PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO WILDO
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- João Pedro Álvares Beretta
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1 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº /PE ( ) AGRTE : JOACYR FONSECA SOARES ADV/PROC : MARCO ANTÔNIO DE ALBUQUERQUE MEIRA AGRDO : FAZENDA NACIONAL PARTE R : CARTAGO REVENDEDORA AUTORIZADA DO NORDESTE LTDA. ORIGEM : 22ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO (PRIVATIVA PARA EXECUÇÕES FISCAIS) - PE RELATOR : DES. FED. RUBENS DE MENDONÇA CANUTO (Convocado) RELATÓRIO (Convocado): O Sr. Des. Fed. RUBENS DE MENDONÇA CANUTO Cuida-se de agravo de instrumento desafiado contra decisão do MM Juízo Federal da 22ª Vara de Pernambuco que, nos autos da Execução Fiscal nº , entendendo haver fundados indícios de dissolução irregular da empresa executada, determinou o redirecionamento da execução contra o ora recorrente, sócio responsável da pessoa jurídica. Aduz que a sociedade executada continua estabelecida no endereço constante dos assentamentos da Receita Federal e da Junta Comercial, lá recebendo intimações e citações, além de praticar seus atos societários regularmente. Alega também que, em razão de dificuldades financeiras, não empreende mais as suas atividades operacionais, não se podendo falar em dissolução irregular da sociedade. Sustenta que a inexistência de bens da empresa passíveis de penhora, a ausência de atividade operacional ou o não pagamento dos tributos devidos não configuram, per se, quaisquer das hipóteses exigidas pelo art. 135, do CTN, para o redirecionamento do executivo fiscal, sendo do credor o ônus de demonstrar a sua ocorrência, o que não se verificou na espécie. Não foi concedida a tutela recursal. Em sua contraminuta, a Fazenda Nacional suscita preliminarmente o não conhecimento do recurso, em razão do pedido de exclusão do pólo passivo da execução não ter sido previamente formulado ao Juízo de 1º grau, ocorrendo uma verdadeira supressão de instância. No mérito, pugna pelo improvimento do recurso, haja vista a constatação, através do Oficial de Justiça, de que a empresa executada não foi encontrada em seu domicílio fiscal, e ausência de qualquer procedimento de atualização de seu registro perante a Receita Federal. É o relatório.
2 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº /PE ( ) AGRTE : JOACYR FONSECA SOARES ADV/PROC : MARCO ANTÔNIO DE ALBUQUERQUE MEIRA AGRDO : FAZENDA NACIONAL PARTE R : CARTAGO REVENDEDORA AUTORIZADA DO NORDESTE LTDA. ORIGEM : 22ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO (PRIVATIVA PARA EXECUÇÕES FISCAIS) - PE RELATOR : DES. FED. RUBENS DE MENDONÇA CANUTO (Convocado) VOTO (Convocado): O Sr. Des. Fed. RUBENS DE MENDONÇA CANUTO O cerne da controvérsia respeita à possibilidade de redirecionamento da execução fiscal em face do(s) sócio(s) responsável(is) pela pessoa jurídica, na hipótese de não ter sido localizada a empresa devedora. Registro inicialmente que a prefacial de supressão de instância não merece acolhida. Isso porque, além de eventual pedido de reconsideração perante o Juízo a quo não ter o condão de interromper o prazo recursal, a controvérsia sub examine o redirecionamento da execução para o sócio responsável - foi suficientemente apreciada pelo Juízo de 1º grau, não tendo sido apresentado no Agravo qualquer fato novo a ensejar a alegada supressão de instância. Ademais, as disposições do art. 522, do CPC, não estabelecem como requisito de admissibilidade do recurso o indeferimento de pedido de reconsideração do decisum, consignando expressamente que das decisões interlocutórias caberá agravo..., o que se verificou na espécie. No mérito, tem-se que a responsabilidade tributária dos sócios da empresa, ou seja, o redirecionamento da execução fiscal ao sócio da pessoa jurídica inadimplente, é disciplinada pelo art. 135, do Código Tributário Nacional, segundo o qual os sócios responsáveis por empresas devedoras de créditos fiscais somente podem assumir a responsabilidade pelas obrigações da empresa no caso de praticarem atos revestidos de excesso de poder, ou que infrinjam a lei, o contrato social ou o estatuto. Observe-se que o inadimplemento de tributos não caracteriza infração capaz de responsabilizar sócio administrador da empresa, posto que a infração à lei descrita no art. 135, III, do CTN, refere-se à legislação que rege a constituição, funcionamento e extinção da pessoa jurídica de direito privado, e não à legislação tributária, como o mero não pagamento de um tributo ou contribuição.
3 V-02 No caso dos autos, conquanto o recorrente alegue que a empresa apenas não realiza mais as suas atividades operacionais, praticando regularmente seus atos societários e continuando estabelecida no endereço constante dos registros da Receita Federal e da Junta Comercial, a diligência realizada pelo oficial de justiça, na tentativa frustrada de penhorar bens da pessoa jurídica executada (fl.24) atestando, inclusive, a existência de outra empresa no local bem como o fato de ter sido considerada INAPTA no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) desde (fl. 31), constituem indícios de dissolução irregular da pessoa jurídica executada. Esse foi o entendimento fixado pela Primeira Seção do STJ, consoante os julgados a seguir transcritos: TRIBUTÁRIO. NÃO-LOCALIZAÇÃO DA EMPRESA. DISSOLUÇÃO IRREGULAR. RESPONSABILIDADE DO GESTOR. ART. 135, III, DO CTN. 1. Hipótese em que o Tribunal a quo decidiu pela responsabilidade dos sócios-gerentes, reconhecendo existirem indícios concretos de dissolução irregular da sociedade por "impossibilidade de se localizar a sede da empresa, estabelecimento encontrado fechado e desativado, etc.". 2. Dissídio entre o acórdão embargado (segundo o qual a não-localização do estabelecimento nos endereços constantes dos registros empresarial e fiscal não permite a responsabilidade tributária do gestor por dissolução irregular da sociedade) e precedentes da Segunda Turma (que decidiu pela responsabilidade em idêntica situação). 3. O sócio-gerente que deixa de manter atualizados os registros empresariais e comerciais, em especial quanto à localização da empresa e à sua dissolução, viola a lei (arts e 1.151, do CC, e arts. 1º, 2º, e 32, da Lei 8.934/1994, entre outros). A não-localização da empresa, em tais hipóteses, gera legítima presunção iuris tantum de dissolução irregular e, portanto, responsabilidade do gestor, nos termos do art. 135, III, do CTN, ressalvado o direito de contradita em Embargos à Execução. 4. Embargos de Divergência providos. (Emb. Divergência nº /PR, rel. Min. Herman Benjamim, Dje ) TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. EMPRESA NÃO LOCALIZADA. DISSOLUÇÃO IRREGULAR. REDIRECIONAMENTO. RESPONSABILIDADE. SÓCIO-GERENTE. ART. 135, III, DO CTN. 1. A não-localização da empresa no endereço fornecido como domicílio fiscal gera presunção iuris tantum de dissolução irregular. Possibilidade de responsabilização do sócio-gerente a quem caberá o ônus de provar não ter agido com dolo, culpa, fraude ou excesso de poder. Entendimento sufragado pela Primeira Seção desta Corte nos EREsp /PR, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de Embargos de divergência conhecidos em parte e providos. (EREsp /RS, Rel. Min.Castro Meira, Primeira Seção, julgado em 22/10/2008, DJe 3/11/2008) (grifei)
4 V-03 De fato, é obrigação do sócio-gerente manter atualizados os registros relativos à sua empresa, nos termos dos artigos e 1.151, do Código Civil: Art O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária. Art O registro dos atos sujeitos à formalidade exigida no artigo antecedente será requerido pela pessoa obrigada em lei, e, no caso de omissão ou demora, pelo sócio ou qualquer interessado. 1o Os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados no prazo de trinta dias, contado da lavratura dos atos respectivos. 2o Requerido além do prazo previsto neste artigo, o registro somente produzirá efeito a partir da data de sua concessão. 3o As pessoas obrigadas a requerer o registro responderão por perdas e danos, em caso de omissão ou demora. Neste sentido, a Lei dos Registros Mercantis (Lei 8.934/94) exige a manutenção dos dados cadastrais das empresas, incluindo sua localização: Art. 1º O Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, subordinado às normas gerais prescritas nesta lei, será exercido em todo o território nacional, de forma sistêmica, por órgãos federais e estaduais, com as seguintes finalidades: I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos a registro na forma desta lei; II - cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no País e manter atualizadas as informações pertinentes; III - proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu cancelamento. Art. 2º Os atos das firmas mercantis individuais e das sociedades mercantis serão arquivados no Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, independentemente de seu objeto, salvo as exceções previstas em lei. (...) Art. 32. O registro compreende: (...) II - O arquivamento: a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas;" Assim, nos termos da lei, os gestores das empresas devem manter atualizados os cadastros empresariais, incluindo os atos relativos à mudança de endereço dos estabelecimentos e, especialmente, referentes à inatividade da sociedade.
5 V-04 Nessa senda, o descumprimento desses encargos por parte dos sóciosgerentes corresponde, irremediavelmente, à infração da lei e, portanto, à responsabilidade tributária nos termos do art. 135, III, do CTN. instrumento. Com essas considerações, nego provimento ao agravo de É como voto.
6 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº /PE ( ) AGRTE : JOACYR FONSECA SOARES ADV/PROC : MARCO ANTÔNIO DE ALBUQUERQUE MEIRA AGRDO : FAZENDA NACIONAL PARTE R : CARTAGO REVENDEDORA AUTORIZADA DO NORDESTE LTDA. ORIGEM : 22ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO (PRIVATIVA PARA EXECUÇÕES FISCAIS) - PE RELATOR : DES. FED. RUBENS DE MENDONÇA CANUTO (Convocado) EMENTA TRIBUTÁRIO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. REDIRECIONAMENTO À PESSOA DO SÓCIO. ART. 135, III, DO CTN C/C ARTS E 1.151, DO CC. LEI DE REGISTROS MERCANTIS. DESCUMPRIMENTO DOS ENCARGOS INERENTES AOS GESTORES DE EMPRESAS. DEMONSTRAÇÃO. DISSOLUÇÃO IRREGULAR DA SOCIEDADE. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO SÓCIO. IMPROVIMENTO. 1. Agravo de instrumento interposto contra decisão que determinou o redirecionamento da execução contra o ora recorrente, sócio responsável da pessoa jurídica, ao argumento de existirem fundados indícios de dissolução irregular da empresa executada. 2. Responsabilidade subsidiária do sócio gerente pelas obrigações da pessoa jurídica. Os sócios responsáveis por empresas devedoras de créditos fiscais assumem a responsabilidade pelas obrigações da pessoa jurídica no caso de praticarem atos revestidos de excesso de poder, ou que infrinjam a lei, o contrato social ou o estatuto (art. 135, III, do CTN). 3. Configurada também a responsabilidade do sócio-gerente quando do descumprimento dos encargos previstos nos arts e 1.151, do Código Civil, e na Lei nº 8.934/94 Lei de Registros Mercantis eis que os gestores das empresas devem manter atualizados os cadastros empresariais, incluindo os atos relativos à mudança de endereço dos estabelecimentos e, especialmente, referentes à inatividade da sociedade. Precedentes do STJ. 4. Embora se alegue que a pessoa jurídica executada apenas não realiza mais as suas atividades operacionais, praticando regularmente seus atos societários e continuando estabelecida no endereço constante dos registros da Receita Federal e da Junta Comercial, a diligência realizada pelo oficial de justiça, na tentativa frustrada de penhorar bens da pessoa jurídica executada atestando, inclusive, a existência de outra empresa no local bem como o fato de ter sido considerada INAPTA no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) desde , constituem indícios de dissolução irregular da pessoa jurídica executada. 5. Agravo de instrumento improvido, mantendo-se incólume o redirecionamento da execução fiscal contra o recorrente.
7 Ac-04 Vistos, etc. ACÓRDÃO Decide a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento ao agravo de instrumento, nos termos do Relatório, Voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Recife, 15 de junho de (Data de julgamento) Des. Fed. RUBENS DE MENDONÇA CANUTO Relator Convocado
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