PARTE 5 LIMITE. 5.1 Um Pouco de Topologia

Documentos relacionados
LIMITE E CONTINUIDADE DE

CAPÍTULO 8 REGRA DA CADEIA (UM CASO PARTICULAR)

CAPÍTULO 9 VETOR GRADIENTE:

PARTE 10 REGRA DA CADEIA

Notas de aula: Cálculo e Matemática Aplicados à Notas de aula: Gestão Ambiental

Fundação Universidade Federal de Pelotas Curso de Licenciatura em Matemática Disciplina de Análise II - Prof. Dr. Maurício Zahn Lista 01 de Exercícios

(versão preliminar) exceto possivelmente para x = a. Dizemos que o limite de f(x) quando x tende para x = a é um numero L, e escrevemos

Limites. 2.1 Limite de uma função

CONTINUIDADE DE FUNÇÕES REAIS DE UMA VARIÁVEL

CÁLCULO I. Apresentar e aplicar a Regra de L'Hospital.

CAPÍTULO 16 REAIS DE VÁRIAS VARIÁVEIS EM COMPACTOS

PARTE 7 DERIVADA DE FUNÇÃO REAL DE. Seja f : Dom(f) R n R m

CÁLCULO I. 1 Aproximações Lineares. Objetivos da Aula. Aula n o 16: Aproximações Lineares e Diferenciais. Regra de L'Hôspital.

Limite de uma função quando a variável independente tende a um número real a

Resolução dos Exercícios Propostos no Livro

Volume de um gás em um pistão

Limite de uma função quando a variável independente tende a um número real a

Aula 3 Propriedades de limites. Limites laterais.

Máximos e mínimos em intervalos fechados

1. Funções Reais de Variável Real Vamos agora estudar funções definidas em subconjuntos D R com valores em R, i.e. f : D R R

1 Distância entre dois pontos do plano

PARTE 4. ESFERAS E SUPERFÍCIES QUÁDRICAS EM GERAL (Leitura para Casa)

Limites: Noção intuitiva e geométrica

Exercícios - Propriedades Adicionais do Limite Aula 10

CDI-II. Resumo das Aulas Teóricas (Semana 1) 2 Norma. Distância. Bola. R n = R R R

Capítulo Diferenciabilidade de uma função

Módulo 1 Limites. 1. Introdução

Capítulo Limites e continuidade

CAPÍTULO 6 DERIVADA DE FUNÇÃO REAL DE

Vejamos na seguinte tabela como se comportam os valores x(n) quando n aumenta. n

Cálculo diferencial em IR n

Universidade Federal de Pelotas. Instituto de Física e Matemática Pró-reitoria de Ensino. Módulo de Limites. Aula 01. Projeto GAMA

CAPÍTULO 13 (G F )(X) = X, X A (F G)(Y ) = Y, Y B. F G = I da e G F = I db,

3.1 Funções Reais de Várias Variáveis Reais

Derivadas Parciais Capítulo 14

Limites, derivadas e máximos e mínimos

Bases Matemáticas Continuidade. Propriedades do Limite de Funções. Daniel Miranda

CÁLCULO I Prof. Edilson Neri Júnior Prof. André Almeida

Acadêmico(a) Turma: Capítulo 7: Limites

Aula 26 A regra de L Hôpital.

UFRJ - Instituto de Matemática

FFCLRP-USP LIMITES FUNDAMENTAIS - CÁL. DIF. E INT. I. Professor Dr. Jair Silvério dos Santos TEOREMA DO SANDUICHE

UFRJ - Instituto de Matemática Programa de Pós-Graduação em Ensino de Matemática Mestrado em Ensino de Matemática

O domínio [ 1, 1] é simétrico em relação a origem.

Capítulo Diferenciabilidade e continuidade das derivadas parciais

Respostas sem justificativas não serão aceitas. Além disso, não é permitido o uso de aparelhos eletrônicos. x 1 x 1. 1 sen x 1 (x 2 1) 2 (x 2 1) 2 sen

Capítulo 4. Campos escalares e vetoriais

10 AULA. Funções de Varias Variáveis Reais a Valores LIVRO

Limites - Aula 08. Alexandre Nolasco de Carvalho Universidade de São Paulo São Carlos SP, Brazil. 14 de Março de 2014

3.6 EXERCÍCIOS. o x2 sen 1 x2, V x O. =0. Multiplicando a desigualdade por x2, temos

LIMITE. Para uma melhor compreensão de limite, vamos considerar a função f dada por =

CÁLCULO I Prof. Marcos Diniz Prof. André Almeida Prof. Edilson Neri Júnior

Cálculo II - B profs.: Heloisa Bauzer Medeiros e Denise de Oliveira Pinto 1 2 o semestre de 2017 Aulas 6 e 7 Limites e Continuidade

Capítulo Topologia e sucessões. 7.1 Considere o subconjunto de R 2 : D = {(x, y) : xy > 1}.

Cálculo 1 Lista 03 Limites

Limites. Slides de apoio sobre Limites. Prof. Ronaldo Carlotto Batista. 7 de outubro de 2013

Derivadas Parciais Capítulo 14

14 AULA. Vetor Gradiente e as Derivadas Direcionais LIVRO

Aula 05 - Limite de uma Função - Parte I Data: 30/03/2015

Introdução à Linguagem da Topologia

Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciências Físicas e Matemáticas Departamento de Matemática. MTM Pré-cálculo

1 Limites e Conjuntos Abertos

Ficha de Problemas n o 6: Cálculo Diferencial (soluções) 2.Teoremas de Rolle, Lagrange e Cauchy

MAT-2453 CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL I - BCC Prof. Juan Carlos Gutiérrez Fernández

CÁLCULO I. 1 Velocidade Instantânea. Objetivos da Aula. Aula n o 04: Limites e Continuidade. Denir limite de funções; Calcular o limite de uma função;

O limite trigonométrico fundamental

Teorema de Green Curvas Simples Fechadas e Integral de

2.1 O problema das áreas - método de exaustão

MAT Cálculo I - POLI Gabarito da P2 - A

Aula 7 Os teoremas de Weierstrass e do valor intermediário.

Capítulo 3 Limite de uma função

CÁLCULO I. Calcular o limite de uma função composta;

CÁLCULO I Aula 05: Limites Laterais. Teorema do Valor Intermediário. Teorema do Confronto. Limite Fundamental Trigonométrico.

Limites infinitos e limites no infinito Aula 15

Aula 33 Limite e continuidade

CÁLCULO II. Lista Semanal 6-04/05/2018. Questão 1. Mostre que não existe o limite abaixo. x 4 y 2 lim. Solução: Seja f(x, y) = x4 y 2

A integral definida Problema:

Propriedades das Funções Contínuas e Limites Laterais Aula 12

Resumo das aulas dos dias 4 e 11 de abril e exercícios sugeridos

Revisão do Teorema de Green

Leitura gráfica: domínio e image

A Regra da Cadeia. V(h) = 3h 9 h 2, h (0,3).

Cálculo Diferencial e Integral I

Capítulo Aplicações do produto interno

MAT Cálculo Diferencial e Integral para Engenharia II 2 o semestre de Prova Substitutiva - 03/12/2012. Gabarito - TURMA A

Aula 5 Derivadas parciais

CÁLCULO I. Estabelecer a relação entre continuidade e derivabilidade; Apresentar a derivada das funções elementares. f f(x + h) f(x) c c

LTDA APES PROF. RANILDO LOPES SITE:

3. Limites e Continuidade

Capítulo III. Limite de Funções. 3.1 Noção de Limite. Dada uma função f, o que é que significa lim f ( x) = 5

Cálculo I (2015/1) IM UFRJ Lista 2: Limites e Continuidade Prof. Milton Lopes e Prof. Marco Cabral Versão Exercícios de Limite

Cálculo III-A Módulo 14

Cálculo III-A Módulo 9 Tutor

A Segunda Derivada: Análise da Variação de Uma Função

CÁLCULO I. Se a diferença entre eles é igual a 100, escrevemos

ATIVIDADES EM SALA DE AULA Cálculo I -A- Humberto José Bortolossi

12 AULA. ciáveis LIVRO. META Estudar derivadas de funções de duas variáveis a valores reais.

Cálculo - James Stewart - 7 Edição - Volume 1

Transcrição:

PARTE 5 LIMITE 5.1 Um Pouco de Topologia Vamos agora nos preparar para definir ite de funções reais de várias variáveis reais. Para isto, precisamos de alguns conceitos importantes. Em primeiro lugar, vamos recordar que dados dois vetores v = (v 1,v 2,..., v n ) e u = (u 1,u 2,..., u n ) em R n, a distância entre v e u é dada por v u = (v 1 u 1 ) 2 + (v 2 u 2 ) 2 +... + (v n u n ) 2, onde a função. : R n R é chamada de norma. Observe ainda que v = v1 2 + v2 2 +... + vn 2 = v. v. Desta forma, uma bola aberta em R n de raio r com centro em X 0 = ( 10, 20,..., n0 ), que denotaremos por B r (X 0 ), é definida por B r (X 0 ) = {( 1, 2,..., n ) R n ( 1 10 ) 2 + ( 2 20 ) 2 +... + ( n n0 ) 2 < r 2 } e, uma bola fechada em R n de raio r com centro em X 0 = ( 10, 20,..., n0 ), que denotaremos por B r (X 0 ), é definida por B r (X 0 ) = {( 1, 2,..., n ) R n ( 1 10 ) 2 + ( 2 20 ) 2 +... + ( n n0 ) 2 r 2 }. Desta forma, no plano (R 2 ), temos que uma bola aberta de raio r com centro em ( 0, 0 ) é o conjunto de pontos que estão dentro da circunferência de raio r com centro em ( 0, 0 ), cuja equação é ( 0 ) 2 + ( 0 ) 2 = r 2. E, no espaço (R 3 ), temos que uma bola aberta de raio r com centro em ( 0, 0, 0 ) é o conjunto de pontos que estão dentro da esfera de raio r com centro em ( 0, 0, 0 ), cuja equação é ( 0 ) 2 + ( 0 ) 2 + ( 0 ) 2 = r 2. Vamos definir agora pontos interiores, conjuntos abertos, viinhança, pontos de acumulação, pontos de fronteira e conjuntos fechados. 63

Cálculo 2B - Notas de Aula (em construção) - Prof a Denise 2011-2 64 DEFINIÇÃO 5.1.1: (Ponto Interior) Dado um conjunto A R n não-vaio, diemos que X 0 A é um ponto interior de A se eiste uma bola aberta com centro em X 0 inteiramente contida em A. DEFINIÇÃO 5.1.2: (Conjunto Aberto) Dado um conjunto A R n não-vaio, diemos que A é um conjunto aberto se todos os seus pontos são pontos interiores. Eemplo 5.1.1: Toda bola aberta B r (X 0 ) = {( 1, 2,..., n ) R n ( 1 10 ) 2 +( 2 20 ) 2 +... + ( n n0 ) 2 < r 2 } é um conjunto aberto em R n. Em particular, a bola aberta B r ( 0, 0 ) = {(,) R 2 ( 0 ) 2 + ( 0 ) 2 < r 2 } é um conjunto aberto em R 2. Eemplo 5.1.2: O conjunto A = {(,) R 2 0 < < 1 e 0 < < 1} é um conjunto aberto em R 2. DEFINIÇÃO 5.1.3: (Viinhança) Uma viinhança de X 0 R n é um conjunto aberto que contém X 0. Eemplo 5.1.3: Toda bola aberta B r (X 0 ) = {( 1, 2,..., n ) R n ( 1 10 ) 2 +( 2 20 ) 2 +... + ( n n0 ) 2 < r 2 } é uma viinhança de X 0. DEFINIÇÃO 5.1.4: (Ponto de Acumulação) Diemos que X 0 R n é um ponto de acumulação do conjunto A R n se toda bola aberta com centro em X 0 contém pelo menos um ponto X A, X X 0. Eemplo 5.1.4: O conjunto dos pontos de acumulação da bola aberta B 1 (0, 0) = {(,) R 2 (,) 2 + 2 < 1} é o conjunto {(,) R 2 (,) 2 + 2 1}. Eemplo 5.1.5: O conjunto dos pontos de acumulação da bola fechada B 1 (0, 0) = {(,) R 2 (,) 2 + 2 1} é o conjunto {(,) R 2 (,) 2 + 2 1}. Eemplo 5.1.6: O conjunto dos pontos de acumulação do conjunto R \{(0, 0)} é todo o plano. Eemplo 5.1.7: O conjunto dos pontos de acumulação do conjunto B 1 (0, 0) {(2, 0)} é o conjunto {(,) R 2 (,) 2 + 2 1}.

Cálculo 2B - Notas de Aula (em construção) - Prof a Denise 2011-2 65 Observação 5.1.1: Se X 0 R n é um ponto de acumulação do conjunto A, podemos nos aproimar de X 0, o quanto quisermos, por uma sequência de pontos onde todos os pontos pertencem a A. Esta definição será necessária para apresentar o conceito de ite de funções de várias variáveis reais, pois a possibilidade de aproimação de um ponto em R n é bem mais ampla do que simplesmente se aproimar pela direita ou pela esquerda, ou através de uma combinação pela direita e pela esquerda, que eram os casos possíveis de aproimação em se tratando de pontos na reta. DEFINIÇÃO 5.1.5: (Ponto de Fronteira e Fronteira) Dado um conjunto A R n não-vaio, diemos que X 0 R n é um ponto de fronteira de A, se toda bola aberta com centro em X 0 possuir pelo menos um ponto que pertence a A e um ponto que não pertence a A. O conjunto dos pontos de fronteira de um conjunto A é chamado de fronteira de A. A fronteira de A é denotada por A. Eemplo 5.1.8: A fronteira da bola aberta B 1 (0, 0) = {(,) R 2 (, ) 2 + 2 < 1} é a circunferência 2 + 2 = 1. Eemplo 5.1.9: A fronteira da bola fechada B 1 (0, 0) = {(,) R 2 (,) 2 + 2 1} é a circunferência 2 + 2 = 1. Eemplo 5.1.10: A fronteira do conjunto B 1 (0, 0) {(2, 0)} é a circunferência 2 + 2 = 1 e o ponto (2, 0). DEFINIÇÃO 5.1.6: (Conjunto Fechado) Dado um conjunto A R n não-vaio, diemos que A é um conjunto fechado se ele contém todos os seus pontos de fronteira. Eemplo 5.1.11: Toda bola fechada B r (X 0 ) = {( 1, 2,..., n ) R n ( 1 10 ) 2 + ( 2 20 ) 2 +... + ( n n0 ) 2 r 2 } é um conjunto fechado em R n. Em particular, a bola fechada B r ( 0, 0 ) = {(,) R 2 ( 0 ) 2 + ( 0 ) 2 r 2 } é um conjunto fechado em R 2. Eemplo 5.1.12: O conjunto B 1 (0, 0) {(2, 0)} é um conjunto fechado. Eemplo 5.1.13: O conjunto A = {(,) R 2 0 1 e 0 1} é um conjunto fechado em R 2. Vamos definir agora conjuntos itados e conjuntos compactos.

Cálculo 2B - Notas de Aula (em construção) - Prof a Denise 2011-2 66 DEFINIÇÃO 5.1.7: (Conjunto Limitado) Dado um conjunto A R n não-vaio, diemos que A é um conjunto itado se eiste M > 0 tal que A R, onde R é o retângulo em R n dado por R = {( 1, 2,..., n ) R n M 1 M, M 2 M,..., M n M, }. Eemplo 5.1.14: Toda bola aberta, em R n, de raio r e centro em X 0 é um conjunto itado em R n e toda bola fechada, em R n, de raio r e centro em X 0 também é um conjunto itado em R n. Eemplo 5.1.15: O conjunto A = {(,) R 2 2 4} é um conjunto itado em R 2. Eemplo 5.1.16: O conjunto A = {(,) R 2 0 e 0} itado em R 2. NÃO é um conjunto DEFINIÇÃO 5.1.8: (Conjunto Compacto) Dado um conjunto A R n não-vaio, diemos que A é um conjunto compacto se ele é fechado e itado. Eemplo 5.1.17: Toda bola fechada, em R n, de raio r e centro em X 0 é um conjunto compacto em R n. Eemplo 5.1.18: O conjunto A = {(,) R 2 2 4} é um conjunto compacto em R 2. Eemplo 5.1.19: O conjunto A = {(,) R 2 0 e 0} NÃO é um conjunto compacto em R 2, pois, apesar de ser um conjunto fechado, ele não é um conjunto itado. Vamos agora passar à definição de ite. 5.2 Limite A essência do conceito de ite continua sendo a que vimos em Cálculo 1A. Vamos portanto recordá-la.

Cálculo 2B - Notas de Aula (em construção) - Prof a Denise 2011-2 67 Recordação de ite de funções reais de uma variável real: Seja f : Dom(f) R R uma função real de uma variável real. Suponha que f está definida no intervalo aberto I contendo 0 (eceto possivelmente no próprio 0 ). Diemos que f() tende a l, l R, quando tende a 0, cuja notação é f() = l, se para todo ε > 0 dado, 0 eiste δ > 0 tal que, 0 < 0 < δ f() l < ε. Tradução: Dada uma função f : Dom(f) R R definida no intervalo aberto I contendo 0 (eceto possivelmente no próprio 0 ), diemos que f possui ite l quando tente a 0 se, dado uma distância máima que permitimos que f() se afaste de l (uma dada distância ε), sempre é possível encontrar uma outra distância (uma distância δ), tal que se não se afastar de 0 uma distância maior do que esta distância encontrada (a distância δ), o valor da função f, para pontos nesta viinhança itada, estará próimo de l o quanto queremos (a distância dada ε). Observação 5.2.1: Note que um ponto 0 pertencente a um intervalo aberto I é trivialmente um ponto de acumulação de I. O que devemos faer então para definir ite de funções reais de n variáveis reais é simplesmente adaptar o conceito de distância, que antes, em Cálculo 1A, era dado pelo módulo, uma ve que o domínio da função era um subconjunto da reta, para o conceito de distância em R n, que é onde os novos pontos do domínio estão. DEFINIÇÃO 5.2.1: (Limite) Seja f a função real de várias variáveis f : Dom(f) R n R e seja X 0 um ponto de acumulação do Dom(f). Diemos que f(x) tende a l, l R, quando X = ( 1, 2,..., n ) tende a X 0, cuja notação é f(x) = l, se para todo ε > 0 dado, eiste δ > 0 tal que, para todo X Dom(f), 0 < X X 0 = ( 1 10 ) 2 +... + ( n n0 ) 2 < δ f(x) l < ε. Desta forma, para a função real de duas variáveis f : Dom(f) R 2 R (, ) f(,), temos que f(,) = l se, para todo ε > 0 dado, eiste δ > 0 tal que, para (,) ( 0, 0 ) todo (,) Dom(f), 0 < ( 0 ) 2 + ( 0 ) 2 < δ f(,) l < ε.

Cálculo 2B - Notas de Aula (em construção) - Prof a Denise 2011-2 68 Eemplo 5.2.1: Mostre que 2 + 2 = 0. Solução: Aplicando a definição de ite, temos que ε > 0, eiste δ > 0 tal que, 0 < 2 + 2 < δ 2 + 2 < ε. = 0, se dado 2 + 2 Observando que 2 + 2 = 5 2 2 + 2 5 5 2 + 2, (1) para ε > 0 dado, basta faer δ = ε 5. De fato, se δ = ε, segue que 5 0 < 2 + 2 < δ = ε 5 5 2 + 2 < ε, portanto, de (1), temos que 0 < 2 + 2 < ε 5 2 + 2 < ε, conforme desejado. Eplicações das desigualdades: ( ) 0 2 + 2 + 2 2 2 + = 1 2 e ( ) = 2 2 + 2 ). Abaio temos um esboço da gráfico da função f(,) = 52 sob diferentes ângulos, para facilitar a visualiação. 2 + 2 2 Vejamos agora as propriedades de ite. Cabe ressaltar que vimos todas as versões destas propriedades para funções da reta na reta em Cálculo 1A. TEOREMA 5.2.1: Seja f : Dom(f) R n R e seja X 0 um ponto de acumulação

Cálculo 2B - Notas de Aula (em construção) - Prof a Denise 2011-2 69 do Dom(f), então f(x) = l f(x) l = 0. TEOREMA 5.2.2: Seja f : Dom(f) R n R e seja X 0 um ponto de acumulação do Dom(f), então f(x) = l f(y + X 0 ) = l. Y 0 TEOREMA 5.2.3: (Propriedades de Limite) Considere as funções f, g : D R n R, tais que X X0 f(x) = l, X X0 g(x) = m e seja k R. Neste caso, temos que a) X X0 (f ± g)(x) = l ± m; b) X X0 (kf)(x) ( ) = kl; f c) X X0 (X) = l, se m 0; g m d) X X0 f(x) = l. TEOREMA 5.2.4: Seja f : Dom(f) R n R e seja X 0 um ponto de acumulação do Dom(f), então f(x) = 0 f(x) = 0. Observação 5.2.1: Note que é fundamental no Teorema 5.2.4 que o valor do ite seja 0, pois caso contrário, é possível ter X X0 f(x) = l 0, sem que sequer eista X X0 f(x). Por eemplo, para a função { 1, se 0 f(,) = 1, se > 0, temos que f(,) = 1 = 1 0, enquanto que não eiste f(,). 1 1 TEOREMA 5.2.5: Seja f : Dom(f) R n R uma função polinomial, então X X0 f(x) = f(x 0 ).

Cálculo 2B - Notas de Aula (em construção) - Prof a Denise 2011-2 70 Eemplo 5.2.2: Calcule 52 + 2. Solução: Como a função f(,) = + 2 é polinomial, temos pelo Teorema 5.2.5 acima que f(,) = 52 + 2 = f(0, 0) = 0. TEOREMA 5.2.6: Seja f : Dom(f) R n R uma função racional, e seja X 0 um ponto do Dom(f), então X X0 f(x) = f(x 0 ). Eemplo 5.2.3: Calcule (,) (1,2) 2 + 2. Solução: Observe que o domínio da função racional f(,) = 52 é dado por 2 + 2 Dom(f) = R\{(0, 0)}. Portanto, o ponto ( 0, 0 ) = (1, 2) Dom(f). Desta forma, pelo Teorema 5.2.6 acima que (,) (1,2) f(,) = (,) (1,2) 2 + 2 = f(1, 2) = 5.12.2 1 2 + 2 2 = 2. TEOREMA 5.2.7: (Teorema do Confronto (ou do Sanduiche)) Sejam f, g, h : D R n R e seja X 0 um ponto de acumulação de D. Suponha que eiste uma viinhança V X0 de X 0 tal que f(x) g(x) h(x) para todo X V X0 D, eceto possivelmente no próprio ponto X 0. Desta forma, se f(x) = l e h(x) = l então, g(x) também eiste e g(x) = l. TEOREMA 5.2.8: (Teorema do Anulamento) Sejam f,g : D R n R e seja X 0 um ponto de acumulação de D. Se f(x) = 0 e eiste uma viinhança V X0 de X 0 tal que g é itada em V X0 D, então f(x)g(x) também eiste e f(x)g(x) = 0.

Cálculo 2B - Notas de Aula (em construção) - Prof a Denise 2011-2 71 Eemplo 5.2.4: Calcule, caso eista, Solução: Observe que a função g(, ) = 0 2 2 + 2. 2 2 + 2 é itada, uma ve que 2 + 2 = 1. Além disso, a função f(,) = 5 é tal que 2 + 2 2 + 2 f(,) = 5 = 0. Portanto, estamos diante do ite do produto de duas funções que satisfaem as condições do Teorema do Anulamento. Sendo assim, segue que (Esta função é a mesma do Eemplo 5.2.1.) = 2 + 5. 2 2 2 + = 0. 2 Eemplo 5.2.5: Calcule, caso eista, 3 2 2 +. 2 Solução: Observe que a função g(,) = 2 2 é itada, uma ve que 2 + 2 0 2 2 2 + 2 2 + 2 2 + = 1. 2 Além disso, a função f(,) = é tal que f(,) = = 0. Portanto, estamos diante do ite do produto de duas funções que satisfaem as condições do Teorema do Anulamento. Sendo assim, segue que 3 2 =. 2 2 2 + 2 2 + = 0. 2 Abaio temos um esboço da gráfico da função f(,) = 3 2 2 + 2.

Cálculo 2B - Notas de Aula (em construção) - Prof a Denise 2011-2 72 TEOREMA 5.2.9: Sejam g : Dom(g) R n R e f : Dom(f) R R tais que Im(g) Dom(f). Seja X 0 um ponto de acumulação de Dom(g), suponha que X X0 g(x) = a e suponha ainda que a é um ponto de acumulação de Dom(f). Se f não está definida em a ou se f é contínua em a, então f(g(x)) = u a f(u). Observação 5.2.2: Utiliamos a versão deste teorema dada em Cálculo 1A (g : sen (tan()) Dom(g) R R) para calcular ites do tipo. Neste caso, 0 tan g() = tan, f(u) = senu u, 0 = 0, a = g() = tan = 0 e f(u) = senu não 0 0 u está definida em a = 0, de modo que sen (tan()) f(g(x)) = 0 0 tan = u a f(u) = u 0 senu u = 1. Eemplo 5.2.6: Verifique se 1 cos( 2) (,) (1,2) 2 ( 2) 2 eiste. Solução: Neste caso, observe que desejamos saber X X0 f(g(x)), onde g(,) = ( 2), f(u) = 1 cos u, X u 2 0 = (1, 2), a = g(, ) = ( 2) = 0 e (,) (1,2) 0 f(u) = 1 cos u não está definida em a = 0. Portanto, pelo Teorema 5.2.9, temos que u 2 1 cos( 2) f(g(x)) = (,) (1,2) 2 ( 2) 2 = u a f(u) = u 0 1 cos u u 2 = 1 2. Observe que também podemos aplicar este mesmo raciocínio para determinar 1 cos( 2) 1 cos( 2) e. (,) ( 0,2) 2 ( 2) 2 (,) (0, 0 ) 2 ( 2) 2 Desta forma, também obteremos que 1 cos( 2) = 1 (,) ( 0,2) 2 ( 2) 2 2 = 1 cos( 2). (,) (0, 0 ) 2 ( 2) 2

Cálculo 2B - Notas de Aula (em construção) - Prof a Denise 2011-2 73 Abaio temos um esboço do gráfico de f sob diferentes ângulos para facilitar a visualiação. Observe que o domínio da função f(,) = é dado por 1 cos( 2) 2 ( 2) 2 Dom(f) = {(,) R 2 0 e 2}, de modo que os pontos correspondentes às duas retas = 0 e = 2, encontram-se tracejados. Observação 5.2.3: Caso f esteja definida em a e não seja contínua neste ponto, as funções reais de variáveis reais abaio servem para eemplificar (conforme visto em Cálculo 1A) que a igualdade f(g(x)) = f(u) pode falhar. Considere as { u a u + 1, u 1 funções f(u) = 5, u = 1 e g() = 1 para todo real. Escolhendo 0 = 3, observe que g() = 1 = 1, de modo que a = 1. Além disso, temos que f(u) = 2 3 3 u 1 mas, f(g()) = 5 = 5 2 = f(u). 3 3 u 1 Observação 5.2.4: Sabendo que X X0 g(x) = a, se eistir uma viinhança V X0 de X 0 tal que g(x) a para todo X V X0 Dom(g), X X0 g(x) = a, a igualdade X X0 f(g(x)) = u a f(u) do Teorema 5.2.9 também irá valer, independente do comportamento de f em a. O enunciado do teorma para este caso seria assim: Sejam g : Dom(g) R n R e f : Dom(f) R R tais que Im(g) Dom(f). Seja X 0 um ponto de acumulação de Dom(g) e suponha que X X0 g(x) = a. Se a é um ponto de acumulação de Dom(f) e se eiste uma viinhança V X0 de X 0 tal que g(x) a para todo X V X0 Dom(g), então X X0 f(g(x)) = u a f(u). Observe que, pelo o Teorema 5.2.9 acima, se X X0 g(x) = a e f é uma função contínua em a, então, ( ) f(g(x)) = f(u) = f(a) = f g(x). u a Em outras palavras, temos que se f é uma função contínua, podemos passar o ite para dentro, de modo que: o ite da f é igual a f do ite. Pela importância deste resultado, que é a própria caracteriação de funções contínuas (conforme visto em Cálculo 1A), vamos enunciá-lo abaio.

Cálculo 2B - Notas de Aula (em construção) - Prof a Denise 2011-2 74 COROLÁRIO 5.2.1: Sejam g : Dom(g) R n R e f : Dom(f) R R tais que Im(g) Dom(f). Seja X 0 um ponto de acumulação de Dom(g) e suponha que X X0 g(x) = a. Se a é um ponto de acumulação de Dom(f) e f é contínua em a, então ( ) f(g(x)) = f g(x). Agora vamos ver um teorema que será bastante útil para demonstrar que uma dada função NÃO possui ite. TEOREMA 5.2.10: Seja f : Dom(f) R n R e seja X 0 um ponto de acumulação do Dom(f). Suponha que f(x) = l. Considere agora a curva C parametriada pela função contínua γ : [a,b] R n, tal que γ(t 0 ) = X 0, t 0 [a,b]. Suponha que, para todo t t 0, tem-se que γ(t) X 0, e que, γ(t) Dom(f), t [a,b], t t 0. Neste caso, segue que f(γ(t)) = l, t t 0 ou um ite lateral apropriado. Observe que se for possível encontrar uma curva C 1 Dom(f) {X 0 }, parametriada pela função γ 1, e uma curva C 2 Dom(f) {X 0 }, parametriada pela função γ 2, de modo que γ 1 (u 0 ) = X 0 = γ 2 (v 0 ) e tal que f(γ 1 (u)) f(γ 2 (v)) (ou um ite lateral apropriado), podemos concluir pelo Teorema 5.2.10 acima, que NÃO eiste u u0 v v0 f(x). Eemplo 5.2.7: Verifique se 2 2 2 + eiste. 2 Solução: Considere f(,) = 2 2 2 + 2. Vamos mostrar que o ite acima não eiste apresentando dois caminhos distintos de aproimação, de modo que o ite ao longo destes caminhos não sejam iguais. Para isto, considere a curva C 1 parametriada por γ 1 (t) = (t, 0), t 0 e a curva C 2 parametriada por γ 2 (t) = (0,t), t 0. Desta forma, 2 2 calculando separadamente, 2 + ao longo das curvas C 2 1 e C 2, temos que e 2 2 2 + = f(γ t 2 0 1(t)) = 2 t 0 + t 0 + t 2 + 0 = 1 = 1, t 0 + ao longo de C 1 = f(γ 0 t 2 2(t)) = t 0 + t 0 + 0 + t = 1 = 1. 2 t 0 + ao longo de C 2