ANÁLISE COMPLEXA E EQUAÇÕES DIFERENCIAIS AULA TEÓRICA 27 18 DE ABRIL DE 2011 y 2y + y 2y = 0 O polinómio característico é r 3 2r 2 + r 2, que tem r = 2 como raiz. Obtemos então r 3 2r 2 + r 2 = (r 2) (r 2 + 1). As três raízes são r 1 = 2, r 2 = i e r 3 = i, e temos três soluções dadas por y 1 = e 2t, y 2 = cos(t) e y 3 = sen(t). Podemos ver tal como no exemplo anterior que estas soluções têm wronskiano não nulo, e portanto são linearmente independentes. A solução geral é y = c 1 e 2t + c 2 cos(t) + c 3 sen(t), c i R. Pode acontecer também que haja raízes complexas múltiplas. y (iv) + 2y + y = 0 O polinómio característico é r 4 + 2r 2 + 1, que pode ser escrito como (r 2 + 1) 2, donde r = ±i são raízes complexas duplas. Temos como soluções y 1 = cos t, y 2 = sen t, y 3 = t cos t e y 4 = t sen t. A solução geral é portanto 1
2 y = c 1 cos t + c 2 sen t + c 3 t cos t + c 4 t sen t, (c i R). y + 3y + 3y + y = 0 tem polinómio característico r 3 + 3r 2 + 3r + 1 Por inspecção, notamos que r 1 = 1 é raiz do polinómio. Temos r 3 + 3r 2 + 3r + 1 = (r + 1) (r 2 + 2r + 1) e este último polinómio tem como raízes r 2 = r 3 = 1 e portanto o polinómio característico original tem 1 como raiz tripla. São soluções y 1 = e t, y 2 = t e t e y 3 = t 2 e t. A solução geral é y = c 1 e t + c 2 t e t + c 3 t 2 e t, (c i R). Em geral: Uma raiz real r de multiplicidade m dá lugar a m soluções linearmente independentes y 1 = e rt, y 2 = t e rt,, y m = t m 1 e rt Duas raízes complexas conjugadas α ± iβ de multiplicidade m dão lugar a 2m soluções linearmente independentes y 1 = e αt cos(βt), y 2 = t e αt cos(βt),, y m = t m 1 e αt cos(βt) y m+1 = e αt sen(βt), y m+2 = t e αt sen(βt),, y 2m = t m 1 e αt sen(βt) Uma equação linear homogénea com coeficientes constantes tem três soluções, dadas por y 1 = t e t sen t, y 2 = e 2t e y 3 = t 3.
3 Pergunta-se: qual é a menor ordem possível para a equação? Qual é a sua solução geral? Como é uma equação possível que tenha tal solução geral? Se a equação tem as soluções dadas, o polinómio característico tem que ter pelo menos 1 + i como raiz dupla ( 1 i também é raiz dupla) 2 como raiz simples 0 como raiz quádrupla e a equação tem que ter (pelo menos) as soluções t e t sen t e 2t t 3 t e t cos t t 2 e t sen t t e t cos t 1 A mínima ordem é 9. Um polinómio característico é, por exemplo, (r (1 + i)) 2 (r (1 i)) 2 (r 2)(r 0) 4 Os coeficientes deste polinómio de grau 9 dão os coeficientes de uma equação possível. EQUAÇÕES LINEARES NÃO HOMOGÉNEAS DE ORDEM 2 Voltemos à equação não homogénea geral y + p(t)y + q(t)y = g(t). Escrevemos esta equação como L[y] = g(t). Se y 1 e y 2 são duas soluções da equação não homogénea, temos L[y 1 y 2 ] = L[y 1 ] L[y 2 ] = g(t) g(t) = 0,
4 e por isso y 1 y 2 é solução da equação homogénea correspondente. Donde, se y p for uma solução particular da equação não homogénea e y h for a solução geral da equação homogénea, temos que y = y p + y h é a solução geral da equação não homogénea. y + y = 2e t A equação homogénea correspondente é y + y = 0. O polinómio característico desta equação é r 2 + 1, que tem como raízes r = ±i. A solução geral da homogénea é portanto y h = c 1 cos t + c 2 sen t (c i R) Para a equação não homogénea, vemos por inspecção que y p = e t é solução. Logo, todas as soluções da equação são da forma y = y p + y h = e t + c 1 cos t + c 2 sen t (c i R) Em geral, para resolver y + p(t)y + q(t)y = g(t) devemos resolver primeiro y + p(t)y + q(t)y = 0 e obter y h = c 1 y 1 + c 2 y 2 (c 1, c 2 R) e procurar apenas uma solução particular y p da não homogénea. Depois, a solução geral da não homogénea é y = y p + y h = y p + c 1 y 1 + c 2 y 2 (c 1, c 2 R) Para obter um y p, vamos desenvolver dois métodos: O método dos coeficientes indeterminados é fácil de utilizar, mas serve apenas para equações com coeficientes constantes e para alguns tipos de g(t). O método de variação dos parâmetros (também chamado método de variação das constantes) serve para equações sem coeficientes constantes e para todos os tipos de
5 g(t), mas não é em geral fácil de aplicar (conduz a primitivas difíceis ou impossíveis de resolver.) MÉTODO DOS COEFICIENTES INDETERMINADOS y + y = 2e t A homogénea tem como solução geral y h = c 1 cos t + c 2 sen t. Para a solução particular, tentamos adivinhar que tipo pode ter a partir da forma de g(t). Neste caso, g(t) = 2e t sugere que procuremos y p = Ae t. O valor de A obtém-se substituindo na equação original: (Ae t ) + Ae t = 2e t 2Ae t = 2e t A = 1, e por isso y p = e t. Em geral, procuramos y p do mesmo tipo de g(t). Isto funciona para certas funções exponenciais, trigonométricas, e para polinómios. É preciso ter algum cuidado com as escolhas, como se vê no exemplo seguinte. y y = e t Para a homogénea, fazemos r 2 1 = 0 e obtemos r = ±1. y h = c 1 e t + c 2 e t, (c 1, c 2 R) Como g(t) = e t, procuramos, tal como no exemplo anterior, y p = Ae t. Mas (Ae t ) (Ae t ) = 0 e t seja qual for o A. Ou seja, y p não pode ser desta forma. Para evitar este tipo de enganos, podemos usar este método recorrendo a aniquiladores.
6 y y = e t A equação homogénea correspondente tem solução geral y h = c 1 e t + c 2 e t (c i R). Definindo D como o operador de derivada, escrevemos a equação não homogénea como (D 2 1)y = e t. Um aniquilador para e t é um operador dado por um polinómio em D que, quando aplicado a e t, produz uma função nula. Por exemplo, D 1 aniquila e t, porque (D 1)e t = De t e t = 0. Aplicamos este aniquilador aos dois termos da equação não homogénea, e obtemos (D 1)(D 2 1)y = (D 1)e t = 0 Ou seja, transformamos deste modo a equação original numa equação homogénea de ordem 3, cujo polinómio característico é (r 1)(r 2 1). A solução geral desta equação é Ae t + Be t + Cte t, que deve portanto ser a forma da solução particular y p que devemos procurar. Substituimos então esta função na equação original de modo a descobrir os valores de A, B e C. Não precisamos de considerar os termos que já estejam na solução y h da equação homogénea, e por isso tomamos apenas y p = Cte t. Substituindo na equação, vem (Cte t ) Cte t = e t Isto implica 2Ce t = e t, ou seja, C = 1/2. Assim, y p = 1 2 tet. A solução geral da equação não homogénea é portanto y = y h + y p = c 1 e t + c 2 e t + 1 2 tet (c 1, c 2 R) Procuramos com este método transformar uma equação não homogénea numa equação homogénea de ordem superior de modo a podermos descobrir uma forma possível para y p.
7 y + y = 2e t (D 2 + 1)y = 2e t (D 1)(D 2 + 1)y = 0 O polinómio característico tem como raízes r = 1, r = i e r = i. As soluções são portanto da forma Ae t + Bcos t + Csen t Como os dois últimos termos fazem parte da solução da homogénea correspondente, procuramos y p = Ae t. Substituímos então y p na equação original para determinar o valor de A, e obtemos A = 1. O método só funciona para aqueles g(t) de que conhecemos o aniquilador, e que são funções que tenham a mesma natureza das suas derivadas. Aniquiladores A tabela seguinte mostra aniquiladores para diversas funções elementares. e αt D α (α R) t e αt (D α) 2 (α R) t m e αt (D α) m+1 (α R, m N) cos (βt) D 2 + β 2 (β R) sen (βt) D 2 + β 2 (β R) t m cos (βt) (D 2 + β 2 ) m+1 (β R, m N) t m sen (βt) (D 2 + β 2 ) m+1 (β R, m N) e αt cos (βt) (D α) 2 + β 2 (α, β R) e αt sen (βt) (D α) 2 + β 2 (α, β R)
8 t m e αt cos (βt) [(D α) 2 + β 2 ] m+1 (α, β R, m N) t m e αt sen (βt) [(D α) 2 + β 2 ] m+1 (α, β R, m N) Note-se que todos as aniquiladores desta lista são casos particulares dos dois últimos. No entanto, usando esse último aniquilador, a ordem da derivada obtida pode ser superior ao realmente necessário. Por exemplo: e αt = t m e αt cos (βt) (com m = 0 e β = 0) teria como aniquilador [(D α) 2 +0] 1, mas já vimos que para aniquilar e αt é suficiente apenas D α.