As Datas Comemorativas
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- Ana Vitória Caires Balsemão
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1 As Datas Comemorativas É bastante comum que algumas datas sejam comemoradas no ambiente escolar, mas elas precisam ser criteriosamente selecionadas, de acordo com o contexto das crianças e seus interesses. Há certas regiões em que as crianças se envolvem mais com suas danças e festas típicas tradicionais, por terem incentivo familiar ou por pertencerem a comunidades menores, nas quais todos se conhecem e se integram. Já, em outras, esse tipo de comemoração ficou um pouco esquecido pela excessiva influência da globalização. Não parece ser resultado de reflexões aquele planejamento que apresenta uma relação de atividades para datas comemorativas seguidas, de acordo com um calendário nacional e das quais as crianças talvez nunca tenham ouvido falar. É certo que a televisão promove o envolvimento com algumas datas que acabaram se tornando bastante comerciais como Páscoa, Carnaval, Dia das Mães e dos Pais, entre outras, que também despertam o interesse infantil. Porém o trabalho tem que ser planejado a fim de promover o enriquecimento em termos de aprendizagem. Os temas comemorativos não precisam, necessariamente, ser lembrados apenas em suas datas; devem ser aproveitados em toda sua profundidade e, caso não envolvam as crianças, não merecem ser trabalhados. Um exemplo é o do Dia do Folclore, data em que muitos professores fornecem um desenho de um personagem para pintura, contam sua respectiva lenda e no dia seguinte não se fala mais no assunto. Se o grupo de crianças está interessado em histórias sobre o Saci Pererê, a Cuca, entre tantos outros representantes de nosso folclore, não há a menor necessidade de esperar para contá-las no mês de agosto. Além disso, o trabalho com datas comemorativas, desenvolvido superficialmente, não passa de uma listagem de atividades sobre um tema, que se repete todos os anos, sem qualquer alteração, já que o calendário é o mesmo. O apelo comemorativo é tão forte que há sempre a confecção de lembranças relacionadas aos temas, como o cocar indígena ou a máscara de coelho.
2 É um tipo de planejamento que toma como ponto de partida o desenvolvimento da criança em seus aspectos físicos, cognitivos e afetivosociais, estabelecendo objetivos e conteúdos a eles relacionados, dentro de determinados parâmetros, que o profissional conhece, sobre as habilidades das crianças em cada faixa etária. Se por um lado parece respeitar o desenvolvimento infantil, por outro pode estabelecer um padrão ideal de criança, com habilidades conquistadas em cada fase ou idade demarcada e sem oportunizar avanços nesse desenvolvimento, pois não se menciona a ampliação de aprendizagens. Então, ao planejar, o professor prepara as atividades diárias, nas quais as crianças exercitem essas habilidades. Aos dois anos de idade a criança já é, teoricamente, capaz de encaixar as peças adequadas numa caixa com os respectivos orifícios e, portanto, é o que o professor vai esperar que ela faça. Nesse tipo de planejamento em que se espera um comportamento padrão para cada faixa etária, pode-se determinar que a criança tenha problema quando, de fato, ela não tem. Pior ainda é encaminhá-la a outros profissionais especializados sem a menor necessidade, porque a possível defasagem do desenvolvimento poderia ser sanada na própria escola, com atividades nas quais a criança poderia aprimorar determinada habilidade. Também não demonstra considerar que a construção do conhecimento ocorra pelas interações da criança com seu meio, de maneira integral e não por tópicos relacionados pelo professor. Não deixa explícito que ao interagir com o ambiente a criança o faz com todo o seu corpo, pegando, cheirando, apalpando, e relacionando cognitivamente com experiências anteriores, relembrando sensações boas ou más de outras vivências. Planejamento baseado em temas Em tese, a organização do trabalho por temas pretende articular os objetivos e conteúdos das várias áreas ou eixos de conhecimento de mundo, em torno de um assunto de interesse das crianças. Porém, na prática, muitas vezes ocorre de o professor usar um mesmo procedimento para todos os assuntos, uma lista igual de atividades, da qual só muda o título, como, por exemplo, uma história sobre o tema, seguida de um desenho, seguida de uma roda de músicas sobre o assunto e, por fim, a confecção de um adereço.
3 Qualquer assunto se enquadraria nesse rol de atividades, não há reflexão e intencionalidade. Circo Roda de conversa: Mostrar a figura do circo e perguntar o que há nele. Desenho sobre o que mais gosta no circo Música do Palhaço Plim Plim Confecção da máscara do palhaço - Brincar de palhaço Coelho Roda de conversa:mostrar a figura do coelho e perguntar quem já viu um coelho de verdade. Falar sobre alimentação, onde vive e se é animal doméstico ou selvagem. Desenhar um coelho Imitar o coelho pulando - Música do coelho Confecção da dobradura do coelho Nesses dois exemplos pode-se perceber como os dias numa instituição de Educação Infantil podem ser todos iguais. É notório também o quanto esse planejamento pode ser destituído de intenção por parte do professor e de construção de significados para a criança. Freqüentemente, o professor, faz do tema as amarras do trabalho. Alegando que não se pode desviar, nega oportunidades ricas trazidas pelas crianças no cotidiano. Também acontece de um tema ser estabelecido pela direção da escola; então, perde-se de vez a proposta de partir do interesse do grupo, pois é um tema para toda a escola, e é impossível manter as crianças, dos bebês até ao mais velhos, envolvidas em um único assunto.
4 Planejamento baseado em conteúdos organizados por áreas de conhecimento Com esse tipo de planejamento houve um considerável avanço na Educação Infantil, uma vez que se torna bastante clara a preocupação com a aprendizagem da criança, com a aquisição de novos conhecimentos dentro das áreas básicas, que, hoje, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil orienta: Movimento; Música; Artes Visuais; Linguagem Oral e Escrita; Natureza e Sociedade; Matemática. Animais marinhos e terrestres? Os objetivos e conteúdos das áreas de conhecimento, articulados em volta de um tema, parecem bem apropriados à ampliação de conhecimentos, respeitando-se ainda os interesses, necessidades e a diversidade de contextos socioculturais das crianças. Porém ainda esbarra-se em um problema: o trabalho com os bebês. Articular um tema dentro dos parâmetros desse tipo de planejamento para crianças entre três e seis anos é plenamente possível, mas com os menores que possuem uma rotina repleta de atividades de cuidados e necessidades físicas torna-se um pouco complicado. Parece contraditório que se queira o direito à Educação Infantil, desde o nascimento até os seis anos de idade, e os profissionais tenham certa dificuldade em estabelecer os caminhos para alcançá-lo com as crianças menores. Na verdade, trata-se de um aprendizado por todos os envolvidos com a educação, trata-se de acreditar no potencial dos bebês, que em sua trajetória educacional viveram longos períodos de assistencialismo. Todas as propostas de planejamento apresentadas parecem encaminhar-se para o estabelecimento de um momento específico de atividade pedagógica dentro da rotina de entrada, higiene, lanche, sono, entre tantas
5 outras. A destacada estrela chamada Hora da Atividade mistura-se a tantas tarefas assistencialistas, no registro de um planejamento. E, dessa forma, não há como desenvolver um bom trabalho com os bebês. Na tentativa de solução para esse problema, surgem várias reflexões. A começar pelo que é, de fato, pedagógico. Além do que o professor organiza como situação orientada de aprendizagem, estão os momentos de brincadeiras livres e os de cuidados, nos quais há a mediação de conhecimentos entre crianças e adultos. Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, cuidar e educar são indissociáveis. O cuidar é educar na medida em que o professor cria as condições necessárias para que a criança, aos poucos, vá se tornando autônoma nos cuidados essenciais com seu próprio corpo e saúde. A aquisição de habilidades relacionadas aos cuidados com o corpo e a aparência são importantes para que a criança desenvolva uma imagem positiva de si mesma. Educar também é cuidar. Garantir situações de aprendizagem, promover momentos de descoberta, proporcionar a construção do conhecimento é cuidar do desenvolvimento da crianças e de sua inserção na sociedade. É cuidar do cidadão para que ele se forme cada vez mais participativo em seu meio. Assim, a vida é pedagógica, pois o tempo todo se aprende. A todo instante, nas relações humanas há uma mediação de conhecimento na qual parceiros mais experientes ensinam uma infinidade de coisas aos parceiros menos experientes. A criança vai ao supermercado com a mãe para comprar uma variedade de frutas e legumes. Normalmente, ao observar a mãe escolhendo os produtos, pergunta se pode ajudar. A mãe consente e mostra para a criança que determinada fruta precisa ter a casca lisa e fina; outra precisa estar bem firme; e ainda uma terceira não pode ser nem muito verde nem muito madura, com uma cor determinada. Pode-se imaginar essa cena e tentar descobrir quem a planejou. Quantas descobertas foram realizadas pela criança! Quanto conhecimento foi construído! E a forma como essa hora da atividade foi desenvolvida? Os procedimentos usados foram muito interessantes. Quem poderia dizer que isso não é pedagógico?
6 Eles são muito melhores do que alguns, desenvolvidos nas Escolas de Educação Infantil, em momentos que a professora coloca todas as crianças em roda e pergunta, ao levantar um grande círculo amarelo feito em cartolina: - Que cor é essa? E as crianças respondem: - Amaaaareeeelaaa... Não, amigo leitor. Eu não errei a escrita da palavra amarela. Apenas dei ênfase à cantilena das crianças ao responderem à solicitação do professor. Essa entonação na resposta parece demonstrar o quanto as crianças estão cansadas desse tipo de atividade repetitiva, enfadonha, destituída de significado e aplicação em suas preciosas vidas. Crianças ávidas por tocar, cheirar, apertar, sacudir, devem se dobrar às exigências de um professor sem qualquer noção de dinamismo. No espaço da Escola de Educação Infantil há inúmeras alternativas de trabalho nas quais as crianças podem construir seus conhecimentos de forma ativa. Portanto, se o que se pretende é o reconhecimento da importância da Educação Infantil, o professor precisa valorizá-la, reconhecê-la e demonstrar essa concepção em seu planejamento que será, de fato, colocado em prática e não apenas constar de um pedaço de papel. Para organizar um planejamento que demonstre as intenções educativas do professor, alguns tópicos devem ser lembrados: Objetivar ao desenvolvimento global das crianças, ou seja, nos aspectos físicos, cognitivos, socioafetivos integrados em todas as ações, em situações de desenvolvimento não compartimentadas, lembrando sempre que não há momentos em que a criança se relaciona cognitivamente com os elementos para depois relacionar-se afetivamente e assim por diante. Tudo acontece ao mesmo tempo. Proporcionar situações de aprendizagem em relação ao conhecimento de mundo, ou seja, permitir a exploração do ambiente e seus elementos pelas crianças para que elas apreendam suas características e estabeleçam relações entre eles. Para efeito de organização, o conhecimento de mundo é organizado por eixos de matemática, linguagem oral e escrita, natureza e sociedade, música, movimento e artes visuais; também neste tópico há uma interligação e não um momento para trabalhar um ou outro eixo preestabelecido. Propiciar a aprendizagem da criança através de sua participação ativa em brincadeiras, jogos, resolução de problemas.permitir que ela possa fazer uso dos vários tipos de linguagens para expressar idéias, emoções e sentimentos. Articular tudo isso parece tarefa difícil, mas, quando se descarta a visão de momentos de aprendizagem, substituindo-a por situações significativas, compreende-se que todo e qualquer evento do dia escolar é pedagógico, sem
7 dicotomia de cuidar e educar. A entrada, roda de conversa, higiene, refeição, troca, brincadeiras, músicas, histórias misturam-se em horas alegres e divertidas, compartilhadas entre professores e crianças com muito prazer, num ambiente de afeto, interação, exploração e limites. Um planejamento também envolve o espaço físico da instituição. O espaço deve ser flexível, remanejado de acordo com a necessidade de movimentação das crianças e que possibilite a exploração e a aprendizagem. Histórias e conversas tornam-se mais prazerosas em ambientes aconchegantes como em torno de um tapete ou embaixo de uma gostosa árvore. A criança lida com as situações de aprendizagem, em seu cotidiano, de forma curiosa, investigativa e tem bastante prazer com isso. Cabe ao professor de educação infantil resgatar essas sensações infantis, buscar em sua memória o que lhe era interessante. Muitas vezes elas estão adormecidas, encobertas por experiências escolares pouco significativas, mecanizadas, nas quais a diversão não combina com a aprendizagem.
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