Causas necessárias: um desafio metodológico ou ontológico?

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x 1 3x 2 2x 3 = 0 2 x 1 + x 2 x 3 6x 4 = 2 6 x x 2 3x 4 + x 5 = 1 ( f ) x 1 + 2x 2 3x 3 = 6 2x 1 x 2 + 4x 3 = 2 4x 1 + 3x 2 2x 3 = 4

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Transcrição:

Causas necessárias: um desafio metodológico ou ontológico? Valéria Troncoso Baltar Elizabete Silva dos Santos Ari Timerman Júlio César C Rodrigues Pereira Setembro 2008 Universidade de São Paulo Faculdade de Saúde PúblicaP

Causa J. S. Mill A system of logic,, 1851 Todo fato que começa a a existir tem uma causa,, e essa causa deve ser encontrada em algum fato que imediatamente precedeu à sua ocorrência, isso é certo. Todos os fatos presentes são infalivelmente resultados de todos os fatos passados e mais imediatamente de todos os fatos que existiram no momento prévio vio, p. 382 [ ] não é verdade que um fenômeno seja sempre produzido pela mesma causa [ ], os efeitos de diferentes causas frequentemente não são dissimilares, mas homogêneos [ ][ ] A e B podem produzir não a e b, mas diferentes porções de um efeito a., p. 441

Condição INUS: John Mackie, Causes and Conditions - 1965 (ABC ou DEF ou GHI ou ) Condição INUS Condição suficiente minimal (não redundante) Condição necessária e suficiente (disjun suficientes minimais) (disjunção de todas as condições Uma causa é uma condição insuficiente, mas necessária de um conjunto de condições que assim é uma condição suficiente, mas não necessária, para produzir o efeito.

Condição INUS e necessária A injeção de um vírus v não é suficiente para dizer que a pessoa está doente, mas a presença a do vírus v combinada com a ausência de imunidade e talvez combinada com mais uma série s de condições, constitui uma condição suficiente para a doença. A condição necessária e suficiente seria do tipo: (AX X ou AY Y ou AZ Z ou A ) onde A está presente em cada disjunção. A é então uma condição necessária para a doença!

Causa: Rothman 1976 Modelo de causas componentes em conjuntos suficientes um ato, ou evento, ou estado de natureza que inicia ou permite, sozinho ou em conjunto com outras causas, a seqüência de eventos que resultam em um efeito (1976) todo acontecimento, condição ou característica que tem um papel essencial em produzir a sua ocorrência (1986)

Esquematização conceitual de três conjuntos suficientes para uma doença (ROTHMAN, 1976) Conjunto Suficiente I Conjunto Suficiente II Conjunto Suficiente III A Causa necessária C e G causas independentes J e I causas dependentes (sinergia)

Interação Doentes que estiveram expostos a A e B podem ter desenvolvido a doença a por efeito de uma das quatro classes representadas

Medindo a Sinergia - S S= R 11 - R 00 (R 10 10 -R 00 00 ) + (R 01 01 -R 00 00 ) - (R (R 10 -R 00 00 )(R 01 (1-R 00 ) 01 -R 00 )

Modelo de Equações Estruturais

Objetivos Objetivo: Elaboração de uma versão analítica para o modelo de causas componentes em conjuntos suficientes de Rothman utilizando MEE e considerando a premissa de interação e a possibilidade de CN. Testar a utilidade dos MEE na identificação das relações de causas e efeitos desenhando a rede causal e verificando a utilidade para identificação de CN.

Identificação de CS para ocorrência de (re-) Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) ou Morte em 30 dias para pacientes internados com angina instável ou IAM sem Supra ST Métodos: os casos são pacientes que ingressaram na emergência de um hospital com angina instável ou IAM sem supra ST. Os 1.027 pacientes foram acompanhados e verificou-se a ocorrência de morte ou (re-) ) infarto em até 30 dias. Fatores de risco com OR significativo ao nível n de significância de 10% em análise exploratória ria bi-variada: Antecedentes pessoais: 1. Angina estável (1,62, p=0,089) 2. AVC (3,35, p=0,007) 3. DAC 50%(1,70, p=0,076) 4. DM (2,05, p=0,009) 5. D.Arterial Periférica (2,52, p=0,05) 6. Tabagismo atual (0,38, p=0,033) 7. Idade 65 a (3,72, p<0,001) Exames na Admissão: 8. Troponina I (2,94, p<0,001) 9. PCR (2,0, p=0,014) 10.Alteração Eletro (2,39, p=0,002)

Estimativas de Sinergia acima de 2 Conjuntos Suficientes Iniciais S>=2 S DM AVC 3,5 D.Art.Perif AVC 4,6 Tabag D.Art.Perif 6,9 Idade D.Art.Perif 5,5 Idade Tabag 2,3 Anemia Idade 4,9 Tropo Angina 2,3 Tropo AVC 3,5 Tropo DM 2,7 Eletro AVC 6,1 Eletro DM 5,8 Eletro D.Art.Perif 2,3 Eletro Creatinina 2,8 IECA Angina 3,1 IECA AVC 2,4 IECA DM 24 IECA Tabag 4,6 IECA Anemia 2,6 IECA Eletro 9,1 CS 1 = DAP + IDADE + TABAG CS 2 = DAP + AVC + ELETRO CS 3 = ANGINA + TROPO CS 4 = AVC + DM + TROPO CS 5 = AVC + DM + ELETRO

MEE final

Esquema do Rothman Não háh C.N Magnitude da relação de cada C.S:

MEE considerando a variável vel fictícia cia obstrução do vaso Os coeficientes não mudam muito, mas o peso do CS 2 dispara! Em todos os CS o fator obstrução foi significativo!

Bibliografia Mill, JS. A System of Logic, ratiocinative and inductive, being a connected view of the priciples of evidence, and the methods of scientific investigation. Ed.3. London: John W Parker. 1851. Mackie JL. Causes and conditions. Am Phil Quar. 1965; 2 (4): 245-64. Rothman KJ. The estimation of synergism or antagonism. Am J Epidemiol. 1976a;103(5):506-11. 11. Rothman KJ. Causes. Am J Epidemiol. 1976b;104:587-92. Obrigada!