Engenharia Semiótica: Uma Alternativa Teórica para Explicar e Fundamentar a Inserção de IHC na Ciência da Computação. Clarisse Sieckenius de Souza

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Transcrição:

Engenharia Semiótica: Uma Alternativa Teórica para Explicar e Fundamentar a Inserção de IHC na Ciência da Computação Clarisse Sieckenius de Souza Departamento de Informática, PUC Rio clarisse@inf.puc rio.br http://www.inf.puc rio.br/~clarisse Clarisse S. de Souza 1

Roteiro 1. Extensão Multidisciplinar da Pesquisa sobre Interação Humano Computador 2. Recorte de Objeto de Estudo e Escolha de Teorias e Métodos em Campos Interdisciplinares O que acontece em IHC: Hegemonia do User Centered Design 3. A Engenharia Semiótica: Teoria que Aproxima IHC de Áreas Centrais da Computação? Engenharia Semiótica em 7 slides Uma Comparação com o User Centered Design Algumas Constatações A Título de Conclusão 4. Perguntas e Discussões 2

Extensão Multidisciplinar da Pesquisa sobre Interação Humano Computador Clarisse S. de Souza 3

Macro Questões de Pesquisa em IHC 1. Como, por que, para que e em que circunstâncias as pessoas interagem com tecnologias de base computacional? 2. Como e por que as tecnologias de base computacional transformam (sobretudo positiva ou negativamente) a vida individual e social? 3. Como e por que os padrões correntes de interação podem ou devem ser diferentes? 4. De que forma e por que razão o conhecimento resultante da pesquisa em IHC deve ser incorporado à produção de tecnologia? 5. De que forma e por que razão o conhecimento resultante da pesquisa em IHC deve ser incorporado ao conhecimento científico em Computação ão? 4

Um exemplo da complexidade de IHC Fonte: http://nextlab.mit.edu/spring2009/main/wp-content/uploads/2009/01/245-581-1-pb.pdf Se a necessidade de saber ler e escrever diminuir, as pessoas vão se esforçar para aprender? Por quê? 5

Multidisciplinaridade em IHC Informática Psicologia Ergonomia Design Antropologia Linguística... Sociologia História Economia C. Ambientais Ética... Lógica Computação Semiótica... 6

Recorte de Objeto de Estudo e Escolha de Teorias e Métodos M em Campos Interdisciplinares Clarisse S. de Souza 7

Um segmento de estudo 8

Disciplina A: Estuda Formas 9

Disciplina A: Estuda Formas 10

Disciplina A: Estuda Formas 11

Disciplina A: Estuda Formas 12

Disciplina B: Estuda Cores 13

Disciplina B: Estuda Cores 14

Disciplina B: Estuda Cores 15

Disciplina C: Estuda Estruturas A B C D 16

Disciplina C: Estuda Estruturas ABABABAB α CDCDCDCD β S αβ α A B β C D α S β C D S S αβ S A B 17

Disciplina D: Estuda Evolução 18

Diversidade de Ontologias e MétodosM Nos slides anteriores, viu se que: Diferentes disciplinas recortam um segmento de estudo de diferentes maneiras; Diferentes disciplinas revelam aspectos diferentes deste segmento de estudo; Os elementos relevantes para cada disciplina nem sempre têm um correspondente em outra disciplina; Os métodos e conceitos de uma, não podem ser usados automaticamente pelas outras; Nenhuma disciplina, por si só, dá conta de todos os aspectos do segmento de estudo; Embora cada disciplina possa deliberadamente omitir de seu discurso científico ou foco de interesse aspectos tratados pelas outras, a realidade do segmento reúne todos os diversos aspectos disciplinares, conhecidos e desconhecidos. 19

IHC tem uma teoria e método(s) m preponderantes O user centered design (design centrado no usuário) Uma teoria de base cognitiva Uma teoria que maximiza a lente sobre o usuário e minimiza a lente sobre o sistema Uma teoria que privilegia a ação racional, voltada para objetivos (tarefas) 20

Os 7 passos da teoria de Don Norman (1986) Golfo de Execução Determinar Meta Global [1] Formar intenção [2] Elaborar plano de ação [3] Executar plano Golfo de Avaliação [1] Perceber estado do sistema [2] Interpretar estado [3] Avaliar sucesso do plano 21

Efeitos do UCD: Cognição. Computação GOLFO Foco no usuário O usuário é o sujeito de todas as ações correspondentes às 7 etapas da teoria. O sistema é um objeto a ser conhecido/usado. A teoria não fala diretamente sobre o sistema: fala sobre o usuário. Háuma SEPARAÇÃO entre o contexto de desenvolvimento (em que os desenvolvedores elaboram a IMAGEM DO SISTEMA) e o contexto de uso (em que os usuários elaboram um MODELO MENTAL CORRESPONDENTE AO SISTEMA). Avaliações de USABILIDADE tentam medir a distância entre o MODELO CONCEITUAL DO SISTEMA (estabelecido pelos desenvolvedores) e o MODELO MENTAL DO USUÁRIO (estabelecido a partir do uso do sistema). 22

A Engenharia Semiótica: Teoria que Aproxima IHC de Áreas Centrais da Computação? Clarisse S. de Souza 23

Engenharia Semiótica em 7 slides 1 Esta é a minha interpretação sobre quem você é, o que eu entendi que você quer ou precisa fazer, de que formas prefere fazê-lo e por quê. Este é portanto o sistema que projetei para você, e esta é a forma que você pode ou deve usá-lo para atingir os objetivos incorporados na minha visão. 1 METACOMUNICAÇÃO: Comunicação sobre como, por que e para que se comunicar com o sistema. 24

Conversação humana através s de signos computáveis Editor de áudio digital (FLOSS) Desenvolvido por uma comunidade de voluntários Premiado em 2008 como a melhor aplicação FLOSS da categoria Utilizado por ampla variedade de usuários (desde iniciantes até quase profissionais) 2 de Souza & Leitão, 2009 25

3 Características da Metacomunicação no Audacity Uso de signos metalinguísticos, estáticos e dinâmicos Preferência pelo estilo de manipulação direta Representações (signos) visuais Papel fundamental dos signos dinâmicos Estímulo ao ensaio e erro Conteúdos comunicados têm alto grau de sofisticação Exemplos: Manipulações independentes de dimensões estruturais e temporais de um arquivo de áudio Controle fino sobre a qualidade do áudio e efeitos especiais Interface pode ser amplamente customizável 26

4 Principais achados do estudo sobre o Audacity 1. Fragmentação do discurso interativo Multiplicidade de estratégias adotadas pelos desenvolvedores voluntários Evidências contraditórias sobre quem o desenvolvedor acha que o usuário é(o que quer fazer, o que sabe, o que prefere) e também sobre o perfil ou identidade do interlocutor do usuário 2. Apoio a desenvolvedores voluntários enfatiza: Padrões/diretrizes de desenvolvimento de software Requisitos / Bugs reportados por usuários 3. Desenvolvedores informados em IHC guiam se por teorias ou conhecimentos com perspectivas muito locais Ex: Fitts Law, padrões de manipulação direta, heurísticas de Nielsen 27

Ferramentas da Engenharia Semiótica (1) Esta é a minha interpretação sobre quem você é, o que eu entendi que você quer ou precisa fazer, de que formas prefere fazê-lo e por quê. Este é portanto o sistema que projetei para você, e esta é a forma que você pode ou deve usá-lo para atingir os objetivos incorporados na minha visão. de Souza, 2005 5 O esquema geral da metacomunicação 28

Ferramentas da Engenharia Semiótica (2) SIGNOS MOLIC Estáticos Dinãmicos Metaling. 6 Barbosa & de Paula, 2003 29

Uma Comparação com o User-Centered Design UCD Usuário ésujeito (H) único. O sistema éum objeto a ser aprendido e memorizado pelo usuário. A teoria não fala diretamente sobre o sistema: fala sobre o usuário, único agente de cognição. Semiótica. Computação Engenharia Semiótica Há2 sujeitos (HH) em IHC: o desenvolvedor e o usuário. O sistema éao mesmo tempo parceiro, meio e mensagem de comunicação. A teoria fala não somente sobre o sistema, mas também sobre o(s) desenvolvedor(es), além de falar sobre o(s) usuário(s). Os 3 são agentes de comunicação. 7 Contínuo nuo 30

Dois pontos a lembrar Na Engenharia Semiótica, o signo (representação, referente e interpretação) éum conceito central. Na Computação também. Na Engenharia Semiótica, o significado atribuído pelos desenvolvedores a programas e sistemas étão importante para o estudo completo de IHC quanto o significado atribuído pelos usuários. Significados de entidades computacionais em contexto de desenvolvimento e em contexto de uso são ambos objetos de investigação para a Engenharia Semiótica. 31

A título t tulo de conclusão IHC de maneira geral épercebida como uma disciplina muito ex cêntrica (longe do centro) da Computação. Esta palestra propôs que esta situação pode ter sido motivada ou agravada pelo fato de que a(s) teoria(s) dominante(s) em IHC trabalha(m) com uma ontologia que exclui e separa o que está dentro ou por trás dos sistemas, para fora do universo de interesse do discurso disciplinar. A Engenharia Semiótica restabelece um elo entre Computação e IHC, mostrando que este fenômeno de fato reúne humanos em ambos os lados da Computação: desenvolvedores e usuários. A Engenharia Semiótica mostra como e por que modelos computacionais profundos são signos, não apenas para profissionais e cientistas de Computação, mas também para os usuários. 32

Computador: Meio, modo e agente de comunicação Desenvolvedor, programador, engenheiro de software Usuário A Engenharia Semiótica tem a possibilidade de LIGAR, ontologica- e metodologicamente, o estudo da modelagem computacional e desenvolvimento de software ao seu destino final. 33

Perguntas & Discussões Clarisse S. de Souza 34

Muito obrigada pela atenção. Mais em http://www.serg.inf.puc-rio.br rio.br e http://www.inf.puc-rio.br/~clarisse A pesquisa mencionada nesta palestra tem apoio da FAPERJ E-26/102.400/2009 e do CNPq # 308964/2006-3. 3. Clarisse S. de Souza 35