dentro ou além do natural; e o conhecimento do sobrenatural que o homem acredita possuir, não sendo da experiência direta comum, parece ser um conhecimento de ordem diferente e superior. É uma revelação acessível apenas ao homem inspirado ou (como diziam os gregos) divino o mágico e o sacerdote, o poeta e o vidente. CORNFORD, F.M. Antes e Depois de Sócrates. Trad. Valter Lellis Siqueira. São Paulo: Martins Fontes, 2001, pp A partir do texto acima, é correto afirmar que: A) o campo do conhecimento mítico limita-se ao que se manifesta no campo concreto comum. B) a magia e a mitologia não se confundem com o conhecimento concreto comum. C) o conhecimento no mito, por ser uma revelação, é acessível igualmente a todos os homens. D) o mito não distingue o plano natural do sobrenatural, sendo o conhecimento do sobrenatural superior. QUESTÃO 05: (UEL Jan/2003) Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a existência de um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que esse princípio é a água. Essa proposta é importantíssima... podendo com boa dose de razão ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo que se costuma chamar civilização ocidental. REALE, Giovanni. História da filosofia: Antigüidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, p. 29.)

7 A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.c. Seus primeiros filósofos foram os chamados pré-socráticos. De acordo com o texto, assinale a alternativa que expressa o principal problema por eles investigado. A) A ética, enquanto investigação racional do agir humano. B) A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte. C) A epistemologia, como avaliação dos procedimentos científicos. D) A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem do mundo. E) A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua legislação. φ EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES QUESTÃO 01: (UEL Jan/2003) Ainda sobre o tema do seu surgimento, é correto afirmar que a filosofia: A) Surgiu como um discurso teórico, sem embasamento na realidade sensível, e em oposição aos mitos gregos. B) Retomou os temas da mitologia grega, mas de forma racional, formulando hipóteses lógico-argumentativas. C) Reafirmou a aspiração ateísta dos gregos, vetando qualquer prova da existência de alguma força divina. D) Desprezou os conhecimentos produzidos por outros povos, graças à supremacia cultural dos gregos. E) Estabeleceu-se como um discurso acrítico e teve suas teses endossadas pela força da tradição. QUESTÃO 02: (UEL Jan/2003) Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mundo está ordenado. Os deuses disputaram entre si, alguns triunfaram. Tudo o que havia de ruim no céu etéreo foi expulso, ou para a prisão do Tártaro ou para a Terra, entre os mortais. E os homens, o que acontece com eles? Quem são eles? VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. Trad. de Rosa Freire d Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, p. 56.

8 O texto acima é parte de uma narrativa mítica. Considerando que o mito pode ser uma forma de conhecimento, assinale a alternativa correta. A) A verdade do mito obedece a critérios empíricos e científicos de comprovação. B) O conhecimento mítico segue um rigoroso procedimento lógico-analítico para estabelecer suas verdades. C) As explicações míticas constroem-se de maneira argumentativa e autocrítica. D) O mito busca explicações definitivas acerca do homem e do mundo, e sua verdade independe de provas. E) A verdade do mito obedece a regras universais do pensamento racional, tais como a lei de não-contradição. QUESTÃO 03: (UEL Jan/2003)... os traços pelos quais a democracia é considerada forma boa de governo são essencialmente os seguintes: é um governo não a favor dos poucos mas dos muitos; a lei é igual para todos, tanto para os ricos quanto para os pobres e portanto é um governo de leis, escritas ou não escritas, e não de homens; a liberdade é respeitada seja na vida privada seja na vida pública, onde vale não o fato de se pertencer a este ou àquele partido mas o mérito. BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. Trad. de Marco Aurélio Nogueira. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p Com base no texto, considere as seguintes afirmativas sobre os direitos fundamentais da democracia grega. I. Todos os cidadãos submetem-se a uma elite, formada pelos ricos, que governa privilegiando seus interesses particulares. II. Todos os cidadãos possuem os mesmos direitos e devem ser tratados da mesma maneira, perante as leis e os costumes da pólis. III. Todo cidadão tem a liberdade de expor, na assembléia, seus interesses e suas opiniões, discutindo-os com os outros. IV. Todo cidadão deve pertencer a um partido para que suas opiniões sejam respeitadas.

9 Assinale a alternativa correta. A) Apenas as afirmativas I e II são corretas. B) Apenas as afirmativas I e IV são corretas. C) Apenas as afirmativas II e III são corretas. D) Apenas as afirmativas II e IV são corretas. E) Apenas as afirmativas III e IV são corretas. QUESTÃO 04: (UEL Jan/2004) Entre os físicos da Jônia, o caráter positivo invadiu de chofre a totalidade do ser. Nada existe que não seja natureza, physis. Os homens, a divindade, o mundo formam um universo unificado, homogêneo, todo ele no mesmo plano: são as partes ou os aspectos de uma só e mesma physis que põem em jogo, por toda parte, as mesmas forças, manifestam a mesma potência de vida. As vias pelas quais essa physis nasceu, diversificou-se e organizou-se são perfeitamente acessíveis à inteligência humana: a natureza não operou no começo de maneira diferente de como o faz ainda, cada dia, quando o fogo seca uma vestimenta molhada ou quando, num crivo agitado pela mão, as partes mais grossas se isolam e se reúnem. VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Trad. de Ísis Borges B. da Fonseca. 12.ed. Rio de Janeiro: Difel, p.110. Com base no texto, assinale a alternativa correta. A) Para explicar o que acontece no presente é preciso compreender como a natureza agia no começo, ou seja, no momento original. B) A explicação para os fenômenos naturais pressupõe a aceitação de elementos sobrenaturais. C) O nascimento, a diversidade e a organização dos seres naturais têm uma explicação natural e esta pode ser compreendida racionalmente. D) A razão é capaz de compreender parte dos fenômenos naturais, mas a explicação da totalidade dos mesmos está além da capacidade humana. E) A diversidade de fenômenos naturais pressupõe uma multiplicidade de explicações e nem todas estas explicações podem ser racionalmente compreendidas. QUESTÃO 05: (UEL Jan/2004)

10 Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos primeiros filósofos é fundamental perceber a guinada de atitude que representam. A proliferação de óticas que deixam de ser endossadas acriticamente, por força da tradição ou da imposição religiosa, é o que mais merece ser destacado entre as propriedades que definem a filosoficidade. OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Pré-socráticos: a invenção da filosofia. Campinas: Papirus, p. 24. Assinale a alternativa que apresenta a guinada de atitude que o texto afirma ter sido promovida pelos primeiros filósofos. A) A aceitação acrítica das explicações tradicionais relativas aos acontecimentos naturais. B) A discussão crítica das idéias e posições, que podem ser modificadas ou reformuladas. C) A busca por uma verdade única e inquestionável, que pudesse substituir a verdade imposta pela religião. D) A confiança na tradição e na imposição religiosa como fundamentos para o conhecimento. E) A desconfiança na capacidade da razão em virtude da proliferação de óticas conflitantes entre si. QUESTÃO 06: (UEL Jan/2005) Sobre a passagem do mito à filosofia, na Grécia Antiga, considere as afirmativas a seguir. I. Os poemas homéricos, em razão de muitos de seus componentes, já contêm características essenciais da compreensão de mundo grega que, posteriormente, se revelaram importantes para o surgimento da filosofia. II. O naturalismo, que se manifesta nas origens da filosofia, já se evidencia na própria religiosidade grega, na medida em que nem homens nem deuses são compreendidos como perfeitos. III. A humanização dos deuses na religião grega, que os entende movidos por sentimentos similares aos dos homens, contribuiu para o processo de racionalização da cultura grega, auxiliando o desenvolvimento do pensamento filosófico e científico.

11 IV. O mito foi superado, cedendo lugar ao pensamento filosófico, devido à assimilação que os gregos fizeram da sabedoria dos povos orientais, sabedoria esta desvinculada de qualquer base religiosa. Estão corretas apenas as afirmativas: A) I e II. B) II e IV. C) III e IV. D) I, II e III. E) I, III e IV. QUESTÃO 07: (UEL Dez/2005) Os poemas de Homero serviram de alimento espiritual aos gregos, contribuindo de forma essencial para aquilo que mais tarde se desenvolveria como filosofia. Em seus poemas, a harmonia, a proporção, o limite e a medida, assim como a presença de questionamentos acerca das causas, dos princípios e do porquê das coisas se faziam presentes, revelando depois uma constante na elaboração dos princípios metafísicos da filosofia grega. Adaptado de: REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. v. I. Trad. Henrique C. Lima Vaz e Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, p. 19. Com base no texto e nos conhecimentos acerca das características que marcaram o nascimento da filosofia na Grécia, considere as afirmativas a seguir. I- A política, enquanto forma de disputa oratória, contribuiu para formar um grupo de iguais, os cidadãos, que buscavam a verdade pela força da argumentação. II- O palácio real, que centralizava os poderes militar e religioso, foi substituído pela Ágora, espaço público onde os problemas da pólis eram debatidos. III- A palavra, utilizada na prática religiosa e nos ditos do rei, perdeu a função ritualista de fórmula justa, passando a ser veículo do debate e da discussão. IV- A expressão filosófica é tributária do caráter pragmático dos gregos, que substituíram a contemplação desinteressada dos mitos pela técnica utilitária do pensar racional.

12 Estão corretas apenas as afirmativas: A) I e III. B) II e IV. C) III e IV. D) I, II e III. E) I, II e IV. QUESTÃO 08: (UEL Dez/2006) Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira como os Gregos puseram a serviço do seu problema último da origem e essência das coisas as observações empíricas que receberam do Oriente e enriqueceram com as suas próprias, bem como no modo de submeter ao pensamento teórico e causal o reino dos mitos, fundado na observação das realidades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo. Fonte: JAEGER. W. Paidéia. Tradução de Artur M. Parreira. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre mito e filosofia na Grécia, é correto afirmar: A) Em que pese ser considerada como criação dos gregos, a filosofia se origina no Oriente sob o influxo da religião e apenas posteriormente chega à Grécia. B) A filosofia apresenta uma ruptura radical em relação aos mitos, representando uma nova forma de pensamento plenamente racional desde as suas origens. C) Apensar de ser pensamento racional, a filosofia se desvincula dos mitos de forma gradual. D) Filosofia e mito sempre mantiveram uma relação de interdependência, uma vez que o pensamento filosófico necessita do mito para se expressar. E) O mito já era filosofia, uma vez que buscava respostas para problemas que até hoje são objeto da pesquisa filosófica. QUESTÃO 09: (UFU Jan/1999) Quais são as principais diferenças entre Filosofia e mito?

13 QUESTÃO 10: (UFU Jul/2003) Funcionário da soberania ou louvador da nobreza guerreira, o poeta é sempre um Mestre da Verdade. Sua Verdade é uma Verdade assertórica [afirmativa]: ninguém a contesta, ninguém a contradiz. Verdade fundamental, diferente de nossa concepção tradicional, Alétheia [Verdade] não é a concordância da proposição e de seu objeto, nem a concordância de um juízo com outros juízos; ela não se opõe à mentira ; não há o verdadeiro frente ao falso. A única oposição significativa é a de Alétheia [Verdade] e de Léthe [Esquecimento]. Nesse nível de pensamento, se o poeta está verdadeiramente inspirado, se seu verbo se funda sobre um dom de vidência, sua palavra tende a se identificar com a Verdade. DETIENNE, Marcel. Os Mestres da Verdade na Grécia Arcaica. Trad. Andréa Daher. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988, p. 23. O mito grego, se entendido como uma narrativa, era uma fala de origem divina enunciada, em geral, por um poeta com uma determinada função. A partir desta perspectiva, analise o texto acima e responda em que se fundamenta, a partir desta função do poeta grego, a diferença da concepção de verdade mítica da nossa concepção, dado que esta esteja de acordo com o modelo aristotélico de verdade. SEMANA 02: PRÉ-SOCRÁTICOS PERÍODO COSMOLÓGICO Pré-socráticos é o termo utilizado para designar os primeiros filósofos, os quais deram início ao período cosmológico, isto é, foram os primeiros a questionar as explicações sobrenaturais presentes nos mitos e procurar uma compreender racionalmente o cosmos. Estes pensadores também são denominados filósofos da natureza, e buscavam conhecer as causas dos fenômenos naturais, ou seja, tinham o intuito de determinar o princípio constitutivo arché da natureza physis, baseando-se na observação e no raciocínio. Sobre a definição de arché, temos nas palavras de Giovanni Reale e Dario Antiseri: Princípio (arché) não é um termo de Tales (talvez tenha sido introduzido por seu discípulo Anaximandro, mas alguns pensam numa origem mais tardia), mas é certamente o termo que indica melhor do que qualquer outro o conceito daquele quid do qual derivam todas as coisas. Como nota

14 Aristóteles em sua exposição sobre o pensamento de Tales e dos primeiros físicos, o princípio é aquele do qual derivam originalmente e no qual se ultimam todos os seres, é uma realidade que permanece idêntica no transmutar-se de suas alterações, ou seja, uma realidade que continua a existir imutada, mesmo através do processo gerador de todas as coisas. [...] Em suma, o princípio pode ser definido como aquilo do qual provêm, aquilo no qual se concluem e aquilo pelo qual existem e subsistem todas as coisas. (REALE, G.; ANTISERI, D. 1990, p ). PRINCIPAIS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS - Filósofos da Escola Jônica: - Tales de Mileto: Tudo é água. - Anaxímenes de Mileto: E assim como nossa alma, que é ar, nos mantém unidos, da mesma maneira o vento envolve todo o mundo. - Anaximandro de Mileto: Nem água nem algum dos elementos, mas alguma substância diferente, ilimitada, e dela nascem os céus e os mundos neles contidos. - Heráclito de Éfeso: Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo. - Filósofos da Escola Itálica: - Pitágoras de Samos: Todas as coisas são números - Filósofos da Escola Eleata: - Parmênides de Eléia: O ser é e o não ser não é - Zenão de Eléia: O que se move sempre está no mesmo agora - Filósofos da Escola da Pluralidade: - Empédocles de Agrigento: Pois destes (os elementos) todos se constituíram harmonizados, e por estes é que pensam, sentem prazer e dor - Demócrito de Abdera: O homem, um microcosmo. HERÁCLITO DE ÉFESO ( a.c.) O ser não é mais do que o vir a ser Heráclito nasceu em Éfeso por volta de 545 a.c., cidade da Jônia, filho de uma família que ainda conservava prerrogativas reais. De temperamento esquivo, nunca quis participar da vida política, e não demonstrava apreço pelos cidadãos de sua cidade. Foi considerado obscuro, e isso por duas razões: tendência ao isolamento e ao silêncio; escrita complexa, composta por aforismos, conjuntos de raciocínios mais curtos, com menor desenvolvimento de explicações do ponto de vista didático, e mesmo com uma ausência de preocupação com a apresentação de exemplos. Sua filosofia teve reconhecimento, mais tardiamente, pela maneira como este filósofo percebeu o cosmos, isto é, sua interpretação do modo como a physis funcionava. Como percebemos na passagem abaixo.

15 Este cosmos (sentenciou Heráclito), igual para todos, nenhum dos deuses e nenhum dos homens o fez; sempre foi, e sempre será.... Ninguém o fez porque ele é eterno, e, por conseqüência, incriado e imperecível: desprovido de uma vontade criadora anterior (ou externa) à sua destinação de se reproduzir sempre. Por isso, este mundo, é indicado como dado, posto aí, diante dos nossos olhos e dos nossos sentidos, e o que temos a fazer, é buscar compreendê-lo por aquilo que se mostra. [...] O mundo de fenômenos ao mesmo tempo em que se mostra, oculta as suas razões. É de sua índole, tanto o se ocultar como também o se assumir, mediante um aparência ou maquiagem comunicativa, pela qual a Natureza provoca em nós o desejo de a conhecer.[...] Conhecemos a Natureza não tanto por aquilo que se mostra, mas principalmente por aquilo que inferimos sobre ela.. (SPINELLI, M., 1998, p. 193) Miguel Spinelli deixa claro um ponto importante na teoria de Heráclito, o de que o mundo é eterno e, por isso, incriado. Isso demonstra que, diferentemente dos outros filósofos Pré-socráticos, ele não procurava um princípio constitutivo do cosmos, o qual seria um elemento contido na Natureza, mas sim busca compreender a sua ordem, isto é, como o mundo é a partir da sua organização e ordenação. Heráclito não procura a arché no sentido de um elemento de que o cosmos é constituído, mas a lei que o rege, partindo, é claro, das observações feitas na própria Natureza. Para o mesmo, a realidade é um constante fluxo, ou seja, é sempre mutável. Os sentidos, porém, para ele, nos mostram certa regularidade, que não condiz com a mudança constante que ocorre realmente. E isso mostra que tanto para Heráclito quanto para Parmênides existe uma cisão entre pensar e sentir. A LUTA DOS CONTRÁRIOS GUERRA E PAZ O conflito é o pai e o rei de todas as coisas.... O oposto é conveniente, e das coisas diferentes nasce a mais bela harmonia.... Sem nascimento e perecimento, sem geração e destruição, vida e morte, a perpetuidade do mundo seria insustentável, e, por conseqüência, a sua própria existência. Sem oposição ou diferenças, também o viver humano seria insustentável, pois desativaria todo o móvel do seu querer e agir, e, conseqüentemente, o próprio logos 1 autentificador do nomos 2 da deliberação humana. (SPINELLI, M., 1998, p. 196) Para Heráclito o que comanda a ordem do mundo é a luta, ou melhor, harmonia dos contrários, a perenidade das coisas que fazem parte da Natureza, seja homem, planta, animal, mineral ou qualquer outra coisa. O mundo é eterno, assim como a sua ordem, porém suas partes, aquilo de que ele se constitui está em constante renovo, em um eterno devir. Em outras palavras, se não existir guerra não há paz, se não existir morte não há vida nem nascimento, sem a perenidade das coisas tudo seria eterno e posto, condição que, para Heráclito, é perceptivelmente incoerente com a realidade. A teoria heraclitiana consiste, então, no estabelecimento de uma lei que rege o cosmos, a de que tudo é um eterno devir, um vir a ser constante, pois tudo nasce, cresce e morre. O jovem envelhece, o verde apodrece, tudo está sujeito ao tempo e, assim, a harmonia dos contrários, já que é por existir os contrários que se tem uma perfeita ordenação da existência do mundo. 1 Logos é logos no alfabeto grego e significa pensamento racional, sendo que na filosofia de Heráclito é o que vai determinar a lei que rege a ordem do mundo. 2 Nomós em grego significa lei, deliberação, governo, princípio regulativo.

16 NOTA: Pela maneira como percebia o desenvolvimento natural das coisas, Heráclito foi considerado o pai da dialética, isto é, via a realidade como um eterno embate entre opostos, um momento superando o outro. O LOGOS NA TEORIA HERACLITIANA Mas ela é detentora (e isso é muito importante de salientado na filosofia de Heráclito), de uma ciência específica e própria, ou seja, de um saber que, de certo modo, se esconde por detrás de uma aparência observável, e que cabe ao logos humano desocultá-la, pela via da observação e da inferência. Esse seu saber é a sua lei (nomos), e também o seu logos, aquele que tudo governa : o pensamento que governa tudo através de tudo.[...] O logos, em referência ao cosmos,é expressão dessa articulação, pela qual o cosmos ou o ser pode ser entendido como uma unidade de contrapostos. (SPINELLI, M., 1998, p. 193 e 195) Spinelli, na passagem acima, demonstra, novamente que Heráclito busca encontrar o princípio regulativo do cosmos, o logos que governa a ordem do mundo, isto é, assim como os homens o cosmos também tem um logos. A razão conduz as ações dos homens e o logos faz o mesmo com a ordem do mundo, estabelecendo a harmonia entre os contrários, que é o nomos (a lei) que rege os acontecimentos na Natureza. Dessa forma pode-se dizer que o logos (a razão) do cosmos (espaço ordenado) consiste no princípio que regula a ordem do mundo, é a expressão da harmonia entre os contrários. O FOGO COMO PRINCÍPIO DE TODAS AS COISAS Dado que a sua Filosofia da Natureza é uma filosofia das relações, o fogo (coextensivo do logos) nela se apresenta com elemento constituinte do cosmos e também como a metáfora mais significativa do seu filosofar.[...] Mas o que Heráclito observou (talvez diante da lareira), é que o fogo não existe isoladamente na Natureza, a não ser em Relação: se há fogo, há algo que queima. (SPINELLI, M., 1998, p. 199 e 200) Para Heráclito o fogo é algo que exprime exatamente a natureza do cosmos, pois ele vive da constante mudança, da harmonia entre contrário, pois a sua vida consiste em destruir algo o combustível que se transforma em fumaça. O fogo retrata bem o que Heráclito quer dizer com guerra e paz, pois a primeira seria o fogo queimando, destruindo o combustível e o transformando; já a segunda seria o fogo se apagando, isto é, deixando de queimar, e por isso deixando de existir. A guerra é a luta entre os contrários que faz com que exista uma ordem no mundo, a qual o mantém existindo, a paz seria o fim, ou a não existência, desta luta, uma perpetuidade que acabaria com a ordem e, conseqüentemente, o mundo. PARMÊNIDES DE ELÉIA ( a.c.) O ente é, pois é ser e nada não é.

17 A IMUTABILIDADE DO SER Parmênides nasceu em Eléia, hoje Vélia, na Itália por volta de 540 a.c. Foi iniciado na filosofia pelo pitagórico Ananias e tem-se que foi político ativo e formador de boas leis para a cidade. Escreveu um poema intitulado Sobre a Natureza, o qual se divide em duas partes: a primeira (da qual teve-se acesso à vários fragmentos) que trata dos caminhos da verdade; e a segunda (da qual conservam-se apenas fragmentos) que aborda os caminhos da opinião. Tem-se que a filosofia parmenidiana levanta-se contra o dualismo pitagórico (ser e não-ser, cheio e vazio,...) e, de acordo com alguns intérpretes, contra o mobilismo de Heráclito. Vejamos uma passagem de um poema de Parmênides na qual podemos encontrar os principais elementos de seu pensamento. Só nos resta neste momento, uma única via da qual se possa falar: que é. Sobre ela há um grande número de sinais: que sendo não-gerado é imperecível um todo inteiro inabalável e sem fim. Jamais foi nem será, porque é todo presente, um e contínuo. Que origem poder-se-ia atribuirlhe? Como e de onde cresceria? Não te permitirei dizer nem pensar que ele possa ter crescido do não-ser; pois não se pode dizer nem pensar o que não é. Se viesse do nada qual a necessidade o teria impelido a nascer mais cedo ou mais tarde? Assim, pois, é necessário que ele seja absolutamente ou não seja. Também a força da convicção jamais concederá que do não-ente possa nascer algo dele. A justiça não permite por um afrouxamento de suas amarras, que nasça ou pereça, mas o mantém. Esta decisão recai sobre a seguinte afirmativa: Ou é ou não é [...]. Como poderia perecer o ente? Como poderia ser gerado? Pois se nasceu, não é, e também não é se um dia devesse ser. [...]. Também não é divisível, pois é completamente idêntico a si mesmo. Nada poderia ser-lhe acrescido o que impediria de conter-se, nem retirado, pois o ente é todo pleno. Por isso é todo contínuo [...] Idêntico a si mesmo, em si mesmo repousa, imóvel em seu lugar; pois a poderosa Necessidade o mantém nos limites de um liame que de todos os lados o encerra, de tal modo que ao ente está estabelecido como norma não ser inacabado. A passagem acima vem confirmar o motivo pelo qual Parmênides desacredita do conhecimento proporcionado pelos sentidos, ou seja, o Ser dos sentidos está em movimento e por isso ele constantemente deixa de ser o que é e se transforma em outro Ser (o não-ser anterior), o que para o autor é inconcebível, pois o não-ser não existe. Em outras palavras, admitir o movimento implica em admitir que uma pessoa deixa de ser jovem e se transforma em velho (que é o mesmo que dizer que se transforma no não-jovem, que não existe). Para Parmênides o Ser, o pensar e o dizer são a mesma coisa, pois não se pode, em hipótese alguma, admitir que o não-ser possa ser pensado ou dito. O Ser uno e eterno do autor só pode ser concebido pela razão, sendo que os sentidos não podem expressá-lo. A CRÍTICA AO CONHECIMENTO PELOS SENTIDOS Discordando do pensamento de Heráclito, Parmênides faz uma crítica ao conhecimento das coisas sensíveis, as quais estão em constante mutação, porque não há como formular um conhecimento a respeito de algo que em um dado momento é X e logo depois se torna Y. Para este pensador é impossível Fisionomia Atribuída a Parmênides (segunda metade do séc. VI e primeira metade do séc. V a.c.).

18 conhecer todas as coisas em todos os seus momentos, pois só se poderia realmente ter acesso a um saber concreto sobre algo se fosse possível conhecê-lo nos diversos momentos de sua existência. Para o autor, então, a realidade não é acessível pelos sentidos, mas tão somente pela razão, que jamais poderia conhecer algo que muda constantemente, mas somente estar conhecendo este algo. O conhecimento pronto e acabado só pode existir frente a uma realidade que não mude, e só assim pode-se afirmar que se conhece alguma coisa em sua plenitude. Como para este filósofo, ao contrário de Heráclito, os sentidos nos mostram mudança, estes não são via de acesso confiável à realidade tal qual ela é. φ EXERCÍCIOS PROPOSTOS QUESTÃO 01 (UFU Jan/2004) Do arco o nome é vida e a obra é morte. HERÁCLITO. Sobre a natureza. Trad. de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 56. Coleção Os Pensadores. Este fragmento ilustra bem o pensamento de Heráclito, que acreditou ser o mundo o eterno fluir, comparado a um rio no qual entramos e não entramos. Assinale a alternativa que explica o fragmento mencionado acima. A) Todas as coisas estão em oposição umas com as outras, o que explica o caráter mutável da realidade. A unidade do mundo, sua razão universal resulta da tensão entre as coisas, daí o emprego freqüente, por parte de Heráclito, da palavra guerra para indicar o conflito como fundamento do eterno fluxo. B) A harmonia que anima o mundo é aberta aos sentidos, sendo possível ser conhecida na multiplicidade daquilo que é manifesto, uma vez que a realidade nada mais é que o eterno fluxo da multiplicidade do Logos heraclitídeo. C) A unidade dos contrários, a vida e a morte, é imóvel, podendo ser melhor representada para o entendimento humano por intermédio da imagem do fogo, que permanece sempre o mesmo, imutável e continuamente inerte, e não se oculta aos olhos humanos. D) O arco, instrumento de guerra, indica que a idéia de eterno fluxo, das transformações que compõem o fluxo universal, é o fundamento da teoria do caos, pois o fogo se expande sem medida, tornado a realidade sem nenhuma harmonia ou ordem.

19 QUESTÃO 02 (UFU Jul/2004) O fragmento seguinte é atribuído a Heráclito de Éfeso. O mesmo é em (nós?) vivo e morto, desperto e dormindo, novo e velho; pois estes, tombados além, são aqueles e aqueles de novo, tombados além, são estes. Os Pré-Socráticos. Trad. de José Cavalcante de Souza, 1ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 93. (Os Pensadores) A partir do fragmento citado, escolha a alternativa que melhor representa o pensamento de Heráclito. A) Não existe a noção de oposto no pensamento de Heráclito, pois todas as coisas constituem um único processo de mudança que expressa a concórdia e a harmonia do fluxo contínuo da natureza. B) A equivalência de estados contrários com o mesmo exprime a alternância harmônica de pólos opostos, pela qual um estado é transposto no outro, numa sucessão mútua, como o dia e a noite. Todas as coisas são Um, toda a multiplicidade dos opostos constitui uma unidade, e todos os seres estão num fluxo eterno de sucessão de opostos em guerra. C) Se o morto é vivo, o velho é novo, e o dormente é desperto, então não existe o múltiplo, mas apenas o Um, como verdade profunda do mundo. A unidade primordial é a própria realidade da physis e a multiplicidade, apenas aparência. D) A alternância entre pólos opostos constitui um fluxo eterno, regido pela guerra e pela discórdia, que ocorre sem qualquer medida e proporção. A guerra entre contrários evidencia que a physis é caótica e denota o fato de que o pensamento de Heráclito é irracionalista. QUESTÃO 03 (UFU Jul/2005) O fragmento seguinte menciona uma noção fundamental na filosofia de Heráclito. Por isso é preciso seguir o-que-é-com, (isto é, o comum; pois o comum é o-que-é-com). Mas, o Logos sendo o-que-é-com, vivem os homens como se tivessem uma inteligência particular. SEXTO EMPÍRICO. Contra os Matemáticos, VII,133. In: Os Pré- Socráticos.

20 São Paulo: Abril Cultural, Col. Os Pensadores, p. 87. A partir do fragmento, escolha a explicitação correta do LOGOS na filosofia de Heráclito. A) O Logos é comum a todas as coisas e, por isso, princípio Universal que se manifesta na atividade de uma inteligência. O Logos é lei princípio divino inteligente que ordena e governa todo o fluxo do kosmos. Imanente à estrutura do mundo, sua expressão material é o Fogo sempre vivo que se alterna por medidas. O Logos expressa a verdade eterna, independentemente das palavras, de que tudo é Um. B) O Logos de Heráclito representa o discurso racional filosófico que se contrapõe ao discurso poético modelador de uma visão mítica do kosmos. A explicação de mundo difundida pelo Logos não se baseia na geração e nascimento dos deuses, mas num elemento material único representado pelo fogo. Por ser comum, o Logos denota a racionalidade estritamente humana em contraposição ao fluxo caótico e irracional da natureza. C) O Logos representa a concepção de que todas as coisas formam uma unidade. Somente o Um é racional, pois é o comum e indica o que é compartilhado, em contraposição com a multiplicidade, que é negada na Filosofia de Heráclito. O fluxo permanente de todas as coisas indica que a alternância e a guerra dos opostos não pode ser apreendida pelo discurso filosófico racional, cuja função é explicar o kosmos em termos lógicos. D) O Logos denota a concepção de que uma unidade da physis não pode ser expressa pelo discurso filosófico, pois cada homem percebe o mundo de um modo particular a partir dos sentidos. Todas as coisas formam um fluxo perpétuo e a multiplicidade dos opostos constitui a única verdade em contraposição com a unidade, que é negada na Filosofia de Heráclito. O discurso filosófico só pode expressar o que cada um percebe pelos sentidos. QUESTÃO 04 (UFU Jul/2004) A relação entre mito e logos pode ser ilustrada a partir do seguinte fragmento do poema Sobre a Natureza de Parmênides. E a deusa me acolheu benévola, e na sua a minha mão direita tomou, e assim dizia e me interpelava: ó jovem, companheiro de aurigas imortais, tu que assim conduzido chegas à nossa morada, salve! Pois não foi mau destino que te mandou perlustrar

21 esta via (pois ela está fora da senda dos homens)... Os Pré-Socráticos. Trad. de José Cavalcante de Souza. 1ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p (Os Pensadores) Após ler o fragmento, escolha a alternativa que melhor representa a relação mitologos nas origens da filosofia. A) A verdade filosófica aparece no poema de Parmênides como revelação divina e experiência mística, que são incompatíveis com o pensamento filosófico racional. A deusa do poema mostra que o conhecimento supremo está fora do alcance da razão humana. B) A verdade filosófica, no poema de Parmênides, é apresentada por meio de representações míticas que o filósofo retira de uma tradição religiosa. Essas imagens se transpõem, sem deixar de ser místicas, em uma filosofia do Ser que busca o objeto inteligível do logos, ou seja, do pensamento racional e do Uno. C) A verdade filosófica, por ser revelação da deusa, é obtida apenas pela experiência religiosa. As representações míticas do poema de Parmênides indicam que a filosofia grega do século V a.c. é irracional, pois não usa as categorias lógicas do rigor argumentativo. D) A filosofia representa o pensamento estritamente racional, que busca uma explicação de mundo somente por meio de princípios materiais. Por essa razão, o poema de Parmênides ainda não representa o pensamento filosófico do século V a.c., caracterizado pela ruptura com todas as imagens míticas da tradição cultural grega. QUESTÃO 05 (UFU Jul/2006) Abaixo, temos um fragmento do poema de Parmênides e uma breve análise de sua obra por Gerd Bornheim. E agora vou falar; e tu, escuta as minhas palavras e guarda-as bem, pois vou dizer-te dos únicos caminhos de investigação concebíveis. O primeiro (diz) que (o ser) é e que o não-ser não é; este é o caminho da convicção, pois conduz à verdade. O segundo, que não é, é, e que o não-ser é necessário; esta via, digo-te, é imperscrutável; pois não podes conhecer aquilo que não é isto é impossível nem expressá-lo em palavra. Fragmento do poema de Parmênides. IN:BORNHEIM, G. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Cultrix, 1989.

22 O poema de Parmênides nos oferece ao lado dos fragmentos de Heráclito a doutrina mais profunda de todo pensamento pré-socrático. Mas é também a de mais difícil interpretação. O poema se divide em três partes: o prólogo, o caminho da verdade e o caminho da opinião. (...) No fim do prólogo, o poema distingue o coração inabalável da verdade bem redonda, das opiniões dos mortais. BORNHEIM, G. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Cultrix, De acordo com o pensamento de Parmênides, assinale a alternativa correta. A) O caminho da verdade afirma que o ser é, e que o não-ser é necessário. B) O caminho da verdade e o caminho da opinião são os mesmos, porque tudo é um eterno devir. C) Há dois caminhos, o primeiro conduz à verdade, enquanto o segundo não é passível de investigação. D) É possível investigar, conhecer e expressar o não-ser, porque é do conjunto das opiniões dos mortais que nasce a verdade. φ EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES QUESTÃO 01: (UFU Jan/1999) Heráclito de Éfeso, filósofo pré-socrático, compreendia que I- o ser é vir-a-ser. II- o vir-a-ser é a luta entre os contrários. III- a luta entre os contrários é o princípio de todas as coisas. IV- da luta entre os contrários origina-se o não-ser. Assinale A) se apenas I, II e III estiverem corretas.

23 B) se apenas I, III e IV estiverem corretas. C) se apenas II, III e IV estiverem corretas. D) se apenas I, II e IV estiverem corretas. E) se todas as afirmativas estiverem corretas. QUESTÃO 02: (UFU Jul/1999) Heráclito de Éfeso (500 a.c.) concebia a realidade do mundo como mobilidade, impulsionada pela luta dos contrários. Sobre sua filosofia, é correto afirmar que I- a imagem do fogo, com chamas vivas e eternas, representa o Logos que governa o movimento perpétuo dos seres. II- a luta dos contrários é aparência que afeta apenas a sensibilidade humana. III- a mobilidade dos seres resulta no simples aparecer de novos seres. IV- a harmonia do cosmo é resultado da tensão eterna da luta dos contrários. Assinale A) se as afirmações II e III são corretas. B) se as afirmações I e IV são corretas. C) se apenas a afirmação IV é correta. D) se apenas a afirmação I é correta. QUESTÃO 03: (UFU Jul/2001) Muitos não percebem tais coisas, todos os que as encontram, nem quando ensinados conhecem, mas a si próprios lhes parece que as conhecem e percebem. (DK 22 B 17) Más testemunhas para os homens são os olhos e ouvidos, se almas bárbaras eles têm (DK 22 B 107) A partir destes dois textos de Heráclito, pode-se afirmar que, para ele,

24 A) as sensações, como as águas de um rio, são infalíveis e nos proporcionam nelas mesmas a apreensão do real. B) o conhecimento é obtido unicamente a partir da percepção sensível. C) as sensações por si só não são garantias de conhecimento. D) o conhecimento é proporcionado pelo ensino obtido pela atividade da alma, qualquer que esta seja. QUESTÃO 04: (UFU Jul/2006) O trecho do fragmento seguinte constitui a mais célebre afirmação atribuída a Heráclito. Em rio não se pode entrar duas vezes no mesmo, segundo Heráclito, nem substância mortal tocar duas vezes na mesma condição... HERÁCLITO. In: Os Pré-Socráticos. (PLUTARCO, De E apud Delphos, 8, p. 388 E.). São Paulo: Abril Cultural, p. 97. Col. Os Pensadores. A partir do fragmento, escolha a explicação correta para a questão do fluxo na Filosofia de Heráclito: A) O fluxo do rio representa a condição mortal do homem e a metempsicose. Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois o homem, substância mortal, morre e renasce sucessivamente em vidas distintas. Só se pode entrar no mesmo rio uma única vez, na mesma condição, ou seja, com a mesma substância mortal. B) O fragmento enfatiza o fato de que todas as coisas, representadas pelo rio, mudam de maneira caótica e desordenada, fazendo com que o conhecimento seja totalmente impossível. Como nada permanece o mesmo, pode-se inferir que nada é, nem pode ser dito e nem mesmo pode ser pensado, visto que o Logos não existe. C) O fluxo, representado pelo rio, indica o parentesco de toda a Natureza com a substância mortal. Todas as coisas se tornam água, que, para Heráclito, é o princípio primordial no qual todas as coisas se convertem e que configura todas as mudanças. O fluxo do rio indica que a condição de todas as coisas é determinada pela água como substância mortal.

25 D) O fragmento enfatiza que a estrutura e, portanto, a identidade de um rio se mantém a mesma, embora sua substância esteja em contínua mudança. Um aspecto unitário é mantido, enquanto o conteúdo material é constantemente perdido e trocado. A imagem do rio expressa a coexistência de uma estrutura contínua num processo de fluxo. QUESTÃO 05: (UFU Fev/2007) Heráclito de Éfeso viveu entre os séculos VI e V a.c e sua doutrina, apesar de criticada pela filosofia clássica, foi resgatada por Hegel, que recuperou sua importante contribuição para a Dialética. Os dois fragmentos a seguir nos apresentam este pensamento. Este mundo, igual para todos, nenhum dos deuses e nenhum dos homens o fez; sempre foi, é e será um fogo eternamente vivo, acendendo-se e apagando-se conforme a medida. (Fragmento 30) Para as almas, morrer é transformar-se em água; para a água, morrer é transformar-se em terra. Da terra, contudo, forma-se a água, e da água a alma. (Fragmento 36) De acordo com o pensamento de Heráclito, marque a alternativa INCORRETA. A) As doutrinas de Heráclito e Parmênides estão em perfeito acordo sobre a imutabilidade do ser. B) Para Heráclito, a idéia de que tudo flui significa que nada permanece fixo e imóvel. C) Heráclito desenvolve a idéia da harmonia dos contrários, isto é, a permanente conciliação dos opostos. D) A expressão devir é adequada para compreendermos a doutrina de Heráclito. QUESTÃO 06: (UFU Jan/1999) Parmênides de Eléia, filósofo pré-socrático, sustentava que I- o ser é. II- o não-ser não é. III- o ser e o não-ser existem ao mesmo tempo.

26 IV- o ser é pensável e o não-ser é impensável. Assinale A) se apenas I, III e IV estiverem corretas. B) se apenas I, II e III estiverem corretas. C) se apenas II, III e IV estiverem corretas. D) se apenas I, II e IV estiverem corretas. E) se todas as afirmativas estiverem corretas. QUESTÃO 07: (UFU Jul/2000) No poema Sobre a Natureza Parmênides afirma: "os únicos caminhos de inquérito que são a pensar: o primeiro que é e, portanto que não é não ser, de Persuasão é caminho (pois à verdade acompanha); o outro, que não é e, portanto que é preciso não ser, este então, eu te digo, é atalho de todo incrível; pois nem conhecerias o que não é nem o dirias". Pode-se daí inferir que: A) apenas o ser pode ser dito e pensado. B) o não ser de algum modo é. C) o ser e o pensar são distintos. D) o ser é conhecido pelos sentidos. QUESTÃO 08: (UFU Set/2002) Só resta o mito de uma via, a do ser; e sobre esta existem indícios de que sendo não gerado é também imperecível, pois é todo inteiro, inabalável e sem fim; nem jamais era nem será, pois é agora todo junto, uno, contínuo ( ) Sobre a Natureza, 8, 2-5 A partir deste trecho do poema de Parmênides, é possível afirmar que

27 A) a continuidade, a geração e o imobilismo estão presentes na via do ser. B) o ser, por não poder não ser, não é gerado nem deixa de ser, não tendo princípio nem fim. C) a via do ser é aquela percebida pelos nossos sentidos. D) o ser, para o autor, de certo modo não é, pois nunca foi no passado nem será no futuro. QUESTÃO 09: (UFU Jul/2003) Só é possível pensar e dizer que o ente é, pois o ser é, mas o nada não é; sobre isso, eu te peço, reflita, pois esta via de inquérito é a primeira de que te afasto; depois afasta-te daquela outra, aquela em que erram os mortais desprovidos de saber e com dupla cabeça, pois, no peito, a hesitação dirige um pensamento errante: eles se deixam levar surdos e cegos, perplexos, multidão inepta, para quem ser e não ser é considerado o mesmo e não o mesmo, para quem todo o caminho volta sobre si mesmo. Parmênides, Sobre a Natureza, 6, 1-9. Sobre este trecho do poema de Parmênides, é correto afirmar que I - só se pode pensar e dizer que o ser é. II - para os mortais o ser é considerado diferente do não ser. III - é possível dizer o não ser, embora não se possa pensá-lo. IV - duas vias de inquérito devem ser afastadas: a do não ser e a dos mortais. Assinale a alternativa que contém todas as afirmações corretas.

28 A) II e III B) II e IV C) I e III D) I e IV QUESTÃO 10: (UFU Jan/2004) Parmênides (c a.c.) deixou seus pensamentos registrados no poema Sobre a natureza, do qual restaram apenas fragmentos cultivados pelos filósofos do mundo antigo, uma das passagens célebres preservadas é a seguinte: Necessário é o dizer e pensar que (o) ente é; pois é ser, e nada não é; isto eu te mando considerar. Pois primeiro desta via de inquérito eu te afasto, mas depois daquela outra, em que mortais que nada sabem erram, duplas cabeças, pois o imediato em seus peitos dirige errante pensamento; (...) PARMÊNIDES. Sobre a natureza. Trad. de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 88. Coleção Os Pensadores. Analise as assertivas abaixo. I- A opinião humana busca o que é (ser) naquilo que não é (não-ser). II- O mundo dos sentidos é (ser), portanto, o único digno de ser conhecido. III- Não se pode dizer não-ser é, porque não-ser é impensável. IV- Dizer não-ser é não não-ser, é o mesmo que afirmar não-ser não é. Assinale a alternativa que contém as assertivas corretas. A) I e III

29 B) II e III C) II e IV D) I e IV SEMANA 03: SÓCRATES DE ATENAS SÓCRATES ( a.c.) Tudo que sei é que nada sei PERÍODO SOCRÁTICO OU ANTROPOLÓGICO Sócrates nasceu em Atenas por volta de 470/469 a.c. e morreu em 399 a.c. devido a uma condenação, a qual se fundamentou nas acusações de ser corruptor da juventude e de não acreditar nos deuses da cidade. Era filho de um escultor e de uma parteira. Nunca escreveu nada, e a maioria do que conhecemos de sua filosofia chegou-nos por intermédio dos diálogos de Platão, o que acabou por gerar uma dúvida sobre se Sócrates realmente havia existido ou se seria simples personagem das obras de Platão. A maioria dos comentadores sérios, no entanto, têm optado pela primeira possibilidade.

30 O que se pode perguntar, no entanto, é o seguinte: o que o tornou tão importante para os estudiosos da filosofia? Por que se tornou um marco, a ponto de classificarmos todos os que vieram antes dele como Pré-socráticos? A resposta não envolve, como deve parecer óbvio, somente elementos cronológicos. O período socrático foi também denominado de antropológico. Analisando a palavra, Antropo: vem de anthropos, que se refere à idéia de homem e lógico: vem de Logos, que significa estudo, razão. Dessa maneira podemos afirmar que antropologia é o estudo do homem em seus mais variados aspectos, principalmente cultural e social. Essa divisão existe na história da Filosofia porque Sócrates mudou o enfoque da investigação filosófica, não se preocupando em compreender o mundo natural, como os filósofos que o antecederam, mas procurando conhecer o homem e seu aspecto social e político, como percebemos na seguinte citação abaixo: Os naturalistas procuraram responder à seguinte questão: O que é a natureza ou a realidade última das coisas? Sócrates, porém, procura responder à questão: O que é a natureza ou realidade última do homem?, ou seja, o que é a essência do homem?. (REALE, G.; ANTISERI, D. 1990, p. 87). Nesse momento de desenvolvimento principalmente cultural do mundo grego, além das questões voltadas à natureza (cosmologia), a filosofia começa a preocupar-se com a sociedade e o indivíduo, principalmente no que diz respeito às questões morais. O cidadão guerreiro belo e bom (Arete modelo de virtude) já não satisfazia o modelo de cidadão da polis. Era, então, necessário formar um novo cidadão para comandar as cidades. Neste contexto surgem os Sofistas (professores estrangeiros), os quais se diziam capazes de ensinar a arte e a técnica do discurso (oratória e retórica). Saber falar em público era essencial em um sistema democrático, no qual as decisões eram tomadas em praça pública (Ágora), por vontade da maioria dos cidadãos, após ouvirem os discursos prós e contra os temas a serem votados. Os Sofistas ensinavam a jovens aristocratas, e recebiam por isso. Acreditavam que tudo poderia ser ensinado, porque tudo era convenção entre os homens. Por isso acreditavam que a realidade era relativa, sendo os resultados dependentes de acordos entre os homens. O mais importante deles foi Protágoras, cuja principal afirmação foi a de que O homem é a medida de todas as coisas, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são. Górgias também foi muito importante, afirmou que podemos pensar o inexistente e comunicar irrealidades através da linguagem. Portanto, não há diferença entre (doxa) opinião e (Alétheia) verdade, assim como pensavam os outros sofistas e os gregos de sua época. Sócrates formulou uma ética racionalista (metódica) onde a virtude (Areté) se identifica com o conhecimento. A verdade só pode ser conhecida, portanto se o indivíduo deixar para trás as ilusões dos sentidos, as palavras e as opiniões. Conhecer para Sócrates consistia em se elevar da aparência para a essência, da opinião individual para o conceito universal dos seres, dos valores, da vida moral e da política. Mencionamos acima a preocupação socrática de compreender qual a essência do homem, a qual parece-nos estar expressa na seguinte passagem: Um dos raciocínios fundamentais feitos por Sócrates para provar essa tese é a seguinte: uma coisa é o instrumento que se usa e outra é o sujeito que usa o instrumento. Ora, o homem usa seu próprio corpo como instrumento, o que significa que o sujeito, que é o homem, e o instrumento, que é o corpo, são coisas distintas. Assim, à pergunta o que é o homem, não se pode responder que é o seu corpo, mas sim que é aquilo que se serve do corpo. Mas o que se serve do corpo é a psyché, a alma (= inteligência) [...] (REALE, G.; ANTISERI, D. 1990, p. 88).

31 Para Sócrates, a educação da alma é importante, pois ela é a essência do homem. Ela determina as ações dos homens ela pode bem conduzir-nos a uma vida virtuosa. Aquele que tem conhecimento não reúne todas as características necessárias à virtude (justiça, fortaleza, temperança, sabedoria...) e o vício nada mais é que a falta, a privação de conhecimento, ou seja, a ignorância. Tomando este preceito como base, podemos também afirmar que tudo o que é exterior à natureza da alma do homem não pode ser considerado virtude. Desse modo, riqueza, poder, fama, beleza e saúde física, dentre outras coisas, não constituem valores éticos, pois em si mesmos não têm valor. Este filósofo ficou conhecido também por sua máxima, tudo que sei é que nada sei. Com tal afirmação quis dizer que o conhecimento do homem é pequeno, imperfeito, superficial e que o conhecimento pleno e total das coisas naturais só pertence aos deuses. É presunção se considerar conhecedor das coisas criadas por aqueles que nos criaram. Mas se virtude é sinônimo de conhecimento e Sócrates diz não saber nada então não é virtuoso? Claro que o conhecimento que ele está admitindo como igual à virtude não trata de conhecimentos acerca o mundo natural, o qual os deuses são artífices, mas de conhecimentos práticos e de uma tentativa de uma auto-compreensão de nossa alma. O provável, senhores, é que, em verdade, o sábio seja deus e queira dizer, em seu oráculo, que pouco valor ou nenhum tem a sabedoria humana; evidentemente se terá servido deste nome de Sócrates para me dar como exemplo, como se dissesse: O mais sábio dentre vós, homens, é quem, como Sócrates, compreendeu que sua sabedoria é desprovida verdadeiramente desprovida do mínimo valor. (PLATÃO, 2004, p. 47). De tal modo que o não-saber socrático já constitui uma sabedoria. Ao reconhecer sua própria ignorância, Sócrates buscou levar aos demais atenienses tal conhecimento; utilizando, para isso, sua dialética, a qual analisamos agora. O MÉTODO SOCRÁTICO Sócrates, na exposição polêmica e didática de suas idéias, adotava sempre o diálogo que assumia uma dupla forma, conforme se tratava de um adversário a refutar ou de um discípulo a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até encontrar o adversário presunçoso em evidente contradição, constrangendo-o à confissão humilhante de sua ignorância. É a ironia socrática. No segundo caso, tratando-se de um discípulo, multiplicava ainda mais as perguntas, dirigindo-as agora a fim de obter, por indução dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objeto em questão. A este processo pedagógico, em memória da profissão materna, denominava-se maiêutica, ou engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das idéias. Partindo da consciência da sua própria ignorância ( só sei que nada sei ), utilizava como método não a exposição, mas a dialética (aqui com o sentido de arte do diálogo e da discussão), que passava por três momentos distintos: - IRONIA: em grego significa interrogação. Consistia em uma cadeia de perguntas realizadas por Sócrates que iam, pouco a pouco, conduzindo o interlocutor á consciência da própria ignorância.

32 - APORIA: do grego a = não e poria vem de poros que significa saída. O termo, então, significa sem saída, e relaciona-se ao final de todo o diálogo platônico de primeira fase, também dito diálogo socrático. Acredita-se que em sua primeira fase de escritos Platão tenha tão somente reproduzido a prática de Sócrates nas ruas e praças de Atenas. É assim que podemos diferenciar o que seja socrático do que seja já teoria platônica. Todos os diálogos socráticos são aporéticos, ou seja, não apresentam nenhuma resposta ao seu final, o que não poderia ser diferente, visto que Sócrates só tinha consciência da própria ignorância. - MAIÊUTICA: Traduzido ao pé da letra o termo significa arte de parturejar, ou seja, de trazer à luz novos seres humanos. Essa é a profissão da parteira, ainda muito comum em certas regiões do Brasil. Era esse o ofício desempenhado pela mãe de Sócrates. No diálogo Teeteto nosso filósofo afirma que sua atividade se parece muito com aquela realizada pela sua mãe, visto que nessa nova etapa, posterior à destruição do falso saber do interlocutor, Sócrates buscaria auxiliar aquele com quem dialogava a conceber ideias verdadeiras, seguras, que estariam, evidentemente, dentro do próprio indivíduo que travava diálogo com o filósofo. E é óbvio que só poderia ser assim, visto que o único conhecimento afirmado por ele é o da sua própria ignorância. NOTA: Todos que se dispunham a dialogar com Sócrates o faziam por vontade própria, não havia nenhum tipo de insistência ou coação. φ EXERCÍCIOS PROPOSTOS QUESTÃO 01: (UFU Dez/2004) O trecho abaixo faz uma referência ao procedimento investigativo adotado por Sócrates. O fato é que nunca ensinei pessoa alguma. Se alguém deseja ouvir-me quando falo ou me encontro no desempenho de minha missão, quer se trate de moço ou velho (...) me disponho a responder a todos por igual, assim os ricos como os pobres, ou se o preferirem, a formular-lhes perguntas, ouvindo eles o que lhes falo. PLATÃO. Apologia de Sócrates. Belém: EDUFPA, (33 a-b). Marque a alternativa que melhor representa o método socrático. A) Sócrates nada ensina porque apenas transmite aquilo que ouve de seu daímon. Seu procedimento consiste em discursar, igualmente para qualquer ouvinte, com longos discursos demonstrativos retirados da tradição poética ou com perguntas que levem o interlocutor a fazer o mesmo. A ironia é o expediente utilizado contra os adversários, cujo objetivo é somente a disputa verbal. B) A profissão de ignorância e a ironia de Sócrates fazem parte de seu procedimento geral de refutação por meio de perguntas e respostas breves (o élenkhos), e constituem um meio de reverter os argumentos do interlocutor para fazê-lo cair em

33 contradição. A refutação socrática revela a presunção de saber do adversário, pela insuficiência de suas definições e pela aporia. C) Sócrates nunca ensina pessoa alguma, porque a profissão de ignorância caracteriza o modo pelo qual encoraja seus discípulos a adquirirem sabedoria diretamente do deus do Oráculo de Delfos. A ironia socrática é uma dissimulação que, pela zombaria, revela as verdadeiras disposições do pequeno número dos que se encontram aptos para a Filosofia. D) Sócrates nunca ensina pessoa alguma sem antes testar sua aptidão filosófica por meio de perguntas e respostas. Seu procedimento consiste em destruir as definições do adversário por meio da ironia. A ignorância socrática encoraja o adversário a revelar suas opiniões verdadeiras que, pela refutação, dão a medida da aptidão para a vida filosófica. QUESTÃO 02: (UFU Jul/2005) Leia atentamente o excerto do diálogo platônico Eutífron. Recorda, porém, que não te pedi para demonstrar-me uma ou duas dessas coisas, dessas que são piedosas, mas que me explicasse a natureza de todas as coisas piedosas. Porque disseste, salvo engano, que existe algo característico que faz com que todas as coisas ímpias sejam ímpias, e todas as coisas piedosas, piedosas... PLATÃO. Eutífron. In: Platão. São Paulo: Abril Cultural, Col. Os Pensadores, p. 41. A partir do texto acima, escolha a alternativa correta quanto ao procedimento filosófico empregado por Sócrates. A) A investigação socrática caracteriza-se pela pesquisa das Formas inteligíveis que seriam as causas de todas as manifestações particulares de uma noção. Os seres sensíveis existem porque imitam um modelo imutável e eterno que determina a natureza de todas as coisas. A aporia decorre da impossibilidade de se encontrar, nos seres sensíveis, um exemplo que corresponda perfeitamente à Idéia inteligível. B) A investigação socrática usa a pergunta: o que é...?, que tipifica a investigação das características gerais e das formas distintivas invariáveis de uma noção. A pesquisa de uma definição adequada exerce um papel regulador para as respostas aceitáveis e inaceitáveis. A refutação consiste em descartar, mediante contradições, definições insuficientes, e a aporia manifesta a impossibilidade de uma definição concludente.

34 C) A investigação socrática configura o exame filosófico sobre a piedade e a natureza característica da alma. Ao contrário dos Filósofos da Natureza, Sócrates preocupa-se com o exame da alma e estabelece um modelo tri-partite da psykhé: uma parte apetitiva, uma irascível e outra racional. A refutação socrática consiste em induzir os adversários da Filosofia à contradição e levá-los ao estado de aporia. D) A investigação socrática é delimitada pelo exame de noções éticas como, por exemplo, a piedade, ou a coragem. Esse gênero de pesquisa resulta na distinção de uma realidade sensível, formada por todos os particulares, e uma realidade inteligível, representada pelas Formas. A refutação socrática consiste na negação do devir como única e verdadeira realidade, o que resulta num estado de aporia. QUESTÃO 03: (UFU Jul/2006) Leia atentamente o trecho do diálogo platônico Apologia de Sócrates: Como se dá, caro amigo,...não te envergonhes de só te preocupares com dinheiro e de como ganhar o mais possível, e quanto à honra e à fama, à prudência e à verdade, e à maneira de aperfeiçoar a alma, disso não cuidas nem cogitas? PLATÃO, Apologia de Sócrates. Trad. de Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, p. 130, 29d-e. A partir do texto acima, escolha a alternativa que melhor exprime a ética socrática. A) Sócrates define a virtude a partir de um conjunto de ações que são ensinadas aos discípulos por meio de exemplos. Somente a ciência constitui o saber, pois não se pode conhecer a essência da virtude. O aperfeiçoamento da alma só acontece através do saber técnico, que permite ao homem voltar-se para a prática do bem. B) O exame da alma constitui, para Sócrates, simultaneamente uma investigação acerca da verdade e a escolha de um modo de vida virtuoso. Na investigação sobre a essência das virtudes são empregadas a refutação e a ironia, que expurgam as falsas opiniões acerca do bem e conduzem a razão para os verdadeiros valores. C) O objetivo da investigação filosófica é o exame da natureza e da cosmologia, pelo qual são delimitados os critérios racionais que permitem o abandono dos falsos valores e que conduzem ao aperfeiçoamento da alma pela ciência. A investigação socrática não se ocupa das questões éticas e políticas. D) O aperfeiçoamento da alma só ocorre pelo abandono das preocupações éticas e pela investigação racional do discurso lógico. O exame filosófico é propiciado pela

35 refutação e pela ironia, que permitem a defesa de argumentos contrários e configuram as regras do discurso político persuasivo. QUESTÃO 04: (UFU Fev/2007) O trecho seguinte, do diálogo platônico Górgias, refere-se ao modo de filosofar de Sócrates. Assim, Cálicles, desmanchas o nosso convênio e te qualificas para investigar comigo a verdade, se extremares algo contra tua maneira de pensar. PLATÃO. Górgias. Trad. de Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2002, p. 198, 495a. Marque a alternativa que expressa corretamente o procedimento filosófico empregado por Sócrates. A) A base da filosofia socrática é a educação mediante os discursos políticos e jurídicos encenados nos tribunais atenienses. Sócrates parte das proposições dos adversários para encontrar um discurso oposto que seja retoricamente persuasivo. B) A base da filosofia socrática é a procura da verdade acerca do conhecimento da Natureza e da maneira de pensar sobre os princípios racionais que governam o cosmos a partir do conhecimento acumulado pelos filósofos anteriores. C) A base da filosofia socrática é a refutação, a partir de um convênio em busca da verdade, de todas as proposições de seus interlocutores com o intuito de demonstrar que o conhecimento das questões morais é impossível. D) A base da filosofia socrática é a procura da perfeição da alma, mediante o exame de si mesmo e dos concidadãos, que é a condição da excelência moral. A refutação socrática é, sobretudo, um modo de testar a verdade da excelência da vida. QUESTÃO 05: (UEL Dez/2006) Considere a citação abaixo: Sócrates: Tomemos como princípio que todos os poetas, a começar por Homero, são simples imitadores das aparências da virtude e dos outros assuntos de que tratam, mas que não atingem a verdade. São

36 semelhantes nisso ao pintor de que falávamos há instantes, que desenhará uma aparência de sapateiro, sem nada entender de sapataria, para pessoas que, não percebendo mais do que ele, julgam as coisas segundo a aparência? Glauco Sim. Fonte: PLATÃO. A República. Tradução de Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, p.328. Com base no texto acima e nos conhecimentos sobre a mímesis em Platão, assinale a alternativa correta. A) Platão critica a pintura e a poesia porque ambas são apenas imitações diretas da realidade. B) Para Platão, os poetas e pintores têm um conhecimento válido dos objetos que representam. C) Tanto os poetas quanto os pintores estão, segundo a teoria de Platão, afastados dois graus da verdade. D) Platão critica os poetas e pintores porque estes, à medida que conhecem apenas as aparências, não têm nenhum conhecimento válido do que imitam ou representam. E) A poesia e a pintura são criticadas por Platão porque são cópias imperfeitas do mundo das idéias. φ EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES QUESTÃO 01: (UFU Jul/1998) Sócrates é tradicionalmente considerado como um marco divisório da filosofia grega. Os filósofos que o antecederam são chamados pré-socráticos. Seu método, que parte do pressuposto "só sei que nada sei", é a maiêutica que tem como objetivo: I- "dar luz a idéias novas, buscando o conceito". II- partir da ironia, reconhecendo a ignorância até chegar ao conhecimento. III- encontrar as contradições das idéias para chegar ao conhecimento. IV- "trazer as idéias do céu à terra". Assinale

37 A) se apenas I, II e III estiverem corretas. B) se apenas I e III estiverem corretas. C) se apenas II, III e IV estiverem corretas. D) se apenas III e IV estiverem corretas. E) se apenas I e IV estiverem corretas. QUESTÃO 02: (UFU Jul/1999) O método argumentativo de Sócrates ( a.c.) consistia em dois momentos distintos: a ironia e a maiêutica. Sobre a ironia socrática, pode-se afirmar que I- tornava o interlocutor um mestre na argumentação sofística. II- levava o interlocutor à consciência de que seu saber era baseado em reflexões, cujo conteúdo era repleto de conceitos vagos e imprecisos. III- tinha um caráter purificador, à medida que levava o interlocutor a confessar suas próprias contradições e ignorâncias. IV- tinha um sentido depreciativo e sarcástico da posição do interlocutor. Assinale A) se apenas a afirmação III é correta. B) se as afirmações I e IV são corretas. C) se apenas a afirmação IV é correta. D) se as afirmações II e III são corretas. QUESTÃO 03: (UFU Mar/2002) ( ) enquanto tiver ânimo e puder fazê-lo, jamais deixarei de filosofar, de vos advertir, de ensinar em toda ocasião àquele de vós que eu encontrar, dizendo-lhe o que costumo: Meu caro, tu, um ateniense, da cidade mais importante e mais reputada por sua sabedoria, não te envergonhas de

38 cuidares de adquirir o máximo de riquezas, fama e honrarias, e de não te importares nem pensares na razão, na verdade e em melhorar tua alma? E se algum de vós responder que se importa, não irei embora, mas hei de o interrogar, examinar e refutar e, se me parecer que afirma ter adquirido a virtude sem a ter, hei de repreendê-lo por estimar menos o que vale mais e mais o que vale menos ( ). PLATÃO. Apologia de Sócrates, 29 d-e. A partir do trecho acima de Platão, é correto afirmar que para Sócrates I- a Filosofia é um saber que se transmite como lições morais, visto ele conheça a verdade. II- o filosofar é uma atividade que busca a verdade e a melhora da alma pela refutação de falsos saberes. III- o questionamento ao interlocutor só ocorre se este espontaneamente se dispuser a responder às questões formuladas por Sócrates. IV- a posse de bens materiais é para ele um valor inquestionável. Assinale a alternativa que contém as afirmativas corretas. A) Apenas II e III. B) Apenas I e II. C) Apenas I e IV. D) Apenas III e IV. QUESTÃO 04: O método argumentativo de Sócrates ( a.c.) consistia em dois momentos distintos: a ironia [refutação] e a maiêutica. Sobre a ironia socrática assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso. 1 ( ) tornava o interlocutor um mestre na argumentação sofística. 2 ( ) levava o interlocutor á consciência de que seu saber era baseado em reflexões, cujo conteúdo era repleto de conceitos vagos e imprecisos. 3 ( ) tinha um caráter purificador, à medida que levava o interlocutor a confessar suas próprias contradições e ignorância.

39 4 ( ) tinha um sentido depreciativo e sarcástico da posição do interlocutor. QUESTÃO 05: Assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso. Sócrates é tradicionalmente considerado como um marco divisório da filosofia grega: Os filósofos que o antecederam são chamados pré-socráticos. Seu método, que parte do pressuposto só sei que nada sei é a maiêutica que tem como objetivo: 1 ( ) dar luz a idéias novas, buscando o conceito. 2 ( ) partir da ironia, reconhecendo, a ignorância até chegar ao conhecimento. 3 ( ) encontrar as contradições das idéias para chegar ao conhecimento. 4 ( ) trazer as idéias do céu à terra. QUESTÃO 06: Sobre as características gerais do período socrático, assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso. 1 ( ) A Filosofia se volta para as questões cosmológicas e humanas no plano da ação, dos comportamentos, das idéias, das crenças, dos valores e, portanto, se preocupa com as questões morais e políticas. 2 ( ) O ponto de partida da Filosofia é a confiança no pensamento ou no homem como um ser racional, capaz de conhecer-se a si mesmo e, portanto, capaz de reflexão. 3 ( ) Como se trata de conhecer a capacidade de conhecimento do homem, a preocupação se volta para estabelecer procedimentos que nos garantam que encontremos a verdade. 4 ( ) A Filosofia está voltada para a definição das virtudes morais (do indivíduo) e das virtudes políticas (do cidadão), tendo como objeto central de suas investigações a moral e a política, isto é, as idéias e práticas que norteiam os comportamentos dos seres humanos tanto como indivíduos quanto como cidadãos. QUESTÃO 07: Sobre as características gerais do período socrático, assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso. 1 ( ) A Filosofia busca encontrar a definição, o conceito ou a essência dessas virtudes, para além da variedade das opiniões, para além da multiplicidade das opiniões contrárias e diferentes. 2 ( ) É feita, pela primeira vez, uma separação radical entre, de um lado, a opinião (conhecimento verdadeiro) e as imagens das coisas, trazidas pelos nossos

40 órgãos dos sentidos, nossos hábitos, pelas tradições, pelos interesses, e, de outro lado, os conceitos ou as idéias (conhecimento doxológico). 3 ( ) A reflexão e o trabalho do pensamento são tomados como uma purificação intelectual, que permite ao espírito humano conhecer a verdade invisível, imutável, universal e necessária. 4 ( ) A opinião, as percepções e imagens sensoriais são consideradas verdadeiras, imutáveis, consistentes, não contraditórias, devendo ser abandonadas para que o pensamento siga seu caminho próprio no conhecimento verdadeiro. QUESTÃO 08: (UFU Jul/2000) "Pois eu, Atenienses, devo essa reputação exclusivamente a uma sabedoria. Qual vem a ser esta sabedoria? A que é, talvez, a sabedoria humana. É provável que eu a possua realmente, os mestres mencionados há pouco possuem, talvez uma sobre-humana, ou não sei que diga, porque essa eu não aprendi, e quem disser o contrário me estará caluniando." "Submeti a exame essa pessoa escusado dizer o seu nome; era um dos políticos. Eis, Atenienses, a impressão que me ficou do exame e da conversa que tive com ele; achei que ele passava por sábio aos olhos de muita gente, principalmente aos seus próprios, mas não o era. Meti-me, então, a explicar-lhe que supunha ser sábio, mas não o era. A conseqüência foi tornar-me odiado dele e de muitos dos circundantes. (...) ele supõe saber alguma coisa, mas não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber." "E se algum de vós redargüir que se importa, não me irei embora deixando-o, mas o hei de interrogar, examinar e confundir e, se me parecer que afirma ter adquirido a virtude e não a adquiriu, hei de repreendê-lo por estimar menos o que vale mais e mais o que vale menos." Platão, Defesa de Sócrates. São Paulo, Abril Cultural, d/e; 21c; 29e. A partir dos textos citados caracterize a filosofia socrática. QUESTÃO 09: (UFU Transferência/2005) Acusações contra Sócrates: Acusações mais antigas:

41 Sócrates é réu de pesquisar indiscretamente o que há sob a terra e nos céus, de fazer que prevaleça a razão mais fraca e de ensinar aos outros o mesmo comportamento. Acusações mais recentes (de Meleto): Sócrates é réu de corromper a mocidade e de não crer nos deuses em que o povo crê e sim em outras divindades novas. Platão, Defesa de Sócrates. Coleção.Os Pensadores.. São Paulo: Nova Cultural, 1987, pp. 6, 11. As citações acima correspondem respectivamente às acusações mais antigas e mais recentes perpetradas contra Sócrates, levando-o a julgamento. Com base nessas acusações, exponha os principais argumentos do discurso de Sócrates em defesa de si mesmo, destacando justamente o sentido radical e profundo do pensamento socrático. QUESTÃO 10: (UFU Abr/2006) Em diversos diálogos platônicos, a personagem de Sócrates é caracterizada por um procedimento investigativo refutatório que se contrapõe ao gênero de discurso empregado pelos mestres de retórica. Tomando o seguinte extrato do Górgias como ponto de partida, explicite: A) os temas que compõem o campo de investigação da Filosofia socrática; B) o modo como a refutação socrática opera. (...) Receio contestar-te para que não penses que falo menos pelo prazer de esclarecer o assunto em discussão do que por motivos pessoais. (..)E em que número me incluo? Entre as pessoas que têm prazer em ser refutadas, no caso de afirmarem alguma inverdade, e prazer também em refutar os outros, se não estiver certo, do mesmo modo, o que disserem, e que tanto se alegram com serem refutadas como em refutarem (...). PLATÃO. Górgias. (457e-458a). Belém:

42 EDUFPA, p SEMANA 04: PLATÃO DE ATENAS ( a. C.) Platão nasceu em Atenas em 427 a.c. Seu verdadeiro nome era Aristócles. Platão era um apelido, derivado, de acordo com alguns, de seu vigor físico; ou como outros atestam, da extensão de sua testa (em grego, platôs significa amplitude, largueza). Platão fazia parte de uma família bastante ligada ao cenário político da Grécia. Sua mãe tinha parentesco com Sólon e seu pai era descendente do rei Codros. Desse modo que desde a juventude Platão já tinha a política como seu ideal. Seu primeiro contato com Sócrates se deu quando Recorte da Obra A escola de estava com aproximadamente vinte anos, sendo que seu Atenas ( ) do pintor objetivo inicial não era fazer da filosofia a finalidade Renascentista Rafael. última de sua vida, mas se preparar melhor para a vida política. É fato que os acontecimentos e o convívio com Sócrates o encaminharam em outra direção, e ele dedicou-se, por todo o restante de sua vida, a uma das mais vastas produções filosóficas da história da filosofia. - A atividade literária de Platão abrange mais de cinqüenta anos de sua vida: desde a morte de Sócrates até a sua morte. A parte mais importante da atividade literária de Platão é representada pelos diálogos em três grupos principais, segundo certa ordem cronológica, lógica e formal. As obras de Platão são geralmente classificadas em diálogos socráticos, de maturidade e de velhice. Os primeiros são diálogos que defendem a memória de Sócrates e o apresentam discutindo, geralmente, temas morais, sem chegar, porém, a conclusões, ou seja, são os diálogos aporéticos sem saída de Sócrates, que são combativos e visam acabar com opiniões inconsistentes, levando o conhecimento verdadeiro às pessoas. Nos diálogos de maturidade Platão vai afirmando, cada vez mais, a independência de seu pensamento em relação ao de Sócrates. Mas são os diálogos de velhice que apresentam a última formulação do pensamento platônico. O MÉTODO PLATÔNICO O diálogo, para Platão, não deve permanecer no nível do confronto de consciências, mas precisa tornar-se o embate entre teses. Deve ser um método que suba progressivamente do plano relativo e instável das opiniões (doxa) até a construção de formas mais seguras do conhecimento (episteme), rumo à conquista da verdade. O método proposto por Platão é, num primeiro momento uma dialética ascendente, que procura explicar a situação atual do universo e dos seres, não por uma situação anterior, mas por meio de causas intemporais, que expliquem sempre porque cada coisa é o que é. Platão, com isso, está adotando um método explicativo típico da matemática, o método dos geômetras, que consiste basicamente no seguinte: diante de um problema, levanta-se uma hipótese para resolvê-lo; sendo satisfatória passa-se então a verificar se ela se sustenta a si mesma, ou se supõe outra hipótese mais geral, e assim por diante. Cria-se então uma cadeia de hipóteses interdependentes, que buscam uma sustentação última uma não-hipótese que se

43 baste a si mesma e que sustente todas as demais levantadas anteriormente. Vê-se, então, na matemática, um prenúncio para essa dialética platônica, pois ela dá uma idéia do mundo inteligível, já que a geometria nos leva a conceber seres eternos e imutáveis linha, reta, círculo, figuras idealmente perfeitas e toda idéia como veremos na sua teoria das idéias ou formas de Platão, e imutável, perfeita e eterna. CRÍTICA AO CONHECIMENTO SENSÍVEL Segundo Platão, permanecer no nível das sensações impede a construção de um conhecimento seguro e estável. De fato as sensações fornecem apenas evidências momentâneas e individuais, e um conhecimento baseado apenas nelas é um conhecimento somente daquilo que aparece a cada pessoa, no momento em que aparece como tal. O conhecimento sensível está no plano da opinião e é instável e relativo ao momento e à forma como se percebe determinada coisa. Dessa maneira não é possível conhecer nada, pois tudo está constantemente mudando. SOBRE O CONHECIMENTO Como em Sócrates a filosofia de Platão tem um fim prático, moral; é a grande ciência que resolve o problema da vida. Este fim prático realiza-se, no entanto, intelectualmente através da especulação, do conhecimento da ciência. Mas diversamente de Sócrates que limitava a pesquisa filosófica, conceptual ao campo antropológico e moral Platão estende tal indagação ao campo metafísico e cosmológico, isto é, a toda realidade. Este caráter íntimo, humano, religioso da filosofia, é tornado especialmente vivo, angustioso pela viva sensibilidade do filósofo em face do universal vir-a-ser, nascer e perecer de todas as coisas, em face do mal, da desordem que se manifesta em especial no homem, onde o corpo é inimigo do espírito, o sentido se opõe ao intelecto, a paixão contrasta com a razão. Assim, Platão o espírito humano peregrino neste mundo e prisioneiro na caverna do corpo. Deve, pois, transpor este mundo e libertarse do corpo para realizar o seu fim, isto é, chegar à contemplação do inteligível. A diferença essencial entre o conhecimento sensível e o intelectual, universal, está nisto: o conhecimento sensível, embora verdadeiro não sabe que o é, donde pode passar indiferentemente ao conhecimento diverso e cair no erro sem o saber, ao passo que o segundo, além de ser um conhecimento verdadeiro, sabe que o é, não podendo de modo algum ser substituído por um conhecimento diverso errôneo. Poderse-ia também dizer que o primeiro sabe que as coisas estão assim, sem saber porque o estão, ao passo que o segundo sabe que as coisas devem estar necessariamente assim como estão, precisamente porque é ciência, isto é, conhecimento das coisas pelas causas. A TEORIA DAS IDEIAS Como principal conseqüência da utilização do método dos geômetras, Platão propõe que se afirme hipoteticamente a existência de formas ou essências ou idéias, que seriam modelos eternos das coisas sensíveis. Essas essências seriam incorpóreas e imutáveis, existindo em si mesmas. Embora Platão as chame também de idéias, elas não existem na mente humana, como conceitos ou representações mentais, nem os objetos de que são modelos, nem nos sujeitos que conhecem esses sujeitos. Cada coisa corpórea e mutável seria o que ela é uma cadeira, por exemplo porque participa da essência que lhe seve de modelo a cadeira em si, a essência ou a idéia de cadeira. Uma cadeira que vemos ou tocamos pode ser de metal ou madeira, de várias cores ou modelos; ela muda, envelhece e é destruída com como tempo, mas a essência de cadeira permanece sempre a mesma, fora do tempo e do espaço, é sempre única. Não podemos apreender com os sentido essa essência ou

44 idéia incorpórea e intemporal, pois nossos sentido só captam o material, dotado de alguma concretude, que está situado no espaço e no tempo. Só podemos alcançá-la pelo intelecto. ALMA E REMINISCÊNCIA Como o homem ser concreto que existe no tempo e no espaço pode conhecer as essências incorpóreas e intemporais? Essa possibilidade depende de outra hipótese: é preciso supor que ele possua algo incorpóreo e indestrutível, algo de natureza semelhante à das idéias. É necessário supor que ele abriga em seu corpo uma alma, também pura forma imortal. Essa alma já teria contemplado as essências antes de se prender ao corpo ao qual provisoriamente vinculada. Unida ao corpo, alojada a ele como em uma prisão ela esquece daquele conhecimento anterior. Mas os sentidos apreendem objetos que são cópias imperfeitas daquelas essências que a alma contemplara, e isso permite que ela vá lembrando das idéias. Assim, o conhecimento é, na verdade, reconhecimento, reminiscência, retorno. A IDÉIA DE BEM A adoção do método dos geômetras faz da filosofia, inicialmente, um jogo de hipóteses. Se até o final o conhecimento permanecer com esse jogo, ele permanecerá no âmbito do provável, do possível, do hipotético, não chegando à certeza. Desse modo, a escalada do conhecimento resultará na garantia da verdade se, no final, depois de percorrer todas as hipóteses, levar ao absoluto, ao necessário, ao nãohipotético. Platão considera que, usando o conhecimento dialético, o filósofo pode atingir as essências eternas. E, seguindo as articulações que ligam as essências, vai conquistando essências cada vez mais gerais, até que por fim, contempla aquele absoluto, uma superessência. Na República, Platão o denomina de Bem. Ele seria a fonte de toda a luz, fazendo com que os objetos possam ser conhecidos, e que nós possamos conhecê-los. A ALEGORIA DA CAVERNA Trata-se de um trecho do Livro VII da República de Platão, as falas na primeira pessoa são de Sócrates, e seus interlocutores, Glauco e Adimanto, são os irmãos mais novos de Platão. - Depois disso, continuei, compara nossa natureza, conforme seja ou não educada, com a seguinte situação: imagina homens de morada subterrânea em forma de caverna, provida de uma única entrada com vista para uma luz em toda sua largura. Encontram-se nesse lugar, desde pequenos, pernas e pescoço amarradas com cadeias, de forma que são forçados a ali permanecer e a olhar apenas para frente, impossibilitados, como se acham, pelas cadeias, de virar a cabeça. A luz de um fogo aceso, a grande distância brilha no alto e por trás deles; entre os prisioneiros e o foco de luz há um caminho que passa por cima, ao longo do qual imagina agora um murozinho, à maneira do tabique que os politiqueiros levantam entre eles e o público e por cima do qual executam suas habilidades. - Figuro tudo isso, respondeu. - Observa, então, ao comprido desse murozinho homens a carregar toda a sorte de utensílios que ultrapassa a altura do muro, e também estátuas e figuras de animais, de pedra ou de madeira, bem como objetos da mais variada espécie. Como é natural, desses carregadores uns conversam e outros se mantêm calados.

45 - Imagens muito estranhas, disse, como também os prisioneiros de que falas. - Parecem-se conosco, respondi. Para começar achas mesmo que em semelhante situação poderiam ver deles próprios e dos vizinhos alguma coisa além da sombra projetada pelo fogo, na parede da caverna que lhes fica em frente? - De que jeito, perguntou, se a vida inteira não conseguem mexer a cabeça? - E com relação aos objetos transportados, não acontecerá a mesma coisa? - Como não? - Logo, se fossem capazes de conversar, não acreditas que pensariam estar designando pelo nome certo tudo o que vêem? - Necessariamente. - E se no fundo da prisão se fizesse ouvir um eco? Sempre que se falasse alguma coisa das estátuas, não achas que eles só poderiam atribuir a voz às sombras em desfile? - Sim, por Zeus! exclamou. - De qualquer forma, continuei, para semelhante gente a verdade consistiria apenas na sombra dos objetos fabricados. - É mais do que certo, respondeu. - Considera agora, lhe disse, quais seriam as conseqüências da libertação desses homens depois de curados de suas cadeias e imaginações, se as coisas se passassem do seguinte modo: vindo a ser um deles libertado e obrigado imediatamente a levantar-se, a virar o pescoço, andar e olhar na direção da luz, não apenas tudo isso lhe causaria dor, como também o deslumbramento o impediria de ver os objetos cujas sombras até então ele enxergava. Como achas que responderia a quem afirmasse que tudo o que ele vira até ali não passava de brinquedo e que somente agora, por estar mais próximo da realidade e ter o rosto voltado para o que é mais real é que ele via com maior exatidão; e também se o interlocutor lhe mostrasse os objetos, à medida que fossem desfilando e o obrigasse, à custa de perguntas a designa-los pelos nomes? Não te parece que ficaria atrapalhado e imaginaria ser mais verdadeiro tudo o que ele vira até então do que como naquele instante lhe mostravam? - Muito mais verdadeiro, respondeu. - E no caso de o forçarem a olhar para a luz, não sentiria dor nos olhos e não correria para junto das coisas que lhe era possível contemplar, certo de serem todas elas mais claras do que as que lhe então apresentavam? - Isso mesmo, disse. - E agora, perguntei; se o arrastassem a força pela rampa rude e empinada e não o largasse enquanto não houvessem alcançado a luz do sol não te parece que sofreria bastante e se revoltaria por ver-se tratado daquele modo? E depois de estar no claro, não ficaria com a vista ofuscada sem enxergar nada do que lhe fosse então indicado como verdadeiro? - De fato, respondeu; pelo menos no começo. - Precisaria, creio, habituar-se para poder contemplar o mundo superior. De início, perceberia mais facilmente as sombras; ao depois as imagens e dos outros objetos refletidos na água; por último os objetos, no rasto deles, o que se encontra no céu e o próprio céu, porém sempre enxergando, com mais facilidade, durante a noite, à luz da lua e das estrelas, do que de dia ao Sol com todo o seu fulgor. - Não há dúvida.

46 - Finalmente, segundo penso, também o Sol, não na água ou sua imagem refletida em qualquer parte, mas no lugar certo, que ele poderia ver e contemplar tal como é mesmo. - Necessariamente, disse. - De raciocínio em raciocínio, chegaria à conclusão de que o Sol é que produz as estações e tudo dirige no espaço visível, e que, de alguma modo, é a causa do que ele e seus companheiros estavam habituados a distinguir. - É evidente, respondeu, que depois de tudo, ele concluiria dessa maneira. - E então? Quando se lembrasse de sua primitiva morada, da sabedoria lá reinante e dos companheiros de prisão: não te parece que se felicitaria pela mudança e lastimaria a sorte deles todos? - Sem dúvida. - E as honrarias e os elogios entre eles mesmos, os prêmios para quem percebesse com mais nitidez as imagens em desfile e se lembrasse com exatidão do que costumava aparecer em primeiro lugar ou por último, ou concomitantemente, e que por isso, ficasse em condições de prever o que iria dar-se: acredita-se que semelhante indivíduo do outro tempo ou invejasse os que entre eles fossem alvo de distinções ou fizessem parte do governo? Ou com ele se passaria aquilo de Homero: Pois preferira viver empregado em trabalhos do campo, sob um senhor sem recursos e vir a sofrer seja o que for a voltar para semelhantes ilusões e viver a antiga vida? - É também o que penso, respondeu; agüentaria tudo para não voltar a viver daquele jeito. - Considera também o seguinte, lhe falei: se esse indivíduo baixasse de novo para ir sentar-se ao seu antigo lugar, não ficaria com os olhos obnubliados pelas trevas por vir da luz do Sol assim tão de repente? - Sem dúvida, respondeu. - E se tivesse de competir outra vez a respeito das sombras com aquele eternos prisioneiros quando ainda se ressentisse da fraqueza da vista, por não se ter habituado com o escuro o que não exigiria pouco tempo não se tornaria objeto de galhofa dos outros e não diriam estes que o passeio lá por cima lhe estragara a vista e que não valia a pena sequer tentar aquela subida? E se por ventura ele procurasse liberta-los e conduzi-los para cima, caso fosse possível aos outros fazer uso das mãos e mata-lo, não lhe tiraria a vida? - Com toda certeza, respondeu. - Agora, meu caro Glauco, precisarás essa alegoria a tudo que expusemos antes, para compartilhar, para comparar o mundo percebido pela visão com o domicílio carcerário, e a luz do fogo que nele esplende com a energia do Sol. Quanto à subida para o mundo superior e a contemplação do que lá existe se vires nisto a ascensão da alma para a região inteligível, não te terás desviado das minhas esperanças, já que tanto ambicionas conhece-las. Só Deus sabe se esta de acordo com a verdade. O que vejo, pelo menos, é o seguinte: no limite extremo da região do cognoscível está a idéia do bem, dificilmente perceptível, mas que, uma vez apreendida, impõe-nos de pronto a conclusão de que é a causa de tudo o que é belo e direito, a geratriz, no mundo visível, da luz e do senhor da luz, como no mundo inteligível é dominadora, fonte imediata da verdade e da inteligência, que precisará ser contemplada por quem quiser agir com sabedoria, tanto na vida pública como na particular. - Concordo com tua maneira de pensar, me disse, até onde consigo acompanhar. (PLATÃO, 1988, p )

47 BREVE EXPLICAÇÃO DA ALEGORIA DA CAVERNA O que é a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras das estatuetas? As coisas materiais e sensoriais que percebemos. Que é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz exterior do Sol? A luz da verdade. O que é o mundo exterior? O mundo das idéias ou da verdadeira realidade. Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A dialética. O que é a visão do mundo real iluminado? A filosofia. Por que os prisioneiros zombam e, se pudessem, matariam o filósofo (aqui Platão se refere a condenação de Sócrates à morte pela assembléia ateniense)? Porque imaginam que o mundo sensível é o mundo real e o único verdadeiro. Após essa breve explanação de alguns pontos referentes a Alegoria da Caverna, passaremos a análise dos seus dois aspectos mais importantes, o epistemológico (referente ao conhecimento) e o político (relativo ao poder). Na dimensão epistemológica, percebe-se a distinção das duas principais formas de conhecimento enunciadas por Platão na sua Teoria das Idéias : doxa ou opinião, referente ao mundo sensível, dos fenômenos, e a episteme referente ao mundo inteligível das idéias. O mundo sensível, acessível aos sentidos, é o mundo da multiplicidade, do movimento, e é ilusório, pura sombra do verdadeiro mundo. Assim, mesmo se percebemos inúmeras abelhas dos mais variados tipos, a idéia de abelha deve permanecer imutável, deve ser una, consistindo, assim, na verdadeira realidade. Com isso Platão se aproxima do instrumental teórico de Parmênides.

48 Do seu mestre aproveita a noção de logos, e continuando o processo de compreensão do real, cria a palavra idéia (eidos), para referir-se a intuição intelectual, distinta da intuição sensível. Portanto acima do ilusório mundo sensível, há o mundo das idéias gerais, da essências imutáveis que o homem atinge pela contemplação e pela depuração dos enganos dos sentidos. Sendo as idéias a única verdade, o mundo dos fenômenos só existe na medida em que participa do mundo das idéias do qual é apenas sombra ou cópia. Por exemplo, um cavalo só é um cavalo enquanto participa da idéia de cavalo em si. Se lembrarmos do que foi dito, a respeito dos Pré-socráticos, podemos verificar que Platão tenta superar a oposição do pensamento de Heráclito (que afirma a eterna mutabilidade do ser) com a posição de Parmênides (que afirma a imobilidade do ser). Para Platão, a mutabilidade do ser da teoria do primeiro refere-se ao mundo sensível (da doxa), e a imutabilidade do ser da teoria do segundo refere-se ao mundo inteligível, ou mundo das idéias. A questão política, que também pode ser trabalhada na Alegoria da Caverna, permite ao aluno pensar sobre o seu mundo através da analogia do homem que sai da caverna, vê o mundo como ele realmente é e retorna para tentar mostrar aos outros o que é a realidade, contudo, se estes pudessem, o matariam. Nesta passagem do VII livro da República, Platão se refere a Sócrates que conheceu a realidade e tentou abrir os olhos dos atenienses. Pergunta-se então: Por que os governantes de Atenas fizeram de tudo para condenar e matar Sócrates, acusando-o de ser o corruptor da mocidade? É simples, porque Sócrates estava fazendo uma revolução, mostrando aos atenienses que aquilo que julgavam conhecer estava errado, sendo que, com isso, ele demonstrou que inclusive o conceito de virtude que todos julgavam que os governantes possuíam, e por isso tinham direito de comandar a polis estava errado, então, por que aquele que descobri que não é virtuoso está no poder? Sócrates estava mostrando que todos os conhecimentos e costumes que a sociedade de Atenas tinha e mantinha os governantes no poder estavam errados, e isso era prejudicial aos que detinham o poder, por isso era necessário calar Sócrates. Outra analogia possível é a de que Sócrates fosse a esquerda e os governantes de Atenas a direita, a primeira diz que o governo da direita está errado e mostra por que, e por isso são tachados de comunistas, alienados, loucos, anarquistas e muito mais. Estes são conceitos que não haviam na época, mas que representam a situação atualizada do acontecido, daí vê-se o por que do empenho em continuar com os cursos técnicos, e da crítica aos ditos cursos de humanas, os primeiros formam profissionais e os outros intelectuais, sendo estes últimos nada mais do que problemas para o sistema posto pelos governantes. A sociedade deve ser constituída de homens iguais, sendo que através do voto escolhe-se alguns para serem não governantes, mas representantes, ou seja, o povo paga alguém para que tome conta do que é público, dessa forma o governante não é nada mais que um empregado do povo, que não está conseguindo cumprir a sua função, pois as sociedades cidades, Estados, países estão um caos. E aí proponho a seguinte questão: em uma empresa privada, um empregado descontente com seu salário pode aumentá-lo? A resposta é NÃO. Então por que o empregado do povo pode? Por que se encontra tantas dificuldades para demitir esse empregado quando ele não cumpre seu papel? Por que contratamos alguém para tomar conta de tudo que é público e encontra-se estradas esburacadas, sem sinalização, não há atendimento médico, dentre outras coisas e, mesmo assim, não se consegue demiti-lo? É pelo fato de que a minoria da população não pensa assim, ou não tem consciência desses fatores, imaginam que são governados, e os governantes têm o poder e, por isso, nada se pode fazer. Todas essas reflexões parecem estar distantes do que é exposto por Platão na Alegoria da Caverna, mas não está, pois Sócrates morreu para que não abrisse a mente dos atenienses para fatores como esses. Apresento o seguinte exemplo no

49 intuito de esclarecer melhor ainda a relação feita acima: Se, para os atenienses, o que dá direito ao governo é o fato de um homem ser virtuoso e Sócrates mostra que o que eles tinham como virtude está errado, o povo de Atenas poderia se perguntar: Por que ele está no poder? Eu o considerava virtuoso, porém, vi que o que considerava virtude está errado, então ele não é mais virtuoso e por isso deve deixar o poder. É claro que as coisas não aconteciam de forma tão simples, mas o raciocínio é correto e caso viesse a ser colocado poderia acabar com a forma de governo posta no momento. φ EXERCÍCIOS PROPOSTOS: QUESTÃO 01: (UFU Dez/2004) O trecho abaixo, que descreve o momento da origem do Kosmos, faz uma referência ao paradigma platônico das Formas. Outro ponto que precisamos deixar claro é saber qual dos dois modelos tinha em vista o arquiteto quando o construiu (o Kosmos): o imutável e sempre igual a si mesmo ou o que está sujeito ao nascimento? Ora, se este mundo é belo e for bom seu construtor, sem dúvida nenhuma este fixara a vista no modelo eterno; e ser for o que nem se poderá mencionar, no modelo sujeito ao nascimento. PLATÃO, Timeu. Belém: EDUFPA, (28c-29a). Marque a alternativa que caracteriza corretamente o modelo das Formas. A) Para explicar a origem do Kosmos, Platão divide todas as coisas em duas ordens inteiramente separadas e distintas: um modelo eterno, e outro sujeito ao nascimento e às mudanças. O primeiro é somente inteligível e constitui o alvo da atividade filosófica. O segundo é sensível, sujeito à destruição, e não tem qualquer relação ou parentesco com o modelo eterno que serve de base para a arquitetura do mundo. B) Platão postula as Formas, um paradigma eterno, que constitui a causa e a origem de todas as coisas sensíveis. Seres sensíveis são o efeito das causas inteligíveis, que lhes dão a existência e os nomes. As Formas, ou Idéias, são eternamente idênticas a si mesmas, imutáveis e unas. Tudo o que é sensível existe porque participa das Formas e se assemelha a elas, do mesmo modo que uma imagem em relação ao modelo original. C) Na formação do Kosmos, Platão adota dois modelos: o modelo imutável e o modelo sujeito ao nascimento. O modelo imutável é constituído pelas Formas inteligíveis e serve de base para a arquitetura do mundo porque é belo e somente pensável. O modelo sujeito ao nascimento constitui as Formas sensíveis, que dão origem às coisas mutáveis e destrutíveis. D) Platão postula dois modelos cosmológicos na sua Filosofia: o modelo bom e eterno, e o modelo ruim e sensível. O modelo eterno representa o plano arquitetônico do kosmos, que se identifica unicamente com o que é inteligível. O modelo sensível

50 representa tudo o que é corporal. As Formas são uma duplicação inteligível do mundo sensível e servem para explicar o parentesco do pensamento com o divino. QUESTÃO 02: (UFU Fev/2007) O trecho a seguir, do diálogo platônico Fédon, concerne ao modo de aquisição do conhecimento. É preciso, portanto, que tenhamos conhecido a igualdade antes do tempo em que, sendo pela primeira vez objetos iguais, observamos que todos eles se esforçavam por alcançá-la, porém lhe eram inferiores. PLATÃO. Fédon. Trad. de Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2002, p. 275, 75a. A partir do fragmento apresentado, marque a alternativa que expressa corretamente o pensamento de Platão sobre o conhecimento. A) Platão não distingue a realidade inteligível de outra sensível. O conhecimento é o produto das sensações. O conhecimento nada mais é do que a reminiscência dessas sensações. B) Platão distingue uma realidade inteligível de outra sensível. O conhecimento de todas as coisas só é possível porque as percepções advindas dos sentidos desencadeiam a reminiscência das Formas inteligíveis, apreendidas pela razão antes do nascimento. C) Platão distingue duas ordens de realidade: o mundo sensível e a alma. O conhecimento de todas as coisas só é possível porque as sensações informam a alma sobre o mundo sensível e, a partir disso, formam a reminiscência. D) Platão distingue duas ordens de realidade: o mundo sensível e o mundo dos deuses. O conhecimento só é possível porque a alma recebe uma informação divina antes que tenha percebido os objetos sensíveis, pois todo conhecimento vem dos deuses. QUESTÃO 03: (UEL Jan/2003)

51 Você está acompanhando, Sofia? E agora vem Platão. Ele se interessava tanto pelo que é eterno e imutável na natureza quanto pelo que é eterno e imutável na moral e na sociedade. Sim... para Platão tratava-se, em ambos os casos, de uma mesma coisa. Ele tentava entender uma realidade que fosse eterna e imutável. E, para ser franco, é para isto que os filósofos existem. Eles não estão preocupados em eleger a mulher mais bonita do ano, ou os tomates mais baratos da feira. (E exatamente por isso nem sempre são vistos com bons olhos). Os filósofos não se interessam muito por essas coisas efêmeras e cotidianas. Eles tentam mostrar o que é eternamente verdadeiro, eternamente belo e eternamente bom. GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, p. 98. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria das idéias de Platão, assinale a alternativa correta. A) Para Platão, o mundo das idéias é o mundo do eternamente verdadeiro, eternamente belo e eternamente bom e é distinto do mundo sensível no qual vivemos. B) Platão considerava que tudo aquilo que pode ser percebido diretamente pelos sentidos constitui a própria realidade das coisas. C) Platão considerava impossível que o homem pudesse ter idéias verdadeiras sobre qualquer coisa, seja sobre a natureza, a moral ou a sociedade, porque tudo é sonho e ilusão. D) Para Platão, as idéias sobre a natureza, a moral e a sociedade podem ser explicadas a partir das diferentes opiniões das pessoas. E) De acordo com Platão, o filósofo deve preocupar-se com as coisas efêmeras e cotidianas do mundo, tidas por ele como as mais importantes. QUESTÃO 04: (UEL Dez/2005) Quando é, pois, que a alma atinge a verdade? Temos de um lado que, quando ela deseja investigar com a ajuda do corpo qualquer questão que seja, o corpo, é claro, a engana radicalmente. - Dizes uma verdade. - Não é, por conseguinte, no ato de raciocinar, e não de outro modo, que a alma apreende, em parte, a realidade de um ser? - Sim. [...] - E é este então o pensamento que nos guia: durante todo o tempo em que tivermos o corpo, e nossa alma estiver misturada com essa coisa má,

52 jamais possuiremos completamente o objeto de nossos desejos! Ora, esse objeto é, como dizíamos, a verdade. PLATÃO. Fédon. Trad. Jorge Paleikat e João Cruz Costa. São Paulo: Nova Cultural, p Com base no texto e nos conhecimentos sobre a concepção de verdade em Platão, é correto afirmar: A) O conhecimento inteligível, compreendido como verdade, está contido nas idéias que a alma possui. B) A verdade reside na contemplação das sombras, refletidas pela luz exterior e projetadas no mundo sensível. C) A verdade consiste na fidelidade, e como Deus é o único verdadeiramente fiel, então a verdade reside em Deus. D) A principal tarefa da filosofia está em aproximar o máximo possível a alma do corpo para, dessa forma, obter a verdade. E) A verdade encontra-se na correspondência entre um enunciado e os fatos que ele aponta no mundo sensível. QUESTÃO 05: (UEL Dez/2005) Efectivamente, um bom poeta, se quiser produzir um bom poema sobre o assunto que quer tratar, tem de saber o que vai fazer, sob pena de não ser capaz de o realizar. Temos, pois, de examinar se essas pessoas não estão a ser ludibriadas pelos imitadores que se lhes depararam, e, ao verem as suas obras, não se apercebem de que estão três pontos afastados do real, pois é fácil executá-las mesmo sem conhecer a verdade, porquanto são fantasmas e não seres reais o que eles representam; ou se tem algum valor o que eles dizem, e se, na realidade, os bons poetas têm aqueles conhecimentos que, perante a maioria, parecem expor tão bem. PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. 7. ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, s.d., p Com base no texto e nos conhecimentos sobre a mímesis em Platão, considere as afirmativas a seguir. I- Platão faz críticas aos poetas que imitam o que não conhecem e dão ouvidos à multidão ignorante, permanecendo, dessa forma, distantes três graus da verdade representada pela idéia.

53 II- Apesar de criticar a poesia imitativa, Platão abre uma exceção para Homero, por considerar a totalidade da sua poesia como materialização plena da verdade em primeiro grau e, portanto, benéfica para a educação dos cidadãos. III- Escrever um bom poema implica seguir uma determinada métrica e os conhecimentos do mundo sensível, representando os homens iguais, melhores ou piores do que eles são. IV- Por não estarem em sintonia com a cidade ideal, Platão exclui os poetas que se limitam somente à arte de imitar e, por esse motivo, ao visitarem a cidade, serão aconselhados a seguir adiante. Estão corretas apenas as afirmativas: A) I e IV. B) II e III. C) III e IV. D) I, II e III. E) I, II e IV. φ EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES QUESTÃO 01: (UFU Jul/1999) A opinião (doxa, em grego), no pensamento de Platão ( a.c.) representa um saber sem fundamentação metódica. É um saber que possui sua origem A) nos mitos religiosos, lendas e poemas da Grécia arcaica. B) nas impressões ou sensações advindas da experiência sensível. C) no discurso dos sofistas na época da democracia ateniense. D) num saber eclético, proveniente de algumas idéias dos filósofos pré-socráticos. QUESTÃO 02: (UFU Jan/2000) A Alegoria da Caverna de Platão, além de ser um texto de teoria do conhecimento, é também um texto político. No sentido político, é correto afirmar que Platão sustentava um modelo

54 A) monárquico, cujo governo deveria ser exercido por um filósofo e cujo poder deveria ser absoluto, centralizador e hereditário. B) aristocrático, baseado na riqueza e que representava os interesses dos comerciantes e nobres atenienses, por serem eles os mecenas das artes, das letras e da filosofia. C) democrático, baseado, principalmente, na experiência política de governo da época de Péricles. D) aristocrático, cujo governo deveria ser confiado aos melhores em inteligência e em conduta ética. QUESTÃO 03: (UFU Jul/2000) Sobre a alegoria da caverna de Platão pode-se afirmar que A) o filósofo deve ter uma vida exclusivamente contemplativa. B) a educação do filósofo visa também à atividade política. C) os sentidos são fundamentais para o conhecimento. D) qualquer um pode encontrar em si mesmo, pela intuição, a luz para o conhecimento. QUESTÃO 04: (UFU Jul/2001) Mas a faculdade de pensar é, ao que parece, de um caráter mais divino, do que tudo o mais; nunca perde a força e, conforme a volta que lhe derem, pode tornar-se vantajosa e útil, ou inútil e prejudicial. Ou ainda não te apercebeste como a deplorável alma dos chamados perversos, mas que na verdade são espertos, tem um olhar penetrante e distingue claramente os objectos para os quais se volta, uma vez que não tem uma vista fraca, mas é forçado a estar a serviço do mal, de maneira que, quanto mais aguda for sua visão, maior é o mal que pratica? Platão, A República, trad. Maria Helena Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987, 518e-519a A partir da leitura do texto acima, é correto afirmar que, para Platão,

55 A) a faculdade de pensar necessita da educação, para que, assim, a vista mais penetrante alcance, pela luz, a visão do que deve ser conhecido. B) o conhecimento para esse filósofo só depende da capacidade visual daquele que conhece. C) a natureza, favorecendo alguns, diferencia os mais aptos, e é unicamente por esta distinção que se devem estabelecer os governantes da cidade. D) os homens com maior capacidade de pensar jamais praticam o mal, pois descobrem, por si mesmos, a diferença entre o justo e o injusto. QUESTÃO 05: (UFU Set/2002) Mas quem fosse inteligente ( ) lembrar-se-ia de que as perturbações visuais são duplas, e por dupla causa, da passagem da luz à sombra, e da sombra à luz. Se compreendesse que o mesmo se passa com a alma, quando visse alguma perturbada e incapaz de ver, não riria sem razão, mas reparava se ela não estaria antes ofuscada por falta de hábito, por vir de uma vida mais luminosa, ou se, por vir de uma maior ignorância a uma luz mais brilhante, não estaria deslumbrada por reflexos demasiadamente refulgentes [brilhantes]; à primeira, deveria felicitar pelas suas condições e pelo seu gênero de vida; da segunda, ter compaixão e, se quisesse troçar dela, seria menos risível esta zombaria do que aquela que descia do mundo luminoso. A República, 518 a-b, trad. Maria Helena da Rocha Pereira, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, Sobre este trecho do livro VII de A República de Platão, é correto afirmar. I- A condição de quem vive nas sombras é digna de compaixão. II- O filósofo, sendo aquele que passa da luz à sombra, não tem problemas em retornar às sombras. III- O trecho estabelece uma relação entre o mundo visível e o inteligível, fundada em uma comparação entre o olho e a alma. IV- No trecho, é afirmado que o conhecimento não necessita de educação, pois quem se encontraria nas sombras facilmente se acostumaria à luz.

56 Marque a alternativa que contém todas as afirmações corretas. A) II e III B) I e IV C) I e III D) III e IV QUESTÃO 06: (UFU Fev/2003) ( ) Que pensamentos então que aconteceria, disse ela, se a alguém ocorresse contemplar o próprio belo, nítido, puro, simples, e não repleto de carnes, humanas, de cores e outras muitas ninharias mortais, mas o próprio divino belo pudesse em sua forma única contemplar? Porventura pensas, disse, que é vida vã a de um homem olhar naquela direção e aquele objeto, com aquilo [a alma] com que deve, quando o contempla e com ele convive? Ou não consideras, disse ela, que somente então, quando vir o belo com aquilo com que este pode ser visto, ocorrer-lhe-á produzir não sombras de virtude, porque não é em sombras que estará tocando, mas reais virtudes, porque é no real que estará tocando? Platão. O Banquete. Trad. José Cavalcante de Souza. São Paulo: Abril Cultural, 1979, pp A partir do trecho de Platão, analise as assertivas abaixo: I O belo verdadeiro para Platão encontra-se no conhecimento obtido pela observação das coisas humanas. II A contemplação do belo puro e simples é atingida por meio da alma. III Cores e sombras são virtudes reais, visto que se possa, ao tocar nelas, tocar no próprio real. IV Há, como na Alegoria da Caverna, uma relação direta para Platão entre o conhecimento e a virtude. Assinale a alternativa que contém as assertivas corretas.

57 A) I e II são corretas. B) II e IV são corretas. C) III e IV são corretas. D) I, II e III são corretas. QUESTÃO 07: (UFU Jul/2003) Todo aquele que ama o saber conhece por experiência que, quando a filosofia toma conta de uma alma, vai encontrá-la prisioneira do seu corpo, totalmente grudada a ele. Vê que, impelida a observar os seres, não em si e por si, mas por meio desse seu caráter, paira por isso na mais completa ignorância. Mas mais se dá ainda conta do absurdo de tal prisão: é que ela não tem outra razão de ser senão o desejo do próprio prisioneiro, que é assim levado a colaborar da maneira mais segura, no seu próprio encarceramento. Platão, Fédon. Trad. Maria Tereza S. de Azevedo. Brasília: UnB, 2000, p. 66. Após analisar o texto acima, assinale a alternativa correta. A) A ignorância é fruto da observação do que é em si e por si. B) A filosofia para Platão é inata, não sendo necessário nenhum esforço de quem a ela se dedica para obtê-la. C) A alma encontra-se prisioneira do corpo por desejo do próprio homem. D) A alma do filósofo encontra-se desde o início liberta dos entraves do corpo como o demonstram, claramente, a Alegoria da Caverna e o texto acima. QUESTÃO 08: (UFU Abr/2006) Supõe então uma linha cortada em duas partes desiguais; corta novamente cada um desses segmentos segundo a mesma proporção, o da espécie visível e o da inteligível...

58 PLATÃO. A República, (509e). Lisboa: Calouste Gulbenkian, O seguinte diagrama, conhecido como símile da linha, representa a descrição que é feita na citação acima da República, na qual Platão distingue o mundo inteligível do mundo visível. Escolha a alternativa que melhor explica o esquema da Linha dividida. A) O segmento ADC representa a realidade inteligível e se divide em opiniões filosóficas e Idéias. O segmento CEB representa o mundo visível e se divide em percepções e sensações. B) O segmento ADC representa a realidade e as imagens míticas. O segmento CEB representa a realidade filosófica e as matemáticas, que usam as percepções sensíveis e as Formas. C) O segmento ADC refere-se às imagens e às coisas visíveis, que geram a suposição e a opinião. O segmento CEB corresponde ao inteligível e às Formas, apreendidas pelo pensamento e intelecção. D) O segmento CEB corresponde à proporção entre coisas visíveis e coisas invisíveis que compõem o mundo. O segmento ADC representa as Idéias, que são imitações e imagens do mundo visível e compõem o mundo inteligível. QUESTÃO 09: UFU/PAIES (2ª Etapa ) a) É que tu julgas que os pastores ou os guardadores de boi velam pelo bem das ovelhas ou dos bois, e que os engordam e tratam deles com outro fim em vista que não seja o bem dos patrões ou o próprio. E mesmo que os que governam os Estados, aqueles que governam de verdade, supões que as suas disposições para com os governados são diferentes das que se têm pelos carneiros, e que velam por outra coisa, dia e noite, que não seja tirarem proveito deles? E és tão profundamente versado em questões de justo e justiça, de injusto e injustiça, que desconheces serem a justiça e o justo um bem alheio, que na verdade consiste na vantagem do mais forte

59 e de quem governa, e que é próprio de quem obedece e serve ter prejuízo; enquanto a injustiça é o contrário, e é quem manda nos verdadeiramente ingênuos e justos; e os governados fazem o que é vantajoso para o mais forte e, servindo-o, tornam-no feliz a ele, mas de modo algum a si mesmos. (Rep.343b-d) b) Quando tiverem cinqüenta anos, os filósofos que sobreviverem e se tiverem evidenciado, em tudo e de toda a maneira, no trabalho e na ciência, deverão ser já levados até o limite, e forçados a inclinar a luz radiosa da alma para a contemplação do Ser que dá luz para todas as coisas. Depois de terem visto o bem em si, eles vão utilizá-lo como modelo, para ordenar a cidade, os cidadãos e a si mesmos, cada um por sua vez, para o resto da vida, mas consagrando a maior parte dela à filosofia; porém, quando chegar a vez deles, agüentarão os embates da política, e assumirão cada um deles a chefia do governo, por amor à cidade, fazendo assim, não porque é bonito, mas porque é necessário. (Rep. 540a-b) PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 1994, p.40. Os textos acima citados são extraídos do diálogo A República de Platão. O primeiro trecho é uma fala do sofista Trasímaco. O segundo, é uma fala de Sócrates. Esta fala encontra-se no final de sua exposição sobre a educação do filósofo, iniciada com a Alegoria da Caverna. Os textos apresentam visões opostas sobre a conduta e a finalidade dos governantes. Explique, a partir da análise destes trechos, o que Platão critica no primeiro texto e por que ele defende o segundo. QUESTÃO 10: (UFU Jan/2001) "Fica sabendo que o que transmite verdade aos objetos que podem ser conhecidos e dá ao sujeito que conhece esse poder, é a idéia do bem. Entende que é ela a causa do saber e da verdade, na medida em que esta é conhecida, mas, sendo ambos assim belos, o saber e a verdade, terás razão em pensar que há algo de mais belo ainda do que eles. E, tal como se pode pensar corretamente que neste mundo a luz e a vista são semelhantes ao sol, mas já não é certa tomá-las como pelo sol, da mesma maneira, no outro, é correto considerar a ciência e a verdade, ambas elas semelhantes ao bem, mas não está certo tomá-las, a uma ou a outra, pelo bem, mas sim formar um conceito mais elevado do que seja o bem."

60 Platão. A República, 5. ed, tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. Porto: Fundação Calouste Gulbenkian, e 509a) A partir da análise do trecho acima pergunta-se: para Platão a verdade do conhecimento necessita ou não de uma norma superior? Justifique a resposta explicando a analogia que Platão estabelece entre o inteligível e o sensível. GABARITO PROPOSTOS SEMANA 01: 1- D; 2- C; 3- C; 4- D; 5- D SEMANA 02: 1- A; 2- B; 3- A; 4- B; 5- C SEMANA 03: 1- B; 2- B; 3- B; 4- D; 5- C SEMANA 04: 1- B; 2- B; 3- A; 4- A; 5- A GABARITO COMPLEMENTARES SEMANA 01: 1- B; 2- D; 3- C; 4- C; 5- B; 6- D; 7- D SEMANA 02: 1- A; 2- B; 3- C; 4- D; 5- A; 6- D; 7- A; 8- B; 9- D; 10- A SEMANA 03: 1- A; 2- D; 3- A; 4- F, V, V, F; 5- V, V, F, F; 6- F, V, V, V; 7- V, F, V, F SEMANA 04: 1- A; 2- D; 3- B; 4- A; 5- C; 6- B; 7- C; 8- C MATERIAL FILOSOFIA TERCEIRO COLEGIAL: MÓDULO 1 C: RENÉ DESCARTES E DAVID HUME. RENÉ DESCARTES ( ) René Descartes nasceu em La Haye, na França, filho de burgueses. Estudou no colégio jesuíta de La Flèche, instituição de bastante renome, o que lhe deu respaldo para sua crítica ao método escolástico. Vejamos de que

61 pressupostos parte o autor para a construção do seu pensamento: Inexiste no mundo coisa mais bem distribuída que o bom senso, visto que cada indivíduo acredita ser tão bem provido dele que mesmo os mais difíceis de satisfazer em qualquer outro aspecto não costumam desejar possuí-lo mais do que já possuem. E é improvável que todos se enganem a esse respeito; mas isso é antes uma prova de que o poder de julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso, que é justamente o que é denominado bom senso ou razão, é igual em todos os homens; e, assim sendo, de que a diversidade de nossas opiniões não se origina do fato de serem alguns mais racionais que outros, mas apenas de dirigirmos nossos pensamentos por caminhos diferentes e não considerarmos as mesmas coisas. Pois é insuficiente ter o espírito bom, o mais importante é aplica-lo bem. As maiores almas são capazes dos maiores vícios, como também das maiores virtudes, e os que só andam muito devagar podem avançar bem mais, se continuarem sempre pelo caminho reto, do que aqueles que correm e dele se afastam. (DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2004, p. 35). Da passagem acima, tiramos algumas idéias importantes: - Razão: sinônimo de bom senso, é o poder de julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso. - Diversidade de opiniões: deve-se ao fato de tomarmos caminhos (métodos) diferentes, e de não considerarmos as mesmas coisas. - A razão humana é universal. É por causa do pressuposto de que a razão humana é universal que Descartes busca conceber um método (caminho) que permita bem conduzir a mesma, para se chegar a conhecimentos seguros. Seu método é composto de quatro regras somente, as quais ele julga suficientes. O primeiro preceito do seu método era o de nunca aceitar algo como verdadeiro que não conhecesse claramente como tal, ou seja, consiste em duvidar de tudo até que algo se mostre claro e evidente à razão, e aqui nota-se os critérios de verdade para Descartes: clareza e evidência. O segundo consistia em repartir cada uma das dificuldades que [...] analisasse em tantas parcelas quantas fossem possíveis e necessárias a fim de melhor solucioná-las. A essa segunda etapa se denomina análise, nome que é utilizado na química. O terceiro o de conduzir por ordem meus pensamentos, iniciando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para elevar-me, pouco a pouco, como galgando degraus, até o conhecimento dos mais compostos [...]. A esta etapa denomina-se síntese. Por fim, o quarto e último preceito consistia em efetuar em toda parte relações metódicas e revisões tão gerais nas quais eu tivesse a certeza de nada omitir. Para o autor, o conhecimento a que se chegasse após seguir devidamente as quatro etapas seria totalmente seguro. Seguindo os preceitos acima o indivíduo conseguiria evitar dois vícios da alma apontados por Descartes como inimigos do conhecimento: a precipitação e a prevenção. Por precipitação compreendemos aqui a postura daquele que salta etapas que podem ser importantes em busca de atingir o conhecimento mais rapidamente, e podemos afirmar que isso é fruto do excesso de confiança. Ao contrário, a prevenção é o vício que conduz aquele que se dedica ao conhecimento a duvidar de sua capacidade de atingi-lo. Todos nós já dissemos ou ouvimos alguém dizer sobre um determinado assunto: isso não entra na minha cabeça! Essa é a típica atitude preventiva com relação ao conhecimento. A utilização do método conduz o ser humano a um conhecimento seguro, o que dissipa as possibilidades de prevenção.

62 Ao buscar utilizar seu método, o autor deve necessariamente cumprir a primeira regra. E é assim, colocando em suspenso tudo em que até então acreditava, que Descartes chega à primeira verdade indubitável de sua filosofia, a saber, o cogito ergo sum, que significa penso, logo existo. Isso ele faz em suas Meditações sobre Filosofia Primeira, e podemos acompanhar razoavelmente seu raciocínio. A primeira coisa que é pelo autor colocada em dúvida são os sentidos. Ora, notei que os sentidos às vezes enganam e é prudente nunca confiar completamente nos que, seja uma vez, nos enganaram. A essa dúvida, porém, Descartes coloca um limite, afirmando que de algumas coisas que os sentidos nos mostram torna-se difícil duvidar, como, por exemplo, que agora estou aqui, sentado junto ao fogo, vestindo esta roupa de inverno, tendo este papel às mãos e coisas semelhantes. Nota-se que se torna difícil duvidar da existência do próprio corpo. Descartes ultrapassa esse limite ao afirmar: com freqüência o sono noturno não me persuadiu dessas coisas usuais, isto é, que estava aqui, vestindo esta roupa, sentado junto ao fogo, quando estava, porém, nu, deitado entre as cobertas. Assim, colocando o argumento da dificuldade que existe em separar vigília de sonho, ele mostra a possibilidade de duvidar da própria existência corpórea. Porém, novamente o autor impõe um limite para sua dúvida, quando escreve que esteja eu acordado ou dormindo, dois e três juntos são cinco e o quadrado não tem mais que quatro lados. Com isso ele quer dizer que existem certas relações no mundo, que estejamos vigiando ou dormindo, são sempre as mesmas, o que torna difícil delas se poder duvidar. Ele porém ultrapassa esse limite com o seguinte argumento: Suporei, portanto, que não há um Deus ótimo, fonte soberana da verdade, mas algum gênio maligno, e ao mesmo tempo, sumamente poderoso e manhoso, que põe toda a sua indústria em que me engane: pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas externas nada mais são do que ludíbrios dos sonhos, ciladas que ele estende à minha credulidade. (DESCARTES, René. Meditações. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1999, p. 255) Ao supor a existência de um tal ente, que podemos comparar à Matrix contemporânea, Descartes escapa de qualquer limite para sua dúvida, e é por isso que a mesma é chamada hiperbólica, exagerada. Para garantir a possibilidade de conhecimento verdadeiro, o autor deverá refutar seu argumento mais forte para a dúvida, que é o do gênio maligno, e é isso que ele fará nas demais meditações, provando a existência de um Deus perfeito, que por assim ser, jamais poderia ser enganador. É porém, duvidando radicalmente de tudo que Descartes chega ao cogito, e a afirmação que enuncia essa verdade indubitável é a seguinte: Não há dúvida, portanto, de que eu, eu sou, também, se me engana: que me engane o quanto possa, nunca poderá fazer, porém, que eu nada seja, enquanto eu pensar que sou algo. Essa é, então, a primeira verdade a que chega o autor. Por sua descrença nos sentidos, Descartes recebe grosseiramente o rótulo de racionalista, ou seja, daquele que acredita que se conheça verdadeiramente tão somente por meio da razão. Porém ele admite a existência de idéias que nos vêm dos sentidos, às quais denomina adventícias, porém, por nos enganarem algumas vezes, não são dignas de confiança. Existem também as idéias que ele chama de fictícias, que são aquelas formadas por nossa imaginação, utilizando as anteriores. Conhecimento verdadeiro, livre de engano, entretanto, só se tem através das idéias inatas, que ele denomina a marca do Criador na criatura. As idéias de Deus e dos entes matemáticos são desse tipo, e é nas idéias com as quais nascemos que

63 devemos confiar plenamente. Podemos, evidentemente, notar extrema semelhança entre as idéias inatas de Descartes e as idéias imutáveis de Platão, podendo ser colocados ambos grosseiramente sob o rótulo que utilizamos de idealistas, ou seja, daqueles que acreditam no conhecimento através das idéias. Resumindo: aplicação o método Todos os homens são dotados de razão, porém chegam a resultados diferentes, por isso há necessidade de estabelecer um método. Descartes estabelece, então, as 4 regras do método que são: Evidência: algo só deve ser aceito como verdadeiro se se mostrar claro e evidente (indubitável) Análise: dividir as dificuldades em tantas partes quantas forem necessárias para melhor resolvê-las. Síntese: ordenar os pensamentos partindo dos objetos mais simples para os mais complexos. Revisão/ Enumeração: realizar relações tão completas e revisões tão gerais que se tivesse certeza de nada omitir Aplicação do método: 1º Passo: Dúvida metódica para chegar à evidência (1ª regra do método). Para chegar a um princípio indubitável Descartes utiliza a dúvida metódica, sendo que duvida primeiramente dos sentidos (pois eles nos enganam); depois se questiona sobre a vigília (como sei que estou acordado e não dormindo); em seguida duvida da própria natureza corpórea. O filósofo francês começa a duvidar de tudo o que possa gerar o mínimo de questionamento (dúvida hiperbólica exagerada). Contudo chega um ponto em que não pode duvidar de uma coisa: de que duvida, sendo que esta é um pensamento. Desse modo, formulou-se o primeiro princípio indubitável: Penso, logo existo. Que é a EVIDÊNCIA. 2º Passo: Agora que encontrou um princípio indubitável (Penso, logo existo), deve buscar o conhecimento verdadeiro a partir dele. Dessa forma, Descartes passa a analisar o próprio pensamento (o qual se torna o objeto a ser conhecido). Aplica então a ANÁLISE, dividindo o pensamento em tantas partes quantas forem possíveis, as quais chamou idéias. Observe a seguir as idéias que constituem as partes do pensamento para Descartes: AS IDÉIAS Idéias adventícias: oriundas das percepções sensíveis, por isso são passíveis de dúvida.

64 Idéias fictícias: formadas por nossa imaginação a partir das idéias adventícias. Podemos compará-las a montagens feitas pela imaginação. Idéias inatas: marcas de Deus no homem. Nascemos com elas, por isso são verdadeiras e correspondem ao real. Ex. idéias de Deus, matemáticas. 3º Passo: Agora que dividiu o objeto (pensamento), deve partir do mais simples para o mais complexo (SÍNTESE), isto é, das idéias inatas (puro pensamento, então mais simples), depois as adventícias (são mediatas, pois entre a razão e o objeto da experiência sensível temos os sentidos como mediadores) e, por fim, as fictícias (as quais são mais complexas por serem montagens feitas a partir das idéias adventícias). 4º Passo: Aplica então a REVISÃO ou ENUMERAÇÃO, na qual vai tomar as idéias inatas (que são verdadeiras e indubitáveis por serem puro pensamento) para avaliar as outras. Percebendo, então, que as adventícias podem ser verdadeiras ou falsas (pois os sentidos podem me enganar) e as fictícias são falsas (são montagens feitas a partir das adventícias, e não das inatas) DAVID HUME ( ) Nasceu em Edimburgo, na Escócia, e estudou Filosofia, Direito e Comércio. Realizou várias viagens, nas quais conheceu pensadores como Adam Smith e Jean-Jacques Rousseau. Foi, dentro da história da Filosofia, um dos maiores representantes da corrente chamada empirismo, que vem do termo grego empeiria, que quer dizer experiência. Fez talvez a mais radical crítica à Metafísica Clássica (Parte da Filosofia que estuda o Ser e suas causas, segundo Aristóteles), questionando noções como a de causalidade e substância. Vejamos, através de um trecho do próprio autor, quais são os pressupostos de seu pensamento. Cada um admitirá prontamente que há uma diferença considerável entre as percepções do espírito, quando uma pessoa sente a dor do calor excessivo ou o prazer do calor moderado, e quando depois recorda em sua memória esta sensação ou a antecipa por meio de sua imaginação.[...] Podemos, por conseguinte, dividir todas as percepções do espírito em duas classes ou espécies, que se distinguem por seus diferentes graus de força e de vivacidade. As menos fortes ou menos vivas são geralmente denominadas pensamentos ou idéias.[...] Pelo termo impressão, entendo, pois, todas as nossas percepções mais vivas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos ou queremos.[...] Parece que esta proposição não admitirá muita controvérsia: todas as nossas idéias são cópias das impressões[...]. (HUME. D. Investigação acerca do entendimento humano. In. HUME. Tradução de Anoar Aiex. São Paulo: Nova Cultural, 2004, p ) Os trechos acima podem enganar-nos, demonstrando falsa simplicidade. Entretanto, o que é importante que fique bem entendido no raciocínio do autor é o

65 limite que este impõe à nossa possibilidade de conhecer, quando coloca como única porta de entrada para a nossa mente o acesso a ela dado pelos sentidos. Explorando o texto conclui-se que, para Hume, não exista idéia em nossa mente que não tenha entrado pelos sentidos, teoria essa já defendida anteriormente por filósofos como Aristóteles. Nascemos, então, para o autor, como folhas em branco, nas quais, através dos dados sensoriais, vão sendo impressas informações sobre o mundo. Nesse sentido, nota-se enorme diferença entre as teorias de Hume e Descartes, sendo que para o segundo existem idéias que existem em nossa mente que não adentraram pelos sentidos, que são denominadas inatas, e inclusive só elas são verdadeiramente confiáveis. Para Hume, confiáveis ou não, as idéias fornecidas pelos sentidos são nosso único acesso à realidade e ao conhecimento, que, assim sendo, será bem mais limitado que para Descartes. O gráfico de Hume é simples: dois tipos de percepções, ou seja, de formas de perceber o mundo, diferenciadas simplesmente pelo grau de força e vivacidade com que nos afetam. Às mais fortes, que são provenientes dos sentidos ou dos sentimentos que possuímos, dá-se o nome de impressões. Às mais fracas, cópias das primeiras, chama-se idéias. As segundas agrupam-se em nossa mente em duas faculdades, como também foi afirmado no texto, uma de recordação, denominada memória, outra de antecipação, que recebe o nome de imaginação. O interessante é que o fato de uma idéia estar em uma ou em outra faculdade não é responsabilidade da própria faculdade, mas da forma mesmo de se relacionar das idéias. Assim, se uma idéia ainda está muito forte em minha mente, a ponto de ao buscá-la, outras que se encontram ligadas a ela lhe venham junto, esta encontra-se no campo da memória. Porém, se existe uma idéia em minha mente que já se encontra, de tão fraca, completamente solta que não a ligo mais à impressão que a originou, esta encontra-se no campo da imaginação. É por isso que o autor afirma que: [...] embora o nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, verificaremos, através de um exame mais minucioso, que ele está realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência. Quando pensamos numa montanha de ouro, apenas unimos duas idéias compatíveis, ouro e montanha, que outrora conhecêramos. (HUME. D. Investigação acerca do entendimento humano. In. HUME. Tradução de Anoar Aiex. São Paulo: Nova Cultural, 2004, p. 36) É pela radicalidade com que Hume defende sua teoria do conhecimento que ele será, naturalmente, levado a criticar algumas noções correntes da Metafísica de sua época. O tipo de conhecimento que é possível segundo os pressupostos do autor é o chamado indutivo, grosso modo, o que parte das experiências particulares para leis gerais. Tal tipo de conhecimento jamais pode levar a conhecimento verdadeiro, mas somente provável. Sendo imposto pelo autor um limite tão grande à nossa capacidade de conhecer, ele é levado, por exemplo, a questionar a noção de causalidade (causa e efeito). Se o que possuímos são experiências particulares e subjetivas (relativas ao sujeito), podese e deve-se questionar como se chega à afirmação de que sempre determinada causa leva a determinado efeito. Que o sol tenha nascido até hoje, enquanto vivi, é fato verdadeiro, que nascerá amanhã, porém, é apenas bastante provável, pois bem pode ocorrer, e sabemos disso, que não nasça. Ao se comprar na verduraria uma banana madura, se ela vem a ficar podre, dizemos que aquela banana apodreceu. Nada há, aparentemente, que nos permita dizer que uma banana madura é a mesma

66 coisa que uma banana podre, a não ser que recorramos à noção da metafísica aristotélica que chamamos substância, ou seja, que afirmemos que a tal fruta possui uma banalidade que não se modifica. Pelo método de conhecimento proposto por Hume, porém, se as idéias de causalidade e substância, assim como outras da Metafísica, correspondessem a algo existente, deveríamos evidentemente encontrar as impressões que lhes deram origem. Isso porém não ocorre. Refuta-se o autor, como ele mesmo afirma, de maneira muito fácil: basta mostrar uma só idéia que esteja em nossa mente e que não possua sua fonte nos sentidos. Ele próprio analisa a idéia de Deus, e conclui que a mesma é uma idéia complexa, formada por um conjunto de idéias simples, como bondade e sabedoria, cada uma advindo de uma impressão. Assim, as idéias acima citadas, de substância e causalidade também, se não correspondem a impressões reais que lhes deram origem, só podem ser fruto de nossa imaginação. Analisando um trecho em que trata da causalidade, podemos ver como tais noções metafísicas se formam em nossa mente. [...] como o espírito tem encontrado em numerosos casos que dois gêneros quaisquer de objetos a chama e o calor, a neve e o frio sempre têm estado em conjunção, se, de novo, a chama ou a neve se apresentassem aos sentidos, o espírito é levado pelo costume a esperar calor ou frio, e a acreditar que esta qualidade existe realmente e que se manifestaria se estivesse mais próxima de nós. (HUME. D. Investigação acerca do entendimento humano. In. HUME. Tradução de Anoar Aiex. São Paulo: Nova Cultural, 2004, p. 64) Pela citação podemos entender como, para David Hume, é possível o aparecimento de certas noções metafísicas em nossa mente: estas são geradas pelo costume, que chamamos também de hábito, que criamos ao ver que a certos eventos seguem-se outros, uma espécie de ilusão ou crença, que faz com que acreditemos, por exemplo, que o sol nascerá sempre, pelo simples fato de ter nascido até hoje. Os limites que o autor impõe ao conhecimento retiram qualquer possibilidade de universalidade e de necessidade nas ciências, e vieram a causar o que se chama de A Grande Crise da Metafísica. O mérito de Hume é, porém, o de ter abalado as bases do dogmatismo que imperava até então na filosofia. φ EXERCÍCIOS PROPOSTOS QUESTÃO 01: (UEL Jan/2005) Tomemos [...] este pedaço de cera que acaba de ser tirado da colméia: ele não perdeu ainda a doçura do mel que continha, retém ainda algo do odor das flores de que foi recolhido; sua cor, sua figura, sua grandeza, são patentes; é duro, é frio, tocamo-lo e, se nele batermos, produzirá algum som. Enfim, todas as coisas que podem distintamente fazer conhecer um corpo encontram-se neste. Mas eis que, enquanto falo, é aproximado do fogo: o que nele restava de sabor exala-se, o odor se esvai, sua cor se modifica, sua figura se altera, sua grandeza aumenta, ele torna-se líquido, esquenta-se, mal o podemos tocar e, embora nele batamos, nenhum som produzirá. A mesma cera permanece após essa modificação? Cumpre confessar que permanece: e ninguém o pode negar. O que é, pois, que se conhecia deste pedaço de cera com tanta distinção? Certamente não pode ser nada de tudo o que notei nela por intermédio dos sentidos, visto que todas as coisas que se apresentavam ao paladar, ao olfato, ou à visão, ou

67 ao tato, ou à audição, encontravam-se mudadas e, no entanto, a mesma cera permanece. DESCARTES, René. Meditações. Trad. de Jacó Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, p Com base no texto, é correto afirmar que para Descartes: A) Os sentidos nos garantem o conhecimento dos objetos, mesmo considerando as alterações em sua aparência. B) A causa da alteração dos corpos se encontra nos sentidos, o que impossibilita o conhecimento dos mesmos. C) A variação no modo como os corpos se apresentam aos sentidos revela que o conhecimento destes excede o conhecimento sensitivo. D) A constante variação no modo como os corpos se apresentam aos sentidos comprova a inexistência dos mesmos. E) A existência e o conseqüente conhecimento dos corpos têm como causa os sentidos. QUESTÃO 02: (UEL Dez/2006) Tendo por base o método cartesiano da dúvida, é correto afirmar que: A) Este método visa a remover os preconceitos e opiniões preconcebidas e encontrar uma verdade indubitável. B) Ao engendrar a dúvida hiperbólica, o objetivo de Descartes era provar que suas antigas opiniões, submetidas ao escrutínio da dúvida, eram verdadeiras. C) A dúvida hiperbólica é engendrada por Descartes para mostrar que não podemos rejeitar como falso o que é apenas dubitável. D) Só podemos dar assentimento às opiniões respaldadas pela tradição. E) A dúvida metódica surge, no espírito humano, involuntariamente. QUESTÃO 03: (UEL Dez/2006) E, notando que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de abalar. Fonte: DESCARTES, R. Discurso do Método. Tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 46.

68 Com base na citação acima e nos conhecimentos sobre Descartes, assinale a alternativa correta. A) Para Descartes, é mais fácil conhecer o corpo que a alma. B) Descartes estabelece que a alma tem uma natureza puramente intelectual. C) Segundo Descartes, a verdade da res extensa percebe a verdade da res cogitans. D) O eu penso, logo existo revela a perspectiva cartesiana em considerar primeiramente aquilo que é complexo. E) A união da alma e do corpo revela que eles possuem a mesma substância. QUESTÃO 04: (UEL Dez/2005) Se um objeto nos fosse apresentado e fôssemos solicitados a nos pronunciar, sem consulta à observação passada, sobre o efeito que dele resultará, de que maneira, eu pergunto, deveria a mente proceder nessa operação? Ela deve inventar ou imaginar algum resultado para atribuir ao objeto como seu efeito, e é obvio que essa invenção terá de ser inteiramente arbitrária. O mais atento exame e escrutínio não permite à mente encontrar o efeito na suposta causa, pois o efeito é totalmente diferente da causa e não pode, conseqüentemente, revelar-se nela. HUME, David. Investigações sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: UNESP, p Com base no texto e nos conhecimentos sobre o empirismo de David Hume, é correto afirmar: A) O efeito de uma causa é assegurado pela demonstração racional que, a priori, seleciona as possíveis conseqüências decorrentes dos objetos empiricamente aprendidos. B) A causa revela pela sua própria natureza, independentemente da experiência e da razão, os efeitos que é capaz de produzir. C) A razão é apta para relacionar as causas aos seus respectivos efeitos, uma vez que a vinculação entre causa e efeito é assegurada pelo princípio de identidade. D) A descoberta do efeito de um objeto ocorre mediante a experiência, que assegura uma relação entre a causa e o efeito, porém desconhece a necessidade que os vincula. E) A conexão entre causa e efeito é fundamentada pela indução, a partir da constatação de que as observações passadas ocorrerão de forma semelhante no futuro. QUESTÃO 05: (UEL Dez/2006)

69 Assim como a natureza ensinou-nos o uso de nossos membros sem nos dar o conhecimento dos músculos e nervos que os comandam, do mesmo modo ela implantou em nós um instinto que leva adiante o pensamento em um curso correspondente ao que ela estabeleceu para os objetos externos, embora ignoremos os poderes e as forças dos quais esse curso e sucessão regulares de objetos totalmente dependem. Fonte: HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. Tradução de José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Editora UNESP, 1999, p Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria do conhecimento de Hume, assinale a alternativa correta: A) Para Hume, o princípio responsável por nossas inferências causais chama-se instinto de autoconservação. B) Entre o curso da natureza e o nosso pensamento não há qualquer correspondência. C) Na teoria de Hume, a atividade mental necessária à nossa sobrevivência é garantida pelo conhecimento racional das operações da natureza. D) O instinto ao qual Hume se refere chama-se hábito ou costume. E) Segundo Hume, são raciocínios a priori que garantem o conhecimento das questões de fato. MÓDULO 2 C: KANT: TEORIA DO CONHECIMENTO E ÉTICA. TEORIA DO CONHECIMENTO ImmanueI Kant ( ) Nasceu em Konigsberg, na Alemanha. Teve vida longa e tranqüila dedicada ao ensino e à investigação filosófica. Realiza uma brilhante síntese entre as filosofias racionalista e empirista, além de mudar completamente o foco da filosofia até então, a ponto de seu pensamento ser considerado como sendo uma revolução copernicana na filosofia. Rejeita tanto o racionalismo quanto o empirismo exagerados, negando tanto as altíssimas possibilidades do primeiro quanto as imensas limitações impostas pelo segundo. Kant, para tal, defende uma tese que podemos encontrar no trecho abaixo. Que todo o nosso conhecimento começa com a experiência, não há dúvida alguma, pois, do contrário, por meio do que a faculdade de conhecimento deveria ser despertada para o exercício senão através de objetos que tocam nossos sentidos e em parte produzem por si próprios representações, em parte põe em movimento a atividade do nosso entendimento para compará-las, conectá-las ou separá-las e, desse modo, assimilar a matéria bruta das impressões sensíveis a um conhecimento dos objetos que se chama experiência? Segundo o tempo, portanto,

70 nenhum conhecimento em nós precede a experiência, e todo ele começa com ela. [...] Mas embora todo o nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso todo ele se origina justamente da experiência. Pois poderia bem acontecer que mesmo o nosso conhecimento de experiência seja um composto daquilo que recebemos por impressões e daquilo que a nossa própria faculdade de conhecimento (apenas provocada por impressões sensíveis) fornece de si mesma, cujo aditamento não distinguimos daquela matéria-prima antes que um longo exercício nos tenha tornado atento a ele e nos tenha tornado aptos à sua abstração. [...] Portanto, é pelo menos uma questão que requer uma investigação mais pormenorizada e que não pode ser logo despachada devido aos ares que ostenta, a saber se há um tal conhecimento independente da experiência e mesmo de todas as impressões dos sentidos. Tais conhecimentos denominam-se a priori e distinguem-se dos empíricos, que possuem sua fonte a posteriori, ou seja, na experiência. (KANT, I. Crítica da Razão Pura. In. Kant. Tradução de Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger. São Paulo: Nova Cultural, 2005, p. 53) Do texto, algumas das principais idéias podem ser analisadas. I. Experiência: conhecimento dos objetos, que se dá quando nosso entendimento compara, conecta ou separa, e desse modo assimila a matéria bruta das impressões sensíveis. I. Função dos objetos: Produzir representações (e nesse caso, concorda com Hume) Colocar em movimento a atividade do nosso entendimento. III. Tese: O conhecimento de experiência é um composto do que recebemos por impressões (Hume) e daquilo que nossa própria faculdade de conhecimento fornece de si mesma (ultrapassagem da teoria de Hume). A priori: Conhecimento independente desta ou daquela experiência e mesmo de todas as impressões dos sentidos. A posteriori: Conhecimento que possui suas fontes tão somente na experiência. Analisando melhor o trecho e agora relacionando as idéias dele tiradas, vemos que para Kant a experiência sensível não é algo passivo como para Hume, ou seja, não somos simplesmente afetados. O conhecimento é, assim, algo ativo, no qual nossas faculdades de conhecimento, que serão elencadas abaixo, impõe sim algo de seu, e é nesse sentido que a experiência é um composto, e é com essa tese que Kant poderá ultrapassar os limites impostos por David Hume. Um tópico importante no pensamento kantiano é o que é denominado Revolução Copernicana na Filosofia. Nicolau Copérnico realizou, na física, uma mudança radical no foco de análise do universo. A teoria até então defendida era a do geocentrismo, ou seja, a Terra estava no centro e os demais astros giravam em torno da mesma. Este pensador afirma o heliocentrismo, isto é, o Sol está no centro e os demais planetas giram em torno dele. Para Kant, o foco central da filosofia sempre foi voltado para o objeto a ser conhecido. Partia-se então, dogmaticamente, da idéia de que a faculdade de conhecimento possuía a capacidade de produzir informações sobre o que era estudado. A proposta deste filósofo é inovadora porque ele propõe que, antes que partamos ao conhecimento dos objetos, façamos uma análise da própria faculdade de conhecimento e de seus limites e possibilidades. Tal análise foi feita na obra Crítica da Razão Pura, na qual delineia de maneira detalhada como se dá o conhecimento. Esse se dá para o autor da seguinte maneira: como vimos no texto acima o primeiro passo é

71 a sensação. Porém, diferentemente de Hume, o que será lançado na mente não é uma representação de sensação, mas do que Kant chama de intuição, que podemos definir como sendo uma sensação que escolhemos em meio às várias que nos afetam ao mesmo tempo. A intuição é formada na faculdade chamada sensibilidade, que impõe à experiência sensível duas formas puras existentes nela mesma, que são espaço e tempo. A intuição, formada dessa maneira, é lançada no intelecto, que através das dez categorias de predicação, forma o conceito através de um juízo. As categorias citadas são: Substância, quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, posição, posse, ação, paixão. Sobre isso, vejamos uma passagem do próprio autor: Deve-se distinguir em cada conhecimento matéria, isto é, o objeto, e forma, isto é, a maneira como conhecemos o objeto. Por exemplo: se um silvícola vê de longe uma casa, cujo uso não conhece, tem, no entanto, representado diante de si precisamente o mesmo objeto que o que sabe tratar-se de uma morada edificada para o homem. Mas esse conhecimento de um só e mesmo objeto é, em caso e no outro, diverso pela forma: mera intuição, em um caso, intuição e conceito ao mesmo tempo, no outro. (KANT, I. Manual dos cursos de lógica geral. Tradução e notas de Fausto Castilho. Uberlândia: EDUFU; Campinas: IFCH-UNICAMP, 1998, p. 47) Todo conceito é emitido em forma de juízo, isto é, como dizia Aristóteles, de uma proposição do tipo S é P. Kant irá diferenciar os tipos de juízos assim como diferencia os tipos de conhecimento. A primeira divisão se dá entre juízos analíticos e juízos sintéticos. Segundo o autor juízos analíticos (os afirmativos) são, portanto, aqueles em que a conexão do predicado com o sujeito for pensada por identidade; aqueles, porém, em que essa conexão for pensada sem identidade, devem denomina-se juízos sintéticos. Falando de forma mais simples, um juízo é analítico se o predicado for uma qualidade implicitamente contida no sujeito, como, por exemplo, quando afirmamos que um triângulo é uma figura de três lados. Um juízo é sintético quando a qualidade contida no predicado não faz parte do sujeito, mas lhe é acrescentada, como, por exemplo, quando afirmamos que Sócrates é inteligente, pois poderia muito bem ocorrer que ele não fosse. Os juízos sintéticos são também divididos em dois tipos: a priori e a posteriori. Um juízo é sintético a priori quando seu predicado acrescenta alguma informação ao sujeito, e a afirmação feita pelo mesmo não depende desta ou daquela experiência. Um exemplo deste tipo de juízo é a afirmação de que duas retas paralelas jamais se cruzam no espaço. É sintético porque o conceito de espaço ou de cruzamento não está contido implicitamente no sujeito. É a priori porque a afirmação feita não é procedente para esta ou aquela dupla de retas, mas para qualquer dupla de retas pensada em qualquer tempo. Tal conhecimento, portanto é universal e necessário, diferentemente do que pensava David Hume, e isso porque todos nós possuímos uma sensibilidade dotada de espaço e tempo e um intelecto que contém as dez categorias. Ao conjunto destas faculdades de conhecimento Kant denomina sujeito transcendental, sendo que devemos entender transcendental no autor o que é anterior ou independente da experiência, diferentemente de transcendente, que é aquilo que está além da experiência sensível. Os juízos sintéticos a posteriori são aqueles nos quais o predicado acrescenta algo ao sujeito, porém a afirmação depende da experiência sensível. Apesar de ultrapassar consideravelmente os limites do conhecimento impostos por David Hume, mostrando a possibilidade do conhecimento universal e necessário, Kant mostra, entretanto que nossa experiência possui uma limitação muito grande, qual seja: não é possível, através das faculdades de conhecimento acima citadas, conhecer a coisa em si, ou seja, o objeto como ele é nele mesmo. Isso se dá por causa da principal tese kantiana, a saber, de que a experiência é um composto, e não nos é possível chegar ao conhecimento do objeto em si mesmo, mas só como o mesmo se

72 apresenta para nossas faculdades de conhecimento, e a isso o autor chama fenômeno. ÉTICA Como foi visto acima, a filosofia de Immanuel Kant baseia-se na existência de uma capacidade de conhecimento, que podemos denominar, em seu conjunto, como razão. Sua teoria sobre a moralidade humana seguirá o mesmo princípio, negando os fundamentos e normas morais exteriores ao homem, e admitindo como único princípio regulador da ação humana a própria razão. È ela quem deve indicar os caminhos que devemos seguir para agir com verdadeira retidão. Com isso, Kant quer dizer que, ao agirmos, devemos pensar se aquilo que estamos fazendo poderia ser feito por todas as outras pessoas, sem prejuízo para a humanidade. Ao iniciar a sua Fundamentação à metafísica dos costumes nosso autor afirma que a única coisa que pode ser considerada boa em absoluto no universo é uma boa vontade. Ora, Aristóteles, estudado anteriormente, nos auxilia a compreender essa afirmação. A simples posse de uma qualidade moral não significa por si mesma uma virtude, pois pode-se incorrer, na sua utilização, em excessos. E quem controla o uso de uma qualidade que o indivíduo possui? Sua vontade. A próxima pergunta, dessa forma é muito simples: o que é uma boa vontade? E Kant nos responde: é a vontade de agir por dever. Desse modo é necessário diferenciar, na filosofia kantiana, três tipos de conduta: ação realizada por inclinação; ação realizada conforme o dever e ação realizada por dever. Dessas três somente a última é uma conduta realmente moral, pois a primeira ocorre em nome da satisfação de desejos, deliberadamente em nome de um proveito próprio, ao passo que a segunda, apesar de estar em consonância com o que se considera correto, não é realizada pelo ator por esse motivo. Assim sendo, o que diferencia uma ação por dever daquela conforme o dever é a intenção que o indivíduo possui ao agir, e aí nós nos deparamos com uma questão cabal na teoria ética de Kant: como conhecer a real intenção de um indivíduo quando age? A resposta é: não é possível. Mas então como podemos possuir uma noção de dever em nossa mente se talvez nunca tenhamos presenciado uma conduta realizada exatamente com essa intenção? A resposta é surpreendente: a noção de dever existe em nossa mente independente das impressões dos nossos sentidos. Mas nós sabemos, por meio de nossos estudos prévios em Kant, que algo que existe em nossa mente assim possui uma denominação. Exatamente, o dever é uma noção completamente a priori da nossa razão prática. Se para o autor, o fundamental da avaliação de uma conduta moral é a intenção de quem a praticou, independentemente de quais efeitos tal conduta possa vir a provocar, e a melhor intenção, para ele, é aquela que se volta tão somente para o cumprimento do dever, faz-se necessário um instrumento para que nós saibamos o que está em conformidade com o dever em determinadas circunstâncias concretas de nosso cotidiano. Esse instrumento pode ser considerado o princípio racional da ação. Por isso, o dever é um imperativo categórico, que se exprime na fórmula geral: Age em conformidade apenas com a máxima que possas querer que se torne uma lei universal. Dessa fórmula geral, Kant deriva outras três, que seguem abaixo: I. Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida por tua vontade em lei universal da Natureza; II. Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa quanto na de outrem, sempre como um fim e nunca como um meio; III. Age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei universal para todos os seres racionais. A primeira máxima afirma a universalidade da conduta ética. A segunda vem lembrar a dignidade da pessoa humana, não devendo esta jamais ser tratada como simples

73 meio para se atingir a um fim. A terceira afirma que a universalidade da conduta ética deve-se à racionalidade dos seres humanos, sendo os princípios éticos da razão plausíveis para qualquer ser racional. É com base também na universalidade da razão que entendemos o que Kant denomina Ilustração ou Esclarecimento. Vejamos sua definição por meio de um trecho do próprio autor: A ilustração é a libertação do ser humano de sua incapacidade da qual ele próprio é culpado. A incapacidade significa a incapacidade de servir-se de sua inteligência sem a guia de outrem. Esta incapacidade é sua culpa porque sua causa reside, não na falta de inteligência, mas na falta de decisão e coragem para servir-se, por si mesmo, dela sem tutela de outrem. Sapere aude! Tem a coragem de servir-te de tua própria razão: eis o lema da ilustração. [...] A fraqueza e a covardia são as causas de uma grande parte dos seres humanos continuarem, de bom gosto, no seu estado de criança, apesar de que a natureza já os tenha liberado, há tempos, da tutela alheia; também o são de que se faça tão fácil para outros erigirem-se em tutores. Esclarecimento então ocorre quando o ser humano, dotado de razão, deixa de lado a preguiça, a fraqueza e a covardia, e utiliza a mesma, se libertando de agir sob os juízos alheios. Para Kant, o sujeito esclarecido possui o dever moral de fazer o que ele chama de uso público da razão, isto é, de nos diferentes lugares em que possa se encontrar, nas diferentes funções que possa estar realizando, tornar públicos os juízos a que sua razão lhe fizer chegar. φ EXERCÍCIOS PROPOSTOS QUESTÃO 01: (UFU Jul/2004) Até agora se supôs que todo nosso conhecimento tinha que se regular pelos objetos; porém, todas as tentativas de mediante conceitos estabelecer algo a priori sobre os mesmos, através do que nosso conhecimento seria ampliado, fracassaram sob esta pressuposição. Por isso, tente-se ver uma vez se não progredimos melhor nas tarefas da Metafísica admitindo que os objetos têm que se regular pelo nosso conhecimento, o que assim já concorda melhor com a requerida possibilidade de um conhecimento a priori dos mesmos que deve estabelecer algo sobre os objetos antes de nos serem dados. O mesmo aconteceu com os pensamentos de Copérnico que, depois das coisas não quererem andar muito bem com a explicação dos movimentos celestes admitindo-se que todo exército de astros girava em torno do espectador, tentou ver se não seria mais bem-sucedido se deixasse o espectador mover-se e, em contrapartida, os astros em repouso. KANT, I. Crítica da razão pura. Prefácio à segunda edição. Trad. de Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 14. (Os Pensadores)

74 Considerando a leitura do trecho acima, podemos dizer que a revolução copernicana de Kant é A) uma revolução filosófica e científica segundo a qual o espectador não pode permanecer fixo em sua posição, aprendendo apenas os fenômenos, mas deve considerar que ele mesmo encontra-se em movimento para poder perceber as coisas em si mesmas. B) uma revolução astronômica que pretendeu mudar o curso da Filosofia Moderna, propondo uma reavaliação da física newtoniana. C) uma revolução filosófica que estabeleceu que o conhecimento da coisa em si só pode ser atingido caso haja um cuidadoso estudo dos fenômenos. D) uma revolução filosófica que afirmou a distinção entre fenômeno e coisa em si, qualificando esta última como incognoscível. QUESTÃO 02: (UFU Mar/2002) O criticismo de Kant representa a reação do pensamento do Século das Luzes à polarização decorrente do racionalismo e do empirismo do século anterior. Logo, na introdução da sua obra Crítica da razão pura, Kant defende a realização da revolução copernicana na filosofia. Sobre esta revolução, analise as assertivas abaixo. I- A filosofia, até então, sempre se guiou pelos instintos, deixando sempre no plano inferior o objeto do conhecimento. II- Nas atividades filosóficas é preciso que o objeto seja regulado pelo conhecimento humano, o conhecimento a priori. III- O conhecimento a priori resulta da faculdade de intuição, cuja comprovação é alcançada com a experiência. IV- Só é verdadeiro o conhecimento resultante da experiência, quando esta toma o objeto como a coisa em si mesma, sem o auxílio da razão. Assinale a alternativa que contém as assertivas verdadeiras. A) Apenas II e IV. B) Apenas I, II e IV. C) Apenas II e III. D) Apenas I, III e IV.

75 QUESTÃO 03: (UFU Fev/2003) A respeito dos juízos analíticos e dos juízos sintéticos em Kant, é correto afirmar que: A) Juízos analíticos ou de experiência são aqueles em que a relação entre o sujeito e seu predicado é pensada sem identidade; juízos sintéticos ou afirmativos são aqueles em que há identidade entre o sujeito e seu predicado. B) Juízos analíticos ou afirmativos, são aqueles que resultam da identidade do sujeito com seu predicado; os juízos sintéticos ou de experiência são aqueles que são pensados sem a identidade entre o sujeito e seu predicado. C) Juízo analítico é fundado sobre a experiência, porque o fundamento é sempre o testemunho da experiência; os juízos sintéticos, que são princípios de identidade, não acrescentam ao sujeito nenhum predicado novo. D) Juízos analíticos, resultantes da identidade do sujeito com o seu predicado, podem ser denominados de juízos de ampliação; os juízos sintéticos, nos quais não há identidade, podem ser denominados de juízos de elucidação. QUESTÃO 04: (UEL Dez/2006) Na segunda seção da Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Kant nos oferece quatro exemplos de deveres. Em relação ao segundo exemplo, que diz respeito à falsa promessa, Kant afirma que uma: pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer firmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem ainda consciência bastante para perguntar a si mesma: Não é proibido e contrário ao dever livrar-se de apuros desta maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: Quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado e prometo pagá-lo, embora saiba que tal nunca sucederá. Fonte: KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução de Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p De acordo com o texto e os conhecimentos sobre a moral kantiana, considere as afirmativas a seguir: I- Para Kant, o princípio de ação da falsa promessa não pode valer como lei universal. II- Kant considera a falsa promessa moralmente permissível porque ela será praticada apenas para sair de uma situação momentânea de apuros.

76 III- A falsa promessa é moralmente reprovável porque a universalização de sua máxima torna impossível a própria promessa. IV- A falsa promessa é moralmente reprovável porque vai de encontro às inclinações sociais do ser humano. A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é: A) I e II B) I e III C) II e IV D) I, II e III E) I, II e IV QUESTÃO 05: (EAF-UDI Jul/2006) Sobre a concepção de Justiça em Kant, é correto afirmar: A) É definida pelo direito positivo e nele encontra sua fonte, prescindindo de qualquer outro parâmetro de legitimidade. B) Resulta da definição estatutária do direito, sob a forma da lei estabelecida nos códigos jurídicos e é confirmada pelas ações dos Estados. C) Coincide com a vontade do legislador, a partir da qual são definidos os parâmetros racionais de gestão dos Estados. D) Ampara-se em parâmetros racionais a priori que embasam o direito natural e que devem se converter em leis públicas de coerção. E) Configura-se com base em valores comuns partilhados tradicionalmente em cada ordenamento jurídico-político. MÓDULO 3 C: NICOLAU MAQUIAVEL E THOMAS HOBBES MAQUIAVEL medievais. Nicolau Maquiavel ( ) nasceu na Itália e é considerado o fundador do pensamento político moderno. Foi diplomata e conselheiro dos governantes de Florença, e viu a ascensão da burguesia comercial nas grandes cidades, assim como a fragmentação da Itália. Vendo a vida política assim fragmentar-se, Maquiavel funda um novo tipo de pensamento político, negando o que se havia dito e feito até então. Nesse sentido, nega um fundamento anterior e exterior à política, como a natureza, no caso de Aristóteles, ou alguma influência divina, no caso dos teólogos

77 O autor não aceita também a idéia de uma boa comunidade política, voltada para o bem comum. Ao contrário, enxerga a sociedade em constante tensão, causada pelos interesses opostos daqueles que oprimem, e assim querem continuar, e os que são oprimidos, e não podem aceitar de bom grado essa condição. A principal finalidade da política seria, assim, a tomada e manutenção do poder, o que só pode ocorrer se o governante consegue dar a essa formação, a princípio sem objetivos comuns, uma identidade. Conseqüentemente, a verdadeira virtude do príncipe não deve pertencer àquele conjunto ditado pela igreja, mas a virtu principesca deve ser a competência política. É por isso que Maquiavel afirma que: Assim, deve o príncipe tornar-se temido, de sorte que, se não for amado, ao menos evite o ódio, pois é fácil ser, a um só tempo, temido e não odiado, o que ocorrerá uma vez que se prive da posse dos bens e das mulheres dos cidadãos e dos súditos, e, mesmo quando forçado a derramar o sangue de alguém, poderá fazê-lo apenas se houver justificativa apropriada e causa manifesta. MAQUIAVEL, N. O Príncipe. In. Maquiavel. Tradução de Olívia Bauduh. São Paulo: Nova Cultural, 2004, p ) Sendo o governante uma figura competente, ele será capaz de enfrentar todas as situações que a sorte (fortuna) lhe trouxer. Vale ressaltar que a Fortuna, na mitologia grega, é uma deusa, ser feminino, que como tal, deve ser conquistado, pois não se entrega facilmente a alguém. O príncipe deve, assim, ter a capacidade de conquistar momentos promissores para o sucesso de seu governo, além de ter a mestria necessária para ultrapassar aqueles que não se apresentem nessa configuração. Livre dos imperativos das virtudes cristãs, o ideal seria que o governante unisse a força, característica do leão, à astúcia, característica da raposa, ou seja, fazer uso da violência, que é uma prerrogativa de quem governa, com toda inteligência necessária para, como foi dito acima, evitar o ódio dos súditos. Vale ressaltar que virtú e fortuna são as duas condições para o sucesso de um governo. Ao usar como exemplo Moisés, líder hebreu, como figura que possuía valor para estar à frente de uma comunidade política, Maquiavel não deixa de evidenciar que todo esse valor, sem uma ocasião apropriada para ser demonstrado, não conduziria à tomada do poder. Daí a necessidade da simultaneidade entre o valor do líder e uma ocasião apropriada. Maquiavel não defende a Monarquia, ou qualquer outro regime político, mas afirma que qualquer regime é legítimo se garante a liberdade dos súditos. Nesse sentido, afirma que o governante jamais deve se aliar aos poderosos, mas sempre ao povo, pois os poderosos são seus concorrentes. Além disso, denuncia a corrupção política, afirmando que um dos principais fatores que despertam o ódio do povo é a sua espoliação por parte de seus governantes. A grande ruptura realizada pelo autor com relação principalmente ao pensamento antigo é a separação que faz entre ética, compreendida em seu sentido mais genérico, e Política. Não é que não exista uma moralidade na política, mas ela possui sua lógica própria, muitas vezes distinta das demais relações sociais. Para os gregos seria inconcebível um político sem virtudes, enquanto para Maquiavel a única função da política é, como já foi visto, a tomada e a manutenção do poder, o que envolveria a preocupação do governante em conduzir da melhor maneira possível o convívio social, talvez não sendo bom no sentido moral da palavra, mas competente para equilibrar os interesses divergentes presentes no corpo social. HOBBES

78 Thomas Hobbes ( ) nasceu na uma aldeia inglesa chamada Westport. Tendo como pressuposto que todo ser luta para conservar-se, isto é, evitar a morte, e discordando de Aristóteles, que afirmava serem os homens sociáveis por natureza, Hobbes, assim como Maquiavel, funda um pensamento político baseado no mundo material. A sociabilidade dada aos homens por Aristóteles custa-lhes a igualdade, ou seja, só é sustentada por serem considerados uns superiores aos outros por natureza. Como para Hobbes todos são iguais por natureza, possuindo todos nessa condição direito apenas à vida e à liberdade, não se contentando nenhum em ser servo do outro, surge um estado de natureza marcado pela guerra de todos contra todos. Daí surge a famosa frase que afirma que o homem é o lobo do homem. Vejamos, nas palavras do próprio autor, como ele imaginou o estabelecimento do Contrato Social que deu origem ao Estado (Leviatã - Monstro bíblico). Para ele, a única maneira que os homens tiveram para instituir, entre si, um poder comum era: [...] conferir toda sua força e poder a um homem, ou a uma assembléia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade [...] é como se cada homem dissesse a cada homem [...] transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este Homem, ou a esta Assembléia de homens, com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas ações. [...] Feito isto, à multidão assim unida numa só pessoa chama-se Estado [...] É esta a geração daquele grande Leviatã [...] ao qual devemos [...] nossa paz e defesa. Pois graças a esta autoridade que lhe é dada por cada indivíduo no Estado, é-lhe conferido o uso de tamanho poder e força que o terror assim inspirado o torna capaz de conformar as vontades de todos eles, no sentido da paz em seu próprio país, e da ajuda mútua contra os inimigos estrangeiros. É nele que consiste a essência do Estado, o qual pode ser assim definido: uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum. Àquele que é portador dessa pessoa se chama Soberano, e dele se diz que possui poder soberano. Todos os restantes são súditos. (HOBBES, T. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado Eclesiástico e Civil. In. Hobbes. Tradução de João Paulo Monteira e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 2005, p. 144) Nota-se, então, pelas palavras do próprio autor que a sociedade civil, na qual viviam os homens de seu tempo, só poderia ter sido gerada através de um pacto entre os homens. O motivo pelo qual os indivíduos buscam o referido acordo também são elencados do texto, quais sejam: a paz e a defesa. Os homens, através da instituição do Estado, abdicam de sua liberdade individual em prol de uma liberdade artificial, para saírem do já citado estado de guerra de todos contra todos, denominado de estado de natureza. Essa criação é humana, e aí o motivo da discordância com Aristóteles. Sendo o Estado uma criação humana, nega-se a naturalidade aristotélica, e atribui-se a ele artificialidade, no que irão concordar os demais contratualistas. Vimos através do texto também, que para Hobbes o soberano é o monarca, isto é, o depositário da confiança do povo, podendo este fazer o que considerar melhor, e inclusive utilizar a força, para manter a paz. Tal poder é incontestável e indivisível, sendo assim, absoluto. Podemos considerar então o autor um defensor do absolutismo.

79 É importante, no entanto, que não se confunda monarquismo com absolutismo. Hobbes não é um defensor do monarquismo, o que se vê claramente na citação abaixo: A única maneira de instituir um poder comum entre os homens, capaz de defendê-los das invasões dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros (...) é conferir toda sua força ou poder a um homem ou a uma assembléia de homens que possa reduzir suas diversas vontades (...) a uma só vontade. Feito isto, à multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado. HOBBES, T. Leviatã. Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, O Estado pode, assim, ser governado por um só homem ou por um grupo, desde que não exista divisão de poder, como encontramos atualmente na maioria dos países do planeta (executivo, legislativo e judiciário). Leviatã é um monstro bíblico, e no frontispício da primeira edição da obra ele aparece gigantesco, com o corpo formado por inúmeros corpos humanos, que representam a coletividade, com o cetro em uma mão (poder) e a espada na outra (força). Assim como em Maquiavel, aqui se encontra uma concepção de Estado ligada intimamente à força física. φ EXERCÍCIOS PROPOSTOS QUESTÃO 01: (UEL Jan/2005) O maquiavelismo é uma interpretação de O Príncipe de Maquiavel, em particular a interpretação segundo a qual a ação política, ou seja, a ação voltada para a conquista e conservação do Estado, é uma ação que não possui um fim próprio de utilidade e não deve ser julgada por meio de critérios diferentes dos de conveniência e oportunidade. BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no pensamento de Emanuel Kant. Trad. de Alfredo Fait. 3.ed. Brasília: Editora da UNB, p. 14. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, para Maquiavel o poder político é: A) Independente da moral e da religião, devendo ser conduzido por critérios restritos ao âmbito político. B) Independente da conveniência e oportunidade, pois estas dizem respeito à esfera privada da vida em sociedade. C) Dependente da religião, devendo ser conduzido por parâmetros ditados pela Igreja.

80 D) Dependente da ética, devendo ser orientado por princípios morais válidos universal e necessariamente. E) Independente das pretensões dos governantes de realizar os interesses do Estado. QUESTÃO 02: (UEL Dez/2006) Deveis saber, portanto, que existem duas formas de se combater: uma, pelas leis, outra pela força. A primeira é própria do homem; a segunda, dos animais. [...] Ao príncipe torna-se necessário, porém, saber empregar convenientemente o animal e o homem. [...] Sendo, portanto, um príncipe obrigado a bem servir-se da natureza da besta, deve dela tirar as qualidades da raposa e do leão, pois este não defesa alguma contra os laços, e a raposa contra os lobos. Precisa, pois, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos. Os que se fizerem unicamente de leões não serão bem-sucedidos. Por isso, um príncipe prudente não pode nem deve guardar a palavra dada quando isso se lhe torne prejudicial e quando as causas que o determinam cessem de existir. Fonte: MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Tradução de Lívio Xavier. São Paulo: Nova Cultural, 1993, Cap. XVIII, p Com base no texto e nos conhecimentos sobre O Príncipe de Maquiavel, assinale a alternativa correta: A) Os homens não devem recorrer ao combate pela força porque é suficiente combater recorrendo-se à lei. B) Um príncipe que interage com os homens, servindo-se exclusivamente de qualidades morais, certamente terá êxito em manter-se no poder. C) O príncipe prudente deve procurar vencer e conservar o Estado, o que implica o desprezo aos valores morais. D) Para conservar o Estado, o príncipe deve sempre partir e se servir do bem. E) Para a conservação do poder, é necessário admitir a insuficiência da força representada pelo leão e a importância da habilidade da raposa. QUESTÃO 03: (UEL Dez/2006) Leia o texto a seguir. Dado que todo súdito é por instituição autor de todos os atos e decisões do soberano instituído, segue-se que nada do que este faça pode ser considerado injúria para com qualquer de seus súditos, e que nenhum deles pode acusá-lo de injustiça. Fonte: HOBBES, T. Leviatã, ou, Matéria, forma e poder de um

81 estado eclesiástico e civil. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p Com base no texto e nos conhecimentos sobre o contratualismo de Hobbes, é correto afirmar: A) O soberano não tem deveres contratuais com os seus súditos. B) O poder político tem como objetivo principal garantir a liberdade e a propriedade dos indivíduos. C) Antes da instituição do poder soberano, os homens viviam em paz. D) O poder soberano não deve obediência às leis da natureza. E) Acusar o soberano de injustiça seria como acusar a si mesmo de injustiça. QUESTÃO 04: (EAF-UDI Jul/2006) O direito de natureza, a que os autores geralmente chamam de jus naturale, é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida; e conseqüentemente de fazer tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o estado de natureza em Hobbes, considere as afirmativas a seguir. I Todos os homens são igualmente vulneráveis à violência diante da ausência de uma autoridade soberana que detenha o uso da força. II Em cada ser humano há um egoísmo na busca de seus interesses pessoais a fim de manter a própria sobrevivência. III A competição e o desejo da fama passam a existir nos homens quando abandonam o estado de natureza e ingressam no Estado social. IV O homem é naturalmente um ser social, o que lhe garante uma vida harmônica entre seus pares. Estão corretas apenas as afirmativas: A) I e II B) I e IV

82 C) III e IV D) I, II e III E) II, III e IV QUESTÃO 05: (EAF-UDI Jul/2006) Baseado em Thomas Hobbes marque, dentre as alternativas abaixo, a que NÃO está de acordo com a sua filosofia. A) Os pactos livres e racionais, sem a coerção da força, são suficientes para dar segurança às pessoas. B) Pelo pacto social, cada homem deve ceder o direito de governar-se a um soberano, e a multidão, unida assim numa só pessoa, passa a constituir o Estado. C) A única maneira de garantir segurança aos homens para que possam, graças a seu próprio labor e os frutos da terra, alimentarem-se e viverem satisfeitos é instituir toda a sua força e poder a um homem, ou a uma assembléia de homens, que possam reduzir suas diferentes vontades a uma vontade só. D) A finalidade última da instituição do Estado, que significa uma restrição da liberdade individual, é o cuidado de cada um com a própria conservação e uma vida mais satisfeita. E) O poder soberano pode ser adquirido de duas maneiras: pela força natural (por aquisição) ou pelo acordo voluntário entre os homens (por Instituição), este último formando o Estado Político. MÓDULO 4 C: JOHN LOCKE E JEAN-JACQUES ROUSSEAU. LOCKE John Locke ( ) nasceu em Wrington, na Inglaterra. Estudou na Universidade de Oxford, onde se formou em Medicina. É considerado um dos pais da teoria chamada Liberalismo, por causa de sua defesa explícita à propriedade privada. Tal defesa é fundamentada com a introdução de um direito do homem no estado de natureza, além dos já citados por Hobbes à vida e à liberdade, quando afirma em sua obra Segundo Tratado sobre o Governo: consideremos a razão natural, que nos diz terem os homens, uma vez nascidos, direito à própria preservação, e, conseqüentemente, à comida e à bebida e a tudo quanto a natureza lhes fornece para a subsistência [...]. É óbvio que para assegurar o direito à vida o homem deveria necessariamente se apropriar dos meios necessários para sobreviver, mas ao enfatizar esse fator, Locke introduz a propriedade privada como direito natural, tendo fundamento, como ele mesmo afirma, pelo trabalho realizado pelo homem em busca da sobrevivência, no que afirma que

83 seja o que for que ele (o homem) retire do estado que a natureza lhe forneceu e no qual o deixou, fica-lhe misturado ao próprio trabalho, juntando-se-lhe algo que lhe pertence, e, por isso mesmo, tornando-o propriedade dele. Mas apesar de fundamentar a propriedade privada com a noção de trabalho, o autor tem que, através do estudo, ir impondo limites à mesma e transpondo-lhes, para ver até que ponto pode o homem acumular. O primeiro limite imposto é o do desperdício, ou seja, já que tudo foi criado para os homens em comum, não é permitido a nenhum homem acumular bens perecíveis além do que possa consumir, pois que estes podem vir a fazer falta para os outros, caso se percam. Tal limite, da perecividade, é superado com a invenção da moeda, valor de troca que o homem pode acumular sem que se perca. Outro limite para o acúmulo é, evidentemente, relativo às próprias limitações físicas do ser humano, ou seja, alguém só pode acumular o quanto possa colher. Tal limite é transposto com a introdução da noção de trabalho alienado, defendida sob o ponto de vista de que a primeira propriedade a que todos têm acesso é à do próprio corpo, o qual o mesmo possui o direito de alienar a outrem, vendendo assim sua força de trabalho. Ultrapassam-se assim todos os limites para o acúmulo de bens. É importante lembrar que tudo que foi dito acima corresponde ao estado de natureza, no qual, para o autor, os homens vivem em certa harmonia, guiados pela razão. O papel do Contrato Social, para Locke, não possui assim papel tão decisivo quanto na teoria de Hobbes. Nas palavras do primeiro: Sendo os homens, [...] por natureza, todos livres, iguais e independentes, ninguém pode ser expulso de sua propriedade e submetido ao poder político de outrem sem dar consentimento. A maneira única em virtude da qual uma pessoa qualquer renuncia à liberdade natural e se reveste dos laços da sociedade civil consiste em concordar com outras pessoas em juntar-se e unir-se em comunidade para viverem com segurança, conforto e paz umas com as outras, gozando garantidamente das propriedades que tiverem e desfrutando de maior proteção contra quem quer que não faça parte dela. LOCKE, J. Segundo Tratado sobre o governo. In: Locke. 3.ed. São Paulo: Abril Cultural, Coleção Os Pensadores. O papel do Estado, fundado pelo Contrato firmado entre os homens, assim, é o de legitimar os direitos já existentes no estado de natureza. Nesse sentido, a soberania não se encontra mais nas mãos dos poderosos, que encontram como limite para o exercício do poder a individualidade dos homens, e seu direito de acumular sem a interferência do Estado. Esse possui somente a função de assegurar a qualidade de vida dos membros da sociedade civil, dando-lhes educação, saúde e segurança. Tal modelo de Estado é ainda o que funciona no Brasil, por exemplo, onde os governantes não possuem o direito de se intrometerem na individualidade dos cidadãos, salvo por ordem judicial. Dos três filósofos contratualistas que estamos estudando, somente Locke fala de direito à insurreição, ou seja, à derrubada de algum governante que não esteja agindo segundo o consenso a que chegaram os cidadãos. ROUSSEAU

84 Jean-Jacques Rousseau ( ) nasceu em Genebra, na Suíça, transferindo-se para a França em 1742, onde escreveu suas grandes obras. Além de escritos de Filosofia, o autor escreveu romances, e mesmo uma obra sobre pedagogia, chamada Emílio. Vejamos, entretanto, o que pensou o autor sobre o surgimento da Sociedade Civil. O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém (ROUSSEAU, J-J. Do contrato Social. In. ROUSSEAU II. Tradução de Lourdes Santos Machado. São Paulo: Nova Cultural, 2005, p. 87) Com base no trecho, podemos tecer as primeiras comparações com relação às teorias dos dois autores anteriores. Contrastando Rousseau com Locke, podemos ver uma diferença significativa, que também o segundo mantém com Hobbes: para Rousseau, assim como para Hobbes, a propriedade privada não é um direito natural. Somente Locke o acrescenta aos direitos de vida e liberdade. A propriedade, porém é elemento importantíssimo para o entendimento do pensamento de Rousseau, pois o mesmo atribui a seu surgimento a responsabilidade pela criação da sociedade civil. É porque passa a existir propriedade que surge a necessidade da criação, por meio de um contrato, de uma sociedade artificial. Para Rousseau, a instituição da propriedade é a causadora, como vimos, das desavenças entre os homens, que não existiam no estado de natureza. É aí que aparecerá um estado parecido com o que Hobbes denomina estado de guerra, assim como a necessidade da passagem para a sociedade civil, por meio do contrato. Para o autor, a teoria hobbesiana está equivocada, pois: Vivendo em sua primitiva independência, não mantêm entre si uma relação suficientemente constante para constituir quer o estado de paz quer o de guerra, os homens em absoluto não são naturalmente inimigos. Assim o autor nega ser o homem lobo do próprio homem, e funda o que grosseiramente se denomina a teoria do Bom Selvagem, acreditando na bondade natural do ser humano. Mas como o surgimento da propriedade inicia um novo estado de coisas, forçando a passagem para a sociedade civil, o contrato passa a ser necessário. Sobre o mesmo, o autor afirma: Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece, contudo a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes. Esse, o problema fundamental cuja solução o contrato social oferece. (ROUSSEAU, J-J. Do contrato Social. In. ROUSSEAU. Tradução de Lourdes Santos Machado. São Paulo: Nova Cultural, 2005, p. 69) A liberdade na sociedade, porém, não pode mais ser considerada natural, visto que a associação é algo artificial. Trata-se, pois do que se chama liberdade civil, a qual coloca a todos em pé de igualdade. A soberania para o autor, visto que o Estado surge por meio de um consenso entre os homens, encontra-se nas mãos do povo. O Soberano é a vontade geral, que porém não pode ser confundida com a vontade de

85 todos. A vontade geral é fruto de um consenso a que chegam os membros de uma associação, podendo alguns discordar da mesma, estando, porém obrigados a acatála, pela própria natureza do acordo. QUADRO COMPARATIVO Thomas Hobbes John Locke J-J. Rousseau ( ) ( ) ( ) Estado Natureza Guerra de todos contra todos Relativa harmonia devido à racionalidade humana. Os homens vivem em harmonia Bom Selvagem. Direitos Naturais Vida, Liberdade. Vida, Liberdade, Propriedade. Vida, Liberdade. Motivo Pacto do Busca o fim dos conflitos (segurança) Legitimação do direito à propriedade. Depois da fundação da propriedade, busca da segurança. Modelo Estado do Absolutista Liberal Democrático Soberania Governante Legislativo Povo φ EXERCÍCIOS PROPOSTOS QUESTÃO 01: (UEL Dez/2005) [...] é preciso que examinemos a condição natural dos homens, ou seja, um estado em que eles sejam absolutamente livres para decidir suas ações, dispor de seus bens e de suas pessoas como bem entenderem, dentro dos limites do direito natural, sem pedir autorização de nenhum outro homem nem depender de sua vontade. LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o governo civil. Trad. Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. 2. ed. Petrópolis: Vozes, p. 83. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o estado de natureza em Locke, é correto afirmar:

86 A) Os homens desconhecem a noção de justiça, pelo fato de inexistir um direito natural que assegure a idéia do meu e do teu. B) É constituído pela inimizade, maldade, violência e destruição mútua, características inerentes ao ser humano. C) Baseia-se em atos de agressão física, o que gera insegurança coletiva na manutenção dos direitos privados. D) Pauta-se pela tripartição dos poderes como forma de manter a coesão natural e respeitosa entre as pessoas. E) Constitui-se de uma relativa paz, que inclui a boa vontade, a preservação e a assistência mútua. QUESTÃO 02: (UEL Dez/2005) Tendo por base a concepção de contrato social em Locke, considere as afirmativas a seguir. I- Os homens firmam entre si um pacto de submissão, por meio do qual transferem a um terceiro o poder de coerção, trocando a condição de desigualdade do Estado de Natureza pela segurança e liberdade do Estado social. II- Os homens firmam um pacto de consentimento, no qual concordam livremente em formar a sociedade para preservar e consolidar os direitos que possuíam originalmente no Estado de natureza. III- O exercício legítimo da autoridade, no Estado social, baseia-se na teoria do direito divino, em que os monarcas, herdeiros dos patriarcas, são representantes diretos que garantem o contrato social. IV- O que leva os homens a se unirem e estabelecerem livremente entre si o contrato social é a falta de lei estabelecida, de juiz imparcial e de uma força coercitiva para impor a execução das sentenças. Estão corretas apenas as afirmativas: A) I e II. B) I e III. C) II e IV. D) I, III e IV. E) II, III e IV. QUESTÃO 03: (UEL Jan/2005) Não sendo o Estado ou a Cidade mais que uma pessoa moral, cuja vida consiste na união de seus membros, e se o mais importante de seus cuidados é o de sua própria conservação, torna-se-lhe necessária uma força universal e compulsiva para mover e dispor cada parte da maneira mais conveniente a todos. Assim como a natureza dá a cada homem poder absoluto sobre todos os seus membros, o pacto social dá ao corpo político

87 um poder absoluto sobre todos os seus, e é esse mesmo poder que, dirigido pela vontade geral, ganha, como já disse, o nome de soberania. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. Trad. de Lourdes Santos Machado. 3.ed. São Paulo: Nova Cultural, p. 48. De acordo com o texto e os conhecimentos sobre os conceitos de Estado e soberania em Rousseau, é correto afirmar: A) A soberania surge como resultado da imposição da vontade de alguns grupos sobre outros, visando a conservar o poder do Estado. B) O estabelecimento da soberania está desvinculado do pacto social que funda o Estado. C) O Estado é uma instituição social dependente da vontade impositiva da maioria, o que configura a democracia. D) A conservação do Estado independe de uma força política coletiva que seja capaz de garanti-lo. E) A soberania é estabelecida como poder absoluto orientado pela vontade geral e legitimado pelo pacto social para garantir a conservação do Estado. QUESTÃO 04: (UEL Dez/2005) Um povo, portanto, só será livre quando tiver todas as condições de elaborar suas leis num clima de igualdade, de tal modo que a obediência a essas mesmas leis signifique, na verdade, uma submissão à deliberação de si mesmo e de cada cidadão, como partes do poder soberano. Isto é, uma submissão à vontade geral e não à vontade de um indivíduo em particular ou de um grupo de indivíduos. NASCIMENTO, Milton Meira. Rousseau: da servidão à liberdade. In: WEFFORT, Francisco. Os clássicos da política. São Paulo: Ática, p Com base no texto e nos conhecimentos sobre a legitimidade do poder do Estado em Rousseau, é correto afirmar: A) A legislação que rege o Estado deve ser elaborada por um indivíduo escolhido para tal e que se tornará o soberano desse Estado. B) A liberdade de uma nação é ameaçada quando se confere ao povo o direito de discutir a legitimidade das leis às quais está submetido. C) Devido à ignorância e ao atraso do povo, deve-se atribuir a especialistas competentes o papel de legisladores.

88 D) A legitimidade das leis depende de que as mesmas sejam elaboradas pelo conjunto dos cidadãos, expressão da liberdade do povo. E) A vontade do monarca, cujo poder é assegurado pela hereditariedade, deve prevalecer na elaboração das leis às quais se submetem os cidadãos. QUESTÃO 05: (UEL Dez/2006) A passagem do estado de natureza para o estado civil determina no homem uma mudança muito notável, substituindo na sua conduta o instinto pela justiça e dando às suas ações a moralidade que antes lhe faltava. E só então que, tomando a voz dever o lugar do impulso físico, e o direito o lugar do apetite, o homem, até aí levando em consideração apenas a pessoa, vê-se forçado a agir, baseando-se em outros princípios e a consultar a razão antes de ouvir suas inclinações. Fonte: ROUSSEAU, J. Do contrato social. Tradução de Lourdes Santos Machado São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 77. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o contratualismo de Rousseau, assinale a alternativa correta: A) Por meio do contrato social, o homem adquire uma liberdade natural e um direito ilimitado. B) O homem no estado de natureza é verdadeiramente o senhor de si mesmo. C) A obediência à lei que se estatui a si mesmo é liberdade. D) A liberdade natural é limitada pela vontade geral. E) Os princípios, que dirigem a conduta dos homens no estado civil, são os impulsos e apetites. φ EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES QUESTÃO 01: (UFU Jul/2005) Podemos afirmar que são preceitos do método cartesiano: A) a afirmação exclusiva da verdade do Cogito, a reunião de diferentes dificuldades em um só todo e a ordenação que prescreve o trânsito das impressões sensíveis às idéias. B) a aceitação do verossímil como verdadeiro, a divisão das dificuldades e a ordenação que prescreve o trânsito do simples ao complexo. C) a aceitação exclusiva do evidente como verdadeiro, a divisão das dificuldades e a ordenação que prescreve o trânsito do complexo ao simples.

89 D) a aceitação exclusiva do indubitável como verdadeiro, a divisão das dificuldades e a ordenação que prescreve o trânsito do simples ao complexo. QUESTÃO 02: (UFU Abr/2006) Leia com atenção o texto abaixo e assinale a alternativa correta. De sorte que, após ter pensado bastante nisto e de ter examinado cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir e ter por constante que esta proposição, eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou que a concebo em meu espírito. DESCARTES. Meditações Metafísicas. Nova Cultural: São Paulo, 1988, p. 47. Segundo Descartes, podemos dizer que a idéia da existência do eu ou do cogito (eu penso) A) é fictícia ou inventada e composta. B) é inata ou congênita e composta. C) é adventícia ou empírica e simples. D) é inata ou congênita e simples. QUESTÃO 03: (UFU Fev/2007) Mas, logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de a abalar, julguei que podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava. DESCARTES, R. Discurso do Método. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 46. Coleção Os Pensadores. Considerando a citação acima, é correto afirmar que: A) pautando-se pelo exemplo dos céticos, Descartes não pretende encontrar nenhum conhecimento, pois quer apenas pensar que tudo é falso.

90 B) na tentativa de pôr tudo em dúvida, Descartes não consegue duvidar da existência do cogito (eu penso). C) o pensamento de Descartes se restringe à constatação de que toda informação sensível e corpórea é falsa. D) na busca do primeiro princípio da Filosofia, Descartes põe o próprio cogito (eu penso) em dúvida. QUESTÃO 04: (UEL Jan/2003) Mas logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade eu penso, logo existo era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de a abalar, julguei que poderia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava. DESCARTES, René. Discurso do método. Trad. de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, p. 92. Coleção Os Pensadores. De acordo com o texto e com os conhecimentos sobre o tema, assinale a alternativa correta. A) Para Descartes, não podemos conhecer nada com certeza, pois tudo quanto pensamos está sujeito à falsidade. B) O eu penso, logo existo expressa uma verdade instável e incerta, o que fez Descartes ser vencido pelos céticos. C) A expressão eu penso, logo existo representa a verdade firme e certa com a qual Descartes fundamenta o conhecimento e a ciência. D) As extravagantes suposições dos céticos impediram Descartes de encontrar uma verdade que servisse como princípio para a filosofia. E) Descartes, ao acreditar que tudo era falso, colocava em dúvida sua própria existência. QUESTÃO 05 (UFU Dez/2004) E certamente a idéia que tenho do espírito humano, enquanto é uma coisa pensante e não extensa, em comprimento, largura e profundidade, e que não participa de nada que pertence ao corpo, é incomparavelmente mais distinta do que a idéia de qualquer coisa corporal. DESCARTES. Meditações metafísicas. Nova Cultural: São Paulo, 1988, p. 47. Col. Os Pensadores.

91 Em relação à idéia de espírito humano, é correto afirmar: A) é uma idéia inata, isto é, não nascida comigo, que não foi posta em mim no meu nascimento e que só posso formar a partir da experiência sensível. B) é uma idéia inata, que nasceu comigo, que só encontro em mim mesmo enquanto coisa pensante. C) é uma idéia abstrata que resulta de um longo processo de comparação da minha consciência com as dos outros homens. D) é uma idéia adventícia que resulta de um longo processo de dúvida sobre todas coisas. QUESTÃO 06: (UFU Jul/2004) Leia o texto abaixo. Podemos, por conseguinte, dividir todas as percepções do espírito em duas classes ou espécies, que se distinguem por seus diferentes graus de força e vivacidade. As menos fortes e menos vivas são geralmente denominadas pensamentos ou idéias. A outra espécie (...) pelo termo impressão, [pelo qual] entendo, pois, todas as percepções mais vivas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos ou queremos. E as impressões diferenciam-se das idéias, que são as percepções menos vivas, das quais temos consciência, quando refletimos sobre quaisquer das sensações ou dos movimentos acima mencionados. HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano. Trad. de João Paulo G. Monteiro. São Paulo: Nova Cultural, p (Os Pensadores) Para Hume, podemos afirmar que o conhecimento deve ser entendido como A) possível unicamente quando as impressões são reduzidas às idéias simples das quais se originam. B) descrição da realidade pautada pela idéia de substância e pela impressão de causalidade. C) uma associação de idéias, que são, em última instância, formadas por impressões. D) resultado da associação de idéias, que se originam exclusivamente do intelecto. QUESTÃO 07: (UFU Jul/2006)

92 David Hume, filósofo empirista do séc. XVIII, opera com o postulado radical de que todos os materiais da mente humana são advindos da experiência. Das quatro alternativas abaixo, três formulam fundamentos básicos da filosofia de David Hume e são decorrentes deste postulado. Uma contém um evidente equívoco. Assinale, portanto, a alternativa INCORRETA, que está em contradição com o postulado acima enunciado. A) O tato, o olfato, o paladar e a audição não produzem idéias, pois não podem produzir cópias de nada que esteja contido numa experiência. B) Os órgãos dos sentidos, desde que aptos para suas funções, sempre produzem idéias referentes a certos aspectos da experiência. C) Todas as percepções da mente humana são impressões ou idéias, e estas percepções são, forçosamente, produtos da experiência. D) Toda idéia é cópia de uma impressão, e toda impressão precede uma idéia. QUESTÃO 08: (UEL Jan/2003) Embora nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, verificaremos, através de um exame mais minucioso, que ele está realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência. HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. Trad. de Anoar Aiex. São Paulo: Nova Cultural, p. 36. Coleção Os Pensadores. De acordo com o texto, é correto afirmar que, para Hume: A) Os sentidos e a experiência estão confinados dentro de limites muito reduzidos. B) Todo conhecimento depende dos materiais fornecidos pelos sentidos e pela experiência. C) O espírito pode conhecer as coisas sem a colaboração dos sentidos e da experiência. D) A possibilidade de conhecimento é determinada pela liberdade ilimitada do pensamento. E) Para formar as idéias, o pensamento descarta os materiais fornecidos pelos sentidos. QUESTÃO 09: (UEL Jan/2004)

93 Para Hume, portanto, a causalidade resulta apenas de uma regularidade ou repetição em nossa experiência de uma conjunção constante entre fenômenos que, por força do hábito acabamos por projetar na realidade, tratando-a como se fosse algo existente. É nesse sentido que pode ser dito que a causalidade é uma forma nossa de perceber o real, uma idéia derivada da reflexão sobre as operações de nossa própria mente, e não uma conexão necessária entre causa e efeito, uma característica do mundo natural. MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p De acordo com o texto e os conhecimentos sobre causalidade em Hume, é correto afirmar: A) A experiência prova que a causalidade é uma característica do mundo natural. B) O conhecimento das relações de causa e efeito decorre da experiência e do hábito. C) A simples observação de um fenômeno possibilita a inferência de suas causas e efeitos. D) É impossível obter conhecimento sobre a relação de causa e efeito entre os fenômenos. E) O conhecimento sobre as relações de causa e efeito independe da experiência. QUESTÃO 10: (UFU Fev/2003) De acordo com David Hume,... embora nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, verificamos, através de um exame mais minucioso, que ele está realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência. HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, Coleção Os Pensadores. p. 70. Com base na citação acima é correto afirmar: I- as idéias inatas funcionam como fonte de todos os conhecimentos e são, também, o princípio regulador dos conhecimentos humanos, pois nada pode ser concebido sem a vitalidade dessas idéias, que são anteriores a toda experiência.

94 II- o pensamento constrói uma realidade independente da percepção sensível, pois os sentidos contaminam a inteligência humana com o erro. Para operar com retidão, portanto, o pensamento deve compor, no seu interior, as idéias adventícias com as quais, em seguida, manifestar-se-á sobre a veracidade ou a falsidade das coisas. III a base de todo conhecimento é a experiência, pois é ela que permite a formação das impressões, que estando ligadas às coisas, permitem que a inteligência tenha acesso aos objetos do conhecimento. IV- o conhecimento humano é formado pelas impressões, que são percepções muito vivas e que se diferenciam das idéias, que são percepções menos vivas. Disto se conclui, segundo Hume, que o pensamento por si só é inferior à sensação. Assinale a alternativa que contém as assertivas verdadeiras. A) III e IV B) I e IV C) II e III D) I e II QUESTÃO 11: (UFU Jul/1998) Na sua obra "Crítica da Razão Pura", Kant formulou uma síntese entre sujeito e objeto, mostrando que, ao conhecermos a realidade do mundo, participamos da sua construção mental. Segundo Kant, esta valorização do sujeito (possuidor de categorias apriorísticas) no ato de conhecimento, representou, na Filosofia, algo comparável à: A) previsão da órbita do Cometa Halley no sistema solar. B) revolução de Copérnico na Física. C) invenção do telescópio por Galileu Galilei. D) Revolução francesa que derrubou o Ancien Régime. E) invenção da máquina a vapor. QUESTÃO 12: (UFU Jan/1999) Na obra Crítica da Razão Pura, Immanuel Kant, examinando o problema do conhecimento humano, distinguiu duas formas básicas do ato de conhecer. Assinale a alternativa CORRETA. A) O conhecimento religioso e o conhecimento ateu.

95 B) O conhecimento mítico e o conhecimento cético. C) O conhecimento sofístico e o conhecimento ideológico. D) O conhecimento empírico e o conhecimento puro. E) O conhecimento fanático e o conhecimento tolerante. QUESTÃO 13: (UFU Jul/1999) Kant, filósofo alemão do séc. XVIII, realiza uma "revolução copernicana", ao afirmar que I- o sujeito do conhecimento é a própria razão universal e não uma subjetividade pessoal e psicológica, pois é sujeito conhecedor. II- por ser inata e não depender da experiência para existir, a razão, do ponto de vista do conhecimento, é anterior à experiência; sua estrutura é a "priori". III- a experiência determina o conhecimento para a razão e fornece a forma (universal e necessária) do conhecimento. Assinale A) se as afirmações I e II são corretas. B) se as afirmações I e III são corretas. C) se apenas a afirmação I é correta. D) se as afirmações II e III são corretas. QUESTÃO 14: (UFU Jan/2000) Kant (séc. XVIII) distinguiu duas modalidades de conhecimentos: os empíricos e os apriorísticos. Segundo ele, esse dois tipos de conhecimentos se exprimem como juízos sintéticos e juízos analíticos. Assim, I- juízo analítico é aquele em que o predicado é a explicitação do conteúdo do sujeito. II- juízo sintético é aquele no qual o predicado não acrescenta novos dados sobre o sujeito. III- um juízo, para ter valor científico ou filosófico, deve ser universal e necessário e verdadeiro. IV- juízo sintético, a priori, é o conhecimento universal, necessário e verdadeiro.

96 Estão corretas as afirmativas. A) I, II e III B) I, III e IV C) I, III, e IV D) I e II QUESTÃO 15: (UFU Jul/2001) A respeito da distinção entre o conhecimento puro e o conhecimento empírico, tal como são apresentados na Crítica da Razão Pura de I. Kant, analise as assertivas abaixo: I- O conhecimento empírico resulta da experiência sensível e é expresso pelas impressões, portanto, trata-se de um conhecimento a priori. II- O conhecimento a priori é um conhecimento puro e independente de todas as impressões dos sentidos, portanto, livres dos elementos empíricos. III- O conhecimento puro, a priori, é um juízo pensado com universalidade rigorosa, de modo que tal juízo não aceita nenhuma exceção. IV- O conhecimento empírico, a posteriori, é um juízo analítico, pois ele só é possível por intermédio de um conhecimento analítico dos conceitos. Assinale a alternativa que contém as assertivas verdadeiras: A) II e III B) I, II e IV C) I, III e IV D) III e IV QUESTÃO 16: (UFU Jul/2006) Kant define a ação moral através da relação entre dever e inclinação. Assinale, dentre as alternativas abaixo, a que estabelece uma relação correta entre estes conceitos, de acordo com o pensamento kantiano. A) Uma vez que o homem é dotado de intelecto e sensibilidade, a ação moral deve expressar o meio termo entre razão e paixão.

97 B) Uma vez que a meta final da ação moral é a felicidade, o homem deve escolher somente as inclinações que permitam que todos os homens sejam felizes. C) Somente na medida em que é livre, o homem pode tornar as inclinações o fundamento da ação moral. D) Somente na medida em que evita as inclinações, o homem pode agir por dever e fundar moralmente suas ações. QUESTÃO 17: (UEL Jan/2003) O imperativo categórico é portanto só um único, que é este: Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, p. 59. Segundo essa formulação do imperativo categórico por Kant, uma ação é considerada ética quando: A) Privilegia os interesses particulares em detrimento de leis que valham universal e necessariamente. B) Ajusta os interesses egoístas de uns ao egoísmo dos outros, satisfazendo as exigências individuais de prazer e felicidade. C) É determinada pela lei da natureza, que tem como fundamento o princípio de autoconservação. D) Está subordinada à vontade de Deus, que preestabelece o caminho seguro para a ação humana. E) A máxima que rege a ação pode ser universalizada, ou seja, quando a ação pode ser praticada por todos, sem prejuízo da humanidade. QUESTÃO 18: (UEL Jan/2004) Quando a vontade é autônoma, ela pode ser vista como outorgando a si mesma a lei, pois, querendo o imperativo categórico, ela é puramente racional e não dependente de qualquer desejo ou inclinação exterior à razão. [...] Na medida em que sou autônomo, legislo para mim mesmo exatamente a mesma lei que todo outro ser racional autônomo legisla para si. WALKER, Ralph. Kant: Kant e a lei moral. Trad. de Oswaldo Giacóia Júnior. São Paulo: Unesp, p. 41.

98 Com base no texto e nos conhecimentos sobre autonomia em Kant, considere as seguintes afirmativas: I. A vontade autônoma, ao seguir sua própria lei, segue a razão pura prática. II. Segundo o princípio da autonomia, as máximas escolhidas devem ser apenas aquelas que se podem querer como lei universal. III. Seguir os seus próprios desejos e paixões é agir de modo autônomo. IV. A autonomia compreende toda escolha racional, inclusive a escolha dos meios para atingir o objeto do desejo. Estão corretas apenas as afirmativas: A) I e II. B) I e IV. C) III e IV. D) I, II e III. E) II, III e IV. QUESTÃO 19: (UEL Jan/2004) Ser caritativo quando se pode sê-lo é um dever, e há além disso muitas almas de disposição tão compassivas que, mesmo sem nenhum outro motivo de vaidade ou interesse, acham íntimo prazer em espalhar alegria à sua volta, e se podem alegrar com o contentamento dos outros, enquanto este é obra sua. Eu afirmo porém que neste caso uma tal ação, por conforme ao dever, por amável que ela seja, não tem contudo nenhum verdadeiro valor moral, mas vai emparelhar com outras inclinações, por exemplo o amor das honras que, quando por feliz acaso, topa aquilo que efetivamente é de interesse geral e conforme ao dever, é conseqüentemente honroso e merece louvor e estímulo, mas não estima; pois à sua máxima falta o conteúdo moral que manda que tais ações se pratiquem não por inclinação, mas por dever. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. de Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, p Com base no texto e nos conhecimentos sobre o dever em Kant, é correto afirmar: A) Ser compassivo é o que determina que uma ação tenha valor moral. B) Numa ação por dever, as inclinações estão subordinadas ao princípio moral. C) A ação por dever é determinada pela simpatia para com os seres humanos. D) O valor moral de uma ação é determinado pela promoção da felicidade humana.

99 E) É no propósito visado que uma ação praticada por dever tem o seu valor moral. QUESTÃO 20: (UFU Jul/2003) Na Crítica da razão pura, Kant vincula o sistema da moralidade à felicidade. Assinale a alternativa que explica no que consiste a relação moralidade subjetividade. A) A esperança de ser feliz e a aspiração por tornar-se feliz podem ser conhecidas pela razão prática, desde que o fundamento da ação e a norma da conduta sejam a máxima do não faça aos outros aquilo que não queres que te façam. B) A convicção da felicidade humana decorre da certeza de que todos os entes racionais comportam-se com a mais rigorosa conformidade à lei moral, de maneira que cada um age orientado pela sua vontade, ou seja, pela razão prática do arbítrio individual. C) Quando a liberdade é dirigida e restringida pelas leis morais, é possível pensar na felicidade universal, pois a observância dos princípios morais pode proporcionar não só o bem estar para si, como também ser o responsável pelo bem estar dos outros. D) A felicidade implica na transcendência do mundo moral, pois somente na esfera sensível é possível o conhecimento pleno das ações humanas, já que somente nesse mundo sensível é possível a conexão entre moralidade e felicidade. QUESTÃO 21: (UFU Jul/2004) Leia o texto abaixo. Não me é desconhecido que muitos têm tido e têm a opinião de que as coisas do mundo são governadas pela fortuna e por Deus, de sorte que a prudência dos homens não pode corrigi-las, e mesmo não lhes traz remédio algum. [...] Às vezes, pensando nisso, me tenho inclinado a aceitá-la. Não obstante, e porque o nosso livre arbítrio não desapareça, penso poder ser verdade que a fortuna seja árbitra de metade de nossas ações, mas que, ainda assim, ela nos deixa governar quase outra metade. MAQUIAVEL. O príncipe. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p O pensamento apresentado acima abre caminho para o conceito de virtú, qualidade indispensável para o êxito do príncipe, pois a fortuna oferece as ocasiões para as ações do governante, que terá de agir com virtú. Assinale a alternativa que oferece a definição de virtú tal como Maquiavel a concebeu.

100 A) É a violência indiscriminada e dirigida ao corpo dos cidadãos, somente o emprego da força das armas é capaz de submeter as vontades humanas sob a autoridade impiedosa e avara do príncipe moderno. B) São os valores espirituais que se sobrepõem aos interesses meramente materiais, somente a virtude da humildade permite a realização do bem comum, que é a fonte inesgotável da paz e harmonia entre súditos e governante. C) É a prática da bondade, qualidade indispensável que permite o discernimento da idéia de bem como norteadora das ações políticas, de maneira desinteressada e sempre voltada para a realização dos princípios supremos da religião. D) É o poder, a virilidade humana, capaz de agir e dominar o curso das coisas humanas, imprimindo nos acontecimentos as mudanças necessárias à realização de grandes obras para a conquista e conservação do poder. QUESTÃO 22: (UFU Jul/2005) Leia as informações abaixo. No entendimento de Maquiavel, o fundamental não é possuir todas as qualidades que são atribuídas ao bom governante, o mais importante para o novo príncipe é aparentar possuí-las todas. E há de se entender o seguinte: que um príncipe, e especialmente um príncipe novo, não pode observar todas as coisas a que são obrigados os homens considerados bons, sendo freqüentemente forçado, para manter o governo, a agir contra a caridade, a fé, a humanidade, a religião. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Trad. de Lívio Xavier. São Paulo: Nova Cultural, p. 74. Assinale a alternativa abaixo que justifica a afirmação de Maquiavel. A) O príncipe é um homem de virtú, isto é, ele sabe se submeter aos caprichos do destino e cede ao fluxo dos acontecimentos com a esperança de alcançar os seus intentos políticos. B) O príncipe deve ter o ânimo voltado para a direção apontada pelos sinais da sorte. Procedendo assim, ele saberá aproveitar as ocasiões que se apresentam para a tomada e a conservação do poder. C) O príncipe é maquiavélico, o que importa é o poder e a fortuna do governante. Para isso, tudo é justificado mediante a força e a fraude, porque o que dá poder e fortuna é a exploração e a miséria do povo. D) A imoralidade do príncipe é a sua virtude. Somente um homem destituído de todos os valores torna- se capaz de governar de maneira insensível o corpo político tendo por finalidade o próprio poder.

101 QUESTÃO 23: (UFU Abr/2006) Analise a seguinte afirmação de Maquiavel. Eu sei que cada qual reconhecerá que seria muito de louvar que um príncipe possuísse, entre todas as qualidades referidas, as que são tidas como boas; mas a condição humana é tal, que não consente a posse completa de todas elas, nem ao menos a sua prática consistente; é necessário que o príncipe seja tão prudente que saiba evitar os defeitos que lhe arrebatariam o governo e praticar qualidades próprias para lhe assegurar a posse deste, se lhe é possível; mas, não podendo, com menor preocupação, pode-se deixar que as coisas sigam seu curso natural. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Trad. de Lívio Xavier. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 64. Assinale a alternativa correta. A) O príncipe é um homem de virtú, que deve voltar o seu ânimo para a direção que a fortuna o impelir, pois a conquista e a conservação do Estado podem implicar ações más. B) O príncipe é um estadista sem princípios, cujas ações são destituídas de qualquer valor de conduta, dando vazão às suas paixões sem levar em conta o bem-estar do povo. C) O príncipe pode fazer aquilo que bem entender, pois a maior virtude do governante é a capacidade de provocar o ódio dos súditos, que são violentamente reprimidos pela força das armas. D) O príncipe não precisa praticar a piedade, a fidelidade, a humanidade, pode até desprezar a devoção religiosa, não precisando nem mesmo aparentá-las em suas ações. QUESTÃO 24: (UFU Fev/2007) Antonio Gramsci, filósofo político do século passado, proferiu o seguinte comentário a respeito de Maquiavel: Maquiavel não é um mero cientista; ele é um homem de participação, de paixões poderosas, um político prático, que pretende criar novas relações de força e que por isso mesmo não pode deixar de se ocupar com o dever ser, que não deve ser entendido em sentido moralista. Assim, a questão não deve ser colocada nestes termos, é mais complexa: trata-se de considerar se o dever ser é um ato arbitrário ou necessário, é vontade

102 concreta, ou veleidade, desejo, sonho. O político em ação é um criador, um suscitador; mas não cria do nada, nem se move no vazio túrbido dos seus desejos e sonhos. Baseia-se na realidade factual. GRAMSCI, A. Maquiavel. A política e o estado moderno. 5. ed. Trad. de Luiz Mário Gazzaneo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984, p. 42/43. Considerando o texto de Gramsci, marque a alternativa correta. A) O poder da paixão do político prático, visto por Maquiavel como único caminho para o poder, isto significa que o príncipe deve agir guiado pelas suas veleidades e desejos que alimentam o seu sonho de poder. B) Maquiavel não trata o dever ser na perspectiva ontológica da filosofia clássica. O juízo moral se submete às condições concretas que se apresentam para a conquista e a conservação do poder do Estado pelo príncipe moderno. C) A realidade factual não deve ser vista como conjunto de forças históricas. Elas podem ser desprezadas porque o príncipe é dotado de sabedoria suficiente para prescindir delas e agir motivado apenas pelos seus desejos. D) O príncipe é um homem de criação, que dá forma ao dever ser e rompe a distância que separa o sonho da realidade, porque tudo aquilo que ele quer, ele faz independente da realidade factual em que se insere a ação política. QUESTÃO 25: (UFU Jul/2003) Portanto, um príncipe deve gastar pouco para não ser obrigado a roubar seus súditos; para poder defender-se; para não se empobrecer, tornandose desprezível; para não ser forçado a tornar-se rapace; e pouco cuidado lhe dê a pecha de miserável; pois esse é um dos defeitos que lhe dão a possibilidade de bem governar. MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Nova Cultural, Coleção Os Pensadores. p. 66. Assinale a alternativa que interpreta corretamente o pensamento do filósofo florentino. A) O príncipe não precisa roubar os súditos, porque a ele é reservada a fortuna, toda riqueza possível de ser acumulada graças à capacidade de poupar os tesouros. Esta definição de fortuna, cunhada por Maquiavel, é típica da época em que havia o apego às riquezas materiais, especialmente, a prata e o ouro da América. B) A visão política de Maquiavel era a mesma dos seus contemporâneos, favorável ao poder absoluto dos governantes e defensora da opressão do Estado sobre os súditos,

103 o que resultou na manutenção do Estado feudal, caracterizado pela expropriação da sociedade, por meio de tributos elevados e injustos. C) A defesa da sobriedade administrativa do príncipe evidencia a forte ligação que unia Maquiavel à Igreja Católica, ambos imbuídos na defesa do poder divino dos soberanos. Prova disso é que, em seu livro O Príncipe, Maquiavel exorta o novo príncipe a ser sempre piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso. D) Maquiavel identifica o príncipe com o homem de ação, cujo caráter é formado pela ética que lhe permite o uso dos meios apropriados para a organização do seu Estado; o novo príncipe deve ser corajoso e inteligente, evitando a opulência e a ostentação em favor de seu poder político. QUESTÃO 26: (UFU Dez/2004) Hobbes escreve, no Leviatã, que a condição dos homens fora da sociedade civil nada mais é do que uma simples guerra de todos contra todos, na qual todos os homens têm igual direito a todas as coisas. Com base nisso, assinale a única alternativa correta. A) A sociedade civil continua o estado de natureza. B) A sociedade civil é uma ruptura com o estado de natureza C) O estado de guerra está presente na sociedade civil. D) A guerra de todos contra todos não pode ser eliminada da condição humana. QUESTÃO 27: (UFU Abr/2006) Leia o texto de Hobbes transcrito abaixo: O fim último, causa final e desígnio dos homens (que amam a liberdade e o domínio sobre os outros), ao introduzir aquela restrição sobre si mesmos sob a qual os vemos viver nos Estados, é o cuidado com sua própria conservação e com uma vida mais satisfeita. HOBBES, T. Leviathan, São Paulo: Abril Cultural, p Assinale a alternativa correta, de acordo com o pensamento de Hobbes. A) Viver fora de um Estado é o desígnio final de muitos homens. B) A vida mais satisfeita é alcançada pelo exercício sem limites da liberdade.

104 C) A restrição que os homens impõem a sua própria liberdade é compatível com sua vivência sob um Estado. D) Os homens não se preocupam com sua conservação, mas em construir um Estado para ter uma vida melhor. QUESTÃO 28: (UFU Jul/2006) Hobbes assim define a essência da república ou cidade: uma cidade (...) é uma pessoa cuja vontade, pelo pacto de muitos homens, há de ser recebida como sendo a vontade de todos eles; de modo que a cidade possa utilizar todo o poder e as faculdades de cada pessoa particular, para a preservação da paz e a defesa comum. HOBBES, T. Do Cidadão. São Paulo: Martins Fontes, p Considerando a leitura do texto acima, assinale a alternativa correta. A) Hobbes associa a cidade a uma pessoa e, nesta associação, a vontade da cidade deve ser entendida como radicalmente distinta da vontade de todos. B) A paz e a defesa comum são o único fundamento da instituição desta cidade. C) O que caracteriza o pacto entre os homens é a continuidade natural da vontade de cada homem na vontade de uma única pessoa. D) A pessoa que representa a cidade utiliza todo o poder e as faculdades de cada pessoa particular, por causa do pacto entre muitos homens. QUESTÃO 29: (UEL Jan/2003) Sabemos que Hobbes é um contratualista, quer dizer, um daqueles filósofos que, entre o século XVI e o XVIII (basicamente), afirmaram que a origem do Estado e/ou da sociedade está num contrato: os homens viveriam, naturalmente, sem poder e sem organização que somente surgiriam depois de um pacto firmado por eles, estabelecendo as regras de comércio social e de subordinação política. RIBEIRO, Renato Janine. Hobbes: o medo e a esperança. In: WEFFORT, Francisco. Os clássicos da política. São Paulo: Ática, p. 53.

105 Com base no texto, que se refere ao contratualismo de Hobbes, considere as seguintes afirmativas: I. A soberania decorrente do contrato é absoluta. II. A noção de estado de natureza é imprescindível para essa teoria. III. O contrato ocorre por meio da passagem do estado social para o estado político. IV. O cumprimento do contrato independe da subordinação política dos indivíduos. Quais das afirmativas representam o pensamento de Hobbes? A) Apenas as afirmativas I e II. B) Apenas as afirmativas I e III. C) Apenas as afirmativas II e III. D) Apenas as afirmativas II e IV. E) Apenas as afirmativas III e IV. QUESTÃO 30: (UFU Jan/2000) A filosofia política de Thomas Hobbes combatia as tendências liberais de sua época. Hobbes sustentava que o poder resultante do pacto político deveria ser I- ilimitado, julgando sobre o justo e o injusto, acima do bem e do mal e em que a alienação do súdito ao soberano deveria ser total. II- dividido entre o rei e o parlamento, superando as discórdias e disputas em favor do bem-comum da coletividade. III- absoluto, podendo utilizar a força das armas para manter a soberania e o silêncio dos súditos. Assinale a alternativa correta. A) I e III B) II e III C) I e II D) II QUESTÃO 31: (UFU Jul/2003)

106 Locke foi o defensor do Liberalismo político, que pretendeu instaurar algumas garantias para o cidadão frente ao poder soberano. Sobre este assunto, leia o texto abaixo. Verdade é que os governos não podem sustentar-se sem grande dispêndio, sendo natural que todos quantos gozam de uma parcela de proteção paguem do que possuem a proporção necessária para mantê-lo. Todavia, será ainda com o seu próprio consentimento, isto é o consentimento da maioria, dado diretamente ou por intermédio dos seus representantes. Se alguém pretender possuir o poder de lançar impostos sobre o povo, pela autoridade própria sem estar por ele autorizado, invadirá a lei fundamental da propriedade e subverterá o objetivo do governo; porque qual a propriedade que terei naquilo que outrem tiver o direito de tomar para si quando lhe aprouver? LOCKE, J. Segundo Tratado sobre o governo. In: Locke. 3.ed. São Paulo: Abril Cultural, Coleção Os Pensadores. p Considere as assertivas abaixo. I- O texto acima descreve a política econômica de Locke, sustentada pela cobrança indiscriminada de tributos régios, pois, a cada novo endividamento do rei, novos tributos passavam a ser incorporados à carga tributária. II- Partidário da lei natural como fundamento para o funcionamento do Estado, Locke defende o interesse da burguesia em expansão, ao afirmar que os impostos dos súditos devem ser proporcionais ao seu patrimônio e regulamentados pelo parlamento. III- A cobrança de impostos é uma prerrogativa do rei, cabendo a ele a criação de novos tributos que incidam sobre a propriedade e a renda dos seus súditos, principalmente em relação à propriedade, pois essa é subsidiada pelo tesouro real. IV- O imposto é um tributo necessário para o funcionamento do Estado e, em última instância, é a garantia dos direitos naturais, sendo a preservação da vida e a proteção da propriedade privada, juntamente com a liberdade, os essenciais. Assinale a alternativa que contém todas as afirmativas verdadeiras. A) II e IV B) I e IV C) II e III D) I e III

107 QUESTÃO 32: (UFU Jan/2004) John Locke justificou a existência do Estado com estas palavras: O motivo que leva os homens a entrarem em sociedade é a preservação da propriedade; e o objetivo para o qual escolhem e autorizam um poder legislativo é tornar possível a existência de leis e regras estabelecidas como guarda e proteção às propriedades de todos os membros da sociedade, a fim de limitar o poder e moderar o domínio de cada parte e de cada membro da comunidade; pois não se poderá nunca supor seja vontade da sociedade que o legislativo possua o poder de destruir o que todos intentam assegurar-se, entrando em sociedade e para o que o povo se submeteu a legisladores por ele mesmo criado. LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo. Trad. de E. Jacy Monteiro. 3 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p Coleção Os Pensadores. Analise as assertivas em conformidade com a citação acima. I- A propriedade privada é contratual, isto é, ela é subseqüente ao nascimento do Estado, que institui o direito à propriedade, distribuindo a cada um aquilo que era propriedade comunal no estado de natureza. II- A propriedade privada surge com o aparecimento da sociedade civil, a geradora do Estado, que é a instituição suprema que tem, inclusive, a prerrogativa de suprimir a propriedade em benefício da segurança do Estado. III- A propriedade privada é parte do estado de natureza, pois o homem possui a propriedade de si mesmo e, com isso, tem o direito de tornar como sua propriedade aquilo que está vinculado com seu trabalho. IV- A propriedade privada é anterior à sociedade civil, portanto, a propriedade antecedeu ao Estado, cuja existência resultou do contrato social e teve a finalidade de preservar e proteger a propriedade privada de cada um. Assinale a alternativa que tem as assertivas corretas. A) III e IV B) I e II C) II e III D) II e IV

108 QUESTÃO 33: (UFU Abr/2006) Leia com atenção o texto de Locke abaixo. Para bem compreender o poder político e derivá-lo de sua origem, devemos considerar em que estado todos os homens se acham naturalmente, sendo este um estado de perfeita liberdade para ordenar-lhe as ações e regular-lhes as posses e as pessoas conforme acharam conveniente, dentro dos limites da lei da natureza, sem permissão ou depender da vontade de qualquer outro homem. LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 35. Assinale a alternativa correta, de acordo com o pensamento de Locke. A) A condição natural do homem é estar sob a dependência da vontade de outro homem. B) Locke separa a origem do Estado da condição natural do homem. C) Locke concilia a liberdade dos homens com os limites da lei de natureza, que não dependem da vontade dos homens. D) A origem do poder político está desvinculada do que é conveniente aos homens. QUESTÃO 34: (UFU Fev/2007) O pensamento político de John Locke contém uma teoria da cidadania que anuncia certos aspectos da filosofia do século XVIII. Pela anuência à vida civil e pela confiança que deposita no poder público, o indivíduo se faz cidadão. Incorporando-se livremente ao corpo político, cada um participa de sua gestão: alcança assim a dignidade política. Acerca do pensamento de Locke, considere o texto acima e marque a alternativa correta. A) Um governante que usa, à margem da lei, a força contra os interesses de seus súditos destrói sua própria autoridade. O súdito tem direito de resistir-lhe. B) O contrato tem a finalidade de instituir a vida ética no seio do Estado. C) Locke afirma que o contrato emerge da base material da sociedade, independentemente das decisões dos indivíduos. D) A transferência de poder torna-se irrevogável após o contrato, porque a soberania é ilimitada e absoluta.

109 QUESTÃO 35: (UEL Jan/2003) A liberdade natural do homem deve estar livre de qualquer poder superior na terra e não depender da vontade ou da autoridade legislativa do homem, desconhecendo outra regra além da lei da natureza. A liberdade do homem na sociedade não deve estar edificada sob qualquer poder legislativo exceto aquele estabelecido por consentimento na comunidade civil... LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o governo civil. Trad. de Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. Petrópolis, RJ: Vozes, p. 95. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema da liberdade em Locke, considere as seguintes afirmativas: I. No estado civil as pessoas são livres porque inexiste qualquer regra que limite sua ação. II. No estado pré-civil a liberdade das pessoas está limitada pela lei da natureza. III. No estado civil a liberdade das pessoas edifica-se nas leis estabelecidas pelo conjunto dos membros dessa sociedade. IV. No estado pré-civil a liberdade das pessoas submete-se às leis estabelecidas pelos cidadãos. Quais das afirmativas representam o pensamento de Locke sobre liberdade? A) Apenas as afirmativas I e II. B) Apenas as afirmativas I e IV. C) Apenas as afirmativas II e III. D) Apenas as afirmativas II e IV. E) Apenas as afirmativas III e IV. QUESTÃO 36: (UFU Fev/2003) De acordo com Rousseau, A passagem do estado de natureza para o estado civil determina no homem uma mudança muito notável, substituindo na sua conduta o instinto pela justiça e dando às suas ações a moralidade que antes lhes faltava. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. São Paulo: Abril Cultural, Coleção Os Pensadores. p.36.

110 Sobre a passagem do estado de natureza para o estado civil, é correto afirmar que A) o homem mantém a liberdade natural e o direito irrestrito, e ainda ganha uma moralidade muito particular guiada pelo seu puro apetite. B) o homem perde a liberdade natural e o direito à propriedade, mas adquire a obrigação de seguir sua própria vontade. C) o homem perde a liberdade natural e o direito ilimitado, mas ganha a liberdade civil e a propriedade de tudo o que possui. D) o homem mantém a liberdade natural e o direito ilimitado, mas abdica da liberdade civil em favor da liberdade moral. QUESTÃO 37: (UFU Jan/2004) Antes de escrever Discursos sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens e o Do contrato social, Rousseau já havia manifestado seu pessimismo em relação ao progresso social. Na dissertação escrita em 1750, para o concurso literário promovido pela Academia de Dijon, está escrito: Antes que a arte polisse nossas maneiras e ensinasse nossas paixões a falarem a linguagem apurada, nossos costumes eram rústicos, mas naturais e a diferença dos procedimentos denunciava, à primeira vista, a dos caracteres. No fundo, a natureza humana não era melhor, mas os homens encontravam sua segurança na facilidade para se penetrarem reciprocamente, e essa vantagem, de cujo valor não temos mais a noção, poupava-lhes muitos vícios. ROUSSEAU, J.J. Discurso sobre as ciências e as artes. Trad. de Lourdes Santos Machado. 3 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p Coleção Os Pensadores. Analise as assertivas abaixo. I- A palavra natural significa sabedoria, portanto, o primitivo era dotado de um saber comparável ao estágio do conhecimento do século das luzes. II- As ciências e as artes serviram não só para o progresso material, mas também levaram os homens a criarem vícios, antes inexistentes. III- O homem em estado de natureza era ignorante, porém, a ignorância preservava a pureza de coração e fazia, do primitivo, um ser livre. IV- A ignorância é um vício adquirido da natureza, portanto, as ciências e artes são necessárias para promover a liberdade humana.

111 Assinale a alternativa correta. A) II e III B) I e III C) I e IV D) II e IV QUESTÃO 38: (UFU Jul/2005) A Bondade humana atributo fundamental do homem no estado de natureza, segundo o pensamento de Rousseau pode ser entendida como: I- obstáculo para melhor convivência do homem em sociedade. II- característica fundadora da liberdade e da felicidade do homem. III- um recurso desejável e vantajoso sobre aqueles que não a possuem. Assinale a alternativa correta. A) Apenas a III é correta. B) Apenas a II é correta. C) Apenas a I é correta. D) Apenas a I e a II são corretas. QUESTÃO 39: (UFU Jul/2006) A obra mais conhecida de Jean-Jacques Rousseau, Do Contrato Social ou os Princípios do Direito Político, marca uma mudança radical na concepção de soberania. Sobre isso, leia o trecho abaixo e assinale a alternativa correta. Essa pessoa pública, que se forma, desse modo, pela união de todas as outras, tomava antigamente o nome de cidade e, hoje, o de república ou de corpo político, (...). Quanto aos associados, recebem eles, coletivamente, o nome de povo e se chamam, em particular, cidadãos, enquanto partícipes da autoridade soberana, e súditos enquanto submetidos às leis do Estado.

112 ROUSSEAU, J. J. Do Contrato Social. Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, A) O povo é, ao mesmo tempo, cidadão e súdito; o primeiro quando é ativo, o segundo quando é passivo. B) Pelo texto acima, fica claro que, para Rousseau, a autoridade soberana pertence ao Estado e não ao povo. C) O povo obedecerá às leis feitas pelo Governo, pois ao Governo pertence a autoridade soberana. D) Para Rousseau, o corpo político é formado pelos cidadãos, e exclui os súditos. QUESTÃO 40: (UEL Jan/2003) Observe a tira e leia o texto a seguir. (QUINO. Mafalda 5. São Paulo: Martins Fontes, p. 74.) Vejo em todo animal uma máquina engenhosa, a quem a natureza deu sentidos para funcionar sozinha e para garantir-se, até certo ponto, contra tudo quanto tende a destruí-la ou a desarranjá-la. Percebo precisamente as mesmas coisas na máquina humana, com a diferença de que a natureza faz tudo sozinha nas operações do animal, ao passo que o homem concorre para as suas na qualidade de agente livre. Um escolhe ou rejeita por instinto e o outro, por um ato de liberdade. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Trad. de Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, p Com base no texto de Rousseau e na tira, é correto afirmar:

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