Compra racional versus compra por impulso e a dissonância cognitiva

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Transcrição:

Compra racional versus compra por impulso e a dissonância cognitiva Ao final deste capítulo, o leitor deve compreender o sentido e a importância de se conhecer o processo de compra racional, de compra por impulso e da dissonância cognitiva. Espera-se que compreenda, portanto, que o gerenciamento do relacionamento com o cliente e os resultados almejados por meio dele não devem ser desprovidos de tais conhecimentos, pois são os clientes satisfeitos que retornam e trazem consigo novos clientes, do mesmo modo que muitos clientes insatisfeitos se vão, levando outros. É importante compreender ainda que todas as unidades produtoras (organizações) devem praticar esforços para evitar falhas no momento da venda. Neste sentido, as condições psíquicas dos compradores fazem da compra um ato racional ou impulsivo, e acabam por exercer forte influência no "pós-compra", que é quando o cliente avalia o ato realizado e assume uma postura satisfatória ou não em relação a ele. Se o resultado de sua avaliação for negativo, ocorre a dissonância cognitiva, ou seja, um tipo de revés ou arrependimento das relações estabelecidas pelo cliente com a organização. Com ela, o indivíduo transfere suas frustrações com o produto ou serviço para o estabelecimento em que realizou a compra. Introdução s relações entre clientes e unidades produtoras são palco para muitas discussões, entre elas, os motivos que levam os indivíduos a praticar a compra e as formas com que o fazem. Neste sentido, pelo menos duas condições são fundamentais para se compreender o processo de compra de um cliente. A primeira é que ele, ao praticar qualquer aquisição, o faz de maneira racional, portanto, programada e, geralmente, baseada em necessidades claramente definidas. A segunda é a compra impulsiva, que normalmente ocorre no próprio estabelecimento comercial ou quando o cliente se depara com determinada informação (propaganda), e se caracteriza pela pouca ou nenhuma programação prévia (necessidades previamente racionalizadas). Ocorre uma pulsão (desejo) que acaba transmutada em compra. Outro momento importante decorrente da compra por impulso é a dissonância cognitiva, cuja importância para os administradores e profissionais de marketing está ligada ao conhecimento das sensações e relações com o mundo que o cliente tem ou desenvolve após o ato de compra. Quando, no pós-compra, ele carrega consigo sensações de satisfação ao perceber que as expectativas presentes no ato da compra foram satisfeitas, não há dissonância cognitiva. Mas, se depois do ato de compra o cliente se vê com pensamentos negativos sobre o produto adquirido, que acarretam em uma sensação de arrependimento sobre o ato praticado, ocorre

a dissonância cognitiva. Esse é um momento em que nenhum profissional de vendas gostaria de estar perto do cliente, pois certamente ouviria muitas lamúrias, reclamações e críticas, algumas delas talvez infundadas. Então, o que é a dissonância cognitiva e por que é importante que sua ocorrência seja minimizada? Conceito de dissonância cognitiva o termo dissonância cognitiva é proveniente dos estudos e posicionamentos de Festinger (1957), apresentados na obra A theory of cognitive dissonance. Desde então, muitas discussões sobre o assunto tomaram corpo. No campo da Administração, a pauta ficou enquadrada em marketing, por seu empenho em relacionar as atividades organizacionais às atividades individuais dos clientes e consumidores, bem como pela sua aproximação com os discursos sociológico, psicológico e antropológico, além do filosófico. Tudo em um conjunto de variáveis que contemplam vantagens para as duas partes (clientes e organizações) e que, para serem atingidas, é necessário que haja interação e conhecimento entre elas. Segundo Festinger (1957), a dissonância cognitiva refere-se exatamente ao processo final cognitivo e emocional de verificação da diferença entre o que se esperava e o que ocorreu. Já para Giglio, Festinger apresentou o conceito de maneira ampla, incluindo toda e qualquer discordância entre as ações (o corpo em ação), a ideia (o mundo de ideias) e a ética do sujeito (código de ética de relações) (Giglio, 2002, p. 161). A existência da dissonância cognitiva após o consumo cria um ambiente psíquico (uma predisposição) para o surgimento de julgamentos negativos em relação ao produto ou serviço, o que interfere naquela etapa imediatamente anterior à compra (Giglio, 2002, p. 162). Essa interferência pode ser entendida como risco, porque pode evitar que o cliente repita a compra do produto consumido ou ainda, o que é pior, pode fazer com que ele não compre mais o produto em determinado estabelecimento, adquirindo-o em um concorrente. Portanto, A dissonância ocorre quando o consumidor faz uma comparação dos resultados da compra com o pós-compra, e as expectativas que originaram a mesma [síc}, e chega a uma constatação diferente e inferior à expectativa previamente estabelecida, ou seja, ele vê o seu julgamento primário, reduto de uma expectativa de como o produto deveria servi-lo, transformar-se em uma negação daquele que fora adquirido, baseado em uma depreciação

clara e consciente do que se adquiriu versus o que se esperava. (Zambon e Benevides, 2003, p. 84.) Além disso, a dissonância cognitiva pode acontecer por meio de um sentimento de arrependimento comparativo, quando o consumidor percebe que, se não tivesse comprado alguma coisa, por mais útil que seja, poderia ter adquirido outra, talvez mais importante ou interessante. Ou então teria, por exemplo, dinheiro para aplicar em poupança ou em um investimento imobiliário, fazer uma viagem internacional etc. É valido dizer, neste momento, que as unidades produtoras nem sempre são responsabilizadas pelo cliente quando a dissonância ocorre, embora esse seja o cenário mais comum. Afinal, pense: para o cliente, é mais fácil irritar-se com o produto, com a unidade produtora que o fez, com a loja em que o comprou ou irritar-se com si mesmo? É claro que o cliente preferirá despejar suas frustrações em outros agentes, a fim de ver reduzido seu desapontamento com a compra que praticou. Por isso, é importante que as unidades produtoras preocupem-se com a ocorrência da dissonância cognitiva objetivando minimizá-la, pois clientes menos dissonantes são, geralmente, clientes mais felizes e satisfeitos. Atitude de compra e a dissonância cognitiva: o que as unidades produtoras precisam saber Em todo o mundo, vem surgindo um tipo de movimento de proteção a quem compra e/ ou consome, inclusive com modificações dos códigos de defesa do consumidor. Esse movimento ocorre tanto no âmbito estatal como no privado e, com ele, vem a afirmação de que o marketing deve ser orientado para o cliente, assumindo, assim, um compromisso com o consumidor que abrange também as responsabilidades sociais das organizações (Gade, 1998,p. 1). A partir das necessidades e desejos apresentados pelos consumidores, constitui-se o mercado, que é a representação dessas necessidades e desejos, porém, em uma amplitude enorme, englobando todos os tipos de comportamentos (atitudes) apresentados para todos os tipos de produtos ou serviços em cada segmento de mercado existente. Com isso, compreende-se mercado como o local onde existem pessoas e empresas que partilham uma necessidade ou um desejo, estando predispostas a estabelecer trocas para satisfazê-los. Ampliando o entendimento de mercado, é interessante saber que ele pode ser entendido ainda como um grupo identificado de consumidores com poder aquisitivo, dispostos a pagar por um produto ou serviço específico (mercado consumidor). Ou ainda como o grupo de todos

os compradores, existentes ou em potencial, de um produto. E também como o conjunto de pessoas e consumidores, efetivos ou potenciais, de acordo com sua classe social, faixa etária, hábitos, local onde reside, sexo etc. (Zambon e Benevides, 2003, p. 77). Já que o mercado é composto por clientes e consumidores e suas atividades, é importante distinguir o comportamento do consumidor do comportamento de consumo. O comportamento do consumidor é representado pelas atividades físicas, mentais e emocionais realizadas na seleção, compra e uso de produtos e/ou serviços para satisfação de necessidades e desejos. O comportamento de consumo é o comportamento ou atividade de procura, busca, compra, uso e avaliação de um produto ou serviço para satisfazer a determinadas necessidades. Nesse contexto, a compra por impulso expressa os elementos manifestos ou latentes de desejo dos consumidores sobre os quais os profissionais de administração e marketing empenham seus esforços para desenvolver ações mercadológicas que maximizem o desejo de consumir e, portanto, o ato de comprar. Por sua vez, a dissonância cognitiva é o oposto do que os profissionais desejam, ou seja, todos os esforços possíveis são empenhados para que ela não aconteça, pois é um elemento/manifestação psicológico que prejudica a recompra do produto, ao gerar na mente do consumidor a nefasta sensação de que ele fez um mau negócio. É um sentimento de negação sobre a compra realizada (ibidem, p. 73). O estudo do comportamento do consumidor, no qual a compra por impulso está inserida, é oriundo da psicologia, da sociologia e da antropologia, como já foi dito. O objetivo sintético de tal estudo é compreender por que o indivíduo escolhe certo produto ou marca, gerando uma constatação que serve como referência para as unidades produtoras ao desenvolverem o planejamento estratégico de marketing para o momento da realização da comercialização. O marketing de relacionamento com o cliente é fundamental neste processo, pois sem ele as unidades produtoras poderiam deixar passar despercebidos alguns dos elementos julgados importantes pelos clientes, elementos estes que os influenciam na hora da compra. A grande importância e interesse que as unidades produtoras têm de estudar e compreender a dissonância cognitiva, principalmente quando se trata de consumo impulsivo, residem no fato de ela ser a responsável pelo surgimento de um julgamento negativo sobre o produto adquirido ou serviço contratado, fato que pode levar ao efeito substituição, ou seja, o cliente passa a buscar outro produto (similar) e até outro estabelecimento comercial para fazer suas

compras, em função dos arrependimentos ou frustrações relacionados ao produto ou serviço adquirido. As unidades produtoras certamente temem essa situação, pois, entre outras coisas, ela pode significar a perda de clientes para a concorrência, o desenvolvimento de uma imagem negativa na mente de alguns potenciais clientes (através da opinião daqueles que deixaram de comprar), direta redução da participação de mercado e, consequentemente, menores lucros. Três abordagens de compra impulsiva Na busca de maiores esclarecimentos conceituais sobre a compra por impulso, no tocante aos riscos de ouvir os clientes, foram identificadas três abordagens centrais que descrevem variações comportamentais dos clientes quando efetuam compras impulsivamente. São elas: conceito tradicional, conceito comportamental simples e conceito comportamental exagerado (Almeida, 1993). O primeiro (conceito tradicional) corresponde à compra não planejada, cuja causa motivadora é o próprio ambiente, ou seja, o ato impulsivo de compra é baseado na configuração do ambiente - local, disposição, comparação. Exemplo: ocorre quando uma pessoa, ao observar um produto em uma vitrine, se vê fortemente motivada a possuir aquilo e compra sem nenhum discernimento sobre necessidade e utilidade. Geralmente, são compradas coisas simples e relativamente baratas, que não levariam o comprador a um endividamento crônico e à incapacidade de pagamento. O segundo (conceito comportamental simples) corresponde à compra impulsiva motivada por elementos emocionais. É ocasionado pelo momento sentimental de cada indivíduo - se feliz ou triste, se entusiasmado ou desanimando -, correspondendo a um perfil de impulso de compra. Exemplo: quando alguém está triste, vai ao shopping center e acaba comprando para receber atenção do vendedor ou vendedora (de certo modo, para não ficar carente). Deste modo, distrai-se e esquece, por alguns momentos, das mágoas. O principal problema desta compra por impulso é que, corriqueiramente, a pessoa volta para casa e fica sozinha, com sacolas de produtos ao redor (às vezes, aumentando a angústia e a solidão). O terceiro (conceito comportamental exagerado) corresponde à compra impulsiva como doença, um tipo de distúrbio que deve ser acompanhado e tratado como patológico. Exemplos: pessoas que sofrem de transtorno obsessivo compulsivo de comprar constantemente sem a capacidade de racionalizar os efeitos negativos de tal ato, como a incapacidade de verificar se possui ou não meios de pagar pelas compras.

o conhecimento de tais abordagens pode ajudar as unidades produtoras a avaliarem mais eficientemente o processo de tomada de decisão de compra dos clientes e consumidores. Também pode auxiliar na busca de meios operacionais que promovam o envolvimento dos clientes com os objetos comprados, para que sejam reduzidas ou evitadas as ocorrências de dissonância, já que, de certa forma, os clientes envolveram-se tanto com os produtos que acabaram fortalecendo a relação pós-compra, evitando-se assim os arrependimentos. Em outras palavras, os próprios clientes justificam para si mesmos por que a compra realizada é importante. Compreendendo o consumidor no processo de decisão de compra Na busca da compreensão do processo de decisão de compra dos clientes, entende-se que esse processo tem como princípios: 1. identificação da necessidade; 2. busca e avaliação das alternativas; 3. escolha e aquisição do produto; 4. consumo e a avaliação pós-compra. Nesse contexto, um dos momentos mais críticos em todo o processo se dá no ambiente da loja, onde a maior parte das decisões de compra se concretiza. É o momento em que ocorre um comportamento que abrevia todo o processo decisório de compra (Costa, 2000, p. 226). Embora o comportamento de compra ainda não esteja satisfatoriamente explicado, e menos ainda o comportamento de compra por impulso - havendo muito ainda que se estudar sobre o assunto -, é possível considerar que o processo de compra tem uma estrutura processual e/ou de tomada de decisão passível de rastreio. O processo de compra impulsiva, por sua vez, ocorre quando um cliente - frente a uma situação de consumo - sente incontrolável necessidade de adquirir algo imediatamente. Nesse caso, a explicação baseia-se no "conceito comportamental simples", que descreve a compra fundamentada em elementos emocionais, e dessa forma desconsidera as consequências do ato de compra (Engel et al., 2000). Na mente das pessoas, as justificativas para que em determinado momento consumam algo ou não podem ser as mais diversas. As organizações trabalham fundamentadas nesses momentos e justificativas para buscar um incremento nas vendas acima das necessidades dos

clientes (estímulo à compra impulsiva). Esse exercício, que visa potencializar o volume de vendas e os lucros, pode representar melhores chances de sucesso para as organizações em curto prazo, fazendo com que os setores atinjam suas metas. Porém, não apenas louros costumam ser colhidos com esse empenho; muitas unidades produtoras acabam tendo problemas com a aceitação de alguns de seus produtos ou marcas em determinados locais ou no mercado geral, porque exageram na dose de estímulo e facilitação ao consumismo. Quando a aquisição de algum produto ocorre de maneira indiscriminada pelo cliente, o resultado pode ser muito mais danoso à organização do que muitos profissionais são capazes de imaginar. Quando, no pós-compra, o cliente faz uma comparação entre os resultados da compra e as expectativas que originaram a própria compra, e chega a uma constatação diferente e inferior à expectativa previamente estabelecida - que justificou a sua aquisição -, certamente instaura-se a dissonância cognitiva e, com ela, um dos principais problemas para a organização fabricante do produto e da marca envolvida - pois, o cliente tenderá a não mais comprar o produto - ou para o vendedor do estabelecimento. Embora seja quase impossível evitar a ocorrência da dissonância cognitiva, é importante e necessário tentar fazê-lo. Em outras palavras, melhores resultados terão as unidades produtoras que possuírem maior quantidade e qualidade de informações sobre seus clientes e que as utilizarem sabiamente para satisfazê-los de fato, e não apenas a si próprias. Lembre-se de que é melhor deixar de realizar uma venda no presente do que perder o cliente e todas as potenciais compras futuras. As unidades produtoras, quando oferecem seus produtos, serviços e marcas ao mercado, precisam estar comprometidas com os resultados para os destinatários e não apenas com os próprios resultados, ou seja, elas devem valorizar e entender a importância do produto para os clientes, que soluções eles representam no cotidiano das pessoas etc. Logo, precisam estar atentas à diferença entre o que o cliente espera e o que efetivamente ocorre. O oposto pode representar o risco máximo frente ao relacionamento com os clientes, cujo resultado pode ser o fim do negócio ou de parte dele. Clientes magoados com unidades produtoras tendem a evitar o contato com elas, e fazem com que as pessoas (clientes ou potenciais clientes) de seu círculo social façam o mesmo. Conhecer o público-alvo, seus desejos e suas necessidades, pode, portanto, representar a construção de relacionamentos duradouros e sustentáveis, que tendem a ser descritos como

fidelização - chegando em alguns casos à lealdade -, o que pode representar um processo contínuo de recompra, bem como a atração de novos clientes por indicação dos clientes atuais, além da consumação de uma marca renomada em atendimento, qualidade etc. O que deve existir entre a unidade produtora (organização) e o cliente é um estado de recompensa por estarem juntos, grosso modo, uma relação de "ganha-ganha" para cada uma das partes. Os benefícios da relação devem ser evidentes. Enfim, os riscos de ouvir os clientes são muitos, principalmente quando, mesmo lançando-se mão das melhores intenções, não se possui o devido conhecimento para lidar com as necessidades declaradas pelos clientes e delas compilar as suas necessidades reais. Na falta de tais conhecimento e competência, geralmente não se consegue cuidar do efeito negativo de uma ação promocional que deturpe os fins da compra e do consumo, o que pode causar, na mente do cliente, a sensação de que ele "comprou por comprar': O mesmo risco ocorre na compra por impulso, que tem como resultado negativo a dissonância cognitiva no pós-compra. A postura ética responsável pode contribuir para que certos riscos sejam reduzidos e, em alguns casos, transformem-se inclusive em vantagens competitivas. (Lembre-se da Análise SWOT, que considera as forças e fraquezas, bem como as ameaças e oportunidades de um negócio com o objetivo estímulos são fortes demais para serem negados e a própria pessoa não consegue reunir depreciações adequadas, daí a necessidade de apoio externo (os amigos/grupo social). Além dessas situações, há outra que associa a dissonância ao consumo. Trata-se da dissonância que ocorre por motivos independentes do consumo e que leva os indivíduos a um consumo específico com resposta para eliminá-la. Por exemplo: mulheres, quando deprimidas ou frustradas por quaisquer motivos, não têm dúvidas em passear e consumir no shopping center. Para elas, é uma forma eficaz de mudar os sentimentos negativos (Giglio, 2002, p. 165). Nesse caso, os profissionais mais observadores aproveitam os momentos de dissonância coletiva, como a morte do Papa João Paulo II, para promover a venda dos seus produtos ou imagem. As unidades produtoras, por sua vez, necessitam entender que a primeira coisa a ser feita é influenciar a etapa referente à construção das expectativas, ou seja, precisam esclarecer, o mais detalhadamente possível, quais são os benefícios que o consumidor pode esperar do produto ou serviço. Por exemplo, devem deixar claro o que é o produto, como é utilizado,

quais são as garantias, assistência técnica, formas de pagamento, custos com a manutenção, adaptabilidade, entre outros. Passa a ser necessário que as unidades produtoras desenvolvam, inclusive no contexto de venda de produtos, uma tática de prestação de serviços (encarar o processo de venda como um processo de prestação de serviços), que substitua as tradicionais táticas de vendas (tirar pedidos). Isso equivale a dizer que é preciso ficar claro, para o cliente, o compromisso da unidade produtora com ele e quais as responsabilidades dela com o produto. A entrega de algo deve significar mais ao cliente que simplesmente uma compra: ela deve representar compromisso e gerar relacionamento. As unidades produtoras devem também, segundo Giglio (2002, p. 168), cuidar dos benefícios obtidos. Isso consiste em atuar no momento da compra e no pós-compra, que é quando se constrói a noção do que se está obtendo em comparação ao que se esperava obter. Esse momento refere-se a dois aspectos: "as expectativas" e "os resultados" - pense, por exemplo, quais são as expectativas e os resultados de (ou durante) um show musical e (ou durante) uma limpeza de pele. No pós-compra, a tática consiste em influenciar positivamente as conclusões sobre o que se obteve. Entende-se que, para isso, muitas ações podem ser praticadas, como a apresentação, em comerciais de televisão, do produto sendo utilizado por pessoas em situação de indiscutível satisfação. Exemplo: mulheres bonitas em campanhas de xampu. Logo, a própria propaganda pode ser utilizada não apenas para chamar a atenção e para a venda, como também para realizar a retenção e influência de satisfação. Por fim, as unidades produtoras precisam realizar pesquisas constantes sobre o comportamento de seus clientes, sejam elas científicas, sejam pela mera observação. Indagar aos funcionários do front-office e alguns clientes sempre é útil, bem como acompanhar as informações gerais sobre a demanda por setor, publicadas por sérios institutos de pesquisa, instituições de ensino e jornais qualificados, como Valor Econômico, Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo. Revistas como Veja, Exame e os anuários da Exame também devem ser acompanhados. Informações regionais, apresentadas em jornais locais, idem. Outro caminho importante a percorrer é indagar a não clientes sobre o produto ou serviço. Muitas vezes, as respostas obtidas podem surpreender, no que se refere aos motivos para o

respondente não ter comprado algum produto antes ou simplesmente não comprar tal marca ou em tal estabelecimento etc. Imagine que muitos indivíduos informem não comprar em determinado estabelecimento devido ao elevado número de críticas que ouvem sobre o local. Provavelmente, essa informação - que está ligada à situação de dissonância dos clientes atuais - causaria toda uma redefinição das atividades de relacionamento no momento da venda, indo desde o treinamento de funcionários até a revisão de leiaute. Portanto, não fechar os olhos para as questões relativas aos clientes é um passo inicial, mas procurar ampliar o entendimento do "comportamento dos clientes" e o que nele lhes causa frustração é ainda mais importante. Com o incremento da competição, maiores serão as disputas pela clientela e bem-sucedidas serão as organizações que melhor conhecerem e se relacionarem com seus clientes. Faça de seu cliente um amigo; retribua sua dedicação e seja sempre, antes mesmo de qualquer posicionamento dele, dedicado a ele. Não espere nada antes de ter dado algo.