1. Funções do gestor financeiro



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1. Funções do gestor financeiro Depois de termos identificado as principais funções do Gestor em sentido amplo, vamo-nos agora restringir às funções do Gestor Financeiro. Uma abordagem possível é centrarmo-nos nos principais objectivos da função em causa. Outra abordagem será através do tipo de tarefas que o gestor financeiro desempenha e do horizonte temporal (curto e médio/longo prazo) em que elas ocorrem. Assim, entenda-se como curto prazo, as tarefas realizadas num período inferior a um ano, e como médio e longo prazo as actividades desenvolvidas que têm repercussões num período superior a um ano. TAREFAS DO GESTOR FINANCEIRO Compra de maquinaria MÉDIO/LONGO PRAZO Decisões Estratégicas Empréstimo Bancário M/L prazo Distribuição de Dividendos CURTO PRAZO Crédito aos clientes Decisões operacionais Crédito dos fornecedores Política de stocks As Decisões Estratégicas têm a ver com a Política de Investimentos e Financiamentos da Empresa, as quais se traduzem no seu Plano de Investimento. Vejamos um exemplo: a empresa Bombom que fabrica chocolates pretende comprar uma nova máquina para aumentar a sua capacidade produtiva. Para isso, o gestor financeiro deve analisar o investimento em ESTSetúbal Textos de Apoio à Gestão Pág 1/ 16

causa e escolher a melhor alternativa de financiamento possível, para poder concretizar esse investimento. As Decisões Operacionais do gestor financeiro têm a ver com a definição da política de concessão de crédito aos clientes, ou seja, se a empresa ao vender o produto ao cliente este lhe paga de imediato, ou se lhe concede um prazo para o fazer. Mas o inverso, isto é, quando a empresa compra ao seu fornecedor um produto ou serviço, pode ter ou não crédito. Neste último caso, estamos a referir a política de concessão de crédito dos fornecedores. Exemplificando, a empresa Bombom que fabrica chocolates, ao vender os seus produtos ao cliente, concede-lhe um crédito de 30 dias. A empresa que nos forneceu a matéria-prima, de acordo com a sua política de concessão de crédito, concedeu à empresa Bombom um crédito de 60 dias. A decisão de concessão de crédito é operacional, pois está directamente relacionada com a actividade principal ou de exploração da empresa. Até agora abordámos as funções do Gestor Financeiro na óptica da tarefa. Mas quais são os objectivos da Gestão Financeira? Um dos objectivos da Gestão Financeira é garantir o equilíbrio financeiro da empresa. Para que isso aconteça, a empresa deve desenvolver a sua actividade operacional e realizar os seus investimentos, de acordo com a política de financiamento mais adequada. Assim, se a empresa pretende investir a longo prazo, deve utilizar meios de financiamento de longo prazo (Ex: Compra de uma máquina para a linha de produção deve ser financiada por empréstimo bancário de médio e longo prazo). Se a empresa pretende financiar as mercadorias que quer ter em armazém, deve utilizar meios de financiamento a curto prazo, por exemplo, negociando o crédito com os seus fornecedores. Outro dos objectivos da Gestão Financeira é maximizar a rendibilidade dos seus investimentos, para que os resultados obtidos possam criar valor para a empresa. No entanto, a um investimento está sempre associado um determinado nível de risco que é preciso minimizar, para que a relação entre a rendibilidade e o risco do investimento seja equilibrada. Um terceiro objectivo da Gestão Financeira é garantir a continuidade da empresa e desta forma garantir a aplicação de resultados. Esta aplicação de resultados pode traduzir-se na ESTSetúbal Textos de Apoio à Gestão Pág 2/ 16

distribuição de resultados aos sócios, ou em alternativa haver uma retenção desses resultados para posteriores investimentos. Note-se que, embora a aplicação de resultados seja um dos objectivos da Gestão Financeira, a decisão de como vai ser realizada a aplicação de resultados, cabe à Assembleia Geral de Sócios, depois de apresentado o Relatório e Contas da empresa. Estes documentos reflectem a situação económica e financeira da empresa no ano anterior. 2. Conceitos Fundamentais Qualquer organização desenvolve relações várias, não só no seio da própria organização, mas também com o meio que lhe fornece os inputs, (matéria-prima, mão-de-obra, energia, equipamentos,...) de que necessita para desenvolver a sua actividade, e onde coloca os seus outpus (bens e serviços). Estas relações que uma empresa desenvolve com o meio externo, são susceptíveis de terem uma expressão quantitativa que a Contabilidade Geral vai registar. Numa definição clássica, a Contabilidade Geral regista as relações da empresa com o exterior, enquanto a Contabilidade Analítica regista as relações existentes no seio da própria empresa. Inputs Empresa Outputs As relações que se estabelecem entre as empresas e o exterior e no seu interior vão gerar fluxos físicos e de informação. Na óptica da gestão financeira os fluxos a tratar são: 1) Financeiros (Receitas/ Despesas) dizem respeito ao endividamento da empresa face ao exterior. Se a empresa fica credora de um elemento externo diz-se que teve uma receita, se pelo contrário fica devedora diz-se que teve uma despesa. 2) Monetários (Recebimentos/ Pagamentos) dizem respeito à entrada (recebimento) e saída (pagamento) de meios monetários da empresa. ESTSetúbal Textos de Apoio à Gestão Pág 3/ 16

3) Económicos (Proveitos/ Custos) dizem respeito ao consumo de inputs (custo) e à obtenção de outputs (proveito). Por exemplo, quando uma empresa compra matéria-prima a um fornecedor teve uma despesa. O momento da despesa pode ou não coincidir com o momento do pagamento. No caso da compra a crédito, existe um desfasamento temporal entre a despesa e o pagamento. A empresa só suportará o custo no momento do processo produtivo em que consumir esse input (recurso). Quando uma empresa obtém um produto acabado está a ter um proveito, quando o vender a um cliente terá uma receita. No momento em que o cliente pagar o valor em dívida, a empresa terá um recebimento. Tal como no caso anterior, pode haver desfasamento temporal entre o fluxo financeiro (receita) e o fluxo monetário (recebimento). Tudo depende de se tratar de uma venda a pronto-pagamento ou a crédito. A Contabilidade Geral reúne assim um conjunto de informações de natureza quantitativa que diz respeito aos diferentes tipos de fluxos. Quem poderá estar interessado nessas informações? Muita gente e por motivos diferentes. Dentro da empresa: Gestores, sócios, trabalhadores No meio externo: Accionistas, bancos, clientes, fornecedores, Estado. Património Qualquer actividade económica exige a reunião de um certo conjunto de meios humanos, materiais e financeiros. Designa-se por património de qualquer pessoa ou organização o conjunto de bens, direitos (dívidas a receber) e obrigações (dívidas a pagar) que esta possui. Todos os elementos patrimoniais são susceptíveis de serem representados em unidades monetárias e por isso todos eles são valores. Podemos dividir esse amplo conjunto que é um património em duas classes distintas: 1) Activo: Bens + Direitos 2) Passivo: Obrigações ESTSetúbal Textos de Apoio à Gestão Pág 4/ 16

O activo é o subconjunto do património constituído por todos os valores a receber, enquanto o passivo é o subconjunto de todos os valores a pagar. Exemplo: Activo: Dinheiro em caixa, edifício, viatura, máquina, mercadorias, mobiliários, dívidas de clientes. Passivo: Empréstimo bancário, dívidas a fornecedores, dívidas aos trabalhadores. A diferença entre o valor do Activo e do Passivo designa-se por Situação Líquida, Capital Próprio ou Património Líquido. Exemplo: A empresa Alfa Lda dispõe dos seguintes elementos patrimoniais (valores em Euros): Viatura: 40 000 Dinheiro em caixa: 200 Depósitos bancários: 2 000 Mercadorias: 5 000 Máquinas: 20 000 Edifício: 1 000 000 Dívidas de clientes ( crédito a terceiros): 8 000 Dívidas a fornecedores ( crédito de terceiros): 30 000 Activo = 200 + 2 000 + 20 000 + 1 000 000 + 40 000 + 8 000 + 5 000 = 1 075 200 Euros Passivo = 30 000 Euros Capital Próprio = 1 075 200 30 000 = 1 045 200 Euros ESTSetúbal Textos de Apoio à Gestão Pág 5/ 16

(valor que efectivamente pertence à empresa) Por definição temos então que: Capital Próprio = Activo Passivo Activo = Passivo + Capital Próprio A esta expressão chamamos Equação Fundamental da Contabilidade. Quanto ao valor da situação líquida ou capital próprio, três situações distintas podem acontecer: Activo > Passivo : Situação Líquida Activa Activo = Passivo: Situação Líquida Nula Activo < Passivo: Situação Líquida Passiva A situação líquida de uma empresa é normalmente activa. O património de uma empresa está em constante mutação. Todos os factos que transformem o património de uma empresa são designados de factos patrimoniais. O que a Contabilidade faz é precisamente observar, classificar e registar essas transformações do património da empresa. Os factos patrimoniais podem ter origem em dois tipos distintos de acontecimentos: 1) Normais ou voluntários, isto é, aqueles que resultam de operações efectuadas por vontade própria da empresa; 2) Extraordinários ou involuntários, que como o próprio nome indica resultam de acontecimentos não desejados pela empresa, como por exemplo um incêndio. Quanto à forma como afectam o património de uma empresa os factos patrimoniais classificam-se habitualmente em: 1) Permutativos: quando alteram apenas a composição do património, mas não o seu valor; mantendo inalterado o capital próprio. ESTSetúbal Textos de Apoio à Gestão Pág 6/ 16

2) Modificativos: quando para além de alterarem a composição do património, também modificam o seu valor, ou seja, conduzem a uma alteração do capital próprio. Todos os factos patrimoniais que originem um lucro ou um prejuízo, ou seja aqueles que geram custos ou proveitos, são factos patrimoniais modificativos porque alteram o valor do património da empresa. Por exemplo, quando uma empresa faz um depósito bancário de 100 Euros está apenas a alterar a composição do seu activo, mas o capital próprio não sofreu qualquer alteração. Apenas se alterou a composição do património, não o seu valor, e por isso estamos perante um facto patrimonial permutativo. Quando uma empresa paga uma dívida de 200 Euros a um fornecedor diminui o seu activo em 200 Euros e diminui o seu passivo no mesmo montante. Mas o valor do seu património, ou seja o capital próprio, não sofre qualquer alteração. Variação do Activo = - 200 Euros Variação do Passivo = - 200 Euros Variação do Capital Próprio = Variação do Activo Variação do Passivo = (-200) (-200) = -200 + 200 = 0 Se o capital próprio permanece inalterado estamos perante um facto patrimonial permutativo. Vejamos agora operações que constituam factos patrimoniais modificativos. Considere-se o seguinte exemplo: uma empresa vende por 100 Euros mercadorias que lhe tinham custado 75 Euros. Neste caso a empresa tem um custo de 75 Euros e um proveito de 100 Euros. Como o proveito é superior ao custo, esta operação gera um lucro: Lucro = Proveitos Custos = 100 75 ESTSetúbal Textos de Apoio à Gestão Pág 7/ 16

= 25 Euros Tendo um lucro de 25 Euros o valor do património da empresa aumenta em 25 Euros, logo estamos perante um facto patrimonial modificativo. Suponha-se agora que a mesma empresa paga 50 Euros de juros referentes a um empréstimo bancário. Os juros constituem um custo, logo esta operação originou um prejuízo no valor de 50 Euros. O valor do património diminui em 50 Euros. Havendo alteração do valor do património da empresa, estamos perante um facto patrimonial modificativo. Demonstrações financeiras Balanço Ao documento que resume a composição do património de uma empresa num dado momento, que compara o seu Activo com o seu Passivo e evidencia o seu Capital Próprio chamamos Balanço. O Balanço não é mais do que uma fotografia do património da empresa num determinado momento. Como se refere a um momento preciso dizemos que se trata de um documento estático. O Balanço de qualquer empresa está constantemente a sofrer alterações. Qualquer facto patrimonial reflecte-se no Balanço. Se for permutativo, altera apenas a composição do activo/ passivo, deixando o capital próprio inalterado. Se for modificativo, para além de alterar a composição do activo/ passivo, modifica o capital próprio. Em termos de estrutura trata-se de um mapa com duas colunas: no lado esquerdo colocam-se os elementos do activo e respectivos valores, no lado direito o Capital Próprio e os elementos do Passivo e respectivos valores. Pela Equação Fundamental da Contabilidade a soma de todos os valores do Activo tem que igualar a soma do Capital Próprio com todos os valores do Passivo. Sendo assim, os dois membros do balanço têm obrigatoriamente que totalizar o mesmo valor. Utilizando o exemplo da empresa Alfa, Lda, o Balanço resumido teria a seguinte apresentação. O capital social da empresa é o valor que os sócios investem na empresa. ESTSetúbal Textos de Apoio à Gestão Pág 8/ 16

Balanço Activo Imobilizações 1 060 000 Existências 5 000 Dívidas de terceiros 8 000 Depósitos bancários e Caixa 2 200 Capital Próprio Capital social 1 000 000 Resultado 45 200 Passivo Dívidas a terceiros 30 000 Total Activo 1 075 200 Total Passivo e Capital Próprio 1 075 200 De acordo com o Plano Oficial de Contabilidade (POC), a ordenação dos elementos patrimoniais no Balanço deve ser feita da seguinte maneira: Activo: liquidez crescente. Assim surgem primeiro os elementos menos líquidos, isto é, os valores que têm mais dificuldade em se transformarem em meios líquidos de pagamento (edifício por exemplo) e depois os mais líquidos. A forma extrema de liquidez é o dinheiro em caixa. Passivo: exigibilidade crescente. Assim surgem primeiro as dívidas a médio-longo prazo e depois as dívidas a curto prazo. Situação Líquida: antiguidade no seio da empresa, dos mais antigos para os mais recentes. Sendo o Passivo o conjunto de todas as dívidas da empresa, pode ser designado por Capital Alheio. O lado direito do balanço representa assim as duas fontes alternativas de origens de fundos: Capital Próprio e Capital Alheio. O Capital Próprio é constituído pelos valores que são propriedade da empresa. O Capital Alheio é constituído pelos valores que embora sendo utilizados pela empresa pertencem a terceiros. O Activo não é mais do que a aplicação desses mesmos fundos, ou seja, a aplicação do capital total. Podemos então interpretar o Balanço com uma fotografia das origens e aplicações de fundos da empresa num determinado momento. Origens e aplicações que vão sofrendo alterações à medida que ocorrem factos patrimoniais. ESTSetúbal Textos de Apoio à Gestão Pág 9/ 16

Balanço Aplicações de fundos Origens de fundos Demonstração de Resultados Ao documento que descreve todos os custos e proveitos ocorridos numa empresa ao longo de um determinado período de tempo, evidenciando o lucro ou o prejuízo obtido, chamamos Demonstração de Resultados. O resultado obtido por uma empresa, ao longo de um determinado período de actividade, não é mais do que a diferença entre o valor de todos os proveitos obtidos e o valor de todos os custos suportados. Resultado = Proveitos Custos Proveitos > Custos => Resultado positivo ou lucro Proveitos = Custos => Resultado nulo Proveitos < Custos => Resultado negativo ou prejuízo Exemplos de proveitos: Vendas, juros recebidos, rendas recebidas,... Exemplos de custos: Custo da mercadoria vendida, ordenados, consumo de água, electricidade, telefone, juros pagos, rendas pagas, impostos pagos Exemplificando, temos: Custos Demonstração de Resultados Proveitos Custo das mercadorias vendidas 120 000 Vendas 225 200 Fornecimentos e serviços externos 30 000 Custos com pessoal 25 000 Custos financeiros 5 000 Resultado 45 200 ESTSetúbal Textos de Apoio à Gestão Pág 10/ 16

Por definição de resultado, a soma de todos os custos com esse resultado tem que igualar a soma de todos os proveitos. De acordo com a sua natureza podem-se classificar os custos e proveitos em: 1) Operacionais: decorrem da actividade principal da empresa; 2) Financeiros: decorrem das opções financeiras tomadas pela empresa; 3) Extraordinários: são originados pelos factos patrimoniais extraordinários. 3. Avaliação de Projectos de Investimento Segundo Albertino Marques, na avaliação macroeconómica de projectos de investimento, pretende-se avaliar os efeitos directos e indirectos que o projecto irá ter na economia e na sociedade sobre: Produto Distribuição do rendimento Impacto sobre o emprego Impacto sobre as regiões Impacto sobre os sectores Impacto sobre o saldo em divisas Impacto sobre o ambiente. Neste tipo de análise macroeconómica, utilizam-se métodos e indicadores mais agregados, do que aqueles que são utilizados para a avaliação dos projectos de investimento de uma empresa. A avaliação económica e financeira de um projecto de investimento permite saber se o projecto é ou não rentável. Para isso, há que quantificar essa rendibilidade através de alguns critérios, para posteriormente emitir o parecer sobre a sua qualidade técnica e comercial. ESTSetúbal Textos de Apoio à Gestão Pág 11/ 16

A avaliação de um projecto baseia-se essencialmente na utilização de demonstrações financeiras previsionais (Balanços e Demonstrações de Resultados). Estes documentos resultam dos objectivos definidos e dos estudos prévios feitos pela empresa antes de investir. Um conceito que é preciso clarificar é o de Investimento: Em sentido estritamente financeiro, investimento é qualquer aplicação de capitais a prazo. Abecassis, F e outros Investimento é uma aplicação de fundos escassos que geram rendimento, durante um certo tempo, de forma a maximizar a riqueza da empresa Carlos Barros O investimento pode ocorrer apenas no momento inicial do projecto, mas também pode ser faseado. Para além disso, a natureza do investimento pode também ser distinta: investir na compra de uma máquina que pinta automóveis, não é a mesma coisa que conceder crédito a um cliente numa loja que vende móveis a 30 dias; mas ambas são situações de investimento. A primeira situação é de investimento em Capital Fixo, pois o bem adquirido vai permanecer na empresa num prazo superior a um ano. Na segunda situação trata-se de Capital Circulante, pois provavelmente a empresa concede crédito aos seus clientes, para garantir os seus proveitos de exploração (vendas). A vida útil de um projecto de investimento é o horizonte temporal em que pretendemos avaliar se o projecto é ou não viável. Num mundo empresarial em constante mudança, quanto maior for o período (anos) em análise, maior é a possibilidade de erro, pois são muitas as variáveis que estão em jogo. Para contornar em parte esta questão, foram definidos vários critérios de avaliação de projectos de investimento, mas neste capítulo vamos estudar apenas três: Período de Recuperação do Investimento Valor Actual Líquido ESTSetúbal Textos de Apoio à Gestão Pág 12/ 16

Taxa Interna de Rendibilidade. Se utilizarmos como critério de avaliação o Período de Recuperação do Investimento (PRI), como o próprio nome indica, vamos comparar o valor do Investimento Inicial efectuado, com o Somatório dos Cash Flows gerados pelo projecto durante n períodos (anos). Os cash flows do Projecto resultam da diferença entre as Entradas e as Saídas de dinheiro, ou seja, entre os Recebimentos e os Pagamentos efectuados em cada um dos períodos. Para a aplicação deste método é necessário actualizar os cash flows, utilizando uma taxa (i) que corresponde ao custo do capital, ou seja, à remuneração exigida pelos investidores. Período de Recuperação do Investimento PRI n Cash flow( t) = t Investimento Inicial + t t= 1 ( 1+ i) = 0 Este método permite identificar a partir de que período ocorre a recuperação do valor do investimento. Assim, de acordo com este critério, o projecto só é viável se a soma dos cash flows for superior ao valor do investimento. Dito de outra forma, para que o projecto seja viável, o Período de Recuperação do Investimento tem de ser inferior à vida útil do projecto. Vejamos um exemplo: Investimento 100 000 Cash flow Ano 1 22 000 Cash flow Ano 2 55 000 Cash flow Ano 3 66 000 No exemplo apresentado, se considerarmos uma taxa de actualização de 10%, o projecto é viável, pois a soma algébrica dos cash flows actualizados (115 041 ) é superior ao valor do Investimento (100 000 ). Neste caso concreto, a vida útil do projecto são 3 anos, mas o ESTSetúbal Textos de Apoio à Gestão Pág 13/ 16

Período de Recuperação do Investimento é inferior, uma vez que o investimento é recuperado durante o 3º ano (aproximadamente 2 anos e 8 meses). O Valor Actual Líquido (VAL) de um projecto de investimento é a soma dos cash flows actualizados, remunerados em função da taxa exigida pelos investidores (i), no momento presente, deduzido das despesas de investimento efectuadas. Assim, quando um projecto tem um VAL positivo, os investidores para além do capital que investiram e do risco que assumiram, obtiveram um excedente. Valor Actual Líquido Valor Actu al Líquido = Investimen to Inicial + n Cash flow ( t) ( i) t= 1 1+ t Utilizando o exemplo atrás apresentado do investimento de 100 000, e uma taxa de remuneração do capital investido de 10%, teremos: VAL = - 100 000 + 22 000 + 55 000 + 66 000 = 15 041 (1+0,1) (1+0,1) 2 (1+0,1) 3 Daqui resulta que o projecto é viável, pois o seu Valor Actual Líquido é positivo. Do cálculo efectuado, pode concluir-se que os investidores conseguiram recuperar o investimento efectuado, remunerado a uma taxa de 10% e conseguiram ainda um excedente de 15 041. A vantagem deste método face a outros é o facto de considerar todos os cash flows do projecto na sua análise. Como desvantagem, pode apontar-se o facto de a viabilidade do projecto ser muito sensível à taxa de actualização estimada, que pretende medir o risco associado ao projecto. A Taxa Interna de Rendibilidade (TIR) é aquela que torna o Valor Actual Líquido de um projecto nulo. Assim, para que um projecto seja viável é necessário que a sua TIR seja ESTSetúbal Textos de Apoio à Gestão Pág 14/ 16

superior ao valor da taxa de actualização. Só assim, os investidores conseguem obter um VAL positivo. Taxa Interna de Rendibilidade Investimen to Inicial + n t= 1 Cash flow( t) = 0 t ( 1+ TIR) O cálculo teoricamente correcto da Taxa Interna de Rendibilidade é algo complicado, uma vez que é necessário resolver a expressão em ordem à TIR, sendo esta expressão de grau n, dependendo n do número de anos da vida útil do projecto. Para obviar a esta situação, o cálculo da TIR pode ser feito por interpolação linear recorrendo ao VAL. Outra forma de cálculo mais expedita é recorrer a métodos computorizados, como por exemplo através do EXCEL, onde algumas funções, nomeadamente financeiras já estão prédefinidas. Para o exemplo apresentado, a Taxa Interna de Rendibilidade é igual a 17,1%. Como a taxa de actualização (i) é de 10%, significa que também de acordo com este critério o projecto é viável. Uma das grandes vantagens deste método de avaliação de projectos de investimento é que não exige o conhecimento prévio do custo do capital exigido pelos investidores. Para além disso, fornece um valor relativo (uma taxa) pelo que permite um termo de comparação, abaixo do qual os projectos devem ser recusados. Isto porque a TIR é a taxa de remuneração máxima que a empresa obtém do investimento efectuado, logo deve ser a taxa máxima a que a empresa se financia para realizar o projecto. ESTSetúbal Textos de Apoio à Gestão Pág 15/ 16

Conceitos Obrigatórios Activo Circulante Activo Fixo Balanço Bens Capital Próprio Custo das mercadorias vendidas e matérias consumidas Custos com o pessoal Custos financeiros Demonstração de Resultados Depósitos e Caixa Direitos Dívidas de terceiros Existências Fornecimentos e serviços externos Grau de exigibilidade Grau de liquidez Imobilizações Imposto sobre o rendimento Investimento Obrigações Passivo Período de Recuperação do Investimento Resultado Antes de Impostos Resultado Líquido Resultado Operacional Risco do projecto Taxa de actualização Taxa Interna de Rendibilidade Valor Actual Líquido Valor Residual Vendas Vida útil do projecto Conceitos Complementares Acção Amortizações Capital de Risco Equilíbrio Financeiro Empréstimo Obrigacionista Facto patrimonial Financiamento bancário Locação Financeira Investimento em Capital Circulante Investimento em Capital Fixo Prestação de Serviços Rendibilidade Texto de Apoio Elaborado por: Catarina Cardoso e Margarida Moiteiro Tristão Bibliografia ( de suporte aos textos de apoio ): Borges, A. e outros (1998), Elementos de Contabilidade Geral, Áreas Editora, 16ªEdição Marques, A.(1998), Concepção e Análise de Projectos Investimento, Edições Sílabo Menezes, H.(1996), Princípios de Gestão Financeira, Editorial Presença, 6ª Edição Neves, J.(2000), Análise Financeira Técnicas Fundamentais, Texto Editora, 12ª Edição Saias, L. e outros (1998), Instrumentos de Gestão Financeira, Univ. Católica Editora, 3ª Edição ESTSetúbal Textos de Apoio à Gestão Pág 16/ 16