EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ATRAVÉS DAS OFICINAS DE ARTE. EIXO TEMÁTICO: Relatos de experiências em oficinas e salas de aula
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- Branca Flor Raminhos Cabreira
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1 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ATRAVÉS DAS OFICINAS DE ARTE Maria Cristina Pastore 1 EIXO TEMÁTICO: Relatos de experiências em oficinas e salas de aula Palavras chaves: patrimônio, oficinas, arte. PATRIMÔNIO CULTURAL E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A educação patrimonial busca capacitar o individuo para exercer a cidadania, conhecendo, se apropriando e valorizando a sua cultura para que com isso venha a compreender o meio sócio cultural que se encontra absorvido. A Educação Patrimonial é um instrumento de alfabetização cultural que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal, em que está inserido. Este processo leva o reforço da auto-estima dos indivíduos e comunidades e à valorização da cultura brasileira, compreendida como múltipla e cultural. (HORTA, 1999 pag. 6) Muitas vezes nos referimos como patrimônio algo que recebemos de herança ou até mesmo pensamos na arquitetura da cidade, os prédios antigos, mas patrimônio também pode ser representado por fotos, objetos com ou sem valor comercial com uma carga emocional afetiva elevada. Também podem ser mais abrangente, como elementos necessários à sobrevivência do ser humano, como a água, elementos pertencentes à natureza. Pedro Funari 2, no inicio de seu livro Patrimônio Histórico e Cultural, comenta os tipos de patrimônio que são material, espiritual e imaterial, patrimônio coletivo e 1 Bolsista PIBID da Universidade Federal de Rio Grande, Subprojeto de Artes Visuais. 2 Pedro Paulo Abreu Funari Professor Livre-Docente da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); professor assistente-doutor desde 10/4/92, livre-docente desde abril de 1996, aprovado em concurso público para provimento de cargo, na Parte Permanente do QD/UEC, desde 11/12/98 Departamento de História, IFCH, UNICAMP. pedrofunari@sti.com.br.
2 individual. Decorrentes dessas leituras foram pensadas ações com a proposta de trazer para dentro da sala de aula o cotidiano do educando, fazendo com que ele receba o conhecimento dos objetos que estão próximos. Percebendo sua importância para então tentar estabelecer um vinculo do conteúdo universitário com uma abordagem escolar, aproximando universidade, escola e comunidade. Conforme Funari: O patrimônio individual depende de nós, que decidimos o que nos interessa (2006, pág. 09), a eleição do que é patrimônio é uma opção de cada individuo de acordo com seus interesses políticos e econômicos e o patrimônio coletivo depende das reflexões que a própria comunidade realiza para determinar os interesses comuns a todos. A casa, a rua, a escola, a família podem contribuir para o inicio dessa compreensão, entendendo como o individual contribui para o coletivo, envolvendo assim uma comunidade, uma associação de bairro, condomínio, gerando multiplicidade. O que é patrimônio para uns, não é para outros, mas é dever de todos, na coletividade, preservar. Horta (1999) nos orienta como dever patriota preservar recursos materiais, ambientais e o saber brasileiro. Nesse processo de valorização e preservação da cultura e do patrimônio histórico, todas as ações se fazem necessárias para auxiliar o individuo na construção da sua própria identidade, reconhecendo e aceitando diversidades culturais. Assim, a educação patrimonial oferece a possibilidade para o educando utilizar sua capacidade intelectual com o intuito de perceber a importância do patrimônio. Como futuros educadores, necessitamos provocar no estudante um processo continuo de pensar a este tipo de educação, como forma ativa de valorização e capacitação do passado para usufruir de nossa identidade cultural no presente. METODOLOGIA Com o olhar no passado através do patrimônio histórico e arquitetônico, estruturalmente estável, passível de estudo, análise e contemplação e outro olhar no futuro do adulto em processo de busca de reconhecimento desse passado, da sua identidade cultural, para que tenha condições de agir no presente, é inevitável a preocupação com a criação e aplicação de técnicas com qualidade e principalmente com a formação do profissional especializado comprometido com o a educação gerada no
3 percurso escolar. Na elaboração das oficinas, levamos em conta o que pretendíamos explorar, ou seja, a capacidade de cada educando em compreender o que é patrimônio seja ele imaterial ou material, para que no final o sujeito possa refletir criticamente e seja capaz de formular o conceito de patrimônio, despertando o interesse em conhecer mais os demais tipos existentes. As etapas foram elaboradas de acordo com a pesquisa sobre a escola que iríamos trabalhar, acessamos dados referentes à arquitetura do prédio. A escola CAIC, através da sua direção, mostrou-se receptiva e aberta à nova proposta se ensino, contribuindo com os espaços necessários para colocar em prática o projeto. A sistematização deu-se na divisão dos itens a serem abordados em três etapas: PRIMEIRA OFICINA: Identidade criativa O individuo é também constituído de memória natural, por isso, fundamentado nessa afirmação, buscamos provocar interesse no educando para abordar o assunto patrimônio. Para Vygotsky 3 (1994) a memória proporciona ao ser humano armazenar o conhecimento seja ele consciente ou inconsciente, a assimilação se acomoda e passa a fazer parte do aprendizado de um individuo. Partindo dessa premissa, um simples objeto do cotidiano como uma foto, um quadro, uma casa, um caminho, poderá representar as bases da elaboração do conceito patrimônio. Sendo assim, propomos partir do fragmento casa, lembranças e objetos para então dar continuidade com a comunidade, escola, cidade. O intuito foi de direcionar e ampliar o olhar para que, ao valorizar o fragmento, possa estar preparado para aceitar o conjunto maior, ou seja, os prédios históricos do centro da cidade, um lugar desconhecido por muitos alunos e não pertencentes à sua realidade. No primeiro momento, saímos com os alunos para um passeio de reconhecimento do lugar bairro, embora quase todos fossem moradores na comunidade, sentimos a necessidade de chamar a atenção para o local, observando suas reações. 3 Lev S.Vygotsky ( ) Psicólogo russo, teórico do ensino como processo social
4 Em outro momento, em sala de aula, apresentamos o mapa da cidade e solicitamos que cada um marcasse sua residência, assim proporcionando um ambiente participativo e descontraído. (figura 1) Figura 1: Mapa da cidade Em seguida apresentamos a proposta do trabalho, articulando teoria e pratica, usando da estratégia das oficinas para construir o conhecimento. Solicitamos ao educando que desenhasse seus objetos, sua casa, sua rotina diária, com o intuito de reconhecer, através do desenho de sua realidade, sua identidade e pertencimento. Partimos do fragmento casa/bairro que é algo próximo ao estudante, o conhecimento do patrimônio pessoal, do seu cotidiano, para então explicarmos a história do patrimônio da cidade do Rio Grande. Falar de patrimônio é falar de sentimentos, orgulho, afeição, preocupação, preservação, mas, como falar sobre isso para indivíduos que vivem numa realidade de vulnerabilidade econômica e social? Falar de patrimônio diante deste contexto, não é tarefa fácil, em função disso foi necessário criar condições especificas. Exploramos o uso das habilidades de cada um, respeitando a cultura individual, porque percebemos que em cada turma existe a manifestação de pequenos grupos sociais com identificação próprias, hábitos e costumes singulares, confirmados através dos desenhos. Eles relatam suas vivências nos desenhos como mapa semântico 4 ou em quadrinhos, identifica o meio em que vivem e anotam suas reflexões sobre a oficina no diário bordo 5. SEGUNDA OFICINA: Inserindo Maurice Prowizur no cotidiano 4 Mapa semântico são diagramas que auxiliam a visualização e a formulação de conceitos que estão sendo aplicados, bem como ativa o conhecimento prévio sobre um dado tema.
5 A segunda oficina, com o tema Inserindo Maurice Prowizur no cotidiano escolar, leva para dentro da sala de aula três obras do artista em giclées (palavra francesa empregada nos EUA para nomear o processo de microjato de tinta, a uma determinada pressão, usada na impressão desta nova geração de gravuras). Disponibilizamos o material para observação e leitura do artista através dos quadrinhos em forma de mangá 6. Com essa oficina foi possível ao educando conhecer o artista, buscando maneiras de incluir a arte no seu cotidiano e o contato com suas obras, o que gerou questionamentos e a tentativa de aproximação dos quadros, demonstrando como a turma estava motivada pela novidade em sala de aula. TERCEIRA OFICINA: Redescobrindo o espaço escolar Esta oficina era esperada com expectativa e motivação, em função do trabalho estar terminando. Significou o fechamento, o terceiro módulo do projeto que proporcionou aos educandos, ao grupo de acadêmicas e as coordenadoras, um envolvimento não só educativo, mas também afetivo, já que estávamos falando de patrimônio, seja ele imaterial ou material. Estávamos falando de memórias, de valorização da história e de arte, e esse fechamento deveria ser completo. Redescobrindo o Espaço Escolar levou para a sala de aula o aprender brincando, com o desenvolvimento da atividade de um jogo, aqui analisado como expressão da cultura. Necessita de raciocínio, no qual é escolhida uma estrutura pré-determinada para servir de base ao quebra-cabeça. Escolhemos fazer as fotos do prédio da escola, que pela sua arquitetura se mostra favorável para a experiência. Selecionamos fotos do prédio CAIC, com detalhes de algum lugar especifico que o educando venha a apontar como reconhecido. Após as fotos selecionadas, os estudantes recebem a questão para solucionar, montar, incentivando assim uma atividade conhecida, o quebra-cabeça. Buscamos no jogo de infância a motivação para o exercício do pensar e fazer, procurando uma linguagem diferenciada. Através da aparente brincadeira buscou-se 5 Diários de Bordo - Cadernos disponibilizados pela escola CAIC no qual os estudantes escrevem suas reflexões no final de cada oficina, contribuindo para avaliação do trabalho. 6 Mangá - Termo usado para designar as histórias em quadrinhos feitas em estilo japonês
6 construir uma situação real e dinâmica. Vygotsky 7 [1993) nos fornece dados sobre a brincadeira no universo infantil quando declara que é uma maneira de expressão e apropriação das atividades dos adultos, aqui usada como suporte e pratica pedagógica à serviço da educação patrimonial. Ao unir o quebra-cabeça, formando os detalhes da escola, o educando identifica o prédio, logo após pinta uma reprodução feita em Xerox da mesma fotografia que ele montou, desenha sua silueta em outra folha, recorta e cola no trabalho. A finalização com esses materiais estabelece um vínculo com várias linguagens artísticas, como fotografia, pintura, desenho e colagem e aproxima o educando do patrimônio de convivência diária: a escola. Conclusões As oficinas executadas completaram a seqüência de estratégias usadas para a compreensão, por parte do estudante, do que é patrimônio e como valorizá-lo. Cada oficina pode ser individualmente elaborada, mas as três estão relacionadas com a memória afetiva, valorização do conhecimento da história de cada indivíduo e da comunidade do bairro Castello Branco, Rio Grande-RS, onde trabalhamos. Partindo do fragmento individual chegando ao patrimônio arquitetônico, com o envolvimento dos estudantes em todas as atividades, estabelecemos diálogos desses com meio em que vivem, buscamos organizar o pensamento, e nesse processo de encontro e desencontro, adaptações, verificamos com satisfação o empenho dos jovens na elaboração dos trabalhos. Ficou evidente o comportamento colaborativo deles antes e durante as oficinas. Através dos trabalhos apresentados e do diário de bordo podemos traçar um comparativo de compreensão da teoria, entendimento e apreensão do conhecimento sobre patrimônio demonstrado no seu processo criativo. O conhecimento em artes favoreceu a construção do saber pessoal que influencia no coletivo, por ser uma área com o poder de encantamento, o que poderá contribuir para o desenvolvimento das potencialidades do educando dentro e fora da sala de aula. O educar se constitui no processo em que a criança ou o adulto convive com o outro e, ao
7 conviver com o outro, se transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro no espaço de convivência (MATURANA, 1998b, p. 29). Ao analisar e refletir sobre a experiência realizada, concluímos que sempre é possível provocar situações para que os sujeitos possam pensar, e pensando, tornarem-se autônomos e realizadores de ações de auto-estima como cidadãos. Nas conversas informais, já na sala de aula, os educandos expressavam-se como donos do lugar, pertencentes ao espaço ao seu redor, transmitindo informações relevantes e de importância ao projeto. Como por exemplo, aqui é a minha rua, ali mora minha irmã, esse é o meu lugar, demonstrando capacidade de apropriação do que está próximo. Ao observamos essas afirmações, acreditamos na educação patrimonial como suporte de ampliação desse pensamento. O educando como cidadão consciente do seu espaço possa chegar ao momento de meditar no sentimento de posse, herdeiro, não só do fragmento, mas do patrimônio cultural. Para o fechamento foi realizada uma aula-passeio pelos edifícios históricos da cidade do Rio Grande-RS, assim mais uma vez colocando em pratica os conhecimentos adquiridos em sala de aula, agora cada prédio com um olhar e um significado diferente. Referências CAVALCANTI, Zélia. A Arte na sala de aula. Porto Alegre: Artes Médicas, FUNARI, Pedro Paulo de Abreu e PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio Histórico e Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., HORTA, Maria de Lourdes Parreira. Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília: Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial, LEMOS, Carlos A. C.. O Que é Patrimônio Histórico. São Paulo: Brasiliense, MATURANA, Humberto. Emoções e Linguagem na Educação e na Política. Ed. UFMG, VYGOTSKY, Lev. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo, Martins Fontes, 1993 VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente 5ª Ed São Paulo, SP Martins Fontes Editora Ltda, 1994 Trajetória e políticas para o ensino das artes no Brasil: anais da XV CONFAEB José Mauro Barbosa Ribeiro (organizador)- Brasília: Ministério da Educação, 2009
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