Cetoacidose Diabética
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- Bernadete Faria de Sintra
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1 Cetoacidose Diabética Introdução A Cetoacidose diabética (CAD) é a complicação aguda do Diabetes Mellitus mais clássica e, embora não seja a mais comum (perde para hipoglicemia), é de longe a mais cobrada em concursos dada a riqueza de alterações clínicas e laboratoriais e o seu tratamento. Até o advento da insulina humana, na primeira metade do século XX, a mortalidade desta complicação era elevadíssima. Vamos ao nosso resumo. Manifestações Clínicas O início da CAD é precedido usualmente por 1 dia ou mais por sintomas de insulinopenia como poliúria e polidipsia associados à fadiga, náuseas e vômitos. O paciente apresenta desidratação importante, podendo progredir para torpor e coma. Um achado comum é a presença de dor abdominal, mesmo sem afecção abdominal estrutural. Pode ser a manifestação inicial do quadro de DM I, porém é mais frequente em pacientes que já possuem o diagnóstico de diabetes. As alterações laboratoriais são marcadas por acidose relacionada a corpos cetônicos e hiperglicemia (>250). Podem apresentar hipercalemia apesar da depleção de K (shift do plasma para o intracelular), com hiponatremia (em torno de 130). A acidose pode ser grave (ph 6,9-7,2). Fatores precipitantes mais comuns são: administração inadequada de insulina, infecção, doença vascular aguda, drogas(cocaína), e gestação. Diagnóstico e Tratamento Vamos colocar um algorítmo em ordem para guiar o diagnóstico e manejo da CAD: Confirmação do quadro Confirmar com glicemia, corpos cetônicos séricos, e acidose metabólica. Solicitar eletrólitos, gasometria arterial e função renal. - glicemia > 250 mg/dl - acidose: ph arterial< 7,3 - cetonúria fortemente positiva ou cetonemia (melhor critério) Reposição Volêmica Iniciar reposição venosa vigorosa com 2-3L de SF0,9% em 1-3horas, em seguida ml de SF 0,45%. Mudar para SG 5% 250ml/h quando glicemia atingir mg/dL.
2 Insulinoterapia Iniciar insulina regular IV(0,1u/kg) em bolus, seguida de 0,1u/kg/h IV, podendo aumentar 2-3 vezes se não tiver resposta em 2-4h. Não iniciar Insulina se K<3,3 até corrigir o distúrbio, pois poderá acarretar hipocalemia grave Correção do potássio sérico Se K sérico < 5,2 (com ECG normal, apresentando débito urinário e creatinina documentada normal): repor K - velocidade de 10mEq/h Se K sérico < 3,5 ou se reposição de bicarbonato: Administre meq/h de K Se K > 5,2: não iniciar reposição de K, até ocorrer queda de seus níveis. Correção do fósforo A reposição de fosfato se faz necessária quando o fósforo encontra-se menor do 1 ou quando há hipofosfatemia na presença de arritmias, disfunção miocárdica ou anemia hemolítica. Correção da acidose A melhora da acidose se dará com a própria resolução do quadro, sendo que a reposição de bicarbonato na maioria das vezes não se faz necessária, à exceção de ph < 7,0 (pelo risco de disfunção miocárdica pela própria acidose metabólica) Investigar causa da descompensação Solicitar ECG, culturas, Rx de tórax e outros exames que possam sugerir causa descompensadora. Controle do tratamento Medir glicemia capilar a cada 1-2h e ânion gap a cada 4horas nas primeiras 24h. Reavaliação e considerações importantes Continue com as medidas acima até o paciente estabilizar, manter uma glicemia entre 150 e 250 e recuperação da acidose. A insulina em bomba infusora deve ser reduzida para 0,05 a 0,1u/Kg. O melhor parâmetro de melhora é a recuperação dos níveis de bicarbonato. Administre insulina de longa duração subcutânea (NPH), assim que o paciente voltar a se alimentar. As Principais Perguntas de Prova 1- Qual é a velocidade de redução glicêmica preconizada na cetoacidose diabética? Ritmo de queda glicêmica deve ser de 50-75mg/dl por hora. 2- Quando iniciar reposição de potássio?
3 A reposição de potássio deve ser realizada quando seus níveis séricos estiverem abaixo de 5,2 meq/l, e o paciente apresentar débito urinário. Vale lembrar que deve-se repor 10 meq/h quando o K estiver entre 3,3 e 5,2mEq/L e meq/h quando estiver abaixo de 3,3mEq/l. 3- Na CAD qual é a alteração que ocorre no Sódio sérico do paciente? A cetoacidose diabética leva inicialmente à hiponatremia, devido à passagem de água do compartimento intracelular para o extracelular pela hiperglicemia. Normalmente há uma redução de 1,6 meq de sódio para cada aumento de 100mg/dl de glicemia. Deste modo, a natremia na CAD não reflete adequadamente os níveis de sódio corporal total, já que ele está mais diluído devido ao maior volume extracelular. Para calcular o sódio sérico corrigido use esta fórmula: Sódio medido + [(glicemia 100) / 100 x 1,6] ou aumente 1,6 meq de sódio para cada aumento de 100mg/dl de glicemia. 4- Quando suspender a administração de insulina venosa? De acordo com ADA A interrupção da insulina venosa com transição para insulina SC deve ser quando a glicemia for <200 e dois dos seguintes parâmetros: Ânion-GAP 12; ou HCO3 15; ou ph > 7,3. É importante lembrar que a negativação da cetonúria não é critério para resolução da cetoacidose. 5- Quando iniciar insulina NPH? Deve-se iniciar insulina de longa duração(nph) logo que o paciente voltar a se alimentar. 6- A presença de leucocitose com desvio sugere a infecção como fator desencadeante? A presença de leucocitose com desvio pode ocorrer na presença ou ausência de infecção. Um dado importante nos pacientes com CAD é valorizar a presença de temperatura normal ou aumentada, que sugere um foco infeccioso, já que a maioria se apresentará com hipotermia. 7- O que a presença de dor abdominal associado a aumento de amilasemia sugere nos pacientes com CAD? Podem ser manifestações comuns da CAD, e não necessariamente indicam pancreatite. Se houver forte suspeita de pancreatite, deve-se dosar a lipase, estando seus níveis altos na pancreatite. 8- Quais as principais complicações da CAD ou de seu tratamento? Hipoglicemia (principal complicação associada ao tratamento), hipocalemia, edema cerebral, SDRA, congestão pulmonar (por sobrecarga hídrica), mucormicose (infecção fúngica grave que acomete seios da face). 9- Quais os principais cetoácidos presentes na CAD? Acetoacetato (mais facilmente detectado) e beta-hidroxibutirato (mais presente).
4 Estado Hiperosmolar Hiperglicêmico Não-Cetótico (EHHNC) Manifestações clínicas Desidratação intensa associada a sintomas de insulinopenia mais arrastados (que podem durar por semanas). A alteração da consciência (chegando até coma) é muito fequente, ocorrendo até mesmo sinais neurológicos focais em boa parte dos casos. Mas por que não ocorre acidose no EHHNC? Há uma produção de insulina mantida minimamente, que embora pequena para manter o paciente em condições normais, é suficiente para evitar a liberação de glucagon e a formação de cetoácidos, embora possa ser observada cetonúria leve. Diagnóstico A essência do diagnóstico é a Glicose > 600 (em geral > 1000) + Osmolaridade > 320. Ao contrário da CAD, a acidose e cetonemia estão ausentes ou são leves e o ânion gap é normal, enquanto a glicemia e a desidratação são maiores que na cetoacidose. Vamos lembrar da osmolaridade efetiva que é um importante conceito no estado não cetótico hiperosmolar: OsmEfetiva: 2 x Na + glicose / 18. (A uréia não participa do cálculo) Tratamento 1) Soro 0,45% 4-6L em 8-12horas. Atenção! Esta complicação é típica de doentes com dificuldades de acesso à água (acamados, sequelados de AVC, restritos ao leito) e a desidratação é o grande marco do EHHNC. 2) Insulinoterapia: Menos insulina é necessária para a redução da glicemia, já que a reposição volêmica já é capaz de reduzir seus níveis em grande parte, visto que aumenta a taxa de filtração glomerular aumentando a excreção de glicose na urina. Reposição de K+: A reposição é feita com menos urgência, visto que a depleção de K total é menor que na CAD, pela ausência de acidose importante. Melhor parâmetro de melhora: OSMOLARIDADE SÉRICA < 310. A mortalidade do coma hiperosmolar é 10x maior que na CAD, devido à idade mais avançada dos pacientes, com maior prevalência de comorbidades e pela maior dificuldade de reconhecimento da afecção neste perfil de pacientes. Cetoacidose diabética X Estado hiperosmolar
5 Cetoacidose diabética X Estado hiperosmolar Esqueça Tudo Menos Isto! ü Emergências hiperglicêmicas: cetoacidose (baixa mortalidade) x estado hiperosmolar (alta mortalidade, pelas comorbidades associadas) ü CAD: doente jovem. DM 1, diagnóstico recente ou primeira manifestação. TEM ACIDOSE metabólica com AG aumentado. Déficit absoluta na produção de insulina + produção de hormônios contra-insulínicos (glucagon). ü Estado hiperosmolar: idoso, comorbidades, não tem acidose metabólica. Déficit relativo produção de insulina + dificuldade no acesso à água. DESIDRATAÇÃO INTENSA! ü Manejo CAD: seriar e controlar eletrólitos (sobretudo K+); ressuscitação volêmica; insulina regular IV em bomba (atentar para o K+). Melhor parâmetro de melhora = correção da acidose. ü Manejo EHHNC: ressuscitação volêmica (medida imediata mais importante) + insulina + identificação e correção da CAUSA DE BASE.
3) Complicações agudas do diabetes
73 3) Complicações agudas do diabetes Hiperglicemias As emergências hiperglicêmicas do diabetes melitus são classificadas em: cetoacidose diabética (CAD) e estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH), que
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