Integração por partes

Documentos relacionados
Primitivas e a integral de Riemann Aula 26

MAT Aula 21/ Segunda 26/05/2014. Sylvain Bonnot (IME-USP)

MAT 121 : Cálculo Diferencial e Integral II. Sylvain Bonnot (IME-USP)

Objetivos. Exemplo 18.1 Para integrar. u = 1 + x 2 du = 2x dx. Esta substituição nos leva à integral simples. 2x dx fazemos

por Partes Objetivo Dividir para conquistar! Aprender a técnica de integração por partes.

Renato Martins Assunção

Resolvendo Integrais pelo Método de

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO. Resumo. Nesta aula, apresentaremos a noção de integral indefinidada. Também discutiremos

Derivada de algumas funções elementares

Cálculo Integral, Sequências e Séries

MATERIAL DE APOIO Integrais

Elaborado por: João Batista F. Sousa Filho (Graduando Engenharia Civil UFRJ )

Integrais. ( e 12/ )

Integrais indefinidas

UNIFEI - UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ PROVA DE CÁLCULO 1

Índice. AULA 6 Integrais trigonométricas 3. AULA 7 Substituição trigonométrica 6. AULA 8 Frações parciais 8. AULA 9 Área entre curvas 11

MAT146 - Cálculo I - Integração de Funções Trigonométricas

Técnicas de. Integração

Lista de exercícios sobre integrais

A Regra da Cadeia. V(h) = 3h 9 h 2, h (0,3).

Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Exatas Departamento de Matemática

AT4-1 - Unidade 4. Integrais 1. Cálculo Diferencial e Integral. UAB - UFSCar. Bacharelado em Sistemas de Informação. 1 Versão com 14 páginas

Matemática para a Economia II - 7 a lista de exercícios Prof. Juliana Coelho

Aula 12 Regras de Substituição. Integração por partes.

Aula 34. Alexandre Nolasco de Carvalho Universidade de São Paulo São Carlos SP, Brazil

CÁLCULO I Prof. Marcos Diniz Prof. André Almeida Prof. Edilson Neri Júnior

Substituição Simples.

BIE Ecologia de Populações

Integração por frações parciais - Parte 1

Concavidade. Universidade de Brasília Departamento de Matemática

Primitva. Integral Indenida

1 A Equação Fundamental Áreas Primeiras definições Uma questão importante... 7

= 2 sen(x) (cos(x) (b) (7 pontos) Pelo item anterior, temos as k desigualdades. sen 2 (2x) sen(4x) ( 3/2) 3

Apostila Cálculo Diferencial e Integral I: Integral

12 AULA. ciáveis LIVRO. META Estudar derivadas de funções de duas variáveis a valores reais.

Respostas sem justificativas não serão aceitas. Além disso, não é permitido o uso de aparelhos eletrônicos. x x = lim.

Cálculo de primitivas ou de antiderivadas

CÁLCULO I. 1 Derivada de Funções Elementares

parciais primeira parte

Como, neste caso, temos f(x) = 1, obviamente a primitiva é F(x) = x, pois F (x) = x = 1 = f(x).

Lista 4 - Métodos Matemáticos II

Cálculo Diferencial e Integral I Mestrado Integrado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores 2 o Teste (V1) - 15 de Janeiro de h00m

MATEMÁTICA II. Profa. Dra. Amanda Liz Pacífico Manfrim Perticarrari

Terceira Lista de Exercicios de Cálculo I Rio de Janeiro 1 de abril de 2013

Cálculo II (Primitivas e Integral)

MAT146 - Cálculo I - Derivada de funções polinomiais, regras de derivação e derivada de funções trigonométricas

x 2 + (x 2 5) 2, x 0, (1) 5 + y + y 2, y 5. (2) e é positiva em ( 2 3 , + ), logo x = 3

CÁLCULO I. 1 A Função Logarítmica Natural. Objetivos da Aula. Aula n o 22: A Função Logaritmo Natural. Denir a função f(x) = ln x;

Nome: Gabarito Data: 28/10/2015. Questão 01. Calcule a derivada da função f(x) = sen x pela definição e confirme o resultado

Instituto de Matemática - IM/UFRJ Cálculo I - MAC118 1 a Prova - Gabarito - 13/10/2016

EXERCICIOS RESOLVIDOS - INT-POLIN - MMQ - INT-NUMERICA - EDO

Departamento de Matemática. MAT 140 (Cálculo I) /II Exercícios Resolvidos e Comentados - Otimização e Integração. Universidade Federal de Viçosa

Conteúdo. 3 Transformada de Laplace Aplicações em equações diferenciais de primeira ordem... 34

LUÍS ANTÓNIO DE ALMEIDA VIEIRA INTEGRAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO, POR PARTES E POR COMPLEXIFICAÇÃO CÁLCULO INTEGRAL

Lista 2 - Cálculo. 17 de maio de Se f e g são funções cujos grácos estão representados abaixo, sejam u(x) = f(x)g(x),

Aula 5 Equação Diferencial de Segunda Ordem Linear e Coeficientes constantes:

Regras de Produto e Quociente

A Derivada. Derivadas Aula 16. Alexandre Nolasco de Carvalho Universidade de São Paulo São Carlos SP, Brazil

Consequências do Teorema do Valor Médio

Equações Diferenciais de Segunda Ordem. Copyright Cengage Learning. Todos os direitos reservados.

Sabendo que f(x) é um polinômio de grau 2, utilize a formula do trapézio e calcule exatamente

Introdução aos Métodos Numéricos

Primitivação de funções reais de variável real

Derivadas 1

AT3-1 - Unidade 3. Derivadas e Aplicações 1. Cálculo Diferencial e Integral. UAB - UFSCar. Bacharelado em Sistemas de Informação

de Potências e Produtos de Funções Trigonométricas

Aula 33. Alexandre Nolasco de Carvalho Universidade de São Paulo São Carlos SP, Brazil

Cálculo Diferencial e Integral I 1 o Sem. 2016/17 - LEAN, MEMat, MEQ FICHA 11 - SOLUÇÕES

BANCO DE QUESTÕES Funções Trigonométricas JOÃO CARLOS MOREIRA

Técnicas de Integração II. Algumas Integrais Trigonométricas

(x 1) 2 (x 2) dx 42. x5 + x + 1

CÁLCULO I Prof. Edilson Neri Júnior Prof. André Almeida

Índice. AULA 5 Derivação implícita 3. AULA 6 Aplicações de derivadas 4. AULA 7 Aplicações de derivadas 6. AULA 8 Esboço de gráficos 9

5 AULA. em Séries de Potências LIVRO. META Apresentar os principais métodos de representação de funções em séries de potências.

Aula 25 Técnicas de integração Aula de exercícios

Apostila Cálculo Diferencial e Integral I: Derivada

Equações Ordinarias 1ªOrdem - Lineares

A derivada (continuação) Aula 17

ALUNO(A): Nº TURMA: TURNO: DATA: / / COLÉGIO:

Da figura, sendo a reta contendo e B tangente à curva no ponto tem-se: é a distância orientada PQ do ponto P ao ponto Q; enquanto que pois o triângulo

OUTRAS TÉCNICAS DE INTEGRAÇÃO

da dx = 2 x cm2 /cm A = (5 t + 2) 2 = 25 t t + 4

ME-310 Probabilidade II Lista 2

CÁLCULO I. Iniciaremos com o seguinte exemplo: u 2 du = cos x + u3 3 + C = cos3 x

CÁLCULO I Prof. Edilson Neri Júnior Prof. André Almeida

Alexandre Miranda Alves Anderson Tiago da Silva Edson José Teixeira. MAT146 - Cálculo I - Integração por Frações Parciais

0.1 Tutorial sobre Polinômio de Taylor

Integral na reta com Álgebra Linear: caso particular

Se a função de consumo é dada por y = f(x), onde y é o consumo nacional total e x é a renda nacional total, então a tendência marginal ao consumo é ig

Integração Usando Tabelas e Sistemas Algébricos Computacionais

Capítulo 5 Integral. Definição Uma função será chamada de antiderivada ou de primitiva de uma função num intervalo I se: ( )= ( ), para todo I.

UFRGS INSTITUTO DE MATEMÁTICA E ESTATÍSTICA Programa de Pós-Graduação em Matemática Aplicada Prova Escrita - Processo Seletivo 2017/2 - Mestrado

MATEMÁTICA II. Profa. Dra. Amanda Liz Pacífico Manfrim Perticarrari

Integral. Queremos calcular a integral definida I = O valor de I será associado a uma área. Veremos dois métodos (por enquanto)

Técnicas de Integração

Madalena. À memória de meu pai Manuel João José Carapau

CÁLCULO I. Estabelecer a relação entre continuidade e derivabilidade; Apresentar a derivada das funções elementares. f f(x + h) f(x) c c

Transcrição:

Universidade de Brasília Departamento de Matemática Cálculo 1 Integração por partes Vimos nos textos anteriores que a técnica de mudança de variáveis é muito útil no cálculo de algumas primitivas. Porém, existem casos em que ela não é suficiente. Por exemplo, suponha que queremos resolver a integral xe x dx. Uma análise inicial mostra que esta integral não é de resolução imediata. De fato, se estivéssemos integrando somente o termo x, teríamos a primitiva x 2 /2, enquanto que se o integrando fosse somente e x, poderíamos tomar a primitiva e x. Contudo, neste caso, temos o produto destas duas funções. Assim, Umatentativainicialseriausaramudançau = e x, quenosfornecedu = e x dxex = ln(u). xe x dx = xdu = ln(u)du. Embora a igualdade acima esteja correta, ela não nos ajuda muito, porque também não sabemos uma primitiva para a função ln(u). Portanto, a integral proposta não deve ser resolvida por mudança de variáveis. Neste texto vamos introduzir uma nova técnica que vai nos permitir, entre outras coisas, encontrar uma primitiva para a função xe x. Lembre que a fórmula de mudança de variáveis foi obtida a partir da Regra da Cadeia. O que vamos fazer inicialmente é obter, a partir da regra de derivação de um produto, uma nova fórmula. Para tanto, lembre que d dx [f(x) g(x)] = f (x)g(x)+f(x)g (x), sempre que f eg são deriváveis. Integrando a igualdade acima com respeito a x, elembrando que uma primitiva de (f(x)g(x)) é o produto f(x)g(x), obtemos f(x)g (x)dx = f(x)g(x) f (x)g(x)dx. A igualdade acima é conhecida como fórmula de integração por partes. Na sequência, vamos mostrar como ela pode ser útil. 1

Exemplo 1. Vamosusarafórmulapararesolveraintegral xe x dx. Sedenotarmosf(x) = x e g (x) = e x, obtemos xe x dx = f(x)g (x)dx = f(x)g(x) f (x)g(x)dx = x g(x) 1 g(x)dx. Para finalizar o cálculo, precisamos descobrir quem é g(x). Como g (x) = e x, temos que g(x) = g (x)dx = e x dx = e x +K 1, em que K 1 é a constante de integração. Deste modo xe x dx = x(e x +K 1 ) (e x +K 1 )dx = xe x e x dx, ou ainda, xe x dx = (x 1)e x +K. Se você quiser, pode checar o resultado acima simplesmente derivando o lado direito. Vale notar que, no cálculo da função g acima, a constante de integração K 1 sempre vai desaparecer. De fato, basta notar que f(x)(g(x)+k 1 ) f (x)(g(x)+k 1 )dx = f(x)g(x) f (x)g(x)dx, qualquer que seja o número K 1. Deste modo, ao aplicarmos a fórmula, é comum escolher K 1 = 0 na expressão de g(x). Outra observação importante é que a fórmula pode ser reescrita de uma maneira mais simples de ser lembrada, através do seguinte artifício: considere u = f(x) e v = g(x). Com esta definição, temos que du dx = f (x). Se considerarmos, formalmente, o símbolo du dx como sendo uma fração, isso nos leva a du = f (x)dx e, de maneira análoga, dv = g (x)dx. Assim, a fórmula de integração por partes pode ser escrita como udv = uv vdu. Exemplo 2. Para a integral indefinida xcos(x)dx, vamos considerar u = x e dv = cos(x)dx. Deste modo, temos que u = x, dv = cos(x)dx du = dx, v = dv = cos(x)dx = sen(x), onde escolhemos a constante de integração como sendo 0 no cálculo de v. Assim, usando a fórmula, obtemos xcos(x)dx = udv = uv vdu = xsen(x) sen(x)dx, 2

ou ainda xcos(x)dx = xsen(x)+cos(x)+k. Novamente, a igualdade pode ser checada pela simples derivação do lado direito. Ao aplicar a fórmula, é fundamental fazer uma escolha apropriada do termo dv. A primeira dica para esta escolha é lembrar que, para aplicar a fórmula, será necessário conhecer o valor de v, isto é, calcular a integral dv. Deste modo, o termo dv deve ser uma função que sabemos integrar. Esta observação, quando aplicada no Exemplo 2 acima, descarta imediatamente a escolha dv = x cos(x). Porém, ainda restariam três possibilidades: dv = xdx, dv = dx, dv = cos(x)dx. Já vimos que a terceira escolha acima funciona. Para a primeira teríamos u = cos(x), dv = xdx de modo que du = sen(x)dx, v = xdx = x 2 /2, xcos(x)dx = x2 x 2 2 cos(x)+ 2 sen(x)dx. Esta igualdade, embora correta, não ajuda muito, porque a integral que aparece do lado direito não parece ser mais simples do que a inicial. Deixamos para o leitor a verificação de que a escolha dv = dx também não é boa. Exemplo 3. Vamos calcular ln(x)dx, integrando por partes. Fazendo a escolha u = ln(x), somos levados a dv = dx, u = ln(x), dv = dx e portanto du = 1 x dx, v = dx = x, ln(x)dx = xln(x) 1 xdx = xln(x) x+k. x Novamente aqui, a escolha dv = ln(x) não seria boa, porque a princípio não sabemos uma primitiva de ln(x). 3

Exemplo 4. Em alguns casos precisamos aplicar o método mais de uma vez. Por exemplo, para x 2 sen(x)dx, fazemos u = x 2 e dv = sen(x)dx, de modo que du = 2xdx e v = cos(x). Assim x 2 sen(x)dx = x 2 cos(x)+ 2x cos(x)dx. Resolvendo a última integral partes (cf. Exemplo 2), obtemos x 2 sen(x)dx = x 2 cos(x)+2(xsen(x)+cos(x))+k, que é o resultado desejado. Observe que a ideia do exemplo acima funciona em qualquer integral do tipo x n f(x)dx, quando n N e a função f é, por exemplo, do tipo cos(ax), sen(ax) ou e ax, com a R. Quanto maior o valor de n, mais vezes teremos que integrar por partes. A parte boa é que, a cada integração, o expoente do termo x da nova integral diminui até chegarmos em x 0 = 1. Exemplo 5. Vamos agora aplicar integração por partes na integral sen(ln(x))dx, com as escolhas seguintes Substituindo, vem u = sen(ln(x)), dv = dx du = cos(ln(x)) dx, v = x. x sen(ln(x))dx = xsen(ln(x)) cos(ln(x))dx. (1) Note que a integral resultante parece ter a mesma complexidade da inicial, o que poderia nos levar a pensar que a ideia não foi boa. Porém, vamos aplicar integração por partes a esta nova integral, com a seguinte escolha para obter u = cos(ln(x)), dv = dx, du = sen(ln(x)) dx, v = x, x cos(ln(x))dx = xcos(ln(x))+ sen(ln(x))dx. 4

Substituindo a igualdade acima em (1), obtemos sen(ln(x))dx = xsen(ln(x)) xcos(ln(x)) sen(ln(x))dx. Note que a integral que queríamos calcular apareceu novamente, do lado direito, multiplicada por umfator diferente de1. Podemos então levá-la para o lado esquerdo da igualdade eobter sen(ln(x))dx = 1 [ ] xsen(ln(x)) xcos(ln(x)) +K, 2 com K sendo a constante de integração. Amesmaideiaacimanospermitecalcularintegraisdotipo e ax sen(bx)dxou e ax cos(bx), com a, b R. Deixamos para o leitor a tarefa de considerar casos como esses. Exemplo 6. Em alguns casos, as técnicas de integração podem se misturar. Por exemplo, na integral e x dx, podemos fazer a mudança de variáveis y = x para obter dx = 2 ydy = 2ydy, e portanto e x dx = 2 ye y dy. Esta última integral pode ser facilmente resolvida por integração por partes. De maneira análoga podemos tratar, por exemplo, sen( x)dx ou cos( x)dx. Finalizamos observando que a fórmula de integração por partes pode ser aplicada na integral definida. De fato, o Teorema Fundamental do Cálculo implica que b a f(x)g (x)dx = f(x)g(x) b x=a Assim, lembrando do Exemplo 1, temos 1 0 xe x dx = xe x 1 x=0 1 0 b a f (x)g(x)dx. e x dx = (e 0) (e x ) 1 = e (e 1) = 1. x=0 5

Tarefa A fórmula de integração por partes nos permite obter fórmulas recurssivas para algumas integrais. Por exemplo, para todo natural n 3, considere I n = π/2 0 cos n (x)dx. 1. Use integração por partes, com u = cos n 1 (x) e dv = cos(x)dx, para obter cos n (x)dx = sen(x)cos n 1 (x)+(n 1) cos n 2 (x)sen 2 (x)dx. 2. Lembrando que sen 2 (x)+cos 2 (x) = 1, conclua que I n = n 1 n I n 2, n 3. 3. Escreva uma fórmula recursiva para a integral indefinida cos n (x)dx. 6