PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ BAPTISTA DE ALMEIDA FILHO

Transcrição

1 AGTR Nº /RN ( ) AGRTE : ERIVÂNIA DE LEMOS FERREIRA REPTE : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO AGRDO : UNIÃO AGRDO : ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE AGRDO : MUNICÍPIO DE NATAL - RN ORIGEM : 5ª Vara Federal do Rio Grande do Norte (Competente p/ Execuções Penais) RELATOR : DES. FEDERAL CAROLINA SOUZA MALTA (CONVOCADA) RELATÓRIO A Exmª. Srª. Desembargadora Federal CAROLINA SOUZA MALTA (Relatora convocada): Agravo de instrumento interposto por ERIVÂNIA DE LEMOS FERREIRA contra decisão proferida pelo juízo da 5ª Vara da Seção Judiciária do Rio Grande do Norte, nos autos da ação ordinária nº , que indeferiu, em sede de tutela antecipada, o pedido de fornecimento do medicamento Mabthera (Rituximabe), para o tratamento da doença denominada de Linfoma não-hodgkin (neoplasia dos gânglios linfáticos), concedendo, por outro lado, a inscrição da autora, ora agravante, em programa de atendimento especializado e integral promovido por qualquer dos hospitais integrantes da Rede de Atenção Oncológica do Estado do Rio Grande do Norte. Aduz que já realiza tratamento oncológico oferecido pela Liga Norte Riograndense contra o câncer, custeado pelo SUS, sem obter qualquer melhora no seu quadro clínico, o que demonstra a ineficácia da decisão hostilizada, no que toca à determinação de sua inscrição em programas similares oferecidos pelo governo do Estado do Rio Grande do Norte. Destaca, ainda, que a lesão grave e de difícil reparação repousa na circunstância de que o não fornecimento do medicamento em discussão poderá ensejar risco de comprometimento da vida da recorrente. Prossegue, afirmando que o medicamento Rituximabe tem registro na ANVISA, é considerado fundamental para o seu tratamento e não possui similar no mercado nacional. Outrossim, ressalta que a saúde é um direito assegurado a todos, à luz do preceito contido no art. 196 da Carta Federal de Delineado o quadro histórico do recurso, requesta, com esteio nos artigos 522 e seguintes do CPC, seja concedida a antecipação de tutela recursal para que seja fornecido à agravante o medicamento Mabthera (Rituximabe), na quantidade prescrita pelo médico que a acompanha. Deferido o pedido de provimento liminar (v.fls.59/61)

2 Contrarrazões apresentadas, às fls. 67/101. É o relatório. AGTR /RN Pág. 2

3 AGTR Nº /RN ( ) AGRTE : ERIVÂNIA DE LEMOS FERREIRA REPTE : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO AGRDO : UNIÃO AGRDO : ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE AGRDO : MUNICÍPIO DE NATAL - RN ORIGEM : 5ª Vara Federal do Rio Grande do Norte (Competente p/ Execuções Penais) RELATOR : DES. FEDERAL CAROLINA SOUZA MALTA (CONVOCADA) VOTO A Exmª. Srª. Desembargadora Federal CAROLINA SOUZA MALTA (Relatora convocada): Ao apreciar o pedido de provimento liminar, o Desembargador Federal José Baptista de Almeida Filho assim se pronunciou acerca da matéria discutida nos autos do agravo de instrumento (fls. 59/61): Prima facie, vale destacar que a concessão da tutela antecipatória é condicionada à demonstração, pelo recorrente, da existência de prova inequívoca, agregada ao fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, ou, ainda, reste caracterizado o abuso de direito de defesa ou manifesto propósito protelatório, ex vi do art. 527, II, c/c 273 do CPC. No caso em concreto, no escopo de aquilatar a existência da relevância nos fundamentos deduzidos na peça recursal, verifica-se que a recorrente está realizando tratamento oncológico oferecido junto à Liga Norteriograndense contra o Câncer, custeado pelo SUS, sem alcançar qualquer resultado satisfatório, de modo que, com a devida vênia, a determinação da inscrição da demandante, ora recorrente, no programa oferecido pela rede pública hospitalar mantida pelo Estado do Rio Grande do Norte, na forma determinada pela decisão guerreada, apresenta-se destituída de qualquer utilidade prática 1. Além disso, em juízo de delibação, anoto que, conforme se infere da informação prestada pelo Dr. Cláudio César Gomes de Macedo, portador da CRM/RN 3815, a recorrente já se submeteu a diversos tipos de tratamento à base de quimioterapia, sem, contudo, obter o resultado esperado, de modo que a aquisição da droga deverá ocorrer em caráter de urgência, sob risco de avanço da doença e consequente êxito letal (v.fl.17). Logo, neste exame superficial e precário que o pedido de provimento liminar me impõe, mostra-se razoável a determinação do fornecimento do fármaco prescrito para tratamento da doença citada, visto que se cuida, no particular, 1 V. Ofício nº 2.464/GS da Secretaria de Estado da Saúde Pública, órgão do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, que repousa às fls. 33/35. AGTR /RN Pág. 3

4 de conflito entre o direito fundamental à saúde e o princípio constitucional da legalidade orçamentária. Nestes casos, não há um critério abstrato que imponha a supremacia de um sobre o outro, devendo o magistrado, à vista disso, utilizar-se de um juízo de ponderação, de modo a produzir um resultado socialmente desejável. Demais disso, é firme o constructo jurisprudencial deste Regional, favorável ao fornecimento de medicamentos aos necessitados. Textual: EMENTA: CONSTITUCIONAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO A PESSOA NECESSITADA. RESPONSABILIDADE DO ESTADO. I - É obrigação do Estado garantir às pessoas desprovidas de condições financeiras, o direito ao recebimento de medicamentos e qualquer tratamento necessário à cura de suas enfermidades. II - Tem direito a agravada, menor impúbere, portadora de Mucopolissacaridose Tipo VI, ao medicamento Galsufase (Nagalzyme), bem como de tratamento médico hospitalar. III - Agravo improvido (TRF 5 Região AG 81874\CE Quarta Turma Rel. Desembargadora Federal Margarida Cantarelli, DJ ) Sob tal perspectiva, comungando do entendimento adotado pelo MM. Desembargador Federal, tendo em vista, ainda, a inexistência de relevância nos fundamentos aduzidos nas contrarrazões a justificar a alteração do entendimento esposado na decisão supra, confirmo a decisão que antecipou a pretensão recursal e DOU PROVIMENTO ao recurso de agravo de instrumento, para que a União forneça o medicamento discriminado na inicial, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de multa diária no valor de R$ 300,00 (trezentos reais). É como voto. AGTR /RN Pág. 4

5 AGTR Nº /RN ( ) AGRTE : ERIVÂNIA DE LEMOS FERREIRA REPTE : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO AGRDO : UNIÃO AGRDO : ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE AGRDO : MUNICÍPIO DE NATAL - RN ORIGEM : 5ª Vara Federal do Rio Grande do Norte (Competente p/ Execuções Penais) RELATOR : DES. FEDERAL CAROLINA SOUZA MALTA (CONVOCADA) EMENTA CONSTITUCIONAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONFLITO ENTRE O DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE E O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA LEGALIDADE ORÇAMENTÁRIA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. PESSOA DESPROVIDA DE CONDIÇÃO FINANCEIRA. 1. No caso concreto, verifica-se que a recorrente está realizando tratamento oncológico oferecido junto à Liga Norteriograndense contra o Câncer, custeado pelo SUS, sem alcançar qualquer resultado satisfatório, de modo que, com a devida vênia, a determinação da inscrição da demandante, ora recorrente, no programa oferecido pela rede pública hospitalar mantida pelo Estado do Rio Grande do Norte, na forma determinada pela decisão guerreada, apresenta-se destituída de qualquer utilidade prática. 2. Dos documentos carreados aos autos, depreende-se que a recorrente já se submeteu a diversos tipos de tratamento à base de quimioterapia, sem, contudo, obter o resultado esperado, de modo que a aquisição da droga almejada deverá ocorrer em caráter de urgência, sob risco de avanço da doença e consequente êxito letal. 3. Desponta razoável a determinação do fornecimento do fármaco prescrito para tratamento da doença citada, visto que se cuida, no particular, de conflito entre o direito fundamental à saúde e o princípio constitucional da legalidade orçamentária. Nestes casos, não há um critério abstrato que imponha a supremacia de um sobre o outro, devendo o magistrado, à vista disso, utilizar-se de um juízo de ponderação, de modo a produzir um resultado socialmente desejável. 4. Agravo de instrumento provido, para que a União forneça o medicamento discriminado na inicial, no prazo de 10 dez) dias, sob pena de multa diária no valor de R$ 300,00 (trezentos reais). ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos do processo tombado sob o número em epígrafe, em que são partes as acima identificadas, acordam os Desembargadores Federais da Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em sessão realizada nesta data, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas que integram o presente, por unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos do voto da Relatora.

6 Recife, 23 de fevereiro de Desembargadora Federal CAROLINA SOUZA MALTA Relatora convocada AGTR /RN Pág. 6