ESTIMANDO AS PERDAS DE RENDIMENTO DEVIDO À DOENÇA RENAL CRÔNICA NO BRASIL 1



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ESTIMANDO AS PERDAS DE RENDIMENTO DEVIDO À DOENÇA RENAL CRÔNICA NO BRASIL 1 Márca Regna Godoy*, Gácomo Balbnotto Neto**; Eduardo Pontual Rbero**. *Aluna do Curso de Doutorado em Economa Aplcada do PPGE/UFRGS. ** Professor do Curso de Doutorado em Economa Aplcada do PPGE/UFRGS. RESUMO Este artgo tem como objetvo estmar as perdas de rendmentos ndvduas devdo à doença renal crônca, a partr de dados da Pesqusa Naconal por Amostra de Domcílos (PNAD, 1998). São estmadas as perdas de rendmento através dos métodos dos mínmos quadrados ordnáros e de regressão quantílca. Os resultados da regressão pelo método dos mínmos quadrados ordnáros ndcaram a redução de 11% na renda. Os resultados que ndcaram os mas pobres têm maor redução de rendmento. PALAVRA CHAVE: DOENÇA RENAL CRÔNICA, REGRESSÃO QUANTILICA, EQUAÇÃO DE SALÁRIOS ABSTRACT Ths artcle has as objectve of estmate the losses of ndvdual ncomes due to the chronc renal dsease, startng from data of Pesqusa Naconal por Amostra de Domcílos (PNAD, 1998). They are dear the ncome losses through the methods OLS and quantle regresson. The results of the regresson for the method of the ordnary square mnma ndcated the reducton of 11% n the ncome. The results that ndcated the poorest have larger ncome reducton. KEY WORD: CHRONIC RENAL DISEASE, QUANTILE REGRETION, WAGE EQUATION. 1 Os autores agradecem os comentáros dos partcpantes do Organ Donaton Congresses 8th Internatonal Socety of Organ Donaton and Procurament e do 5th Internatonal Transplant Coordnators Socety, realzando em Gramado, em 2005, do Semnáro do PPGE/UFRGS e da II Jornada de Economa da Saúde da Assocação Braslera de Economa da Saúde - 2005 realzada em Belo Horzonte 1

INTRODUÇÃO O objetvo deste artgo é estmar as perdas de rendmento devdo à doença renal crônca (DRC), no Brasl, com base na Pesqusa Naconal por Amostra de Domcílos (PNAD) de 1998 2. Segundo Junor (2004, p.1), a doença renal crônca consste em uma lesão renal, com perda progressva e rreversível da função dos rns (glomerular, tubular e endócrna). Na sua fase mas avançada, denomnada fase termnal de nsufcênca renal crônca (IRC), os rns não conseguem manter a normaldade do meo nterno do pacente, e entre as prncpas causas da nsufcênca renal crônca estão a hpertensão arteral e o dabetes melltus 3. Os rns exercem uma função vtal, na medda em que são responsáves pela elmnação de toxnas e pela regulação do volume de líqudos e fltragem do sangue. Eles fltram cerca de 20% do volume de sangue bombeado pelo coração por mnuto. Isso equvale, para um ndvíduo adulto, a 180 ltros por da. Além dsso, os rns são responsáves por funções hormonas e metabólcas essencas ao organsmo humano. No momento em que, por uma razão qualquer, a função renal ca abaxo de 10%, o ndvíduo é ndcado para o tratamento de dálse, que busca substtur a função renal normal exercda pelos rns 4. A nsufcênca renal crônca consste em uma dmnução lenta e progressva da função renal devdo ao acúmulo de produtos da degradação metabólca no sangue. Esse tpo de lesão nos rns pode ser causado, por sua vez, por mutas outras doenças, que causam danos rreversíves ao órgão. Na nsufcênca renal crônca, os sntomas manfestam-se lentamente. Contudo, no estágo ncal, os efetos sobre o estado geral de saúde são assntomátcos. Com o progresso da doença, ou seja, à medda que a nsufcênca renal avança e ocorre acúmulo de substâncas no sangue, o ndvíduo apresenta sntomas de fadga, cansaço fácl, espasmos musculares e câmbras, anema, retenção de líqudos no corpo, redução do volume de urna, falta de ar, nchaço, hpertensão, falta de apette, náusea, vômtos, coma e confusão mental. Quando a doença atnge um estado avançado surgem úlceras e sangramento ntestnal e o pacente apresenta uma coloração amarelo-acastanhada. A IRC é uma doença fatal, a menos que o pacente seja submetdo a tratamento de terapa renal substtutva (TRS) ou a transplante de rm. O tratamento dalítco 5 vsa substtur, parcal ou totalmente, a função renal e, ao mesmo tempo, corrgr o metabolsmo do ndvíduo, que se encontra alterado devdo ao mau funconamento desse órgão. O tratamento através da dálse tem duas fnaldades prncpas: () dar sobrevda ao pacente e () possbltar uma melhora na qualdade de vda do mesmo, 2 Para uma análse e detalhes da PNAD 1998, conferr Andrade (2002). 3 Conferr Atkns (2005). 4 Para uma exposção mas aprofundada dos aspectos médcos relaconados aos rns, sugere-se o trabalho de Barros et. al (1999). 5 Segundo Melo, Ros e Guterrez (2000, p.111), a dálse pode ser defnda como um processo de fltragem do sangue, baseado no transporte de solutos, íons e substâncas, através de uma membrana sempermeável, para um líqudo cuja composção é cudadosamente controlada. 2

enquanto espera um transplante renal. No que se refere às técncas de dálse, elas podem ser agrupadas em dos grandes grupos: a hemodálse e a dálse pertoneal. As mplcações econômcas da doença renal crônca (DRC) também são mportantes, pos ela rá nfluencar, de modo marcante e decsvo, o comportamento dos agentes econômcos no mercado de trabalho, estando assocada à redução nas horas trabalhadas, a menores taxas de saláro, à aposentadora precoce, à saída antecpada do mercado de trabalho e a programas de transferênca de renda. Além dsso, o efeto da DRC afeta não somente o ndvíduo, mas também à sua famíla. Segundo Bommer (2002, p.8), o número de pacentes com doença renal grave em estágo fnal está crescendo a uma taxa alarmante em todo o mundo. Por exemplo, nos Estados Undos, cerca de 200.000 pacentes estão em tratamento de hemodálse, e outros 90.000 estão vvendo com um rm transplantado. Entretanto os pacentes com doença renal grave representam apenas 0,12% da população total norte-amercana, mas consomem cerca de 6% do orçamento total anual do Medcare. Segundo Nahas e Bello (2005, p.331), nos Estados Undos, os gastos anuas com o tratamento da DRC em seu estágo fnal estão os aumentos de mas de US$ 28 blhões até 2010. Na Europa, somente o tratamento com a dálse consome 2% do orçamento destnado aos cudados médcos, sendo, contudo, que menos de 0,1% da população necessta do tratamento (para o Reno Undo, os gastos com dálse consomem 0,7% do orçamento e atentem a 0,022% da população; na Suíça eles representam 1% do orçamento e atentem a 0,03% da população; para a Alemanha os números são 1,3% e 0,05%; respectvamente, para a França, 1,5% e 0,035%; para a Itála 1,5% e 0,06% e, fnalmente, para a Bélgca, são de 1,8% e 0,037% respectvamente 6 ). O número de pacentes com nsufcênca renal crônca também tem crescdo no Brasl, tornando-se um grave problema de saúde públca 7. Segundo Junor (2004), em 1994 hava cerca de 24.000 pacentes mantdos em programa dalítco, alcançando 59.153 em 2005. A ncdênca da DRC tem crescdo a uma taxa de 8% a.a. No que se refere aos gastos com o programa de dálse e transplante renal no Brasl, ele stua-se em torno de 1,4 blhão de reas ao ano. Nér e Soares (2002), usando dados da PNAD/1998, verfcaram que cerca de 5% dos entrevstados declararam ter DRC. Segundo Vera e Lucon (2004), exstram cerca de 67.000 pacentes em dálse no Brasl, sendo que 90% deles em dálse desde 1999. A taxa de ngresso de novos pacentes em hemodálse no Brasl, desde 1999, é de 11,6% ao ano. Segundo Zatz, Romão e Noronha (2003, p. s-132), o perfl da doença renal no país reflete, em grande medda, a sua realdade socoeconômca. Um estudo epdemológco (prevalênca) realzado com 2.905 pacentes portadores de doença renal crônca, em São Paulo, constou que, em 27,5% dos casos, a prncpal causa era a glomerulonefrte crônca, seguda da nefloesclerose hpertensva - 16,6% e de dabetes 8%. Esse padrão é smlar ao que é encontrado, também na Amérca Latna. Contudo tas dados contrastam com o padrão norte-amercano onde a prncpal causa é a dabetes. Desde o fnal da década de 1980, város economstas começaram a estudar aspectos lgados ao tratamento da DRC, prncpalmente propondo mecansmos para 6 De Vecch et. al (1999, p. 40). 7 Conferr Lessa ( 2004), Junor (2004, p.1) e Scheppat e Remuz (2005). 3

dmnur as longas flas para transplante renal 8. No Brasl, Marnho (2004) tratou deste tema. O nteresse crescente dos economstas tem ocorrdo devdo aos elevados gastos públcos e prvados com o tratamento dos pacentes renas crôncos. Pesqusas prévas sobre a partcpação de pacentes no mercado de trabalho de tveram orgem na lteratura médca, onde buscaram verfcar a probabldade de emprego face à escolha dos métodos de dálse empregado 9. A maor parte destes estudos constatou que os pacentes submetdos à dálse pertoneal têm maor probabldade de estarem empregados do que os pacentes submetdos à hemodálse. No que se refere aos efetos da DRC sobre o mercado de trabalho Manen et al. (2001) apresentam um resumo da lteratura recente, ndcando quas os efetos da doença renal crônca e do tratamento através da dálse sobre a empregabldade dos ndvíduos. A combnação da dálse com o emprego parece ser uma questão de dfícl equaconamento. Os dados reportados no estudo ndcam que, por exemplo, nos Estados Undos, a percentagem de ndvíduos empregados que têm a DRC e que estão em dade atva se stua entre 11% e 31 % 10. Já na Suéca, esse número stua-se em torno de 20% 11. Um estudo realzado e coordenado pelo Dalyss Outcomes and Practce Patterns Study, que envolveu 4.123 pacentes em tratamento de hemodálse, em dade atva, constatou que a percentagem de pacentes empregados era de 21% nos Estados Undos, 30% na Europa e 55% no Japão 12. Dados obtdos por van Manen et al (2001) para a Holanda ndcaram que apenas 35% dos pacentes com DRC estão empregados quando ncam o tratamento de dálse (em comparação com uma taxa de partcpação de 61% dos que não tem a doença). Um ano após o tratamento, esta taxa de partcpação ca para 25%. Curtn et al. (1996) ndcaram, por exemplo, que 73 % dos pacentes trabalhavam antes de ncar o tratamento da dálse, mas somente 24% contnuaram trabalhando depos dsso. Esses trabalhos mostram as dfculdades que possuem os ndvíduos com esse tpo de doença para partcpar do mercado de trabalho. Hrth et al. (2003) analsaram a questão de como a decsão da escolha do tratamento da DRC afeta a decsão de partcpar, ou não, da força de trabalho, atendo-se especfcamente aos pacentes em estágo fnal da doença renal [End State Renal Dsease (ESRD)]. Segundo eles, a doença renal crônca, em seu estágo fnal, fornece um sgnfcatvo exemplo de uma população na qual as decsões de emprego na presença de uma doença grave, são mportantes. A percentagem de ndvíduos que abandonam o mercado de trabalho depos de constatada a doença renal é sgnfcatvo. O tratamento dos pacentes renas crôncos tem mportantes mplcações econômcas, devdo aos elevados gastos em transplantes e em tratamento de terapa renal substtutva. A assstênca médca aos pacentes renas crôncos é bastante dspendosa para o Sstema Únco de Saúde (SUS). Segundo dados do DATASUS, em 2004, 16% dos recursos destnados à cobertura hosptalar pelo SUS foram gastos em 8 Conferr Barney & Reynolds (1989), Kaserman & Barnett (1991), Hrth et al (2003), Becker & Elas (2004), Roth et al. (2005a, b, c) e Su & Zenos (2005). 9 Conferr Wollcott e Nssenson (1988); Julus et al. (1989); Kutner, Borgan e Feldng (1991); Holley e Nespor (1994) e Curtn, Oberley e Sackteder (1996). 10 Conferr Curtn et al (1994), Holley et al (1994), Ifudu et al (1994) e Kutner et al. (1991). 11 Conferr Theorell (1991). 12 Conferr Dcknson et al (2000). 4

transplantes 13 e 13,17% 14 dos recursos destnados à cobertura ambulatoral foram gastos em dálse. Nos Estados Undos, segundo Hrth et al. (2003, p.169), quando um pacente é dagnostcado com a DRC, automatcamente, ndependente da dade, ele passa a receber os benefícos do Medcare. Os pagamentos por pacente, em 2000, stuaram-se em torno de US$ 46.691, totalzando US$ 12,4 blhões Isso sgnfcou um aumento dos gastos do Medcare dreconados aos pacentes com doença renal grave de 4,5 % em 1991 para 5,8% em 2000. Além dos gastos públcos, com o tratamento dos pacentes renas crôncos, a doença anda pode ter outras mplcações econômcas, pos segundo a Socedade Braslera de Nefrologa, 50% dos pacentes em lstas de espera para transplantes renas estão na faxa etára de 15 a 49 anos, os quas, em conseqüênca da nsufcênca renal crônca, reduzem suas atvdades econômcas durante o tempo de tratamento. Embora a solução mas efcaz para IRC, desde que não haja contra-ndcação médca, seja o transplante de rm, este pode demorar cerca de três anos para acontecer. Durante o tempo em que aguarda o transplante, o pacente é submetdo à dálse 15, porém suas atvdades fcam mas restrtas, devdo às longas horas que o procedmento requer. Em geral, a hemodálse para a fltragem do sangue é feta em três sessões semanas, que duram cerca de quatro horas cada. Desse modo, ocorre uma redução do tempo dsponível para o trabalho e para outras atvdades, o que, mutas vezes, nvablza o exercíco de atvdades profssonas e pode nfluencar sobre as decsões de partcpação no mercado de trabalho e/ou de alocação de tempo para trabalho. Corroborando com esse racocíno, verfca-se, nos regstros da Central de Transplantes do Estado do Ro Grande do Sul, que 62% 16 dos pacentes, nscrtos na lsta de espera para transplante renal não exercem atvdade profssonal e que 52% destes estão na faxa etára de 18 a 50 anos. Coelho (2002, p. 22) e Ner e Soares (2002) mostram que, no Brasl, a DRC se encontra mas presente nos níves socoeconômcos mas baxos e, em mutos casos, está assocada à falta de condções de hgene, entretanto os autores não aprofundaram a dscussão sobre o tema. Como destacaram Spelten et al. (2002, p. 124), o fato de o pacente estar capactado para retornar ao trabalho ou contnuar trabalhando é do nteresse tanto da socedade com do ndvíduo. Do ponto de vsta socal, é mportante que se reduzam a ncapacdade de trabalhar e as perdas econômcas envolvdas numa cessação desnecessára e nvoluntára do trabalho. Do ponto de vsta do ndvíduo, não voltar a trabalhar quando da doença resulta, de um modo geral, em perdas fnanceras, solamento socal e redução da auto-estma. A partcpação no mercado de trabalho pode levar também a uma melhora na qualdade de vda como um todo. Contudo, neste trabalho serão estmadas apenas as perdas fnanceras decorrentes de sua atuação no mercado de trabalho. 13 No ano de 2004, foram pagos pelo SUS, 10.921 transplantes de órgãos e tecdos, sendo que 3.058 foram transplantes renas, os quas representaram um gasto de R$ 55.595.009,00. 14 Valor gual a R$ 1.010.858.392,53. 15 Dentre as técncas de dálse, a hemodálse é a mas utlzada. No Brasl, 89,77% dos pacentes recebem este tratamento (SBN, 2005). 16 Cálculos fetos pelos autores a partr do banco de dados da Central Estadual de Transplantes do Estado do Ro Grande do Sul. 5

Assm, este artgo busca, através de uma abordagem teórca e empírca, verfcar o mpacto da DCR sobre os rendmentos dos portadores de doença renal crônca no Brasl, no ano de 1998. Para tanto, utlza-se o modelo de regressão quantílca para captal humano, vsando obter nformações sobre o mpacto das varáves de captal humano e saúde, em alguns pontos da dstrbução de saláro no Brasl. Este estudo segue a lnha de trabalhos recentes, como os de Kassouf (1999) e Rvera e Curras (2005), mas concentra-se exclusvamente no caso da doença renal crônca. O artgo é organzado da forma que segue. Além desta ntrodução, na seção segunte, são dscutdos alguns aspectos teórcos dos efetos da DRC sobre a oferta de mão-de-obra, captal saúde e captal humano. Na tercera seção, é feta uma análse descrtva da doença renal crônca dentro das algumas faxas salaras e educaconas com base nos dados da PNAD (1998); a segur, são apresentados os resultados econométrcos. Na quarta seção são tecdas as consderações fnas com base no que fo vsto nas seções anterores. 2 REVISÃO DA LITERATURA TEÓRICA E EMPÍRICA Nesta seção, apresentam-se os prncpas modelos teórcos e evdêncas empírcas que buscam relaconar a doença renal crônca ao mercado de trabalho. O objetvo é não é o de fazer um survey, mas de destacar as prncpas referêncas teórcas e empírcas sobre o tema. 2. 1 O modelo renda-lazer O modelo básco de renda-lazer 17 tem sdo utlzado na lteratura para mostrar, de modo smples e dreto, quas os efetos e as mplcações de doenças sobre a oferta de mão-de-obra, no que se refere tanto à taxa de partcpação dos ndvíduos com doenças crôncas como às horas trabalhadas 18. Dentre os trabalhos empírcos poneros, destacam-se os trabalhos de Morgan et al. (1962), Parnes e Meyer (1971) e Bowen e Fnegan (1969), Bartel e Taubman (1979), Gutman, Stead e Robnson (1981), Mtchell (1990), Kutner, Brogan e Feldng (1991). Aqu se apresenta o modelo smples de O (1996, p. 107-108). Assume-se que há um ndvíduo maxmzador de utldade e sua função utldade tem como argumentos a renda e as horas de lazer. O total de horas é assumdo ser T, sendo que elas são alocadas entre lazer (L) e trabalho (H = T L). O objetvo do ndvíduo é maxmzar sua utldade escolhendo o número ótmo de horas para trabalhar. Isso ocorre quando a taxa margnal de substtução entre renda e lazer é gual à taxa de saláro. Na Fgura 1 assume-se que N seja a renda não saláro do ndvíduo. Essa renda pode ser devda a 17 Para uma abordagem smples e ddátca deste modelo conferr Borjas (1996) e Cahuc e Zylberberg (2004). Para um modelo que envolva também a escolha da atvdade econômca, conferr Cropper (1977). 18 Conferr Bowen e Fnegan (1969, p. 62-66). 6

outras rendas que o ndvíduo recebe que não dervadas do mercado de trabalho ou a uma transferênca do governo. Aqu está-se nteressado no efeto que uma doença como a DRC podera ter sobre a oferta de horas de trabalho e a sua partcpação no mercado de trabalho. Segundo O (1996, p. 109), os efetos que teram uma doença sobre a oferta de trabalho seram bascamente três. Prmero uma pora no estado de saúde de um ndvíduo com a DRC provavelmente afetara sua preferênca entre renda e lazer, aumentando o valor margnal das horas de lazer. Isso sgnfca que a taxa margnal de substtução de rendalazer se torna maor. Em termos gráfcos a curva de ndferença tornar-se-a mas nclnada, e anda em termos gráfcos, a DRC levara o ndvíduo a reavalar seu mapa de preferênca. Isso mplca que uma pora nas condções de saúde envolvera ajustamentos que levaram a uma maor demanda por lazer (mas tempo para cudar da doença) e a uma redução das horas de trabalho. No caso lmte, o ndvíduo podera até sar do mercado de trabalho, stuando-se no ponto n, na Fgura 1, onde sua oferta de mão-de-obra sera zero. Segundo sera, um agravamento da DRC, que podera levar a uma redução na produtvdade do ndvíduo, mplcando uma redução na taxa de saláro horáro (w). Contudo, aqu, os efetos sobre o mercado de trabalho seram ambíguos tendo em vsta a força dos efetos renda e substtução. Por últmo a doença rouba tempo (steals tme). À medda que ela se agrava, é requerdo mas tempo para os cudados médcos. Isso pode levar a que o ndvíduo escolha empregos de tempo parcal, ou, até mesmo ele abandone o mercado de trabalho (nesse caso, ele se stuara no ponto n). Y U1 U3 Y1 U2 N n 0 L1 L2 T L Fgura 1 Modelo de renda-lazer aplcado à doença renal crônca 7

Esse modelo, embora smples, nos mostra os város efetos que pode trazer a DRC sobre os ndvíduos no mercado de trabalho: redução das horas trabalhadas, redução nos rendmentos e saída do mercado de trabalho. 2. 2 Teora do captal humano Os modelos de captal humano consderam que a saúde é a base para a produtvdade do trabalho, para os desenvolvmentos ntelectual, físco e emoconal. Saúde e educação são os dos plares da teora do captal humano. Concetualmente, as pessoas podem ter três tpos de captal: captal saúde, na forma da saúde do própro corpo; captal humano, na forma de educação e captal físco; e fnancero na forma de bens ou atvos 19. Entretanto, o captal saúde pode nfluencar a obtenção e a manutenção das formas de captal, sto porque, na busca da manutenção das condções de saúde, os ndvíduos podem usar o captal físco e fnancero para adqurr cudados de saúde. Destaque-se que, com a presença de doenças graves, os ndvíduos tendem a fazer um menor nvestmento em educação. A redução do nível educaconal pode, então, afetar os rendmentos do ndvíduo. A teora do captal humano ganhou força a partr da década de 1960, em vrtude da preocupação cada vez maor com os problemas de crescmento econômco e melhor dstrbução de renda. Ela começou a ser desenvolvda com os estudos de Gary Becker (1965). Embora os trabalhos de Becker (1965) e Mushkn (1962) tenham ndcado que a saúde faz parte do estoque de captal humano, os autores deram maor ênfase à educação. Grossman, (1972) construu um modelo de demanda para o captal saúde, evdencando que o estado de saúde afeta a produtvdade e nfluenca sobre os saláros dos ndvíduos. Segundo Bartel e Taubman (1979, p.1), o estado de saúde pode afetar o nível ótmo de aqusção de captal humano, pos, quando debltado tal como o provocado pela doença renal crônca -, pode levar um ndvíduo a ter baxos retornos de um dado nvestmento devdo às reduções forçadas no tempo alocado ao mercado de trabalho bem como devdo a restrções com relação às atvdades que podem ser exercdas no mercado de trabalho. Além dsso, o estado de saúde pode afetar os nvestmentos em captal humano pelo aumento nos custos de fnancamento, vsto que, de um modo geral, pode ser requerdo um maor tempo para que sejam completados os anos de educação necessáros à obtenção de uma qualfcação, de um trenamento ou dploma. As dferentes formas de nvestmento em captal humano educação e saúde - afetam a produtvdade do ndvíduo de modo dverso. A escolardade aumenta do estoque de conhecmentos e habldades. Já o estoque de saúde determna a quantdade total de tempo que ela pode ter em atvdades produtvas 20 ou como será feta a dvsão de tempo entre as atvdades de mercado e as não-mercado 21. Mutos estudos têm 19 Conferr Case e Deaton (2003). 20 Conferr Grossman (1972, p.224). 21 Confere Boln, Jacobson e Lndgren (2002). 8

ndcado uma estreta relação entre renda e saúde, uma vez que um estado de saúde debltado remete a baxos rendmentos, e que a baxa renda leva a uma pora no estado de saúde, ou seja, as varáves são determnadas smultaneamente 22. Nesse sentdo, a saúde afeta os saláros através de seus efetos sobre a produtvdade do trabalhador. Adconalmente, há uma suposção de que os ndvíduos mas saudáves possuem maor estoque de captal humano, mplcando que estes tenderam a ser mas produtvos do que aqueles com saúde precára. Além dsso, devem-se consderar também os custo de oportundade do tempo e os de deslocamento até os médcos ou undade de hemodálse para realzar o tratamento. Assm, no caso de pacentes com a DRC, tas custos tendem a mpactar de modo adverso e perverso sobre seus rendmentos, prncpalmente pela redução no número de horas trabalhadas, na escolha do tpo de trabalho, ou mesmo quando é tomada a decsão de sar do mercado de trabalho. A teora que permea essa dscussão basea-se no modelo de Grossman (1972), o qual busca explcar as varações na saúde e nos cudados médcos, entendendo a saúde como um estoque de captal durável, que produz um tempo de vda saudável, utlzado nas atvdades de lazer e trabalho. Os ndvíduos herdam um estoque ncal de saúde, o qual se depreca com a dade e pode ser aumentado por nvestmentos. Dessa forma, o modelo nclu uma taxa de deprecação do estoque de saúde, que aumenta conforme a dade do ndvíduo, e consdera que as despesas com cudados médcos elevam-se com a dade. Um aspecto relevante é que a educação aumenta a efcênca com que os nvestmentos em saúde são produzdos. Portanto, os ndvíduos com maor nível educaconal são os que também demandam mas saúde. Grossman (1972) fo quem prmero tratou a saúde como um estoque de captal. Ele construu um modelo que explca varações na saúde e cudados médcos em termos de varações de curvas de oferta e demanda por saúde. Nesse modelo, a saúde pode ser vsta como um bem de consumo que entra dretamente na função utldade dos ndvíduos e também como um bem de captal que permte das saudáves 23. Ele buscou expandr as aplcações da teora do captal humano e fez o modelo de demanda por saúde, onde as escolhas de consumo ao longo da vda são vstas como um problema de nvestmento, de tal forma que o consumdor pode escolher entre nvestr na sua própra saúde ou nvestr no mercado fnancero, de modo que a formação do captal saúde 24 determna a quantdade de tempo que os ndvíduos podem gastar para trabalhar e obter renda e para outras atvdades. Assm, um aumento no estoque de saúde reduz a quantdade de tempo perddo por estar enfermo, permtndo um maor nível de rendmento. 22 Conferr Judge e Patterson (2001) e Kennedy (2003). 23 Confere Acevedo (2000). 24 Segundo Ksknen (2002, p. 9), captal saúde: é a acumulação de fontes de saúde, tanto físca como psco-socal, que podem ser herdados ou adqurdos durante os estágos da vda e que vão determnar a saúde atual e a saúde potencal no futuro. 9

Grossman (1972) utlza uma função de utldade ntertemporal com os seguntes argumentos: ( φ H,...,φ H, Z Z ) U = U,..., (1) o o n Onde: H o = estoque de saúde herdado H = estoque de saúde no tempo φ = fluxo de servço por undade de estoque h = φ H consumo total de servços de saúde Z = total de consumo de outros bens no período. n o n Por (1) tem-se que a função utldade do consumdor depende tanto do estoque de saúde herdado como também desse estoque em cada momento do tempo, além do consumo de outros bens. O tempo de vda depende da quantdade de H que maxmza a utldade sujeta a produção e à restrção de recursos. Além dsto, (1) está sujeta a algumas restrções como se verá a segur. a) Deprecação O Modelo de Grossman (1972) assume que, em cada período, o consumdor faz nvestmentos em saúde e que o nvestmento líqudo no estoque de saúde é gual ao nvestmento bruto, menos a deprecação: onde: H +1 H = I - δh (2) I é o nvestmento bruto e δ é a taxa de deprecação durante o período. A taxa de deprecação é assumda ser exógena, mas ela pode varar de acordo com a dade. b) Funções de produção Os consumdores fazem nvestmento bruto em saúde e em outros bens, que estão presentes na sua função de utldade e varam de acordo com um conjunto de função de produção: I = I M, TH, E ) (3 ) ( ( X, T, E ) Z = Z (3 ) 10

onde: M é o cudado médco (servços médcos, medcamentos, etc). X são os nsumos na produção de Z, TH e T são nsumos tempo (tempo usado na produção de saúde e outras atvdades) Z consumo de bens em cada período, E é o estoque de captal humano, E corresponde à educação e busca transmtr a déa de que a produtvdade na produção de nvestmento em saúde (3 ) depende do nível de educação, sto é, pessoas mas educadas produzem nvestmento em saúde de forma mas efcente. Grossman (1972) assumu que uma mudança no captal humano afeta a efcênca do processo de produção nas atvdades não-mercado, bem como a mudança de tecnologa muda efcênca do processo de produção no setor mercado. Ele defnu também que todas as funções de produção de seu modelo são homogêneas de grau 1, sto mplca que não há lusão monetára no modelo. Conseqüentemente, a função de nvestmento bruto em saúde pode ser escrto como: I = M g t ; E ) (4) ( onde: t = TH M. Segue que os produtos margnas do tempo e dos cudados médcos na função de produto do nvestmento bruto em saúde são dados por: I TH I M g = = g t = g t g (5 ) (5 ) c) Restrção orçamentára A equação (6) representa o valor presente dos rendmentos, que é gual ao valor presente dos bens da cesta orçamentára, durante o cclo de vda, mas a renda descontada: PM + VX WTW = + A 0 (6) (1 + r) (1 + r) onde: P e V são os preços de M (cudados médcos) e X (outros bens), W é a taxa salaral, TW são as horas de trabalho, A o é a renda descontada, r é a taxa de juros. 11

d) Restrção de tempo A restrção de tempo requer que Ω, o tempo total dsponível em qualquer período, seja exaurdo através de todos os possíves usos. TW TL + TH + T = Ω (7) + I onde: Ω representa o tempo total dsponível em cada período, que é dado por: TW (tempo dedcado ao trabalho) + TL (tempo perddo devdo à doença) + TH (tempo usado para produzr nvestmento em saúde) + T (tempo para produzr outros bens (Z)) 25. Por (7) pode-se notar que os ndvíduos têm um conjunto de decsões: dvdr o tempo entre trabalho e lazer; dvdr o tempo restante de lazer na produção de saúde e outros bens; dvdr o rendmento gerado entre bens ntermedáros para a produção de saúde e de bens de consumo; nvestr em saúde para o período segunte. O tempo perddo com doenças é dado pelo tempo total dsponível menos os das saudáves em um dado ano. TL = Ω h. (8) Se Ω (7) for mensurado em das e se φ for defndo como o fluxo de das saudáves por undade de H, h será gual ao número total de das saudáves em um determnado ano. Consderando que, se a taxa de deprecação do estoque de saúde fosse constante, um aumento em TH aumentara I e H + 1, e reduzra TL + 1. Então, TH e TL + 1 seram negatvamente correlaconadas. De manera smplfcada, pode-se dzer que os prncpas pontos desse modelo são: () a dade é negatvamente correlaconada com o captal saúde, mas postvamente correlaconada com os gastos em cudados com saúde; () a taxa salaral dos ndvíduos é postvamente correlaconada tanto com a demanda por saúde quanto com a demanda por cudados de saúde; () a educação é postvamente correlaconada com o captal saúde, mas negatvamente correlaconada com os gastos com cudados de saúde; (v) os que possuem maor nível educaconal demandam um maor estoque ótmo de saúde, (v) que o bem saúde é uma commodty que é produzda ndvdualmente. 26 Váras extensões teórcas já foram fetas a partr do modelo de Grossman (1972) 27, como, por exemplo: o trabalho de Boln, Jacobsson e Lndberg (2002) que analsa a dstrbução dos nvestmentos em saúde entre os membros da famíla. Os 25 O modelo assume que TL é nversamente relaconado ao estoque de saúde, sto é, TL H < 0. 26 Neste trabalho não serão descrtas todas as equações utlzadas por Grossman (1972). 27 Grossman (1999) apresenta e dscute váras dessas extensões. 12

autores assumem a hpótese da exstênca de ncerteza nos nvestmentos em saúde. São modeladas tanto as decsões de nvestmentos em saúde seja para famíla com apenas dos membros (mardo e esposa), como também para aquelas com flhos. Segundo os autores, os ndvíduos nas famílas não produzem somente saúde para s, mas também para os outros membros. Lljas (1997) ntroduz a ncerteza, já que os ndvíduos não sabem precsamente a dade em que morrerão. A análse dos mpactos de doenças sobre os rendmentos tem crescdo na academa. Um dos prmeros trabalhos a nclur a varável saúde (health status) na equação de rendmentos fo o de Morgan et al. (1962). Os resultados ndcaram que o estado de saúde tem uma mportânca sgnfcatva em todos os aspectos da oferta de mão-de-obra nvestgado (taxa de partcpação na força de trabalho, horas trabalhadas e saláro horáro). O maor mpacto estmado ocorreu com relação à taxa de partcpação. Kahn (1998, p.895), utlzando o modelo Tobt, verfcou que os dabétcos têm rendmento nferor aos dos não-dabétcos. Young et al. (1994, p. 911) verfcaram que a ncdênca do dabetes mlltus e da doença renal crônca é nversamente correlaconadas com o status socoeconômco. Marcotte e Wlcox (2003), através de regressão quantílca, estmam as perdas de rendmento devdo à doença mental e verfcaram que essas perdas são maores para as mulheres. No Brasl, pesqusas envolvendo as questões de desgualdade de renda, escolardade e saúde têm sdo dscutdas desde os anos 1960. Autores como Nér (1999), Nér e Soares (2002), Alves e Andrade (2002), Thomas e Strauss (1997) e Noronha e Andrade (2005) debateram a desgualdade de renda e saúde no Brasl. Noronha e Andrade (2005) estmaram o mpacto da saúde sobre a dstrbução de renda através do seu efeto sobre os rendmentos ndvduas, bem como o mpacto da dstrbução de renda sobre o estado de saúde. Os resultados mostraram que a desgualdade de renda afetara negatvamente o estado de saúde. As estmatvas obtdas ndcaram que, um aumento de uma undade no coefcente de Gn reduz em 77,46% a chance de um ndvíduo ser saudável. Thomas e Strauss (1997), utlzando os dados do Estudo Naconal de Despesa Famlar (ENDEF), analsaram a relação entre saúde e produtvdade no trabalho. Os resultados obtdos pelos autores corroboram a déa de que a saúde é uma forma de captal humano que nfluenca os rendmentos. Kassouf (1999) utlzou dados da Pesqusa Naconal sobre Saúde e Nutrção (PNSN), de 1989, para avalar o mpacto de condções nadequadas de saúde sobre os rendmentos de homens (com dade de 18 a 65 anos) no Brasl. A autora mostrou que um estado de saúde precáro provoca perdas tanto através da redução na probabldade de o ndvíduo partcpar da força de trabalho quanto pela menor taxa de saláros. A varável utlzada como proxy para o estado de saúde fo o Índce de Massa Corporal (IMC). Os resultados ndcaram que as condções de saúde têm efetos sgnfcatvos sobre os rendmentos dos ndvíduos e que aqueles com IMC< 20 têm menores taxas de saláro. As perdas de rendmento devdo às más condções de saúde atngram a cfra de US$1,66 blhões (6.430.336 homens doentes vezes perda de rendmento por homem adulto devdo a problemas de saúde fo de US$ 258 por ano). 13

Alves e Andrade (2002), utlzando dados da Pesqusa Naconal por Amostra de Domcílos (PNAD, 1998), verfcaram a relação entre saúde e rendmentos no Brasl. Os autores encontraram evdêncas de que o estado de saúde afeta os rendmentos. Nér e Soares (2002) analsaram a dstrbução de atvos entre pobres e nãopobres, enfocando a dscussão na questão da saúde e em planos de saúde. Os autores verfcaram que 74% dos 10% mas rcos possuem planos de saúde, enquanto que, apenas 2,9% dos 10% mas pobres o possuem. Além dsso, verfcaram que exste uma relação nversa entre estado de saúde e planos de saúde, sto é, aqueles com mas necessdade de atendmento de saúde são os que menos possuem menos plano de saúde. Isso, segundo os autores, contrara o prncípo de eqüdade vertcal, que dz que os servços de saúde devem ser dstrbuídos segundo a necessdade de cudados com a saúde, ndependente das característcas socoeconômcas ndvduas. Contudo o modelo de demanda por saúde de Grossman (1972) mostra que aqueles com renda mas elevada tendem a fazer mas nvestmentos em saúde, ou seja, os resultados encontrados por Nér e Soares são os teorcamente esperados. Daz (2003) analsou as desgualdades socoeconômcas na área da saúde, no Brasl, por meo da mensuração de índce de concentração para a varável autoavalação do estado de saúde, com dados orgnados ma Pesqusa Domclar sobre Padrões de Vda (PPV, 1996). Os resultados revelaram a presença de desgualdades que favorecem os ndvíduos das camadas mas elevada da escala socoeconômca. Hrth et al. (2002) destacam que os pacentes com DRC em seu estado avançado encontram uma varedade de mpedmentos com relação ao emprego, que ncluem uma condção físca e emoconal debltada, a convvênca com a doença, a preocupação com a perda de benefícos relatvos aos rendmentos potencas e também os rgores referentes ao tratamento da dálse. Contudo a escolha do modo de tratamento dálse pertoneal ou hemodálse - pode afetar, de modo sgnfcatvo a capacdade e o desejo de trabalhar do ndvíduo. As estmatvas obtdas com um modelo smples de escolha ndcaram que exstram, cerca de 51,3% de chances de um ndvíduo estar empregado, se fzesse o tratamento de dálse pertoneal. Já para os que escolhem o tratamento de hemodálse, essa probabldade se reduz para 32,2%. Eles examnaram também as decsões conjuntas que são tomadas pelos ndvíduos com relação à partcpação na força de trabalho e no tratamento da doença renal crônca em seu estágo fnal, utlzando um modelo probt de equações smultâneas. Os dados ndcaram que a escolha do tratamento da doença se consttu num sgnfcatvo predtor da stuação do ndvíduo no emprego. Sesso et al. (2003) nvestgando uma amostra de 118 pacentes do Hosptal de Clíncas de São Paulo, verfcaram que exste correlação entre o status socoeconômco e a doença renal crônca. Além dsso, os autores constataram que, após um ano de hemodálse os pacentes com maor status socoeconômco têm um aumento maor da qualdade de vda do que os com status socoeconômco mas baxo. Rvera e Curras (2005), utlzando dados da Pesqusa Domclar sobre Padrões de Vda (PPV, 1996), examnaram a relação entre saláro e saúde. Os autores também utlzaram varáves nstrumentas para estmar uma equação de saúde que fo utlzada como nstrumento na equação de rendmento. Eles verfcaram que escolardade e renda têm mpactos postvos sobre a saúde e que a má qualdade da morada tem mpacto 14

negatvo. Constataram, anda, que um melhor status de saúde aumenta o nível de rendmento para homens e mulheres e que os mpactos da saúde varam ao longo da dstrbução, sendo que o prmero quantl (0,10) apresenta maor coefcente. Seus resultados sugerem que a varável saúde têm um sgnfcatvo mpacto sobre a produtvdade da mão-de-obra, quando a produtvdade é medda como sendo uma função da taxa de saláro. Os dados ndcaram que os efetos sobre o estado de saúde tendem a ser maores para os trabalhadores com menor nível de produtvdade ndependentemente do gênero. Uma mplcação dsso, segundo os autores é que a saúde devera ser tratada como sendo um dos prncpas componentes do captal humano, vsto que ela afeta os níves de saláro ndvdual de modo sgnfcatvo. Assm, pode-se conclur, do ponto de vsta teórco, que a DRC afeta o comportamento do ndvíduo no mercado de trabalho de modo marcante, pos ela rá determnar e afetar a sua taxa de saláro, as horas trabalhadas, o montante de nvestmento em captal humano, o tempo que rá permanecer no mercado de trabalho e seu tpo de trabalho. Na próxma seção, procura-se estmar um desses efetos: as perdas salaral, no Brasl em 1998. 3 METODOLOGIA 3.1 Descrção dos dados A análse é baseada na Pesqusa Naconal por Amostra de Domcílos (PNAD) de 1998, suplemento saúde. Essa pesqusa é realzada anualmente pelo Insttuto Braslero de Geografa e Estatístca, contudo as questões de saúde não são abordadas todos os anos. Vale ressaltar que, nfelzmente, no Brasl, não exste pesqusa que faça acompanhamento temporal de um mesmo ndvíduo, mpedndo dessa forma a aplcação de estudo por dados em panel. A PNAD cobre todo o terrtóro braslero, exceto a área rural da Regão Norte. Na PNAD de 1998 foram entrevstadas 344.975 pessoas, dstrbuídas pelas seguntes faxas etáras apresentadas na Tabela 1. TABELA 1 AUTOAVALIAÇÃO DO ESTADO DE SAÚDE EM INDIVÍDUOS COM DOENÇCA RENAL CRÔNICA, NO BRASIL - 1998 Faxa Etára Freqüênca Percentual Percentual Total Acumulado 0 a 17 anos 127.233 36,88 36,88 18 a 24 anos 45.246 13,12 50,00 25 a 29 anos 27.235 7,89 57,89 30 a 34 anos 26.788 7,77 65,66 35 a 39 anos 24.731 7,17 72,83 40 a 44 anos 21.914 6,32 79,15 45 anos a 49 anos 17.628 5,11 84,26 Acma de 50 anos 54.299 15,74 100,00 Total 344.974 100, 00 - Fonte: Pesqusa Naconal por Amostra de Domclo - 1998 15

Em relação à auto-avalação de saúde, a Tabela 2 mostra que poucos ndvíduos com doença renal crônca relataram ter um estado de saúde muto bom e bom. Segundo Noronha e Andrade (2005, p.7) a medda categórca referente ao estado de saúde auto-reportado, apesar de ser subjetva, é muto utlzada na lteratura de economa da saúde, vsto ser uma medda ampla e abrangente do estado de saúde dos ndvíduos. Além dsso, como destacam os autores, estudos tem demonstrado que exste uma forte correlação entre essa varável e mortaldade, bom como com outras meddas de morbdade 28. Luft (1975, p.44) e Bartel e Taubman (1979, p. 7) e Andrade (2002, p.7) chamaram atenção, também, de que, embora esse tpo de varável apresente problemas com relação a um vés de seleção e smultanedades, ele se consttu na melhor medda dsponível em pesqusas de larga escala com a PNAD-1998. Isto ocorre porque, as pessoas que têm as melhores condções de se auto-dagnostcar este tpo de doença podem possur também um nível sóco-econômco mas elevado. Embora este vés não desqualfque totalmente a mportânca dos dados obtdos através da PNAD, é necessáro prudênca e cautela na análse dos dados. TABELA 2 - DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS CASOS DE DRC POR ANOS DE ESTUDO, NO BRASIL - 1998 Auto-avalação Sem DRC Com DRC Nº de Pessoas Percentual Nº de Pessoas Percentual Muto bom 91.694 423 0,46 99,54 Bom 175.861 2.343 1,31 98,69 Regular 56.406 93,29 4.056 6,71 Rum 9.001 86,47 Muto Rum 1.876 83,56 Ignorado 74 (100.00) 100,00 Fonte: : Pesqusa Naconal por Amostra de Domclo - 1998 1.408 13,53 369 16,44 0 (0.00) 0,00 Como pode ser verfcada na Tabela 3, a DRC não está dstrbuída unformemente em função dos anos de estudo. Nota-se que, à medda que dmnuem os anos de estudo, aumenta a taxa de ncdênca da doença. Percebe-se que a taxa de ncdênca dos ndvíduos com um ano de estudo é quase cnco vezes superor aos com 14 anos de estudo. 28 Conferr Wagstaff e Dooslaer (1994). 16

TABELA 3 - DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS CASOS DE DRC POR ANOS DE ESTUDO, BRASIL - 1998 Anos de Estudo % Não tem DCR % tem DCR Total 1 94,66 5,34 100,00 2 95,10 4,90 100,00 3 95,24 4,76 100,00 4 95,39 4,61 100,00 5 96,08 3,92 100,00 6 97, 00 3,00 100,00 7 97,17 2,83 100,00 8 97,31 2,69 100,00 9 97,36 2,64 100,00 10 98,10 1,90 100,00 11 98,3 1,70 100,00 12 98,11 1,89 100,00 13 98,27 1,73 100,00 14 98,89 1,11 100,00 15 98,53 1,47 100,00 16 98,39 1,61 100,00 Total 96,85 3,15 100,00 Fonte: Pesqusa Naconal por Amostra de Domclo - 1998 Consderando os dados acma, a técnca de regressão quantílca permte verfcar como ocorrem as perdas de rendmentos, em função da doença renal crônca, ao longo da dstrbução de rendmento. 3.2 Modelo econométrco: regressão quantílca Para verfcar o efeto da presença da DRC sobre os rendmentos, é utlzada a metodologa de regressão quantílca 29. A regressão quantílca permte analsar o mpacto das varáves explcatvas ao longo da dstrbução condconal da varável dependente (lnw = taxa de saláro), enquanto a regressão de mínmos quadrados estma apenas o efeto médo do mpacto de uma varável. Os modelos de regressão quantílca têm sdo bastante utlzados para estudar o retorno das varáves do captal humano, desgualdade e renda no Brasl 30. O modelo de regressão quantílca para o problema em questão pode ser escrto como: 29 Conferr Kroenker & Basset (1978). 30 Confra por exemplo os trabalhos de Rbero (2001), Slvera Neto e Campelo (2003), Arabsheban, Carnero e Henley (2003), Araújo Júnor e Slvera Neto (2004), Justo (2004) e Rvera e Curras (2005) entre outros que exploram esta abordagem. 17

= ln w x θ µ, Quant ( ) θ θ ln w x = x β θ, (9) β + onde: x é um vetor de varáves exógenas e β θ é um vetor de parâmetros. Quant θ ln w denota o quantl condconal de lnw dado x, onde θ (0,1). ( ) x Segundo Vera (1999, p.100), o objetvo é estmar o vetor de parâmetros desconhecdos β θ para dferentes valores de θ (0,1). A regressão quantílca pode ser vsta como uma extensão natural dos quants amostras para o caso de um modelo lnear y t = X t β + ε t, o qual assume a segunte forma: mn n b R 1 t θ y x β + t t { t:y x β} t { t:y < x β} t t t (1 θ) y t t x β = mn t n 1 n = 1 ρ θ (y t x β) t (10) em que ρ é a função check defnda por θ u, u 0 ρ θ (u) = (10.1) ( θ 1)u, u < 0 onde a função ρ θ multplca os resíduos por θ, se eles forem não negatvos e por (θ 1), caso contráro, para que, dessa forma sejam tratados assmetrcamente. Com a varação de θ, dferentes quants podem ser obtdos. Os quants mas freqüentemente estmados são: 0,1; 0,25; 0,50; 0,75 e 0,90. Desse modo, a regressão quantílca permte descrever como ocorre o mpacto das varáves explcatvas sob a dependente, ao longo da dstrbução. De acordo com Slva e Porto Junor (2004) e Rvera e Curras (2005), as prncpas vantagens da regressão quantlca são: () a técnca de regressão quantílca permte caracterzar toda dstrbução condconal de uma varável resposta a partr de um conjunto de regressores; () a regressão quantílca pode ser usada quando a dstrbução não é gaussana; () as estmações dos coefcentes angulares de cada quantl são obtdas consderando a totaldade dos dados, ou seja, não há sub-amostras do conjunto de dados; (v) a regressão quantílca é robusta a outlers; (v) por utlzar a dstrbução condconal da varável resposta, podem-se estmar os ntervalos de confança dos parâmetros e do regressando dretamente dos quants condconas desejados; (v) como os erros não possuem uma dstrbução normal, os estmadores provenentes da regressão quantílca podem ser mas efcentes que os estmadores por meo de MQO; (v) a regressão quantílca pode ser representada como um modelo de programação lnear, o que faclta a estmação dos parâmetros. Uma das justfcatvas para o uso de tal metodologa neste ensao se se dá em função da doença não estar dstrbuída unformemente entre os decs de rendmento conforme Quadro 1, havendo redução da ncdênca com o aumento da renda 31 ou seja, nos decs de renda mas baxos, a presença de doença renal crônca é maor e dmnu ao longo da dstrbução. 31 Conferr Young et al. (1994) e Nér e Soares (2002). 18

QUADRO 1: PRESENÇA DE DRC, SEGUNDO DECIS DE RENDIMENTO, NO BRASIL - 1998 Doença Decl de Rendmento 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total Tem doença renal crônca 6,3 5,6 5,4 6,6 5,9 5,2 4,3 3,9 3,8 2,8 5,0 Tem artrte ou reumatsmo 18,9 23,3 17,9 17,5 13,7 15,3 12,4 11,6 9,7 8,3 14,9 Tem câncer 0,1 0,2 0,3 0,4 0,3 0,4 0,4 0,5 0,6 0,6 0,4 Tem dabetes 1,4 2,5 3,3 3,2 3,5 4,2 3,7 4,5 4,8 5,1 3,6 Tem bronqute ou asma 2,4 3,6 3,6 4,6 4,2 5,2 4,0 3,7 3,2 3,2 3,8 Tem hpertensão 13,9 20,3 21,9 20,7 19,4 21,0 21,0 21,6 20,6 19,7 20,0 Tem doença do coração 3,6 6,3 7,4 8,5 7,2 8,3 7,8 6,9 7,1 6,9 7,0 Tem doença de coluna ou costas 40,8 44,0 37,4 35,0 33,2 32,1 28,9 27,4 26,2 22,5 32,7 Tem depressão 6,0 6,8 8,1 8,1 6,6 7,3 7,3 6,7 6,5 6,1 6,9 Tem tuberculose 0,3 0,2 0,2 0,3 0,1 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,2 Tem tendnte ou tenossnovte 2,3 2,7 2,7 2,9 2,5 2,9 2,7 2,6 3,1 3,9 2,8 Tem crrose 0,2 0,3 0,5 0,4 0,4 0,2 0,3 0,3 0,2 0,2 0,3 Fonte: Nér & Soares (2002) A equação de rendmento estmada depende de característcas ndvduas como sexo, cor, dade e de característcas de captal humano, como escolardade e presença de doença renal, e é expressa por: log = α B + ε (11) 2 Wθ 0 + α θ 1θ E + α 2θ S + α 3I + α 4θ I + α 5θ D + α 6θ onde: W é renda; E são os anos de estudo (v0610); I é a dade (v8005); S é sexo (v0302); D é a varável dummy que é gual a 1 se o ndvíduo reporta a presença de doença renal crônca e 0 em caso contráro; B é branco (v0404): a varável dummy que é gual a 1 se o ndvíduo é branco e 0 em caso contráro, θ denota o quantl estmado. A varável dependente (ln w) é o logartmo do saláro-hora, e fo obtda através da varável rendmento total (v4719 32 ), dvdda pelo número de horas trabalhadas (v4707) e multplcada por 4. A utlzação do saláro-hora faz com que seja melhor dentfcado o mpacto da presença da doença renal crônca (v1316), controlando deste modo, o problema da utlzação da varável rendmento total (v4719) que pode ser afetada pela redução do número de horas trabalhadas pelos ndvíduos com essa doença, já que, teorcamente, uma pessoa doente tende a trabalhar menos tempo, em decorrênca da própra doença 33. Nas tabelas 4 e 5 verfca-se que a renda méda dos ndvíduos com doença renal crônca é menor do que a dos demas. As mulheres com DRC recebem cerca de 45,52% menos do que as se a doença. No caso dos homens, essa dferença é muto menor θ 32 Os números das varáves entre parênteses referem-se ao códgo da varável atrbuído pelo IBGE na PNAD, 1998. 33 Conferr Thomas e Strauss (1997). 19

(17,77%). Percebe-se também que o número de anos de estudo é menor entre os ndvíduos com DRC. TABELA 4 ESTATÍSTICA DAS MULHRES COM E SEM DRC NA FAIXA ETÁRIA DE 18 A 55 ANOS, SEGUNDO A RENDA, AS HORAS SEMANAIS TRABALHADAS, NO BRASIL 1998. Com DRC Sem DRC Varáves Méda Desvo Mn Max Méda Desvo Mn Max Padrão Padrão Idade 37,.47 9,36 18,00 55,00 33,94 9.77 18,00 55,00 Renda em R$ 293,44 449,81 8,00 6150,00 427.03 656.25 3,00 20.000 Anos de Estudo 7,04 4,21 1,00 16,00 7,78 4.39 1,00 16 Horas semanas 3,04 1,24 1,00 48,00 3.13 1.15 1,00 48,00 de Trabalho Fonte : Pesqusa Naconal por Amostra de Domclo - 1998 TABELA 5 ESTATÍSTICA DOS HOMENS COM E SEM DRC NA FAIXA ETÁRIA DE 18 A 55 ANOS, SEGUNDO A RENDA, AS HORAS SEMANAIS TRABALHADAS, NO BRASIL 1998.. Com DRC Sem DRC Varáves Méda Desvo Mn Max Méda Desvo Mn Max Padrão Padrão Idade 39,01 9,21 18,00 55,00 34,18 10,0 18,00 55,00 Renda 533,45 873,79 4,00 15.000 628,26 1012,78 5,00 20,000 Anos de Estudo 5,94 4,09 1,00 16,00 7,55 4,31 1,00 16,00 Horas semanas de 3,94 1,06 1,00 48,00 3,75 1,04 1,00 48,00 Trabalho Fonte : Pesqusa Naconal por Amostra de Domclo - 1998 Em relação ao número de horas de trabalho por semana, as Tabelas 4 e 5 mostram que, em méda, os homens com doença renal crônca ofertam um maor número de horas de trabalho do que os que não tem a doença, no caso das mulheres ocorre o nverso, ou seja, as mulheres que não tem DRC trabalham mas horas do que aquelas que têm doença renal crônca. Este padrão é smlar ao encontrado por Alves (2003), que verfcou que os homens doentes ofertam mas horas de trabalho do que os não doentes. 20

3.3 Resultados Econométrcos Nesta subseção são apresentados os resultados econométrcos obtdos através das metodologas de mínmos quadrados ordnáro e de regressão quantílca, os quas foram obtdos utlzando-se o software Stata, versão 8.2. As estmações foram fetas com dados da PNAD - 1998. A amostra utlzada contém 111.988 observações de homens e mulheres com dade entre 18 e 55 anos e renda maor que R$1,00. A justfcatva para utlzar tal ntervalo de dade é que, segundo a Socedade Braslera de Nefrologa, a maor parte dos pacentes renas crôncos se stuam nessa faxa etára. Incalmente, utlzou-se o método de mínmos quadrados ordnáros para verfcar o mpacto da presença da doença renal crônca sobre os rendmentos em dversas faxas de renda. Os resultados de Sesso et al (2003) e os encontrados neste trabalho revelam que os ndvíduos dos estratos socas mas baxos sofrem maor mpacto com a doença renal crônca. A segur, a equação (11) fo estmada va regressão quantílca smultânea (SQREG). De modo a obter resultados mas consstentes as estmatvas foram obtdas com bootstrappng de 100 replcações. As estmações foram fetas, tanto conjuntamente, quanto separada, por gênero, para os quants 0,10; 0,25; 0,50; 0,75 e 0,90. Tal procedmento As permte fazer uma análse mas adequada dos mpactos da doença renal crônca. No Quadro 2, encontram-se os resultados das estmações para a amostra total. Logo adante, nos Quadros 3 e 4, são apresentados as estmações por gênero. Ambos mostraram que todos os snas das varáves são os esperados teorcamente e sgnfcatvos do ponto de vsta estatístco. A varável cor apresenta snal postvo, ndcando que os ndvíduos brancos têm maor rendmento. O coefcente da varável sexo mostra que as mulheres têm um rendmento menor do que dos homens, pos o coefcente da varável tem snal negatvo, ndcando, dessa forma, a exstênca de dscrmnação no mercado de trabalho para mulheres. O mpacto da presença da DRC é mas mportante no quantl 0,25 e dmnu ao longo dos demas. Os resultados ndcam que esse mpacto vara entre 10,3% e 13,2%. O valor do coefcente no quantl 0.90 sugere que os rendmentos dos ndvíduos abrangdos nele são menos sensíves. A varável anos de estudo teve snal postvo sgnfcatvo e revela que a taxa de retorno de anos adconas de estudo é maor para os ndvíduos do quantl 0,90. 21