CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA GERAL E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO PSICOLOGIA CLÍNICA NA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
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- Rita Mendes Chagas
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1 CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA GERAL E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO PSICOLOGIA CLÍNICA NA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO Terapia de Casal Débora Kalwana Flávia Verceze Júlia Montazzolli Há um tempo atrás, casais que buscavam terapia eram predominantes pares casados e de meia idade. Porém, nos últimos anos, a clínica tem revelado uma crescente diversidade dos tipos de casais que buscam terapia, como namorados, casais jovens, idosos, heterossexuais e homossexuais. Assim, as queixas apresentam peculiaridades destes novos contextos sociais, econômicos e profissionais, além dos novos costumes e valores de vida, acrescidas das queixas que eram apresentadas anteriormente. Algumas falas predominantes exemplificam estas principais queixas que chegam à clínica, como: ele não me ouve, ela acha que não sei de nada, ele quer mandar em mim, ele me traiu, ela não me quer mais. Quando um casal busca ajuda profissional, geralmente está enfrentando uma crise, que se configura, segundo Cordova e Jacobson (1999), como um sofrimento em virtude de um relacionamento conflituoso, que muitas vezes apresenta uma comunicação insatisfatória e desavença destrutiva. Os autores
2 pontuam que a maioria dos casais ditos difíceis de tratar, que vêm a procura de ajuda apresentam certo perfil: são um casal incompatível; polarizado em questões elementares; emocionalmente descompromissado; casais mais velhos, envolvidos durante anos em padrões destrutivos criados por eles. Assim, é sobre estas e outras queixas que o analista do comportamento vai trabalhar. Silva e Vandenberghe (2009) ainda acrescentam que os problemas enfrentados pelos casais em crise são os mesmos enfrentados pelos casais funcionais, apenas com a diferença de que os últimos apresentam repertórios de enfrentamento e resolução adequada desses problemas. Segundo os autores, na incapacidade de resolver esses problemas que são rotineiros à vida conjugal, o comportamento do casal acaba por agravá-los ou mesmo desencadear novos problemas de difícil resolução. Ocorre, então, um aumento de trocas aversivas que acaba por reduzir a capacidade de influenciar o comportamento do outro, situação que muitas vezes contribui para um aumento dos comportamentos de esquiva do contato com o problema e também do uso de controle aversivo. Sendo assim, para a análise do comportamento, o atendimento de casais é uma área de intervenção psicoterápica que se propõe a ajudar parceiros no enfrentamento de problemas de relacionamento existentes entre eles, e suas dificuldades pessoais. Assim, o foco da intervenção é a relação de parceiros. Os objetivos gerais do processo psicoterápico de casais é o estabelecimento de algumas estratégias que facilitam a mudança na direção desejada, que incluem atividades como treinamento de solução de problemas, de comunicação, programação de condições para o aumento de trocas positivas e reestruturações de autorregras problemáticas (Otero e Ingberman,
3 2004). Christensen e Jacobson (2000), dentre outros, propuseram ampliação desses objetivos, observando que a ênfase nas mudanças deveria se basear na aceitação, compromisso e comunicação. Assim Hayes, Jacobson, Follette e Dougher (1994) formularam a terapia da aceitação e do compromisso que sistematizou outro modo psicoterápico mais abrangente derivado da Análise do comportamento. O compromisso com a relação de ambos os membros do casal é de quererem melhorá-la e não apenas culpar o outro pelos problemas do casal. A comunicação que é entendida como uma habilidade aprendida e que pode ocorrer de diferentes maneiras, como verbal e não-verbal e a aceitação são atitudes altamente desejáveis entre os parceiros, além de necessárias. Diante deste conceito teórico sobre psicoterapia de casal podemos falar em etapas do processo diagnóstico, que se configuram em avaliação, condução do atendimento e finalização. A avaliação é a primeira etapa da terapia de casal comportamental integrativa (TCCI), da qual o terapeuta vai obter uma visão geral das queixas trazidas pelo casal. O terapeuta irá, durante as duas ou três seções iniciais, identificar qual será o melhor tratamento para determinado casal, ou seja, se ele dará ênfase na mudança ou na aceitação. É neste momento que o terapeuta vai identificar qual é o nível da crise do casal; o compromisso deste com seu relacionamento; como é a crise desse casal; os problemas que separam esse casal e como eles se manifestam no relacionamento; as forças que matêm o casal junto e, por fim, o que a TCCL pode realizar para ajudá-los. Assim, avaliação é feita a partir das primeiras entrevistas, em que o terapeuta deve avaliar a história do relacionamento do casal, as áreas nas quais este tem
4 problemas, diferentes aspectos e momentos do relacionamento, além de observar a expressão do afeto na sala de terapia. Assim, durante a avaliação, o terapeuta buscará informações que o ajudarão na formulação do plano de tratamento, que leve à mudança ou à aceitação o mais rapidamente possível. A condução do atendimento se refere ao plano de tratamento que o terapeuta estabeleceu a partir da avaliação, que tem como objetivo estabelecer mudanças e comportamentos de aceitação e compromisso. Além disso, muitas informações são colhidas durante o tratamento e que ajudam o terapeuta, pois apesar do tratamento seguir um padrão, cada um tem uma especificidade, isto é, a intervenção deve ser sempre específica para cada casal. A finalização se refere à etapa de conclusão do atendimento e deve-se ter em mente que ao término da terapia provavelmente nem todos os problemas do casal estarão resolvidos, mas a terapia termina porque os casais já adquiriram as habilidades necessárias ao equacionamento das situações problemáticas. Em relação à condução do tratamento, existem alguns modelos propostos pela literatura, embora Bonet e Castilla (1998) também ressaltem que o programa terapêutico deve adaptar-se às peculiaridades que cada casal apresente (p.563). Assim, o programa apresentado pelos autores baseia-se em um conjunto de modelos de intervenção, e busca reunir ações que sejam relevantes para a atuação nas áreas que foram observadas como de maior relevância para a promoção do bem-estar do casal. Dessa forma, constitui-se a partir da intervenção quatro campos de atuação: a perda do valor reforçador do relacionamento, os problemas de comunicação, a percepção de equidade e
5 temas relacionados à dificuldade do casal em manter acordos e resolver seus conflitos de maneira salutar. Organiza-se em torno do trabalho realizado em doze sessões, com duração de duas horas cada uma. Este processo divide-se em quatro fases. A primeira refere-se ao treinamento em reciprocidade, que visa aumentar a obtenção de reforçadores através da relação utilizando-se de comportamentos já presentes, buscando estimular aspectos positivos e motivando o casal para a mudança. Em seguida seria realizado o treinameno em comunicação, auxiliando o casal a identificar problemas e desenvolver habilidades de forma a favorecer a compreensão e a assertividade. Em terceiro lugar seria realizado o treinamento em negociação, buscando o estabelecimento e também cumprimento de acordos que tornem possível a articulação de desejos e opiniões discordantes, preparando o casal para a quarta e última fase, que seria o treinamento em solução de conflitos. Nesta fase o terapeuta deveria ensinar o casal a encontrar formas mais funcionais de enfrentar seus problemas, utilizando todos os conteúdos trabalhados e aprendidos nas sessões anteriores para poder centrar-se nos aspectos essenciais e também nos positivos, de forma a atingir um funcionamento saudável e interessante para ambas as partes. Além dos aspectos referentes à mudança, a terapia de casal também pode e deve girar em torno da aceitação, que proporciona que os clientes aprendam a aceitar as emoções e cognições aversivas. Para isso o terapeuta trabalhará no esclarecimento de valores. No início os próprios comportamentos ditos valorizados podem ser apresentados em termos emocionais, neste momento o terapeuta poderá distinguir qual é a real necessidade de regulação comportamental.
6 Por exemplo, um esposo que diz amar sua esposa, e no entanto a maltrata, pode dizer que precisa controlar sua raiva. Paradoxalmente, aprender a sentir raiva (e a dor, ansiedade e vulnerabilidade que geralmente a precedem) e a compartilhar esses sentimentos de forma apropriada com sua esposa é o que vai tomar mais provável construir uma tal relação (HAYES e BLACKLEDGE [s.d]). Conforme dito acima, embora o tratamento siga algumas diretrizes préestabelecidas, para cada caso deve haver uma especificidade, isto é, a intervenção deve ser sempre específica para cada casal. Assim o terapeuta deve estar atento a estas diferenças, como por exemplo, com casais homossexuais, em que o terapeuta deve entender como um relacionamento como qualquer outro que tem problemas que nem sempre são relacionados a identidade sexual. Com romances ou encontros virtuais, casos de violência domestica, que envolvem questões mais delicadas, pois sempre é inaceitável, em qualquer condição, envolve mitos sobre a agressão, que na maioria da vezes apresenta uma função dentro do relacionamento, seja de controle, de solucionar conflitos, impedir abandono ou descarga emocional. Casos de parceiros em diferentes etapas da vida, como namorados, noivos, casados sem filhos, com filhos pequenos, adolescentes, adultos e etc. Para a obtenção dos resultados desejados, algumas ferramentas podem ser utilizadas, como o fornecimento de informações didáticas a respeitos dos conceitos a serem trabalhados com o casal, os exercícios de modelo, onde comportamentos-alvo serão exercitados em sessão com o auxílio do terapeuta, a modelagem e feedback, onde o terapeuta poderá valorizar opções intermediárias, necessárias à aquisição dos comportamentos que são objetivo
7 da terapia, e a requisição de tarefas para casa, para que haja a consolidação dos conteúdos trabalhados em sessão (Bonet e Castilla, 1998). Portanto o terapeuta de casais exerce várias funções variadas, de mediador, orientador, instigador, pacificador, informador, mas será sempre um analista do comportamento. Assim faz-se necessário considerar todos os filtros presentes, os sinais dos tempos (contexto e época), cuidar de comportamentos públicos e encobertos e que cada casal é único, portanto requer objetivos e estratégias próprias. (Otero e Ingberman, 2004). REFERÊNCIAS: BLACKLEDGE, J. e HAYES, S. Regulação de emoções na Terapia de Aceitação e Compromisso, tradução realizada com fins exclusivos de apoio ao estudo, para uso nas disciplinas ministradas pelo PGAC/UEL. Versão de 12/03/09. BONET, J.; CASTILLA, C. Um protocolo cognitivo-comportamental para terapia conjugal. In V. Caballo (Org.), Manual para o tratamento cognitivocomportamental dos transtornos psicológicos da atualidade, p São Paulo: Editora Santos, CORDOVA, J. V.; JACOBSON, N. S. Crise de casais. In: D. H. Barlow (Org.), Manual clínico dos transtornos psicológicos, p Porto Alegre: Artmed, 1999, 2 ed. SILVA, L. P.; VANDENBERGHE, L. Comunicação versus resolução de problemas numa sessão única de terapia comportamental de casal. Campinas: Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v.9, n.1, p.43-60, 2009.
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