OBJETIVO Diagnosticar os pacientes com quadro clínico suspeito e propor tratamento adequado revisado por literatura recente.

Documentos relacionados
Diagnóstico Diferencial das Síndromes Glomerulares. Dra. Roberta M. Lima Sobral

GLOMERULOPATIAS. 5º ano médico. André Balbi

Glomerulonefrite pós infecciosa

QUESTÕES COMENTADAS INTRODUÇÃO À NEFROLOGIA

Lesão Renal Aguda. Revista Qualidade HC. Autores e Afiliação: Área: Objetivos: Definição / Quadro Clínico:

Sistema Urinário. Patrícia Dupim

Etiologia: Etiologia:

Hematúria 1. DEFINIÇÕES 2. ETIOLOGIA. Revisão. Aprovação. Elaboração Joana Campos Dina Cirino Clara Gomes A Jorge Correia Data: Maio 2007

Vai estudar doenças glomerulares? Não se esqueça do elefantinho!

Nefropatia Diabética. Caso clínico com estudo dirigido. Coordenadores: Márcio Dantas e Gustavo Frezza

Glomerulopatias Secundárias. Glomerulopatias Secundárias. Glomerulopatias Secundárias. Glomerulopatias Secundárias. Glomerulonefrites Bacterianas

AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA FUNÇÃO RENAL

Hidroclorotiazida. Diurético - tiazídico.

PRÉ-REQUISITO R3 TRANSPLANTE RENAL / NEFRO (309)

Consensus Statement on Management of Steroid Sensitive Nephrotic Syndrome

b) caso este paciente venha a ser submetido a uma biópsia renal, descreva como deve ser o aspecto encontrado na patologia.

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doença Cardiovascular Parte 4. Profª. Tatiane da Silva Campos

Drogas que atuam no sistema cardiovascular, respiratório e urinário

Glomerulonefrite Crescêntica

Nefropatia Diabética. Caso clínico com estudo dirigido. Coordenadores: Márcio Dantas e Gustavo Frezza RESPOSTAS DAS QUESTÕES:

DISTÚRBIOS DO SÓDIO E DO POTÁSSIO

Insuficiência Renal Crônica Claudia Witzel

OBJETIVO Diagnosticar os pacientes com quadro clínico suspeito e propor tratamento adequado revisado por literatura recente.

Síndrome Renal Hematúrico/Proteinúrica Idiopática Primária. (Nefropatia por IgA [Doença de Berger])

EXAME 2018 PRÉ-REQUISITO: NEFROLOGIA. Instruções

R1CM HC UFPR Dra. Elisa D. Gaio Prof. CM HC UFPR Dr. Mauricio Carvalho

1. Paciente com síndrome nefrótica que apresenta dor lombar, hematúria e varicocele à esquerda sugere o diagnóstico de:

2ª PARTE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS NEFROLOGIA

Vai estudar doenças glomerulares? Não se esqueça do elefantinho!

Protocolo de Atendimento a Pacientes Hepatopatas com Injúria Renal Aguda e Síndrome Hepatorrenal

Glomerulonefrites Secundárias

PRINCIPAIS SÍNDROMES EM NEFROLOGIA

Insuficiência Cardiaca

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANSMISSIVEIS. Doenças Renais Parte 4. Profª. Tatiane da Silva Campos

AB0 HLA-A HLA-B HLA-DR Paciente A 1,11 8,35 3,11 Pai O 1,2 8,44 3,15 Irmão 1 B 1,11 8,35 3,11 Irmão 2 O 2,24 44,51 8,15

Desequilíbrio Hidroeletrolítico. Prof.º Enfº. Esp. Diógenes Trevizan

CADA VIDA CONTA. Reconhecido pela: Parceria oficial: Realização:

Abordagem da eclâmpsia na sala de partos. Dra Euridice Chongolola 8 De Novembro 2017

Introdução. *Susceptibilidade. * Unidade funcional e morfológica: néfron - glomérulo ( parte vascular) - túbulo ( parte epitelial) TÚBULO PROXIMAL

Introdução. *Susceptibilidade. * Unidade funcional e morfológica: néfron - glomérulo ( parte vascular) - túbulo ( parte epitelial) TÚBULO PROXIMAL

Cetoacidose Diabética

DISTÚRBIOS HIDROELETROLÍTICOS HIPONATREMIA - I

Manejo de casos suspeitos de Febre Maculosa. Outubro de 2018

INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA EM GATOS

3/6/ 2014 Manuela Cerqueira

Identificação:SBR, 48 anos, feminino, parda, casada, funcionária administrativa, natural de Campos dos Goytacazes.

Febre reumática e artrite reativa pósestreptocócica

Prova de Esforço. Ana Mota

COMPLICAÇÕES RENAIS NO TRANSPLANTE HEPÁTICO

10anos. Jose Roberto Fioretto

PEDIDO DE CREDENCIAMENTO DO SEGUNDO ANO NA ÁREA DE ATUAÇÃO NEFROLOGIA PEDIÁTRICA

ENFERMAGEM EXAMES LABORATORIAIS. Aula 4. Profª. Tatiane da Silva Campos

USG do aparelho urinário: hidroureteronefrose bilateral, bexiga repleta com volume estimado de 350 ml com paredes espessadas e trabeculadas.

RESIDENCIA MÉDICA UFRJ

Síndrome Cardiorrenal. Leonardo A. M. Zornoff Departamento de Clínica Médica

Módulo 1 ABORDAGEM E OPÇÕES TERAPÊUTICAS NO DOENTE COM LITÍASE RENAL AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA CÓLICA RENAL 3 OBSERVAÇÃO 4 OPÇÕES TERAPÊUTICAS

Aula 05 DIABETES MELLITUS (DM) Definição CLASSIFICAÇÃO DA DIABETES. Diabetes Mellitus Tipo I

SISTEMA CIRCULATÓRIO II

Insuficiência Renal Aguda no Lúpus Eritematoso Sistêmico. Edna Solange Assis João Paulo Coelho Simone Chinwa Lo

MANEJO DOS CASOS SUSPEITOS E CONFIRMADOS DE INFLUENZA NO HIAE E UNIDADES

Particularidades no reconhecimento da IRA, padronização da definição e classificação.

Obrigada por ver esta apresentação Gostaríamos de recordar-lhe que esta apresentação é propriedade do autor pelo autor

Espectro clínico. Figura 1 Espectro clínico chikungunya. Infecção. Casos Assintomáticos. Formas. Típicas. Fase Aguda. Fase Subaguda.

2ª PARTE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS NEFROLOGIA. 22. A glomerulopatia mais comumente associada ao HIV (vírus da imunodeficiência humana) é:

PROTOCOLO MÉDICO SEPSE E CHOQUE SÉPTICO

Distúrbios Hidroeletrolíticos. Hiponatremia - I

LESÃO RENAL AGUDA. FILIPE UTUARI Enfermeiro UTIA HIAE

Guia Prático MANEJO CLÍNICO DE PACIENTE COM SUSPEITA DE DENGUE. Estado de São Paulo Divisão de Dengue e Chikungunya

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANSMISSIVEIS. Doenças Renais Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 PROVA OBJETIVA

Problemas Endócrinos. Prof.º Enf.º Esp. Diógenes Trevizan

Confira se os dados contidos na parte inferior desta capa estão corretos e, em seguida, assine no espaço reservado para isso.

NOME GÊNERO IDADE ENDEREÇO TELEFONE

Manejo clínico da ascite

DISTÚRBIOS HIPERTENSIVOS NA GRAVIDEZ. Profª Leticia Pedroso

1/100 RP Universidade de São Paulo 1/1 INSTRUÇÕES PROCESSO SELETIVO PARA INÍCIO EM ª FASE: GRUPO 4: FARMÁCIA

Doença Renal Crônica em gatos diagnóstico precoce, estadiamento e terapêutica nefroprotetora. Alexandre G. T. Daniel, MV, Msc.

SÍNDROME NEFRÍTICA E SÍNDROME NEFRÓTICA LIGANTES: JILSON LEÃO FTC TÂMARA NUNES FTC

Doença renal crônica em gatos estadiamento e manejo clínico

Caio Abner. 3 de Junho de 2009

Diagnóstico e estagiamento da DRC em cães e gatos

PREVALÊNCIA DE INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA EM PACIENTES DIABETICOS EM UM LABORATORIO CLÍNICO EM CAMPINA GRANDE

Reconhecendo os agravos clínicos em urgência e emergência. Prof.º Enfº. Diógenes Trevizan

INJÚRIA RENAL AGUDA CASSIANE DEZOTI DA FONSECA PESQUISADORA DO LABORATÓRIO EXPERIMENTAL DE MODELOS ANIMAIS (LEMA) DA EEUSP

PENTAVALENTE (DIFTERIA, TÉTANO, COQUELUCHE, HIB E HEPATITE B) (1,0) VOP (VACINA ORAL PARA PÓLIO) (1,0) PNEUMOCÓCICA 10 VALENTE (1,0)

Síndromes Coronarianas Agudas. Mariana Pereira Ribeiro

INSTITUTO LATINO AMERICANO DE SEPSE CAMPANHA DE SOBREVIVÊNCIA A SEPSE PROTOCOLO CLÍNICO. Atendimento ao paciente com sepse grave/choque séptico

Proteinúrias Hereditárias: Nefropatia Finlandesa e. Esclerose Mesangial Difusa

SÍNDROME NEFRÍTICA AGUDA

INJÚRIA RENAL AGUDA (IRA): EVOLUÇÃO DE UM CONCEITO

Perfil Epidemiológico de Pacientes Portadores de Doença Renal Crônica Terminal em Programa de Hemodiálise em Clínica de Santa Cruz do Sul - RS

SERVIÇO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR PROTOCOLO DENGUE

QUESTÕES NEFROLOGIA 2ª UNIDADE Assinale a alternativa correta em relação ao transplante renal.

Serviço e Disciplina de Clínica Médica. Sessão Clínica 05/11/2018. Orientador: Prof. Luis Clóvis Bittencourt. Prof. Edilbert Pellegrini

Prevenção Secundária da Doença Renal Crônica Modelo Público

Abordagem do Paciente Renal. Abordagem do Paciente Renal. Abordagem do Paciente Renal. Síndromes Nefrológicas. Síndrome infecciosa: Infecciosa

HIPERÊMESE GRAVÍDICA. Msc. Roberpaulo Anacleto

Transcrição:

Revisão: 2015 Página: 1 de 10 OBJETIVO Diagnosticar os pacientes com quadro clínico suspeito e propor tratamento adequado revisado por literatura recente. RESPONSABILIDADE Equipe multiprofissional: Equipe médica indicar e realizar diagnóstico, tratamento e alta do paciente; Equipe de enfermagem preparar e realizar o processo de admissão e alta do paciente; Equipe administrativo e higienização Realizar o procedimento de admissão e alta da enfermaria; Equipe da farmácia prover medicações específicas e antimicrobianas, bem como derivados hemoterápicos; e Equipe laboratorial realização rápida e efetiva dos exames diagnósticos e controle. DEFINIÇÃO A glomerulonefrite difusa aguda (GNDA) ou glomerulonefrite pósestreptocócica (GNPE) é o exemplo clássico da síndrome nefrítica aguda. É uma doença aguda de base imunológica, caracterizada pelo processo inflamatório que acomete todos os glomérulos de ambos os rins. Juntamente com a febre reumática, é considerada uma sequela tardia, e não supurativa, de uma infecção estreptocócica prévia. Clinicamente é caracterizada pela tríade clássica: edema, hipertensão e hematúria. O quadro clínico completo inclui oligúria, queda do ritmo de filtração glomerular e proteinúria.

Revisão: 2015 Página: 2 de 10 EPIDEMIOLOGIA A GNPE pode ocorrer de forma esporádica ou durante epidemia pelos estreptococos beta-hemolítico do grupo A.O sexo masculino, em geral, é mais acometido, na proporção 2:1, embora alguns autores relatam que quando o processo é secundário à estreptococcia cutânea, não há predomínio de sexo. É rara em menor de 2 anos, cerca de 5%, atingindo o pico ao redor dos 7 anos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A história típica é precedida de infecção estreptocócica e o intervalo entre a ocorrência da estreptococcia e a glomerulonefrite é, geralmente, de 10 a 20 dias (no máximo seis semanas) após o quadro inicial. Os sinais e sintomas na GNDA são bastante diversos, podendo incluir casos assintomáticos com evidência subclínica (edema subclínico, hipertensão e complemento diminuído) ou laboratorial de envolvimento renal (hematúria microscópica). Na maioria das vezes, o paciente encontra-se em bom estado geral, com queixas vagas como indisposição, inapetência, cefaleia e edema periorbital. Outros sintomas, menos frequentes, podem acompanhar o quadro, como mal-estar, letargia, cólicas abdominais ou dor nos flancos, hipertermia e vômitos. O quadro clínico clássico constitui-se de: 1- Edema: aparece em 85% dos casos com intensidade variável, geralmente leve, frio, mole e gravitacional, sendo mais evidente em região periorbitária e no período matutino, mas pode atingir as extremidades inferiores e as regiões lombar ou genital; 2- Hipertensão arterial: presente em cerca de 60 a 80% dos casos;

Revisão: 2015 Página: 3 de 10 3- Hematúria macroscópica: presente em aproximadamente 25 a 35% dos casos e microscópica observada em praticamente todos os casos na forma persistente ou intermitente. DIAGNÓSTICO Diante de um paciente com síndrome nefrítica, a primeira ação diagnóstica deve ser tentar encontrar, pela anamnese e exame físico, a presença de manifestações extrarrenais que possam indicar uma etiologia específica (p.ex.,rash malar e artrite para o lúpus eritematoso). Caso a síndrome nefrítica seja a única condição do paciente, o médico deve perguntar a ele sobre faringite ou piodermite prévias recentes, verificar se o período entre as infecções estreptocócicas prévias e o início dos sintomas da GNDA é compatível. COMPLICAÇÕES Congestão cardiocirculatória: caracteriza-se por sinais clínicos de hipervolemia como taquicardia, dispneia, tosse, estertores subcreptantes em bases pulmonares e hepatomegalia. Podendo evoluir com insuficiência cardíaca congestiva. Encefalopatia hipertensiva: observam-se hipertensão arterial grave, cefaleia, vômitos, diplopia, amaurose, agitação, sonolência, convulsões e coma. Insuficiência renal aguda: complicação rara e consiste em oligoanuria com retenção de escórias.

Revisão: 2015 Página: 4 de 10 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Alterações urinárias: Densidade urinaria é conservada ou mesmo elevada. A proteinúria é discreta a moderada. No sedimento existe hematúria, leucocitúria e cilindrúria (hemáticos e granulosos). Bioquímica sérica: Os níveis de ureia e creatinina podem estar elevados. A função tubular costuma estar preservada. Hiponatremia, acidose metabólica e hipercalemia podem ocorrer quando a queda no ritmo de filtração glomerular for importante, causando insuficiência renal aguda. Hemograma e Perfil de Coagulação: Anemia decorrente da expansão do volume, que gera leve diluição da concentração de hemoglobina. Plaquetopenia transitória pela diminuição da meia-vida plaquetária. Fatores de coagulação possivelmente alterados, com diminuição do fator XIII e alfamacroglobulina, diminuição do nível e da atividade da antitrombina III e aumento discreto da alfa-1-antitripsina. ASPECTOS IMUNOLÓGICOS A resposta imunológica à estreptococcia de orofaringe é diferente daquela encontrada na forma cutânea. A infecção de orofaringe leva à elevação dos títulos de antiestreptolisina O (ASLO), anti-hialuronidase e anti-dnase. Na infecção cutânea, porém, títulos de ASLO não se elevam, devendo-se utilizar a anti-dnase para o diagnóstico (detectado em 60 a 70% dos casos), seguido pelo anti-hialuronidase. O complemento total e algumas de suas frações encontram-se diminuídos em aproximadamente 90% dos casos na fase aguda da GNPE. C3, C5 e properdina estão frequentemente diminuídos; C4 está em níveis normais. A hipocomplementemia resolve-se em, aproximadamente, 8 semanas após o início do quadro; 90% dos pacientes apresentam

Revisão: 2015 Página: 5 de 10 hipergamaglobulinemia, com elevação de IgM e IgG; 75% dos casos apresentam crioglobulinemia e 50% apresentam positividade para o fator reumatoide. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP); outras glomerulonefrites pós-infecciosas (p.ex., endocardite bacteriana aguda); Glomerulonefrite lúpica; Glomerulonefrite rapidamente progressiva; Púrpura de Henoch-Schönlein (PHS); Doença de Berger (Nefropatia por IgA). Todas essas condições podem ser facilmente excluídas por critérios clínicos e laboratoriais, com exceção da GNMP, que pode ocorrer após infecções estreptocócicas em crianças e ainda apresentar um padrão semelhante de ativação da via alternada do complemento. A GNMP pode ser suspeitada caso haja proteinúria nefrótica, ou caso a hipocomplementemia persista por mais de oito semanas. TRATAMENTO O tratamento da GNDA é geralmente sintomático e ambulatorial. A hospitalização do paciente nem sempre é obrigatória, tornando-se necessária em casos de complicações. É indicada a avaliação diária do paciente, visando reconhecer a evolução do edema e o peso, com controle da pressão arterial e do débito urinário.

Revisão: 2015 Página: 6 de 10 Repouso Deve ser limitado pelo próprio paciente. É recomendado enquanto persistirem a hematúria macroscópica, a hipertensão e o edema. Dieta A restrição dietética é importante durante a fase de oligúria, edema e hipertensão. Superada a fase aguda, a dieta é gradativamente transicionada para a dieta comum. A restrição hídrica está indicada e o volume hídrico prescrito depende da gravidade do quadro clínico, oferecendo-se inicialmente 400 ml/m 2 /dia (ou 20 ml/kg/dia) para cobrir as perdas insensíveis. Adiciona-se a esse volume inicial uma fração gradualmente maior de volume, dependendo do débito urinário de 24 horas e da melhora do edema e da hipertensão arterial. A ingestão de sódio deve ser diminuída (menos que 2g de NaCl/m²/dia) A restrição proteica está indicada quando a filtração glomerular permanecer muito diminuída (ureia maior que 150mg/dL ou sintomas urêmicos). Devem ser prescritas dietas com baixo teor proteico (0,5 g/kg/dia) e a restrição de potássio deve ser iniciada apenas em presença de oligúria importante (diurese < 240 ml/m 2 /dia), isto é, nos primeiros 2 a 3 dias de doença. Antibióticos Utiliza-se penicilina benzatina nas doses de 600.000 UI para crianças menores de 25 kg e 1.200.000 UI para maiores de 25 kg dose única ou, Amoxacilina 50 mg/kg/dia, VO, por 10 dias, ou, nos alérgicos à penicilina, usase eritromicina na dose de 30 a 40 mg/kg/dia, VO, por 10 dias. A

Revisão: 2015 Página: 7 de 10 antibioticoterapia não altera a evolução da doença, mas evita a disseminação da cepa nefritogênica para outras crianças. Diuréticos Estão indicados nos pacientes com hipervolemia com sintomas congestivos ou repercussão hemodinâmica (taquicardia, B3, taquidispnéia, creptações pulmonares, hepatomegalia, ingurgitamentos venosos). Nos casos graves, usa-se 1 a 2 mg/kg/dose por via endovenosa, quanto for necessário. Hipotensores Nas hipertensões mais graves, com níveis pressóricos mais de 20mmHg acima do percentil 95 para a idade e estatura, iniciarnifedipinaretard na dose de 1 a 2 mg/kg/dose, VO, a cada 12 horas. A anlodipina, em dose única ou fracionada em duas doses, é uma boa alternativa à nifedipina. Os IECAs (captopril ou enalapril) são a terapêutica de segunda escolha para controle da hipertensão. Insuficiência renal A insuficiência renal na GNPE, em geral, é transitória e de curta duração. No entanto, quando severa e duradoura, podem ocorrer hipercalemia, hipocalcemia, hiperfosfatemia e acidose metabólica. A hipercalemia leve, sem alterações ecocardiográficas, pode ser conduzida com restrição dietética de potássio e uso de furosemida. Podem ser utilizadas também a resina trocadora de cálcio pelo potássio (Sorcal 0,5 a 1 mg/kg até 4 a 6 horas), a glicose hipertônica a 25% (1 a 3 ml/kg/h), junto com a insulina (3 U/3 a 5 g de glicose), e o bicarbonato de sódio a 3% (2 meq/kg IV em 10 a 15 minutos). Na presença de hipercalemia severa, com alterações

Revisão: 2015 Página: 8 de 10 eletrocardiográficas graves, como ausência de onda P, alargamento de complexo QRS e arritmias, deve-se acrescentar o gluconato de cálcio a 10% (0,5 a 1 ml/kg IV, 5 a 10 minutos, com monitoração eletrocardiográfica) e indicar a diálise. A diálise peritoneal remove efetivamente o potássio corpóreo e está indicada nas seguintes situações clínicas: anúria com duração de 48 horas, sobrecarga de volume (resultando em insuficiência cardíaca congestiva), acidose metabólica intratável, hipercalemia refratária ao tratamento, uremia sintomática, pericardite urêmica e hiponatremia grave. PREVENÇÃO Medidas relacionadas à higiene pessoal podem diminuir a incidência de piodermites, consequentemente, da GNDA. As pessoas expostas devem fazer pesquisa e cultura de secreção de amigdalas à procura de estreptococos beta-hemolíticos do grupo A e tratados, se a cultura for positiva. Após o início da antibioticoterapia adequada, o doente deve ser mantido em isolamento respiratório por 24 horas, para evitar a disseminação das cepas nefritogênicas dos estreptococos. A antibioticoterapia sistêmica precoce das infecções orofaríngeas e cutâneas estreptocócicas não elimina o risco de glomerulonefrite. EVOLUÇÃO e PROGNÓSTICO A recuperação completa ocorre em mais de 95% das crianças com GNPE aguda. Em torno de uma semana após o quadro inicial, há a normalização da pressão arterial, aumento da diurese e queda dos níveis de ureia e creatinina séricas.

Revisão: 2015 Página: 9 de 10 A resolução da hematúria macroscópica ocorre em torno de 2 a 3 semanas, enquanto a microscópica pode persistir por um ano ou mais, sem que isso seja indicação de mau prognóstico. A proteinúria tende a se resolver em torno de 3 a 6 meses. A hipocomplementemia retorna em níveis normais em 6 a 8 semanas. Uma minoria de pacientes (1 a 5% dos casos) evolui de forma desfavorável. Podem complicar com GN rapidamente progressiva, proteinúria crônica, glomeruloesclerose focal e insuficiência renal crônica. A mortalidade no estágio agudo é evitável por tratamento apropriado da insuficiência renal ou cardíaca aguda. As recorrências são raríssimas. INDICAÇÕES DE BIÓPSIA RENAL Oligoanúria com duração maior que 48 a 72 horas; Oligúria e/ou azotemia persistente por mais de 4 semanas; Hipertensão arterial persistente por mais de 4 semanas; Hematúria macroscópica por mais de 4 semanas; Complemento total e frações persistentemente baixas por mais de 8 semanas; Proteinúrianefrótica (> 50 mg/kg/dia) presente por mais de 4 semanas. Pacientes com história anterior sugestiva de nefropatia ou antecedentes familiares sugestivos de afecções renais hereditárias devem ser observados com atenção e eventualmente biopsiados, se apresentarem evolução atípica.

BIBLIOGRAFIA Revisão: 2015 Página: 10 de 10 1. Tratado de pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria/ organizadores Dioclécio Campos Júnior, Dennis Alexander Rabelo Burns. 3.ed.; Barueri, SP; Manole, 2014. 2. Nefrologia Pediátrica - Manual Prático - Maria Goretti Moreira Guimarães Penido e Marcelo de Sousa Tavares, Livraria Balieiro, 2014. 3. Toporovski J, Mello VR et al. Nefrologia pediátrica. 2.ed. 2006. 4. Barros RT, Alves MAR, Dantas M. Glomerulopatias. Patogenia, clínica e tratamento. 2.ed. Sarvier; 2006.