UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA "LUIZ DE QUEIROZ"

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1 FALTA DE MÃO-DE-OBRA QUALIFICADA AFETA PRODUTIVIDADE Segundo o IBGE, a economia brasileira tem, neste início de ano, taxa de desemprego na casa dos 6%, o que é considerado por alguns economistas algo próximo do pleno emprego. Por longos períodos, o desemprego foi justamente um dos problemas mais sérios do País e, agora, muitos setores passam a reclamar é da falta de mão-de-obra, principalmente qualificada. Nesse contexto, a tendência é que os salários aumentem mais rapidamente do que a produtividade do trabalho. No caso da pecuária leiteira, a situação não é diferente. A produtividade da mão-de-obra em alguns estados ainda é baixa, sendo que este item tem grande representatividade no Custo Operacional Efetivo (COE), chegando a quase 16,1% do total, de acordo com pesquisa realizada pelo Cepea com o apoio da CNA nos estados de GO, MG, PR, RS, SC e SP. No primeiro mês do ano, o salário mínimo, que funciona como um indexador dos salários pagos no campo, aumentou 5,9%, de R$ 510,00 para R$ 540,00 reajuste baseado em medida provisória assinada pelo então presidente Lula. Esse valor vigorou em janeiro e fevereiro; a partir de março (a ser pago no início de abril), o mínimo passa a ser de R$ 545,00, conforme aprovado pelo Congresso e Senado Federal e sancionado pela presidente Dilma Rousseff. A mão-de-obra em março terá, então, novo reajuste, agora de 0,93%. Apesar do aumento de 6% do salário mínimo em fevereiro frente ao mesmo mês do ano passado, a quantidade de leite necessária para pagar um salário diminuiu 9,2%. Essa melhora na relação de troca deve-se aos reajustes de quase 17% dos preços pagos aos produtores pelo leite. Nos estados do Sul, o custo da mão-de-obra sobre a receita bruta do leite produzido é menor, tanto por usarem mais a mão-de-obra familiar quanto por utilizarem mais eficientemente o trabalho contratado, sendo recomendado que a relação não ultrapasse os 15%. Paraná e Santa Catarina são os estados onde o fator mão-de-obra possui uma relação menor em relação à receita bruta, cerca de 8%. Na sequência vem o Rio Grande do Sul, com 11%. Em São Paulo observou-se a maior relação, de 22%. Em Goiás, a relação foi de 18% e, em Minas Gerais, 18%. Em relação à produtividade da mão-de-obra (litros de leite/homem.dia), o Paraná é o estado mais eficiente na utilização da mão-de-obra, com 838 litros/h.dia, seguido por Rio Grande do Sul (315 litros/h.dia) e Minas Gerais (256 litros/h.dia). Em Goiás, a produtividade é de 242 litros/h.dia, no estado catarinense, de 194 e, em São Paulo, de 170 litros/h.dia. Comparando-se o gasto da mão-de-obra sobre a receita bruta com a produtividade da mão-de-obra em litros/homem.dia (Gráfico 1), nota-se que quanto maior a produtividade da mão-de-obra, menor é o gasto da mão-de-obra, com exceção do estado catarinense, em que a mão-de-obra contratada é menor. Dessa forma, é possível afirmar que investir no aumento da produtividade, por meio de técnicas de

2 produção disponíveis e treinamento constante dos funcionários, é uma ótima estratégia para diluir os gastos com mão-de-obra. Gráfico 1. Relação entre gasto da mão-de-obra sobre a receita bruta e produtividade em litros/homem.dia. Relação mão-de-obra X receita bruta 25,0% 20,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% SP GO MG RS SC PR Produtividade (litros/homem.dia) % MDO na RB Produtividade da Mão-de-obra Fonte: Cepea/CNA. Gráfico 2. Relação de troca de leite por salário mínimo. R$ 545,00 R$ 540,00 R$ 535,00 R$ 530,00 R$ 525,00 R$ 520,00 R$ 515,00 R$ 510,00 R$ 505,00 R$ 500,00 R$ 495, ,0 900,0 800,0 700,0 600,0 500,0 400,0 300,0 200,0 100,0 0,0 Litros de Leite Salário Mínimo Relação de Troca Fonte: Cepea

3 RELAÇÃO DE TROCA GUIA INVESTIMENTOS EM CONCENTRADO De acordo com dados dos painéis sobre custos de produção de leite realizados pelo Cepea em parceria com a CNA em seis estados (GO, MG, PR, RS, SC e SP), o montante despendido com concentrado chega a quase 34% do Custo Operacional Efetivo (COE), que é o custo referente ao desembolso do produtor. Ou seja, é o principal item nos custos da pecuária leiteira. No ano passado, quando os preços dos principais componentes do concentrado (milho e farelo de soja) estiveram mais baixos, a captação de leite se manteve firme, indicando que o produtor de leite investiu mais em alimentação, proporcionando aos animais condições para aumentar a produção. Comparando-se o volume de 2010 com o de 2009, constata-se que houve crescimento da captação de leite de 3,7%. Essa expansão da oferta deveu-se, além do barateamento dos principais insumos para a alimentação (cerca de 13%), o que estimula a produtividade por vaca, também à melhora dos preços pagos aos produtores. A média de 2010 foi cerca de 0,4% maior que a de 2009 em termos reais (deflacionamento pelo IPCA). Por sua vez, esse impulso às cotações decorreu do aquecimento da demanda gerado pelo avanço da renda per capita, a qual reflete o nível relativamente alto de emprego na economia brasileira. Em fevereiro/11, o preço do concentrado se manteve praticamente estável em relação ao mês anterior, porém, na comparação com fevereiro/10, tornou-se 30% mais caro. A relação de troca, mesmo com o preço do leite 12% maior que no ano passado, piorou, e serve de alerta aos produtores. Em fevereiro/11, o produtor necessitou de quase 103,5 litros a mais (16,4%) para adquirir uma tonelada de concentrado que equivaleu a 736 litros de leite em relação ao mesmo período do ano passado. Gráfico 3. Preço médio do leite pago ao produtor e preço do concentrado com 22% PB (valores reais, deflacionados pelo IPCA).

4 R$ 0,90 R$ 600,00 R$/litro R$ 0,85 R$ 0,80 R$ 0,75 R$ 0,70 R$ 0,65 R$ 0,60 R$ 0,55 R$ 0,50 R$ 550,00 R$ 500,00 R$ 450,00 R$ 400,00 R$ 350,00 R$ 300,00 R$/tonelada R$ 0,45 R$ 250,00 Fonte: Cepea/CNA PREÇO MÉDIO DO LEITE CONCENTRADO 22% PB APÓS 9 MESES DE ALTA, CUSTOS TÊM LEVE QUEDA COM ALIMENTAÇÃO MAIS BARATA Em fevereiro, o Custo Operacional Efetivo (COE), que representa todo o valor despendido mensalmente pelo produtor, e o Custo operacional Total (COT), que inclui as depreciações, apresentaram recuos de 0,69% e 0,7%, respectivamente, na média dos estados pesquisados pelo Cepea (SP, MG, GO, PR, RS e SC). Após sucessivas altas, os custos do produtor reduziram em função principalmente da desvalorização da suplementação mineral e da alimentação concentrada, sendo este o item de maior representatividade no desembolso do produtor, cerca de 30%. Já frente ao mesmo período de 2010, houve valorizações de 9% para o COE e 7% para o COT. Com a colheita de soja avançada e a demanda da indústria de biodiesel aquecida, o esmagamento do grão tem sido intensificado em função do óleo, o que acaba por gerar oferta de farelo superior à procura dos setores consumidores desse insumo. Com isso, o preço do concentrado desvalorizou 0,7% entre janeiro e fevereiro na média ponderada dos estados de SP, MG, GO, PR, RS e SC. A suplementação mineral teve redução de preço ainda mais expressiva, de 5,3% entre janeiro e fevereiro deste ano. No estado goiano, COE e COT tiveram leves altas de 0,27% e 0,04%, respectivamente, entre janeiro e fevereiro, sem muitas alterações nos preços dos insumos. Apesar da leve queda no preço do

5 concentrado, os altos preços dos fertilizantes e dos defensivos agrícolas impulsionaram os gastos com manutenção de forrageiras perenes, que aumentaram 8,5%, em relação a janeiro. No comparativo com fevereiro/2010, o COE teve aumento de 7,6% e o COT, de 6,9%. Em Minas Gerais, o COE recuou 1,98% e o COT, 1,89% em fevereiro frente ao mês anterior, as maiores reduções entre os estados desta pesquisa. O preço do concentrado apresentou uma desvalorização significativa, de 6,2%, sendo este o insumo com maior representatividade no COE. Os preços tanto do milho como do farelo de soja recuaram 1,7% e 8%. Os outros insumos, em sua maioria, se mantiveram estáveis. Já comparados ao mesmo período de 2010, COE e COT apresentaram valorizações de 8,9% e 7%, respectivamente. No Paraná, COE e COT tiveram leves quedas frente a janeiro, de 0,36% e 0,32%, respectivamente, em função basicamente do recuo de preços da suplementação mineral (13%) e dos medicamentos (3,5%). Em relação a fevereiro/2010, é neste estado que o COE e COT tiveram os maiores aumentos, de 14,3% e 13,2%, respectivamente. No estado gaúcho, COE e COT tiveram quedas de 0,66% e 0,55%, respectivamente. Isso ocorreu em função da diminuição dos custos da dieta que incluem forrageiras anuais (recuo de 5,6% no período) e silagem (2,5%). O restante dos insumos se manteve praticamente estável no mesmo período. Frente a fevereiro de 2010, COE e COT apresentaram valorizações de 6,1% e 4%, respectivamente. Em São Paulo, os custos do produtor se mantiveram nos mesmos patamares entre janeiro e fevereiro, com leves altas de 0,02% no COE e de 0,03% no COT. O insumo com maior variação foi a manutenção de forrageiras perenes, com alta de 1,2% - esse item não possui muita representatividade nos custos do produtor. Se comprados a fevereiro de 2010, o COE e o COT tiveram aumentos de 12,8% e 9,6%, respectivamente. No estado de Santa Catarina, em fevereiro, o COE e COT variaram positivamente em 1,52% e 1,2% frente a janeiro/2011. Os custos com concentrado e silagem foram os que apresentaram os maiores aumentos frente ao mês anterior, em 3,9% e 3,6%, respectivamente. O valor do concentrado aumentou em Santa Catarina, em função da alta do milho de 8%, enquanto o farelo de soja se manteve praticamente estável, diferente dos outros estados. O restante dos insumos não apresentou grandes variações. CAPTAÇÃO TEM QUEDA E LEITE VALORIZA Em janeiro, o Índice de Captação de Leite calculado pelo Cepea (ICAP-Leite) registrou queda de 2,8% frente ao de dezembro. Houve diminuição nos seis estados desta pesquisa: RS, PR, SP, MG, GO e BA. As reduções mais acentuadas ocorreram em Goiás, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Além de

6 ter faltado chuva e feito muito calor, os custos de produção de leite, especialmente do concentrado, aumentaram, o que limita investimentos dos produtores. Em relação a janeiro do ano passado, o ICAP-Leite teve queda de 1,1%. Em Goiás, a queda na captação atingiu expressivos 8% no comparativo com dezembro. Em Minas Gerais, o Índice recuou quase 4% em janeiro. Em algumas regiões desse estado, por exemplo, verificou-se a ocorrência do veranico, com falta de chuvas por mais de 30 dias. No Rio Grande do Sul, a queda foi de 2,9% entre dezembro/10 e janeiro/11. Desde setembro/10, quando ocorreu o pico de captação naquele estado, a redução no volume médio de leite captado diariamente é de 16%. Em São Paulo e no Paraná, as reduções no ICAP-Leite foram mais amenas, de 1,5% e 0,3%, respectivamente. Com a menor oferta e o consumo interno aquecido, o preço do leite pago aos produtores em fevereiro (referente à produção entregue em janeiro) teve aumento de 1,1% frente ao de janeiro, com média de R$ 0,7371/litro (valor bruto). O recuo na captação de leite aumentou a disputa entre os laticínios, valorizando o leite na maioria das regiões pesquisadas pelo Cepea. Em relação a fevereiro/10, a média bruta teve alta de 19,2%, sem descontar a inflação. A expectativa de compradores do setor é de que o mercado continue firme, dada a menor oferta de leite. Para o pagamento de março (referente à produção entregue em fevereiro), 46% dos compradores entrevistados que representam 35% do volume de leite da amostra acreditam em estabilidade de preços e 38% dos representantes de laticínios/cooperativas (que respondem por 51% do volume da amostra) esperam novo aumento. Apenas 16% dos entrevistados (responsáveis por 14% do volume amostrado) consideram queda de preços. Em fevereiro, houve alta também de preços no mercado spot e recuperação do leite UHT e do queijo muçarela. Além disso, a expectativa é de aumento do consumo de lácteos após o período de carnaval. Assim, os fundamentos do mercado são altistas, o que pode sustentar o preço pago ao produtor nos próximos meses. FEVEREIRO A maior elevação do preço médio pago aos produtores em fevereiro ocorreu novamente no Rio Grande do Sul, de 2% (ou 1,4 centavo por litro) frente a janeiro, com média de R$ 0,6954/litro (valor bruto). Nos outros estados do Sul, os valores permaneceram relativamente estáveis: em Santa Catarina o preço médio foi de R$ 0,7543/litro, leve alta de 0,4% frente a janeiro, e no Paraná houve ligeiro recuo de 0,52%, com média de R$ 0,7513/litro. Em Goiás, devido à queda mais significativa na captação de leite, o preço médio aumentou 1,6% (1,2 centavo por litro) em relação ao de janeiro, com média de R$ 0,7518/litro. Em Minas Gerais, a alta foi de 1% (0,7 centavo por litro), a R$ 0,7285/litro, e no estado paulista, o preço médio foi de R$ 0,7761/litro, alta de 1,1% (0,8 centavo por litro). Na Bahia, houve queda de quase 1% (0,6 centavo por litro), a R$ 0,6312/litro. Gráfico 4. ICAP-L/Cepea - Índice de Captação de Leite - JANEIRO/11. (Base 100=Junho/2004)

7 Patamar de Janeiro de ,45 151,37 140,46 144,94 140,45 141,57 135,75 136,51 133,86 134,23 131,27 133,07 128,47 127,49 129,78 124,37 125,45 151,04 146,38 146,85 148,35 148,91 144, jun/04 set/04 dez/04 mar/05 jun/05 set/05 dez/05 mar/06 jun/06 set/06 dez/06 mar/07 jun/07 set/07 dez/07 mar/08 jun/08 set/08 dez/08 mar/09 jun/09 set/09 dez/09 mar/10 jun/10 set/10 dez/10 ICAP-L/CEPEA-Esalq/USP IBGE - PTL Fonte: Cepea-Esalq/USP Gráfico 5. Série de preços médios pagos ao produtor - deflacionada pelo IPCA (média de RS, SC, PR, SP, MG, GO e BA). 0,99 0, ,91 0, R$/litro 0,83 0,79 0,75 0,71 0,67 0,63 0, Média 2001 a ,55 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Fonte: Cepea-Esalq/USP