O USO DO ORÇAMENTO EMPRESARIAL COMO FERRAMENTA DE APOIO À TOMADA DE DECISÃO E AO CONTROLE GERENCIAL EM INDÚSTRIAS FARMACÊUTICAS DE MÉDIO PORTE



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Transcrição:

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO O USO DO ORÇAMENTO EMPRESARIAL COMO FERRAMENTA DE APOIO À TOMADA DE DECISÃO E AO CONTROLE GERENCIAL EM INDÚSTRIAS FARMACÊUTICAS DE MÉDIO PORTE Dariane Reis Fraga Castanheira Orientador: Prof. Dr. Carlos Eduardo de Mori Luporini São Paulo 2008

Profa. Dra. Suely Vilela Reitora da Universidade de São Paulo Prof. Dr. Carlos Roberto Azzoni Diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Prof. Dr. Isaac Kruglianskas Chefe do Departamento de Administração Prof. Lindolfo Galvão Albuquerque Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Administração

DARIANE REIS FRAGA CASTANHEIRA O USO DO ORÇAMENTO EMPRESARIAL COMO FERRAMENTA DE APOIO À TOMADA DE DECISÃO E AO CONTROLE GERENCIAL EM INDÚSTRIAS FARMACÊUTICAS DE MÉDIO PORTE Dissertação apresentada ao Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Administração Orientador: Prof. Dr. Carlos Eduardo de Mori Luporini São Paulo 2008

Castanheira, Dariane Reis Fraga O uso do orçamento empresarial como ferramenta de apoio à tomada de decisão e ao controle gerencial / Dariane Reis Fraga Castanheira. -- São Paulo, 2008. 103 p. Dissertação (Mestrado) Universidade de São Paulo, 2008 Bibliografia. 1. Planejamento empresarial 2.Orçamento empresarial 3. Orçamento empresarial Processos I. Universidade de São Paulo. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade II. Título. CDD 658.4012

i Dedico este trabalho aos meus pais, Aldary e Dalcione; ao meu esposo, Paulo César, e às minhas irmãs, Ariane e Glaucione.

ii AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Prof. Dr. Carlos Eduardo de Mori Luporini, as orientações, idéias, conselhos, indicações e apoio na realização desta dissertação. Ao Prof. Dr. Almir Ferreira de Sousa, as contribuições, não somente como membro da banca de qualificação, mas como amigo e grande incentivador e apoiador. Ao Prof. Dr. Adelino De Bortoli Neto, as idéias e conselhos. Ao Prof. Dr. José Roberto Ferreira Savóia, as suas valiosas contribuições. Ao Prof. Dr. José Luiz Munhoz, as idéias e contribuições. Ao Prof. Dr. Luiz Paulo Fávero, o apoio e auxílio na escolha do método de pesquisa.

iii RESUMO Esta dissertação tem como objetivo o estudo do uso do orçamento empresarial como ferramenta de apoio às decisões e ao controle gerencial em indústrias farmacêuticas de médio porte. Como objetivos específicos, este estudo verifica se essas indústrias possuem um sistema de informações contábil-gerenciais adequado à necessidade dos gestores, a adoção de uma estrutura formal para planejamento dos resultados em curto e longo prazos, o modelo aplicado na elaboração do orçamento empresarial e a avaliação dos gestores sobre o processo orçamentário adotado. O referencial teórico apresenta a visão de renomados autores e está dividido em quatro partes. A primeira contempla decisões gerenciais e o sistema de informação contábil-gerencial. A segunda, o planejamento estratégico. Em seguida, o orçamento empresarial e, finalmente, o controle gerencial. A metodologia de pesquisa adotada foi o estudo de caso múltiplo, com a participação de cinco empresas. Os dados foram coletados por meio de entrevistas roteirizadas individuais, realizadas pela pesquisadora, com os gestores administrativo-financeiros dessas empresas. A conclusão apresentada neste trabalho revela que o orçamento empresarial é utilizado como ferramenta de apoio às decisões e ao controle gerencial pelos gestores das cinco empresas e que o processo orçamentário adotado é adequado às necessidades, mas ainda cabem melhorias.

iv ABSTRACT This dissertation aims at the study of corporate budget as a tool to support the decisions and the management control in medium sized pharmaceutical industries. As specific objectives, the study checks if the industries have a managerial accounting information system that suits the managers needs, the adoption of a formal structure for the planning of long and short term results, the pattern applied in the elaboration of the corporate budget and the managers evaluation of the budgetary process that has been adopted. The theoretical reference presents the point of view of renowned authors and it is divided into four parts. The first one describes managerial decisions as well as the managerial accounting information system. The second one is about strategic planning. Then the corporate budget and finally the management control. The adopted research methodology was multiple case study in which five enterprises participated. The data was collected by researchers through individual interviews with administrative-finance managers from the companies. The conclusion presented by this work reveals that the managerial corporate budget is used by managers from the five enterprises as a support tool for the decisions and managerial control and that the adopted budgetary process suits the needs, but there is still the need for improvement.

SUMÁRIO LISTA DE SIGLAS... 03 LISTA DE FIGURAS... 04 LISTA DE TABELAS... 05 LISTA DE GRÁFICOS... 06 1 INTRODUÇÃO... 07 1.1 Justificativa do tema... 08 1.2 Definição do problema... 13 1.3 Objetivos do estudo... 13 2 REVISÃO TEÓRICA... 15 2.1 Sistema de Informação Contábil-Gerencial: apoio às decisões gerenciais... 16 2.1.1 Decisões Gerenciais... 16 2.1.2 Sistema de Informação Contábil-Gerencial... 18 2.2 Planejamento Estratégico... 20 2.2.1 O Planejamento nas Empresas... 21 2.2.2 O Planejamento Estratégico... 23 2.3 Orçamento Empresarial... 26 2.3.1 Princípios Gerais de Planejamento... 27 2.3.2 A Organização do Orçamento... 29 2.3.3 Etapas do Processo Orçamentário... 30 2.3.3.1 Processo Orçamentário: um exemplo da indústria farmacêutica... 33 2.3.4 Avaliação, Aprovação e Divulgação do Orçamento... 40 2.3.5 Vantagens e Limitações do Orçamento... 41

2 2.3.5.1 Vantagens... 41 2.3.5.2 Limitações... 42 2.4 Controle Gerencial... 43 3 METODOLOGIA... 46 3.1 Caracterização da Pesquisa... 46 3.2 Modelo Conceitual... 47 3.2.1 Variáveis de Pesquisa... 48 3.3 Procedimento de Campo... 50 3.3.1 Amostra... 51 3.3.2 Coleta de Dados... 53 3.4 Tratamento dos Dados... 57 3.5 Limitações do Método... 57 4 ESTUDO DE CASOS... 58 4.1 Empresa A... 58 4.2 Empresa B... 62 4.3 Empresa C... 67 4.4 Empresa D... 71 4.5 Empresa E... 74 4.6 Visão Geral das Empresas... 78 5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES... 82 REFERÊNCIAS... 85 ANEXOS... 89

3 LISTA DE SIGLAS BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social... 08 DRE Demonstração do Resultado do Exercício... 38 EBITDA Earnings Before Interest, Tax, Depreciation and Amortization Lucros antes dos juros, impostos, depreciação e amortização... 40 EVA Economic Added Value Valor Econômico Adicionado.... 40 IPA Índice de Preços por Atacado... 07 FEBRAFARMA Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica... 07 GRUPEMEF Grupo dos Profissionais Executivos do Mercado Farmacêutico... 11 IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística... 09 RAIS Relação Anual de Informações Sociais... 07 SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas... 08 SECEX Secretaria de Comércio Exterior... 09

4 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Fundamentação Teórica do Estudo... 16 FIGURA 2 Nível de Decisão e Tipos e Planejamento... 22 FIGURA 3 - O Processo de Planejamento Estratégico de Negócios... 24 FIGURA 4 - Visão Geral do Processo Orçamentário... 32 FIGURA 5 - Processo Orçamentário: um exemplo da indústria farmacêutica... 34 FIGURA 6 - Variáveis da Pesquisa... 47

5 LISTA DE TABELAS TABELA 1 Critérios de Classificação de Empresas por Porte... 09 TABELA 2 Escala para Avaliação do Processo Orçamentário... 56

6 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 Indústrias Farmacêuticas no Brasil por Faturamento e Porte... 12 GRÁFICO 2 - Quantidade de Indústrias Farmacêuticas no Brasil por Porte... 12 GRÁFICO 3 Avaliação do Processo Orçamentário Empresa A... 62 GRÁFICO 4 Avaliação do Processo Orçamentário Empresa B... 67 GRÁFICO 5 Avaliação do Processo Orçamentário Empresa C... 70 GRÁFICO 6 Avaliação do Processo Orçamentário Empresa D... 74 GRÁFICO 7 Avaliação do Processo Orçamentário Empresa E... 78 GRÁFICO 8 Avaliação do Processo Orçamentário Média por empresa... 81 GRÁFICO 9 Avaliação do Processo Orçamentário Média Geral por item... 81

7 1 INTRODUÇÃO A indústria farmacêutica tem uma função importante na vida humana e na economia do Brasil e do mundo. Com o aumento da expectativa de vida do homem e a crescente busca por qualidade de vida, o mercado farmacêutico mundial cresce continuamente e permanece como um dos mais rentáveis e promissores. O mercado mundial de produtos farmacêuticos alcançou US$ 232 bilhões, em 2004. O Brasil participa com apenas 0,15%, representado por cerca de 692 estabelecimentos produtores de medicamentos para uso humano, segundo a RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) do mesmo período. A Febrafarma (Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica) informou que o volume exportado pelo Brasil cresceu 3,4% ao ano entre 2000 e 2005, mostrando que o potencial de crescimento é significativo, visto o tamanho do mercado e o pequeno crescimento atual. É um setor marcado por intervenções governamentais no passado (tabelamento, administração e congelamento de preços) e está entre os mais regulados no presente. Estas intervenções certamente afetam a rentabilidade destas indústrias. Se compararmos os reajustes de preços acumulados liberados entre 2001 e 2005, um total de 52,85%, contra 82,81%, registrados pelo IPA (Índice de Preço por Atacado) acumulado, é evidente a grande diferença entre os preços adotados e as reais necessidades desta indústria. Além disso, de acordo com o Comparativo Internacional de Preços de Produtos Farmacêuticos em 2005, da Febrafarma, o Brasil tem o quinto menor preço de medicamentos ao consumidor, desconsiderados os impostos, se comparado com 30 outros países listados neste relatório (ROMANO, PELAJO e SILVA, 2007)

8 A gestão desses e outros problemas do setor, como a alta carga tributária, certamente exigiu e ainda exige muitas habilidades de seus administradores, bem como o uso de ferramentas de apoio para a tomada de decisão e para o controle gerencial. 1.1 JUSTIFICATIVA DO TEMA A concorrência acirrada nos mercados nacional e internacional, as mudanças e a evolução nas necessidades dos consumidores, a pesada carga tributária e o alto custo do dinheiro são fatores que exigem mudanças no perfil das empresas e de seus administradores. O aperfeiçoamento das técnicas de gestão das finanças é uma dessas exigências. Nesse moderno mercado globalizado, também estão insertas as empresas de médio porte, que vêm desempenhando crescente e importante papel no desenvolvimento econômico do país. As empresas de médio porte podem ser diferenciadas das pequenas ou grandes empresas por dois critérios mais comuns de classificação: número de empregados (utilizado pelo SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e pelo faturamento bruto anual (utilizado pelo BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Assim, empresas que possuem de 50 a 499 empregados ou com faturamento bruto anual entre R$10,5 milhões e R$60 milhões podem ser consideradas como médias empresas, conforme se apresenta na Tabela 1. A importância desse grupo de empresas para o Brasil pode ser evidenciada na contribuição para a geração de empregos. Segundo a RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) 2006, dos 35.155 empregados formais, cerca de 28%, ou 9.660, trabalham nas empresas de médio porte. Outros 38% trabalham em micro e pequenas e 34% em grandes

9 empresas. O percentual dos empregados alocados em micro, pequenas e médias empresas soma 66%, demonstrando sua relevância para o país. Tabela 1 - Critérios de Classificação das Empresas por Porte Porte / Critério Número de Empregados (SEBRAE) Faturamento Bruto Anual (BNDES) Microempresa até 09 (comércio e serviço) Até R$ 1.200 mil até 19 (indústria) Pequena Empresa de 10 a 49 (comércio e serviço) Superior a R$ 1.200 até R$10.500 mil de 20 a 99 (indústria) Média Empresa de 50 a 99 (comércio e serviço) Superior a R$10.500 mil até R$60.500 mil de 100 a 499 (indústria) Grande Empresa acima de 100 (comércio e serviço) Superior a R$60.500 mil acima de 500 (indústria) Fonte: SEBRAE e BNDES Na indústria brasileira, por exemplo, estas empresas respondem por cerca de 30% da riqueza gerada, segundo dados de 2005 da Pesquisa Industrial Anual, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Além disso, a SECEX (Secretaria de Comércio Exterior) divulgou, em 2006, que 74% do total de empresas exportadoras do país são micro, pequenas e médias empresas. Um estudo, divulgado em 2007 pela empresa de consultoria Deloitte (disponível em: <http://www.deloitte.com.br/> acessado em: 10.11.2007), identificou as 100 pequenas e médias empresas brasileiras que mais cresceram em 2004-2006. Para 41% dessas organizações, a adoção de um modelo profissional de gestão será um dos principais fatores impulsionadores do crescimento, nos próximos 3 a 5 anos e 63% consideram que o investimento na estrutura de gestão, incluindo gerência geral, planejamento, finanças, contabilidade etc., é um dos fatores que vão garantir a competitividade em curto prazo. Essas pesquisas corroboram as afirmações de Welsch (1983, p. 19), Figueiredo e Caggiano (2004, p. 27) e Frezatti (2006, p. 10) de que um dos enfoques mais importantes

10 utilizados para facilitar a execução eficaz do processo de gestão compreende o planejamento e controle de resultados, incluindo a elaboração de orçamentos para auxiliar na administração. Assim, a idéia é que o orçamento empresarial, que é parte de um processo de planejamento de longo prazo, possa auxiliar o gestor no exercício de suas funções administrativas. Se for observada a estrutura organizacional de uma empresa de grande porte, há grande possibilidade de serem encontrados gestores empenhados na elaboração de planejamentos estratégicos e orçamentos anuais que vão apoiar as suas decisões gerenciais, visando ao cumprimento dos objetivos empresariais. Provavelmente, eles terão à sua disposição sistemas computadorizados para registro das informações contábeis, possibilitando a apuração e controle dos resultados, bem como o seu reporting mensal aos acionistas e investidores. No caso das micro e pequenas empresas, pesquisas demonstram que isso nem sempre ocorre. O proprietário utiliza quase todo o seu tempo e esforço em atividades operacionais, sem dar a importância devida à elaboração de planos gerenciais e financeiros. (BEDÊ, 2005) Enquanto as grandes empresas estão se desenvolvendo cada vez mais e as pequenas, por sua vez, ainda estão em busca de um espaço, as empresas de médio porte estão exatamente no meio. Elas ainda não são grandes para utilizarem processos sofisticados, e muitas vezes caros, mas já não podem negar a necessidade de eficientes processos de gestão. Para garantir a sobrevivência dessas empresas nessa fase em que a complexidade das atividades cresce, é imprescindível a adoção de processos mais eficientes. Um desses processos seria a utilização de uma estrutura sistemática e abrangente para auxiliar na tomada de decisões, o que permitiria alcance dos objetivos. (YOO, 2007)

11 Surgem algumas dúvidas com relação às empresas de médio porte: elas utilizam ferramentas para auxiliar a tomada de decisão e o controle gerencial? O orçamento empresarial é considerado por elas uma dessas ferramentas? Com relação à abrangência, neste estudo tem-se a intenção de pesquisar as indústrias farmacêuticas em operação no Brasil, considerando sua importante função na economia mundial e também na vida humana. Ao escolher esse setor para a realização do estudo, também foi levada em consideração a experiência profissional da autora em planejamento e controle financeiro numa multinacional de grande porte, do mesmo setor. Ademais, a bibliografia consultada normalmente aborda sistemas administrativos adotados pelas empresas de grande porte. Por tal motivo, a escolha do tema recaiu sobre uso do orçamento como ferramenta de apoio em empresas de médio porte. Este estudo será realizado nas indústrias farmacêuticas classificadas como de médio porte, já que nessas organizações o processo administrativo é mais complexo em comparação às de pequeno porte. O foco nas médias indústrias desse setor também foi motivado pela escassez de estudos voltados especificamente para esse grupo de empresas, que merece ser estudado separadamente, pois, apesar de não necessitarem das complexas estruturas organizacionais adotadas pelas indústrias de grande porte, não devem ser administradas com a mesma simplicidade adotada pelas pequenas empresas. O GRUPEMEF (Grupo dos Profissionais Executivos do Mercado Farmacêutico) classificou, em seu relatório Ranking de Laboratórios de julho de 2007 (Ver Anexo I), as 200 indústrias de acordo com o faturamento bruto anual. Entre abril/2006 e maio/2007, elas faturaram juntas cerca R$ 24,3 bilhões. Desse valor, apenas R$ 1,1 bi, ou 5%, foi faturado pelas indústrias de médio porte e R$ 0,3 bi, ou 1%, pelas micro e pequenas. A grande parcela

12 do faturamento foi abocanhada pelas grandes indústrias: as maiores (94%) são representadas por multinacionais, somando R$ 22,9 bilhões. Ver Gráfico 1. Este faturamento foi captado nos pontos de vendas pelo IMS Health, empresa que fornece informações de inteligência de mercado para o setor farmacêutico. Gráfico 1 Indústrias Farmacêuticas no Brasil por Faturamento e Porte Indústrias Farmacêuticas por Faturamento e Porte abril/2006 a maio/2007 Pequena 1% Média 5% Grande 94% Fonte: GRUPEMEF. Relatório Ranking de Laboratórios dos 200 maiores, abril/2006 a maio/2007. No Gráfico 2 apresenta-se a quantidade (por porte) das 200 maiores indústrias farmacêuticas, e por faturamento bruto mensal, conforme critério adotado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Gráfico 2 Quantidade de Indústrias Farmacêuticas no Brasil por Porte Quantidade de Indústrias Farmacêuticas no Brasil por Porte abril/2006 a maio/2007 Grande 63 Porte Média 41 Pequena 96 0 50 100 150 200 Quantidade

13 Fonte: GRUPEMEF. Relatório Ranking de Laboratórios dos 200 maiores, abril/2006 a maio/2007 A análise dos Gráficos 1 e 2 mostra que, apesar de as pequenas e médias indústrias representarem a maioria (137 indústrias), 94% do faturamento estão concentrados nas indústrias de grande porte que, normalmente, possuem uma estrutura de gestão bem definida, incluindo um processo de planejamento formalizado, visando à consecução dos objetivos empresariais. 1.2 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA Devido à escassez de publicações sobre a utilização do orçamento em indústrias farmacêuticas de médio porte, indaga-se sobre a metodologia de planejamento e ferramentas de apoio à tomada de decisão. A questão central está em: se essas empresas possuem ou não um orçamento estruturado e que seja utilizado pelos administradores e se esse pode ser utilizado como ferramenta de apoio à tomada de decisão e ao controle gerencial. 1.3 OBJETIVO DO ESTUDO Em função do que se apresentou na justificativa e na definição do problema a ser pesquisado, o objetivo deste estudo é o de verificar se o orçamento empresarial é utilizado pelas indústrias farmacêuticas de médio porte e se é considerado uma ferramenta de apoio à tomada de decisões e ao controle gerencial. Mais especificamente, pretende-se responder às seguintes questões:

14 a) essas indústrias possuem um sistema de informações contábil-gerenciais adequado à necessidade dos gestores? b) elas adotam uma estrutura formal para planejamento dos resultados em curto e longo prazos? c) como é o modelo aplicado na elaboração do orçamento empresarial? d) o processo orçamentário adotado é adequado às necessidades? Neste estudo não se tem a intenção de verificar se a utilização do orçamento empresarial contribui para o sucesso ou não das empresas pesquisadas. Neste caso, outros assuntos devem ser levados em consideração além do orçamento empresarial. Um resultado satisfatório deste estudo motivará novas aplicações do conceito de Orçamento Empresarial, assim como estudos mais profundos ou mesmo casos de aplicações práticas.

15 2 REVISÃO TEÓRICA A fundamentação teórica deste estudo é formada pelos seguintes conceitos: Sistema de informações gerenciais apoiando a tomada de decisões; Planejamento estratégico; Orçamento empresarial e Controle gerencial. O ponto de partida para a revisão teórica é a importância do cumprimento dos objetivos empresariais por parte dos administradores. Esses gestores são chamados a decidir sobre as metas para alcançar os objetivos e elaborar planos (estratégicos e orçamentários) sobre como as metas serão atingidas, cuja finalidade deveria ser a garantia do aumento da riqueza dos investidores e, conseqüentemente, da continuidade da empresa. Após a execução, é necessário também que haja controle gerencial para se verificar se as decisões tomadas foram cumpridas e, assim, podem levar a se tomarem novas decisões. (ANTHONY e GOVINDARAJAN, 2001, p. 34). Para auxiliar o processo de tomada de decisões, os gestores necessitam de um sistema que disponibilize informações gerenciais em tempo, incluindo contabilidade, custos e orçamento (FIGUEIREDO e CAGGIANO, 2004, p. 36). Neste contexto, surge a necessidade da elaboração do orçamento empresarial, como parte integrante do sistema de informação contábil-gerencial, que poderia atuar como uma ferramenta de apoio à tomada de decisões e ao controle gerencial. Na Figura 1 demonstra-se, esquematicamente, essa fundamentação teórica:

16 Figura 1 - Fundamentação Teórica do Estudo OBJETIVOS EMPRESARIAIS METAS PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ORÇAMENTO EMPRESARIAL EXECUÇÃO CONTROLE SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL-GERENCIAL DECISÕES GERENCIAIS Fonte: A autora 2.1 SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL-GERENCIAL: APOIO ÀS DECISÕES GERENCIAIS 2.1.1 Decisões Gerenciais A competição globalizada tem exigido das empresas atitudes dinâmicas e eficazes na medida em que estas necessitam adaptar-se rapidamente às exigências do ambiente externo, para que possam continuar nos mercados atuais e também conquistar novos nichos. A cada momento os gestores são chamados a tomar decisões que conduzam a ações que vão levar ao cumprimento dos objetivos estabelecidos pelos proprietários ou acionistas das empresas.

17 Com o aumento do volume de dados e variáveis, os sistemas de informações gerenciais vêm sendo cada vez mais solicitados para o fornecimento de informações, para que as decisões sejam tomadas com a rapidez exigida pelo mundo empresarial. A definição de um sistema de gestão pode possibilitar a obtenção dessas informações de forma ágil e eficiente. O objetivo desse sistema deve ser o de processar dados de cinco funções principais: planejamento, organização, controle, comunicação e motivação. (FIGUEIREDO E CAGGIANO, 2004, p.43). No planejamento, as decisões são simuladas antecipadamente incluindo-se previsões explícitas a respeito das condições futuras em que as empresas atuarão na busca de seus objetivos, inclusive o lucro. (TUNG, 1994, p.31) A organização supõe a definição de uma estrutura administrativa que vai implementar as ações planejadas. O controle dá-se por meio da confrontação entre os valores realizados e os valores planejados, verificando se as ações foram eficazes e orientando novas decisões. A circulação de informações entre as áreas da empresa e entre esta e o ambiente externo é o papel da comunicação. Essas informações interpretadas corretamente pelos gestores devem promover resultados positivos. Dessa forma, a motivação tem importante papel: fazer com que os objetivos da organização sejam coincidentes com os objetivos das áreas, estabelecidos pelos seus colaboradores. Nesse contexto, admite-se que não só o planejamento, como também as previsões mais explícitas, ou orçamentos, devem fazer parte do sistema de informações gerenciais da empresa.

18 2.1.2 Sistema de Informações Gerenciais A invasão de softwares e hardwares, capazes de processar milhões de informações em segundos, proporcionou aos gestores acesso a uma grande quantidade de informações, que podem ser utilizadas para orientar suas decisões. É consenso geral no mundo corporativo que as informações são um dos ativos mais valiosos de uma empresa, e que a empresa detentora de bons sistemas de informações tende a ser mais dinâmica, mais atuante e mais agressiva do que seus concorrentes. (CASSARRO, 2003, p. 26) O acúmulo de informações desnecessárias pode causar desperdício de tempo e de dinheiro. Para evitá-lo, a empresa deve contar com pessoal, tanto da alta quanto da média administração, com capacidade e motivação para utilizar essas informações para melhores decisões. SCHWARTZ (apud OLIVEIRA, 2007, p.25) define o sistema de informações gerenciais como um sistema que envolve pessoas, equipamentos, procedimentos, documentos e comunicações que coleta, valida, executa operações, transforma, armazena, recupera e apresenta dados para uso no planejamento orçamentário, contabilidade, controle e em outros processos gerenciais para os vários propósitos administrativos. Além de processamento de dados, eles podem fornecer informações relevantes para a tomada de decisões gerenciais. Para esse autor, os principais sistemas de uma empresa vão processar dados e prover informações relativas às seguintes áreas: produção, materiais, marketing, finanças, recursos humanos, serviços e gestão empresarial. A controladoria é o órgão administrativo cuja função consiste em dar suporte à gestão empresarial. Para tanto realiza também atividades de planejamento, controle e contabilidade. Seu principal objetivo é o de garantir informações adequadas ao processo decisório; para tanto

19 deve possuir um sistema de informação contábil-gerencial que permita o compartilhamento de informações sobre o orçamento, custos e contabilidade. As demais áreas (comercial, industrial, suprimentos, recursos humanos, financeira) deverão repassar as informações financeiras para esse sistema. (FIGUEIREDO e CAGGIANO, 2004, p.27) Esses mesmos autores defendem que, para serem eficientes, essas informações deverão estar interligadas por uma base-padrão, o que vai proporcionar consistência e agilidade na apuração do resultado operacional e na elaboração do orçamento empresarial. Assim, a opção por sistemas de informações interligados é recomendada. No entanto deve ser analisado o custo-benefício, levando-se em consideração o custo do sistema (hardware, software, licença, manutenção etc.) e o benefício gerado por ele. O sistema integrado de informações, também conhecido como ERP (Enterprise Resource Planning), é composto por sistemas para armazenar, processar e organizar as informações geradas por todos os processos da empresa. A pesquisa realizada pela consultoria Deloitte, sobre as pequenas e médias empresas que mais crescem no Brasil (disponível em: <http://www.deloitte.com.br/>, acessado em: 10.11.2007), mostra que 47% delas investiram num sistema integrado de informações, nos últimos 3 anos, e que outros 38% pretendem investir nele nos próximos 3 a 5 anos. O sistema de informação gerencial pode apresentar alguns benefícios, segundo OLIVEIRA (2005, p. 31), como: redução dos custos operacionais; acesso mais rápido às informações, proporcionando relatórios mais rápidos e precisos; tomada de decisões mais rápidas e precisas;

20 maior interação entre os tomadores de decisão, devido à facilidade no fluxo de informações; fornecimento de melhores projeções e simulações; funcionários mais motivados, entre outros. O gestor, porém, deve estar atento para alguns pontos que podem levar o sistema ao fracasso (ACKOFF, 1984, p.79): o executivo não necessita de muitas informações relevantes; o executivo não precisa de todas as informações que deseja; o gerente pode não tomar boas decisões, mesmo que as informações lhe tenham sido entregues em tempo; mais comunicação, ou mais informação, não significam desempenho melhor; entre outras Portanto, após a revisão teórica desse item, pode-se considerar que um sistema de informação contábil-gerencial bem estruturado pode auxiliar o gestor na tomada de decisões, visto que proporciona maior consistência e agilidade na obtenção das informações e preparação dos relatórios, inclusive na elaboração do orçamento empresarial e no controle gerencial. No entanto devem ser observadas suas vantagens e limitações. 2.2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Antes de iniciar a abordagem do planejamento estratégico, são necessárias algumas considerações sobre a função do planejamento empresarial.

21 2.2.1 O Planejamento nas Empresas Após a definição dos objetivos empresariais pelos investidores e da definição das metas para se alcançarem os objetivos por parte da alta-diretoria da empresa, o próximo passo é a elaboração do planejamento de como as metas serão atingidas. O planejamento foi conceituado por ACKOFF et al. (1984, p.2) como a definição de um futuro desejado e de meios eficazes para alcançá-lo. Nesse sentido, o planejamento deve ser visto como um processo contínuo que levará os gestores a indagações sobre o que fazer, como, quando, quanto, para quem e onde. Esses questionamentos vão promover o estabelecimento de formas para se atingirem os objetivos empresariais. OLIVEIRA (2005, p. 45) classificou o planejamento em tipos: estratégico, tático e operacional. Eles são corroborados por FISCHMANN e ALMEIDA (1991, p. 25). O planejamento estratégico visa estabelecer a direção que a empresa deve seguir. São eleitas estratégias e ações para se alcançarem os objetivos de longo e curto prazos. É um planejamento predominantemente qualitativo. O planejamento tático está relacionado com a definição de objetivos de curto prazo, normalmente um ano, envolvendo decisões administrativas. É predominantemente quantitativo. O orçamento empresarial é um tipo de planejamento tático. O planejamento de longo prazo é uma extrapolação do planejamento tático para períodos superiores a dois anos. Os planejamentos operacionais são formalizados por meio de documentos escritos, basicamente planos de ação ou planos operacionais. Equivalem ao conjunto de partes homogêneas do planejamento tático. Devem informar: os recursos necessários para sua implementação, os procedimentos a serem adotados, os resultados esperados e os responsáveis por sua execução.

22 No topo da pirâmide, exibida na Figura 2, está o nível estratégico, ocupado pela alta gestão, responsável pelo planejamento estratégico e pelas decisões estratégicas. As decisões tomadas nesse nível vão afetar toda a empresa. Figura 2 - Níveis de Decisão e Tipos de Planejamento NÍVEL ESTRATÉGICO Decisões Estratégicas Planejamento Estratégico NÍVEL TÁTICO Decisões Táticas Planejamento Tático NÍVEL OPERACIONAL Decisões Operacionais Planejamento Operacional Fonte: Adaptado de OLIVEIRA, D. P. R. de. Planejamento Estratégico : conceitos, metodologia e práticas. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 45 No nível tático, estão os gestores responsáveis pelo planejamento tático, ou de curto prazo. Eles têm a função de utilizar os recursos disponíveis de forma eficiente, para a consecução dos objetivos previamente fixados. As decisões tomadas nesse nível afetam somente parte da empresa. Os gestores que fazem parte do nível operacional, na base da pirâmide, cuidam das decisões operacionais e do planejamento operacional. O foco básico está nas atividades diárias da empresa. Neste estudo não será abordado esse nível de planejamento.

23 2.2.2 O Planejamento Estratégico A origem da palavra estratégia vem do grego estrategos, os comandantes que faziam o planejamento das guerras na Grécia antiga. Estratégia era a palavra utilizada para representar a arte dos generais para vencerem a guerra. Com o passar dos anos, essa palavra passou a ser utilizada no mundo empresarial, representando os meios para se conduzirem os negócios e enfrentar a concorrência. A estratégia pode ser conceituada como a decisão sobre quais recursos devem ser adquiridos e usados visando aproveitar as oportunidades e minimizar as incertezas. Sua função é a mobilização desses recursos para atingir os objetivos de longo prazo e o seu objetivo é o de permitir maior flexibilidade de resposta às contingências imprevisíveis (MICHEL e LODI, apud CAMARGO E DIAS, 2003, p. 29) Um plano estratégico eficaz deve contemplar uma definição clara do negócio e como ele vai funcionar no longo prazo. Com base nesse plano, deve ser traçado um outro, de curto prazo, com os principais objetivos e metas. A definição das metas, ou das formas como os objetivos serão atingidos, poderá facilitar o acompanhamento de sua execução e permite o cumprimento dos objetivos gerais da empresa. (AXSON, 2003, p. 85) Os modelos de planejamento estratégico apresentados por FISCHMANN e ALMEIDA (1991, p. 33), por OLIVEIRA (2005, p. 81) e por KOTLER (2000, p. 98) possuem estruturas bastante semelhantes. Os modelos de Fischmann, Martinho e Kotler podem ser divididos em três principais etapas: planejamento, implementação e acompanhamento. O modelo sugerido por Oliveira apresenta somente a etapa de planejamento, apesar de fazê-lo mais detalhadamente.

24 estratégico. Na Figura 3 apresentam-se as oito etapas sugeridas por Kotler para um planejamento Figura 3 - O Processo de Planejamento Estratégico de Negócios Análise do ambiente externo (oportunidades e ameaças) Missão do Negócio Formulação de metas Formulação de estratégias Formulação de programas Implementação Feedback e controle Análise do ambiente interno (forças e fraquezas) Fonte: KOTLER, Philip. Administração de marketing : a edição do novo milênio. Tradução de Bazán Tecnologia e Linguística. São Paulo: Prentice Hall, 2000, p. 98 O processo tem início com a definição da missão do negócio, ou seja, a determinação do porquê da existência da empresa. Definida a missão, parte-se para a análise das oportunidades e ameaças, causadas pelo ambiente externo, que poderão afetar a empresa no período para o qual o planejamento está sendo elaborado. Nesta fase também é necessária a avaliação das forças e fraquezas internas. Pode ser utilizada a Análise Swot (dos termos em inglês strengths, weaknesses, opportunities, threats), ou as Matrizes de Oportunidades e Ameaças. A terceira etapa considera a formulação das metas, que são objetivos em termos de magnitude e prazo. A quarta refere-se à formulação de estratégias, que trata da maneira de alcançar as metas traçadas. A formulação de programas, ou orçamento, na etapa seguinte, diz respeito à definição detalhada das atividades de apoio e também à estimativa de seus custos. A penúltima fase desse modelo é a implementação da estratégia por meio da execução das atividades programadas.

25 A última fase do processo, mas não menos importante, é o feedback e controle. Nesta etapa é realizado o acompanhamento dos resultados, com o objetivo de verificar se a estratégia adotada está sendo eficaz. O gestor deve observar atentamente os acontecimentos nos ambientes interno e externo, e analisar se há necessidade de efetuar alguma revisão ou alteração no que foi planejado. Em empresas de grande porte, esse é um processo formal, que faz parte de um planejamento de longo prazo, revisto anualmente, primeiro na matriz e depois nas unidades, com a participação da alta administração e executivos de planejamento. Após aprovado, o plano será refletido no planejamento tático, ou seja, no orçamento empresarial, para implementação no ano seguinte. De acordo com Pearce (2004), as empresas de menor porte poderão adotar o mesmo processo de planejamento de negócios, listando e analisando os produtos que serão lançados, a concorrência, os fornecedores, as políticas gerenciais e de marketing a serem adotadas pela empresa, as necessidades de investimento e caixa para implementação do plano. OLIVEIRA (2005, p.282-286) apresenta algumas vantagens e outras limitações do planejamento estratégico. Segundo esse autor, o planejamento estratégico, quando elaborado e utilizado adequadamente pela empresa, poderá proporcionar: facilidade e agilidade no processo de tomada de decisão; orientação ao desenvolvimento de outros planejamentos táticos e operacionais; fortalecimento e agilidade ao processo orçamentário; possibilidade de obtenção de melhores resultados operacionais, entre outras vantagens. No entanto, alguns pontos podem causar falhas no planejamento estratégico. Dentre eles, vale destacar: a falta de estrutura adequada do setor; a não consideração da realidade da

26 empresa; não-envolvimento dos níveis hierárquicos; planejamento não levado a sério; controle e avaliação inadequados, entre outros. Outra limitação a ser destacada, na opinião de ANTHONY e GOVINDARAJAN (2001, p. 387), seria a elaboração de um processo formal de planejamento estratégico por empresas de menor porte que não utilizam o planejamento como forma apoio à gestão. Neste caso, o plano não faria sentido, visto que as suas projeções para o futuro não são confiáveis. Assim, da mesma forma que um planejamento estratégico bem elaborado pode fortalecer e agilizar o processo orçamentário, as falhas ou a não realização poderão comprometer a sua elaboração ou implementação, e o conseqüente alcance dos objetivos empresariais. 2.3 ORÇAMENTO EMPRESARIAL Foi visto, no item anterior, é por meio do planejamento estratégico que a empresa deve escolher a direção que vai seguir para alcançar seus objetivos de longo prazo. Definidas as estratégias de longo prazo, o próximo passo é a elaboração do plano anual de marketing, que vai ser a base para o orçamento empresarial, ou planejamento de curto prazo. O orçamento empresarial é um produto do planejamento estratégico que atuará como alerta aos gestores, indicando se o plano é eficaz. É um plano financeiro e cronológico, normalmente para um ano, que visa implementar a estratégia escolhida. (FREZATTI, 2006, p.44) Assim, por meio do orçamento, os gestores podem organizar e implementar eficazmente os recursos organizacionais. (ATHAR, in Handbook of Budget, P. 1.4)

27 Os objetivos do orçamento estão ligados ao planejamento, à coordenação e ao controle das atividades e resultados monetários. Abaixo, estão listadas algumas de suas pretensões: (FIGUEIREDO E CAGGIANO, 2004, p. 36) orientar a execução das atividades; possibilitar a coordenação dos esforços de uma área específica e de toda a empresa; otimizar o resultado global da empresa; reduzir os gastos operacionais; facilitar a identificação das variações entre o que foi orçado e o realizado, o que permite implementar ações corretivas. 2.3.1 Os Princípios Gerais de Planejamento Segundo FREZATTI (2006, p.45), os princípios clássicos apresentados por WELSCH (1983, p.50) levam em conta a estrutura necessária e servem de checklist para o adequado desenvolvimento do orçamento. Assim, a empresa que atentar para tais princípios poderá gerar melhores informações para serem utilizadas no processo de tomada de decisões e controle gerencial. São dez os princípios gerais de planejamento: a. envolvimento administrativo - é fundamental para a eficiência do processo orçamentário. Toda a administração, principalmente os níveis mais altos, deve estar convencida da importância do planejamento, devendo apoiar, orientar e participar da sua execução;

28 b. adaptação organizacional - a formalização da estrutura organizacional é importante para que as funções e as responsabilidades de cada área estejam claramente definidas e acordadas com seus gestores; c. contabilidade por área de responsabilidade - consiste no lançamento dos fatos contábeis por unidade de negócio, centros de lucros e/ou centros de custos. Dessa maneira será possível a apuração de resultados por responsabilidade; d. orientação para objetivos - é importante que os objetivos de cada área de resultado e do seu gestor estejam em sintonia com as metas gerais da empresa, permitindo coerência entre as ações, evitando dúvidas no seu entendimento e cumprimento; e. comunicação integral - o planejamento deverá ser comunicado a todos os gestores responsáveis pela sua execução. Quanto mais transparente for a comunicação, maiores serão as possibilidades de a empresa alcançar o resultado previsto. A empresa deverá contar com sistema de informática adequado às suas necessidades. f. expectativas realistas - os valores previstos no plano devem expressar a realidade. Tanto as projeções muito agressivas quanto as muito conservadoras devem ser evitadas; g. oportunidade - as informações do planejamento devem estar disponíveis antes do início de sua execução. É salutar a elaboração de um cronograma que detalhe as atividades, datas e responsáveis por ação, cada uma delas referente a esse processo; h. aplicação flexível - uma vez elaborado e aprovado, o planejamento deverá ser seguido por toda a empresa. Deve, porém, refletir a realidade e ser compatível

29 com as necessidades dos ambientes (interno e externo). Assim, deverá ser flexível para que alterações possam ser feitas; i. reconhecimento do esforço individual e do grupo - o sucesso do processo de planejamento também está ligado ao nível de motivação dos indivíduos e grupos envolvidos. A organização deverá incluir na avaliação de desempenho itens relativos ao cumprimento ou não do planejamento, proporcionando conseqüências na remuneração variável; j. acompanhamento - para que o planejamento seja eficaz, é primordial que haja o monitoramento, acompanhamento e controle, visando identificar variações entre os valores previstos e realizados. O controle poderá indicar necessidade de ações corretivas e/ou revisões no planejamento. A verificação da observância dos princípios deve ocorrer antes do início do planejamento, permitindo eventuais correções na estrutura organizacional e a redução de falhas no processo. 2.3.2 A Organização do Orçamento Nas grandes corporações, o processo orçamentário é realizado por uma comissão orçamentária, liderada por membros da gerência de planejamento e controle financeiro, que normalmente está subordinada ao diretor de controladoria, incluindo também membros das áreas de vendas, marketing e produção. Fica sob a responsabilidade da área de planejamento a divulgação das instruções para a elaboração do orçamento e do cronograma das atividades, a coleta e consolidação dos valores informados pelas áreas, a elaboração dos relatórios finais projetados, a análise dos

30 valores finais projetados para reporting ao diretor da controladoria. Esse diretor apresenta os números para a presidência e demais diretorias. Conforme salientado nos princípios, para que o orçamento empresarial seja adequado, é necessária a participação efetiva dos gestores de todas as áreas funcionais, e de todos os níveis hierárquicos. Cada um desses gestores deve ser informado a respeito das metas financeiras pelas quais é responsável, devendo garantir o seu cumprimento. Para que isso seja possível, o orçamento deve ser elaborado por área, ou centros de responsabilidade, consolidado por área funcional, por unidades de negócios e, finalmente, para a consolidação total da empresa (CORR & HILL, in Corporate Controller s Manual, 1988, p. DI-3). 2.3.3 Etapas do Processo Orçamentário Para que o processo orçamentário seja eficaz, deve estar apoiado num sistema de informações gerenciais consistente, bem estruturado e ágil, conforme foi discutido no Capítulo 2, item 1. O sistema orçamentário deve ser parte integrante do sistema de informações contábeis e gerenciais a serem utilizadas para a tomada de decisões. O sistema orçamentário pode ser entendido como o conjunto de vários orçamentos parciais interligados. Serve-se de técnicas e procedimentos contábeis aplicados antecipadamente aos fatos decorrentes de planos, políticas e metas para a obtenção de um resultado desejado. Ao final do processo são obtidos os demonstrativos financeiros preparados com base nessas expectativas. (MOREIRA, J.C., 2002, p. 15) Como todos os sistemas, ele também recebe dados (entradas) e transforma-os em informações (saídas). Nele são executados diferentes processos como coleta de dados, registro, consolidação, análise e gerenciamento visando à emissão de informações, como: relatórios financeiros, orçamentos, tabelas, gráficos etc.

31 Além das informações do próprio orçamento (dados planejados), também compõem o sistema de orçamento as informações registradas pela contabilidade (financeira e custos). A contabilidade de custos fornece informações para estimativa do custo dos produtos e informações históricas para comparação. A financeira informa os fatos contábeis realizados. Ambas as informações serão necessárias para o controle gerencial, que será abordado no próximo capítulo. A Figura 4 apresenta uma visão geral do processo orçamentário, em uma adaptação dos modelos sugeridos por WELSCH (1983, p.93) e FREZATTI (2006, p.46). FIGUEIREDO e CAGGIANO (2004, p.122) também apresenta uma visão bastante similar. Antes do início da elaboração do orçamento empresarial, devem estar definidos os objetivos e metas empresariais, bem como as estratégias para o seu alcance. O passo inicial do processo orçamentário é a determinação de premissas financeiras e operacionais como: capacidade produtiva, condições mercadológicas, disponibilidade de caixa, taxa de câmbio a ser utilizada, taxa de inflação, percentuais de ajustes de salários, contratos e preço de venda etc. Após essas definições, inicia-se efetivamente a elaboração do orçamento.

32 Figura 4 - Visão Geral do Processo Orçamentário DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS EMPRESARIAIS >> LONGO PRAZO DEFINIÇÃO DAS METAS PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ORÇAMENTO EMPRESARIAL >> CURTO PRAZO ETAPA OPERACIONAL PLANO DE MARKETING (ESTIMATIVA DE VENDAS) PLANO DE PRODUÇÃO, SUPRIMENTOS E ESTOQUES PLANO DE INVESTIMENTOS (ATIVO PERMANENTE) PLANO DE RECURSOS HUMANOS (HEADCOUNT) ETAPA FINANCEIRA ORÇAMENTO DE VENDAS ORÇAMENTO DE CUSTOS DE PRODUÇÃO MATERIAIS DIRETOS MÃO-DE-OBRA DIRETA GASTOS INDIRETOS DE PRODUÇÃO ORÇAMENTO DE DESPESAS DE VENDAS ADMINISTRATIVAS E PROJEÇÃO DO RESULTADO ANUAL PROJEÇÃO DA DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO (receitas, custos e lucro) PROJEÇÃO DO BALANÇO PATRIMONIAL (ativos, passivos e patrimônio líquido) SUBORÇAMENTOS AUXILIARES (fluxo de caixa, margem de contribuição e outros) Fonte: Adaptado de WELSCH, 1983, p.93 e FREZATTI, 2006, p.46 e financeira. O orçamento empresarial pode ser subdividido em duas principais etapas: operacional 1. Etapa operacional: compreende a exploração das potencialidades da empresa. Inclui o plano de marketing, plano de produção (incluindo níveis de suprimentos e estoques desejáveis), plano de investimentos em ativo permanente e plano dos recursos humanos necessários.

33 2. Etapa financeira: compreende a coleta e a consolidação das informações para composição do orçamento de vendas, custos de produção (somando materiais diretos, mão-de-obra direta e gastos indiretos de fabricação), despesas administrativas e de vendas. Com base nessas informações, chega-se à projeção anual do resultado, com a emissão de relatórios financeiros como: demonstração do resultado, balanço patrimonial, fluxo de caixa e margem de contribuição. Após elaboração do orçamento, são realizadas análises financeiras para se verificar se o nível operacional planejado gera o resultado necessário para garantia do alcance dos objetivos propostos. 2.3.3.1 Processo Orçamentário: um exemplo da indústria farmacêutica Na Figura 5 ilustra-se um exemplo das etapas do processo orçamentário comum em indústrias farmacêuticas de grande porte. O objetivo desse exemplo é o de apresentar, de forma resumida, a ordem de realização e conteúdo de cada etapa do processo orçamentário, lembrando que o orçamento é parte de um plano de resultados de longo prazo. Normalmente, nas indústrias farmacêuticas de grande porte, o processo orçamentário inicia-se em julho do ano anterior, com a elaboração do plano anual de marketing, como parte do plano estratégico de longo prazo. Este processo, quando bem organizado, pode ser concluso num prazo de 40 a 60 dias. Isso também vai depender do tamanho da estrutura organizacional da empresa (quantidade de unidades de negócios, centros de custos e produtos) e do desempenho do sistema de

34 informação utilizado para a coleta de dados, consolidação das informações e geração de relatórios. O ideal é que o orçamento empresarial, realizado no ano anterior, seja revisado periodicamente no ano de sua execução, visando a adaptação de possíveis alterações nas projeções efetuadas. Figura 5 - Processo Orçamentário: um exemplo da indústria farmacêutica 1 DEFINIÇÃO DE PREMISSAS Operacionais e econômicofinanceiras 2 ESTIMATIVA DE VENDAS Quantidade por região, produto, apresentação e período 3 PRODUÇÃO Quantidade a produzir Necessidade de compras Níveis de estoques 4 INVESTIMENTOS Cálculo Depreciação 5 HEADCOUNT Cálculo Pessoal 6 VENDAS Preço Venda Unitário x Qtde. Vendas Projetada 7 CUSTOS PRODUTOS Custo Unitário (material + processamento) x Qtde. Vendas Projetada 8 DESP. VARIÁVEL PRODUTOS Amostras + Promoção e Propaganda + Vendas e Distribuição + Testes clínicos (pós lançamento) 9 DESP. FIXA VENDAS E MARKETING Pessoal + Depreciação + Outras Despesas 10 DESP. FIXA GERAIS E ADM Pessoal + Depreciação + Outras Despesas 11 RELATÓRIOS FINAIS DRE MARGEM CONTRIBUIÇÃO GASTOS POR ÁREA FLUXO DE CAIXA BALANÇO PATRIMONIAL Fonte: A autora No exemplo apresentado, o orçamento é composto por onze etapas: 1. Definição de premissas: O processo inicia-se com o estabelecimento de pressupostos básicos para a execução do orçamento propriamente dito, como capacidade produtiva e tendência de obtenção de insumos (premissas operacionais) além de taxas de inflação, câmbio, juros, variação dos preços de vendas etc. (premissas econômico-financeiras).

35 2. Estimativa do volume de vendas por produto e suas apresentações: o plano anual de marketing deverá contemplar estudos mercadológicos, considerando diferentes cenários econômicos, que vão dar base para estimativa do volume das vendas a um determinado nível de preços. A estimativa do volume das vendas é um dos principais problemas do orçamento. O ideal é que esta estimativa seja feita no grau máximo de detalhamento (por forma de apresentação de cada produto) o que proporcionará melhores análises. Essa quantidade vai orientar várias outras estimativas como: investimentos, receitas, custos etc. Se as projeções não forem realizadas, conseqüentemente todos os outros orçamentos ficarão incorretos. Assim, devido a essa importância, algumas empresas adotam softwares para facilitar a previsão das vendas, alimentados continuamente pelas áreas de vendas e marketing, onde são estimadas e revistas (semanal, quinzenal ou mensalmente) as quantidades a serem vendidas nos próximos meses. Esta previsão contínua pode aumentar o nível de acurácia do orçamento de vendas e, conseqüentemente, de todo o orçamento. 3. Orçamento produção: A partir da estimativa da quantidade a ser vendida e considerando-se os níveis de estoques desejáveis, elabora-se a previsão da quantidade a ser produzida. Esta previsão também servirá como base para cálculo do consumo de materiais diretos, mão-de-obra direta e outros gastos na produção. 4. Orçamento de investimentos: nesta etapa, cada uma das áreas ou centros de responsabilidade define os valores, datas e tipos de ativos imobilizados que serão adquiridos no ano seguinte. Esse orçamento deve refletir a parte de um planejamento de investimentos de longo prazo. Os valores orçados servirão de base para cálculo dos gastos com depreciação, por área e datas, que deverão ser inclusos no orçamento das áreas.