AÇÃO DE USUCAPIÃO - AUSÊNCIA DE REQUISITOS - UNIÃO DE POSSES - IMPOSSIBILIDADE



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Transcrição:

AÇÃO DE USUCAPIÃO - AUSÊNCIA DE REQUISITOS - UNIÃO DE POSSES - IMPOSSIBILIDADE - Compete ao autor, na ação de usucapião extraordinária, preencher os requisitos legais previstos no art. 1.238 do Código Civil, anteriormente previstos no art. 550 do CC de 1916, sendo certo que a ausência de qualquer deles acarretará a improcedência do pedido. - O tempo em que o alienante era proprietário do imóvel, não pode se somar ao de quem lhe adquiriu a posse, para efeito de usucapião, visto que deixaria de ser soma de posses e passaria a ser soma de propriedade e posse, o que fere o art. 1.243 do CC. Apelação Cível nº 1.0301.02.007510-9/001 - Comarca de Igarapé - Apelantes: Valdir José de Oliveira, Elzira Silva Theobaldo de Oliveira, Sebastião José de Oliveira - Apelados: Antônio de Souza e outros repdos. p/c. espec Antônio Luiz Pigozzo, Lea de Oliveira Souza - Relator: Des. Guilherme Luciano Baeta Nunes. A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 18ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, à unanimidade, em negar provimento ao recurso. Belo Horizonte, 22 de maio de 2012. - Guilherme Luciano Baeta Nunes - Relator.

N O T A S T A Q U I G R Á F I C A S DES. GUILHERME LUCIANO BAETA NUNES - Cuida-se de ação de usucapião ajuizada por Valdir José de Oliveira, sua esposa Elzira Silva Theobaldo de Oliveira e Sebastião José de Oliveira, alegando os autores, em suma, que possuem, por mais de 20 (vinte) anos ininterruptos, mansa, pacificamente e com ânimo de donos, a gleba de terras com área de 7,16,79 ha (sete hectares, dezesseis ares e setenta e nove centiares) no local denominado Vargem do Açude, Município de São Joaquim de Bicas, desde julho de 2002. O feito obedeceu a sua regular tramitação e culminou com a sentença de f. 113-116, que julgou improcedente o pedido, ao fundamento de que os autores não comprovaram o lapso temporal necessário para aquisição originária da propriedade. Em seguida, julgou extinto o feito, com resolução do mérito, e condenou os autores ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios em favor do curador nomeado nos autos, arbitrados em R$1.000,00 (mil reais). Inconformados, os autores interpuseram recurso de apelação às f. 122-139, alegando, em síntese, que, ao contrário do que entendeu a douta Juíza singular, o requisito do animus domini restou configurado nos autos; que os réus venderam o referido bem aos autores em 05.07.2002, conforme faz prova a escritura pública de compra e venda às f. 17-18; que os réus exerceram a posse sobre o bem por mais de 32 (trinta e dois) anos; que é possível somar a sua posse com a dos possuidores que os antecederam, pelo que requerem a reforma da sentença.

Os réus não apresentaram contrarrazões (f. 148). Os autos foram remetidos à douta Procuradoria da Justiça, que informou, à f. 154, a dispensabilidade de sua manifestação, uma vez que o litígio envolve apenas o pedido de transferência de domínio, sendo certo que a área pleiteada já se encontra registrada em nome dos apelantes, pelo que não há interesse do Ministério Público para tanto. Recurso próprio, tempestivo, devidamente instruído e preparado (f. 141). Conheço do recurso, visto que próprio, tempestivo e preparado (f. 141). Extrai-se dos autos, pela cópia da escritura pública de compra e venda às f. 17-18, que os autores adquiriram dos réus a posse do imóvel situado no lugar denominado Vargem do Açude, Estrada Municipal SJB-138, em São Joaquim de Bicas, em 5 de julho de 2002, com área de mais ou menos 2,53,90 ha (dois hectares, cinquenta e três ares e noventa centiares). Aduzem os autores que, antes de adquirirem a posse do referido imóvel, os réus exerciam a posse mansa e pacífica sobre o bem há aproximadamente 30 (trinta) anos; que a transferência se deu sem qualquer interrupção; que possui o justo título e a boa-fé; que, de acordo com o art. 1.243 do CC, é possível acrescentar à sua posse a dos seus antecessores, para fins de contagem do lapso temporal da usucapião.

A douta Juíza monocrática entendeu que os autores não preencheram os requisitos legais necessários à aquisição da propriedade pleiteada. Fundamentou, ainda, que não há falar em soma das posses, nos termos do art. 1.243 do CC, uma vez que os requeridos eram proprietários do imóvel, conforme faz prova a certidão de registro de imóveis acostada às f. 22-24, pelo que não se trata de sucessão de posse. O art. 550 do Código Civil revogado, em vigor no período mencionado, traz os requisitos necessários à aquisição do domínio de bem imóvel por meio da denominada usucapião extraordinária: "Art. 550. Aquele que, por vinte anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquirir-lhe-á o domínio, independentemente de título de boa-fé que, em tal caso, se presume, podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual lhe servirá de título para transcrição no registro de imóveis". Já o art. 552 do mesmo estatuto, norma a ser aplicada ao caso em exame, porque os autores buscam o reconhecimento do domínio com base no acréscimo da posse anteriormente exercida por terceiros, dispõe: "Art. 552. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a do seu antecessor (art.496), contanto que ambas sejam contínuas e pacíficas". E o art. 496 prevê: "O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais".

Acerca da união da posse, leciona Orlando Gomes: "É permitido juntar posse para usucapir. O possuidor pode acrescentar à sua posse a do seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas e pacíficas. A acessão de posses - acessio possessionis - toma aspectos diferentes conforme se verifica em virtude de título universal ou singular. O herdeiro acrescenta obrigatoriamente à sua posse a do defunto. É uma continuação, transmitindo-se, por conseguinte, com todas as suas virtudes e vícios. A acessão a título singular não é obrigatória. O adquirente soma a sua posse à do transmitente, se quer. Evidentemente, verifica-se a junção quando as duas posses têm as mesmas qualidades" (Direitos reais. 19. ed. at. por Luiz Edson Fachin. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 191). De fato, é direito do usucapiente, nos termos do art.1.243 do CC, somar à sua posse a posse de seus antecessores. Todavia, para que tal se dê, é necessário que as posses sejam hábeis a gerar a usucapião, cuja finalidade é alcançar o domínio do imóvel. O documento de f. 22 atesta que os apelados tinham a posse do bem desde 20.10.1972, contudo, em junho de 2002 (f. 22-24), os apelados procederam ao registro do bem no Cartório de Registro de Imóveis. Sendo assim, os antecessores dos autores passaram a ser os proprietários do imóvel, com o título de domínio, e não meros possuidores. Dessa forma, não se pode concluir que a posse exercida pelos apelados, então proprietários, possa caracterizar usucapião, até porque o titular do domínio não tem direito à prescrição aquisitiva, pois já é proprietário, não podendo sua posse ser somada à posse dos autores. Nesse sentido, posicionou-se o Superior Tribunal de Justiça:

"[...] Aquisição de imóvel. Usucapião extraordinário.[...] - Não pode ser reconhecido o usucapião extraordinário do imóvel por meio da soma das posses dos antecessores, eis que, por um lado, estes eram proprietários e não necessariamente possuidores, sendo o usucapião uma forma de obter domínio por meio de posse e não propriedade por meio de domínio [...]" (RO. 10/DF, Rel. Ministro Castro Filho, Terceira Turma, DJ de 25.08.2003, p.294). Em caso análogo, já decidiu este Tribunal: "Usucapião extraordinário - Requisitos - Posse ad usucapionem - Inexistência - Soma - Antecessores - Prova - Ausência - Improcedência. - Não comprovando o autor a prescrição aquisitiva ad usucapionem, sobre o imóvel usucapiendo, não resta configurada a usucapião extraordinária. A ação de usucapião tem por fim finalidade (sic) declarar a propriedade sobre o bem que se tem posse durante certo lapso de tempo. É certo, ainda, que é lícito ao possuidor acrescer à sua posse e dos seus antecedentes. Todavia, se o antecessor era o legítimo proprietário, é não o mero possuidor, esta posse não pode ser acrescida à do requerente para alcançar o lapso temporal exigido por lei" (TJMG - Ap Cível nº. 1.0671.05.932151-1/001 Des. Rel. José Antônio Braga - DJ de 08.08.2006). A jurisprudência dos tribunais pátrios segue o mesmo entendimento, citando-se a título de exemplo: "Civil e processo civil. Apelação cível. Ação de usucapião extraordinário. [...] Pedido de soma com a posse dos antecessores proprietários do imóvel usucapiendo para fins de prescrição aquisitiva. Vedada ante a natureza distinta das posses.conhecimento e improvimento do recurso. - 1.Impossibilidade da soma da posse com a do antecessor proprietário que tinha a posse por direito próprio, dada a natureza distinta das posses sobre o imóvel usucapiendo. - 2. Conhecimento e improvimento do recurso" (TJRN - Ap. Cível nº 2008.000973-4 - Des. Rel. Amaury Moura Sobrinho - DJ de 03.04.2008);

"Usucapião extraordinário (art. 550, CC/16). Acessio possessionis (art. 496 e art. 552, CC/16). [...] - 2. A acessio possessionis, instituto que faculta ao sucessor a título singular, por ato inter vivos, unir, para efeito de prescrição aquisitiva, sua posse à do prévio possuidor (art. 496 e art. 552, CC/16), não pode ser invocada pelo comprador de imóvel quando a posse que pretende somar é a exercida pelo vendedor com título dominial inscrito no CRI. - 3.Recurso desprovido" (TJSC - Ap. Cível nº 2006.022120-0 - Terceira Câmara de Direito Civil - Rel.ª Des.ª Maria do Rocio Luz Santa Ritta - DJ de 29.07.2008). Portanto, a presente ação de usucapião deve realmente ser julgada improcedente diante da ausência de requisito temporal essencial para o alcance de sua pretensão, visto que, da data da celebração do contrato de compra e venda (05.07.2002) até o presente momento, transcorreram pouco mais de 9 (nove) anos. Ademais, conforme verificado pela douta Juíza singular, os autores pretendem usucapir área distinta daquela indicada na escritura de compra e venda de f. 17-18, uma vez que nela consta a área de 2,53,90 ha e os autores apelantes pleiteiam a aquisição da área de 7,16,79 ha. O que também justifica a improcedência da ação. Com essas considerações, nego provimento ao recurso. Custas, pelos apelantes, já pagas. Votaram de acordo com o Relator os Desembargadores Mota e Silva e Arnaldo Maciel. Súmula - NEGARAM PROVIMENTO. Fonte: Diário do Judiciário Eletrônico/MG - 10/01/2013