DECISÃO. em processo em trâmite na 3ª Vara de Fazenda Pública da Comarca da Capital,

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Transcrição:

AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º 0000875-77.2014.8.19.0000 AGRAVANTE: ESTADO DO RIO DE JANEIRO AGRAVADA: ÂNGELA MARIA MONTEIRO DA TRINDADE RELATOR: DESEMBARGADOR ALEXANDRE FREITAS CÂMARA Direito Constitucional. Direito Administrativo. Dependente químico. Antecipação da tutela. Determinação de internação em clínica especializada. Possibilidade. Fumus boni iuris e periculum in mora configurados. O direito da agravada que se visa a tutelar é o direito à saúde, ao passo que, em análise imediata, o interesse do Estado é apenas patrimonial. Responsabilidade solidária dos entes federativos. Intuito de dar máxima efetividade ao direito fundamental da saúde, consectário do direito à vida. Precedentes do TJERJ. Preponderância dos direitos fundamentais à vida e à saúde. Cabível a aplicação de astreintes, porquanto seja permitida ao juiz, na forma do art. 461, 5º, do Código de Processo Civil, a adoção de medidas que entenda necessárias à efetivação da tutela específica. Multa. Proporcionalidade e Razoabilidade. Recurso desprovido. DECISÃO Trata-se de Agravo de Instrumento interposto contra decisão proferida em processo em trâmite na 3ª Vara de Fazenda Pública da Comarca da Capital, instaurado por demanda ajuizada pela agravada em face do agravante, constando daquela o deferimento da antecipação da tutela para determinar que o réu proceda à imediata internação do filho da autora em instituição da rede pública estadual ou 1

municipal adequada ao tratamento de dependência química grave, ou, caso inexista vaga, em hospital particular, além de fornecer todos os medicamentos e tratamentos necessários até o restabelecimento da saúde mental do paciente, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 (mil reais) em caso de descumprimento. Insurge-se o agravante, alegando em síntese: (i) a Lei nº 10.216/01 dispõe que as pessoas portadoras de transtorno mental e dependentes químicos têm direito à inserção social, sendo que a internação somente é aconselhável em casos excepcionais; (ii) a necessidade de existência de avaliação médica e a demonstração de que o paciente põe em risco a si e a terceiro; (iii) existe um programa para atendimento aos dependentes químicos (Política Nacional do Ministério da Saúde - CAPS) para que a internação somente ocorra nos casos extremos; (iv) é de responsabilidade do Município, em consonância com o Princípio da Descentralização da Saúde, financiado com recursos do Ministério da Saúde, a iniciativa na criação e estruturação da rede extra hospitalar, referente ao tratamento de pessoas com transtornos mentais e dependentes químicos do SUS; (v) a interferência do Poder Judiciário na política pública, optando por política diversa, viola o princípio da Separação de Poderes; e (vi) a desproporcionalidade da multa arbitrada, devendo ser reduzida. Foram apresentadas contrarrazões prestigiando a decisão agravada. Parecer da Procuradoria de Justiça, opinando pelo parcial provimento do recurso. 2

É o relatório. Passa-se à decisão. Inicialmente, saliente-se que o direito à saúde qualifica-se como fundamental, que assiste a todas as pessoas e é consectário indissociável do direito à vida. O Poder Público, qualquer que seja a esfera institucional de sua atuação no plano da organização federativa brasileira, não pode mostrar-se indiferente ao problema da saúde da população e às necessidades especiais de tratamento, sob pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em grave comportamento inconstitucional. O art. 5, 1, da Constituição da República, dispõe que as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata, independem de interposição legislativa ou administrativa para que gozem de plena eficácia. É certo que seu conteúdo tem por destinatários todos os entes políticos que compõem, no plano institucional, a organização federativa do Estado brasileiro. Ademais, a distribuição de competência no Sistema Único de Saúde, feita pela Lei n.º 8.080/90, não tem o condão de afastar a responsabilidade solidária dos entes públicos. A organização interna da gestão da Saúde Pública não foi estabelecida como restrição ao exercício da pretensão de exigibilidade das prestações. Ao contrário, a solidariedade entre os entes federativos permite o exercício do direito de o particular exigir a prestação dos serviços de saúde de 3

quaisquer dos entes federados, de tal forma que a burocracia não dificulte a concretização do direito. A propósito: Art. 2º. A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. Art. 4º. O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS). Art. 10. Os municípios poderão constituir consórcios para desenvolver em conjunto as ações e os serviços de saúde que lhes correspondam. Art. 19-E. Os Estados, Municípios, outras instituições governamentais e não-governamentais poderão atuar complementarmente no custeio e execução das ações. Nesse sentido é pacífica jurisprudência deste Tribunal reconhecendo a responsabilidade solidária dos Entes Federativos. Veja-se o Enunciado n.º 65 da Súmula do TJRJ: Deriva-se dos mandamentos dos artigos 6º e 196 da Constituição Federal de 1988 e da Lei nº 8080/90, a responsabilidade solidária da União, Estados e Municípios, garantindo o fundamental direito à saúde e consequente antecipação da respectiva tutela. Ademais, segundo entendimento sedimentado deste Tribunal é do ente público o ônus da prova de que a efetivação do acesso à saúde, como no caso em 4

tela, afronta o princípio da reserva do possível, conforme Verbete n.º 241 do TJERJ, verbis: Cabe ao ente público o ônus de demonstrar o atendimento à reserva do possível nas demandas que versem sobre efetivação de políticas públicas estabelecidas pela Constituição. No caso em exame, o ente público não produziu qualquer prova capaz de permitir que se afaste a conclusão a que chegou a decisão que deferiu a tutela antecipada. Além disso, a decisão recorrida não está de forma alguma afrontando a política pública adotada, mas sim a implementando, eis que conforme se extrai da petição inicial dos autos principais, o filho da agravada é dependente químico, necessitando de internação para tratamento, pois está pondo em risco a sua integridade física e a dos seus familiares. Ademais, de acordo com os relatórios médicos acostados aos autos verifica-se que o paciente já foi internado várias vezes por apresentar sintomas psicóticos associado ao uso de drogas, além de ter agredido seu pai, como se verifica pelo Registro de Ocorrência Policial (fls. 22 a 34 do Anexo 1), demonstrando-se como medida necessária a internação do recorrido. A propósito: 5

0011427-72.2012.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 1ª Ementa DES. JESSE TORRES - Julgamento: 02/03/2012 - SEGUNDA CAMARA CIVEL AGRAVO DE INSTRUMENTO. Tutela antecipada para internação de hipossuficiente, dependente químico patrocinado pela Defensoria Pública, em estabelecimento especializado, consoante recomendação de serviços públicos de saúde. Responsabilidade solidária da União, dos Estados e Municípios na operação do Sistema Único de Saúde. Jurisprudência dominante. Recurso a que se nega seguimento. Desse modo, é de se dizer que o filho da agravada provavelmente tem direito à internação para tratamento de dependência química, a ser realizado em clínica da rede pública e, no caso de inexistirem vagas em hospitais públicos, deverá a mesma ser realizada em unidade privada a expensas do agravante, como determinado na sentença, pois é dever constitucional do Poder Público tomar as providências assecuratórias do direito à saúde dos cidadãos, nos termos dos arts. 5º, caput, e 196, ambos da Constituição Federal. Quanto à adoção de medida coercitiva, é pacífico no âmbito dos Tribunais Superiores o cabimento de qualquer meio necessário e legal para assegurar o regular cumprimento da decisão. Note-se que o agravante demonstra seu inconformismo quanto ao arbitramento de multa fixada, em caso de seu descumprimento. Impende salientar que a aplicação de medida coercitiva não guarda relação com o conteúdo econômico da 6

demanda principal, sendo certo que a forma de aplicação pelo juízo visa a compelir o demandado a cumprir a decisão, desencorajando-o em agir no sentido contrário, jamais devendo ser interpretado como de caráter compensatório, como pretende convencer o agravante. Se o juízo de primeiro grau fez uso de tal instrumento coercitivo, assim procedeu consoante a razoabilidade e proporcionalidade adequadas ao caso concreto, inclusive no que toca ao cumprimento de determinações judiciais pelo agravante. O Professor Luiz Fux, ao tratar do tema, assevera: Dispõe a lei que para vencer a recalcitrância do devedor o juiz pode fixar multa diária, cuja incidência dia a dia seja capaz de atemorizá-lo quanto ao dano patrimonial que sofrerá, de tal maneira que o faça abandonar aquele estado de inércia. A técnica das astreintes exige que a mesma não tenha compromisso de proporcionalidade com a obrigação principal para que o devedor capitule diante de seu montante avassalador. (Curso de Direito Processual Civil, Ed. Forense, 2001, p. 485). Assim, saliente-se ser adequada a multa diária arbitrada no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), em caso de descumprimento da decisão recorrida. Isso porque, necessária à internação do filho da agravada para tratamento de forma a garantir a proteção de sua integridade física e de seus familiares, ressaltando-se como agravante o fato de o filho da agravada estar agindo de forma agressiva, inclusive com o uso de violência. Desse modo, a multa arbitrada assegura a coercitividade da medida, além de se respeitarem os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, não se gerando, de forma alguma, enriquecimento ilícito da agravada. 7

Demais disso, a internação do filho da agravada possui efeitos irreversíveis, o que poderia fazer concluir pelo indeferimento da antecipação da tutela. Contudo, tal vedação é afastada sempre que a antecipação se preste a permitir a imediata tutela de um direito fundamental em estado de perigo, como neste caso. Portanto, cuidando-se a hipótese de assegurar direito à saúde, encontrase satisfatoriamente comprovado o fumus boni iuris descabendo o acolhimento dos argumentos trazidos pelo agravante. Ademais, presente o perigo na demora, sendo certo que, no caso de se aguardar o provimento final, pode ocorrer o agravamento do estado de saúde do filho da agravada, gerando risco a sua integridade física e a de seus parentes. Pelo exposto, nega-se provimento ao recurso, na forma do art. 557, caput, do Código de Processo Civil. Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 2014. Des. ALEXANDRE FREITAS CÂMARA Relator 8