Pecuária de Leite 121
122 Balanço 2016 Perspectivas 2017
Perspectivas 2017 TENDÊNCIA MUNDIAL É DE QUEDA NA PRODUÇÃO, MAS BRASIL PODE SER EXCEÇÃO NESTE CENÁRIO A baixa demanda de importantes países importadores de leite, somada aos baixos preços pagos a produtores no mercado internacional em 2016, projeta um cenário de retração na produção para o próximo ano. Em contrapartida, a produção tende a se recuperar no Brasil, mesmo com expectativas de preços menores que os adotados neste ano. Em uma atividade marcada pela alta volatilidade de preços e um mercado que responde direta e rapidamente a variações na oferta do produto, qualquer oscilação gera impacto. Em 2017, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê que o crescimento na produção de leite da União Europeia (UE) desacelere. As primeiras estimativas remetem a um crescimento de apenas 0,3%, o que em parte é explicado pela situação desmotivadora dos produtores e, também, pela fraca demanda dos importadores chineses. Caso prevaleça esta taxa de crescimento, ela será a menor em oito anos. O Rabobank projeta que os preços globais dos produtos lácteos voltarão a subir no primeiro semestre atingindo patamares acima de US$ 3.000 por tonelada, podendo chegar ao final do ano com valores de US$ 3.400. Parte desta perspectiva também é atribuída à diminuição no ritmo de produção devido à desmotivação dos produtores europeus, principalmente pelo prolongado período de baixos preços recebidos. Contudo os elevados níveis dos estoques e a demanda global ainda enfraquecida oferecem riscos a essa recuperação de preços. Outros importantes países exportadores de leite também podem sofrer com o declínio da produção interna. A Nova Zelândia, por exemplo, passa por uma redução no rebanho e um cenário de estresse hídrico em partes da região norte do país, local onde se concentra mais de 60% da produção nacional. Na Austrália, produtores vêm sofrendo com altos custos de produção e atrasos no pagamento por parte de algumas indústrias que atualmente trabalham no limite de suas capacidades instaladas. Os Estados Unidos, depois de ostentar um crescimento da produção nos últimos tempos, decorrente de margens sustentáveis, passa por um momento de depressão dos preços pagos ao produtor e um aumento no abate de vacas. Na Argentina, chuvas em excesso, demanda interna fraca e os baixos preço internacionais sinalizam um primeiro semestre de 2017 de baixos volumes produzidos. E o Uruguai que, assim como a Argentina, sofreu com grandes problemas climáticos e fortes quedas de preços em 2016, prevê um aumento dos custos de produção, principalmente em relação ao concentrado, o que pode limitar a produção desse país. Em relação à produção nacional em 2017, esta poderá ser um reflexo do efeito dos preços ofertados aos produtores brasileiros pelo mercado ao longo de 2016. Diante de um cenário de recuperação das margens, principalmente a partir de junho deste ano, o produtor sinaliza uma melhora nas condições de produção e, por consequência, na oferta de leite para o início do próximo ano. Contribui para essa possível retomada de volume a possibilidade de os custos da atividade estarem mais amenos no próximo ano, principalmente em decorrência 123
das quedas esperadas nos preços do milho e do farelo de soja, dois importantes componentes de um dos maiores gargalos da pecuária leiteira, o gasto com alimentação concentrada. Quanto ao consumo no Brasil, a tendência continua de retração, principalmente por causa da economia desacelerada. Para o próximo ano, o relatório Focus (17/10/2016) prevê que o país crescerá 1,30% e a expectativa do câmbio é manter-se estabilizado em R$ 3,36. Com a moeda nacional nesse patamar e com preços internacionais dos produtos lácteos a um valor médio de US$ 3.200 por tonelada, outro cenário que não deve ter relevantes alterações é o da balança comercial. O atual quadro importador do mercado lácteo nacional só irá amenizar se os preços pagos ao produtor estiverem abaixo de R$ 1,29/litro. Acima desse valor, ainda será mais atrativo para as indústrias importarem a matéria-prima, o que afetará o direcionamento da produção ao longo de 2017. Dessa maneira, a recuperação dos preços, tanto os valores ao produtor quanto as cotações dos produtos lácteos, será impulsionada mais por uma queda da oferta do que pela melhora da demanda. Estipular uma perspectiva de preços para 2017 é desafiador, sobretudo no mercado brasileiro, em que os produtores não atuam na formação de preços e os consumidores fundamentam suas compras no costume, na renda e na praticidade. 124
Balanço 2016 REFLEXO DA RETRAÇÃO DA OFERTA NO ANO PASSADO, PREÇOS REAGEM EM 2016 E PRODUTORES MAIS PREPARADOS MELHORARAM RENTABILIDADE Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2015, a produção de leite foi de aproximadamente 35 bilhões de litros, queda de 0,4% em relação ao ano anterior. Dados deste mesmo instituto indicam que, no primeiro semestre de 2016, houve redução na captação de leite em 6,4% na comparação com o mesmo período do ano passado. Nesse contexto, segundo os levantamentos do Centro de Estudos Avançados em Econômica Aplicada (Cepea), os preços pagos ao produtor pelo litro de leite acumularam altas sucessivas em 2016 e atingiram valor histórico em agosto, de R$ 1,69 (valor bruto). As altas dos preços pagos aos produtores, principalmente em julho e agosto, iniciaram um processo de recomposição de margens que foi rapidamente interrompido. O forte incremento nas importações de leite, associado à entrada da safra das principais regiões produtoras do país, derrubou os preços de forma abrupta. O Índice de Captação de Leite medido pelo Cepea de junho a setembro apresentou alta de 18,9%. Gráfico 1. Comportamento dos preços dos lácteos 4,20 3,80 3,40 3,00 R$/Litro 2,60 2,20 1,80 1,40 1,00 jan/16 fev/16 mar/16 abr/16 mai/16 jun/16 jul/16 ago/16 set/16 UHT Atacado UHT Varejo Spot Produtor Fonte: Cepea/Esalq. Elaboração: CNA. Parte da alta dos preços ofertados no campo deriva dos fortes incrementos observados nos valores do leite UHT, em um momento de queda da produção e consumo estabilizado. As cotações deste produto atingiram patamar histórico de R$ 4,22, na média nacional do varejo, o que corresponde a uma valorização de 51,7% de janeiro a agosto. Assim, o consumidor sofreu com a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que, em julho deste ano, atingiu 8,79% (valor acumulado em sete meses). A tendência é de que até o fim do ano, o leite deixe de ser o vilão deste indicador, já que, em setembro, houve redução no índice que engloba todos os produtos lácteos de 3,09% e o leite UHT recuou 7,89%. 125
Como reflexo do cenário produtivo e dos preços mais altos em relação aos países vizinhos, as importações de lácteos em 2016 obtiveram grande crescimento, principalmente nos produtos com origem na Argentina e no Uruguai. Em setembro, a balança comercial de lácteos obteve no acumulado do ano saldo negativo de US$ 358 milhões, fato explicado pela redução nas exportações em 47,6% e pelo aumento dos valores importados em 50,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. A participação estimada de todo o equivalente leite importado no total do mercado brasileiro chegou a 7,7%. Gráfico 2. Evolução da balança comercial de lácteos 800,0 600,0 400,0 328,4 Milhões US$ 200,0 0,0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016* -200,0-400,0-358,5-600,0-503,6 Importações Exportações Sald0-513,8 Fonte: Aliceweb/MDIC. Elaboração: CNA. *Valor acumulado de janeiro a setembro de 2016. 126