Vantagens comparativas e desempenho das exportações do setor pesqueiro brasileiro no mercado norte-americano
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- Márcio Veiga Belo
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1 PERSPECTIVA ECONÔMICA v. 6, n. 1:1-15 jan/jun 2010 ISSN X doi: /pe Vanagens comparaivas e desempenho das exporações do seor pesqueiro brasileiro no mercado nore-americano Rosemeiry Melo Carvalho * Rochele Alves de Araújo ** José César Vieira Pinheiro *** Comparaive advanages and expor performance of Brazilian fishing secor in he Norh American marke RESUMO O objeivo dese rabalho é analisar a compeiividade das exporações brasileiras de pescado no mercado dos Esados Unidos no período de 2000 a Para idenificar os produos que apresenam vanagem comparaiva revelada e analisar a qualidade de especialização, foram uilizados os indicadores de Vanagem Comparaiva Revelada (VCR), Desempenho Comercial (DES) e Qualidade da Especialização (QE). Os resulados mosraram que o seor pesqueiro brasileiro esá em siuação compeiiva óima no mercado nore-americano. Os produos em siuação de reirada e com oporunidades perdidas (peixes vivos e filés de peixe) represenam imporanes oporunidades de negócios e invesimenos no comércio enre o Brasil e os Esados Unidos. Palavras-chave: compeiividade, pescado, Esados Unidos, Brasil. ABSTRACT The objecive of his sudy is o analyze he compeiiveness of Brazilian expors of fish in he Unied Saes marke from 2000 o To idenify he producs wih revealed comparaive advanage, and analyze he qualiy of experise were used indicaors of Revealed Comparaive Advanage (RCA), Sales Performance (SP) and Qualiy of Experise (QE). The resuls showed ha he Brazilian fishing indusry is in a grea compeiive siuaion in he U.S. marke. The producs in a sae of wihdrawal, and wih missed opporuniies (live fish and fish filles) represen imporan business opporuniies and invesmens in rade beween Brazil and he Unied Saes. Recebido em Aceio em * Douora em Economia, professora do Deparameno de Economia Agrícola, Bolsisa do Programa de Educação Tuoria (PET) da Universidade Federal do Ceará (UFC). C.P: 6017, , Foraleza, CE, Brasil. rmelo@ufc.br. ** Engenheira de Pesca na Universidade Federal do Ceará (UFC). C.P.: 6017, , Foraleza, CE, Brasil. E- mail: rochele0001@homail.com. *** Douor em Economia, professor do Deparameno de Economia Agrícola na Universidade Federal do Ceará (UFC). C.P.: 6017, , Foraleza, CE, Brasil. cesar.vieira@pq.cnpq.br
2 PERSPECTIVA ECONÔMICA v. 6, n. 1: 1-15, jan./jun ISSN X Key words: compeiiveness, fish, Unied Saes, Brazil. JEL Classificaion: F00, F10, Q22. 1 Inrodução A compeiividade é uma das principais preocupações dos empresários no mundo ineiro. Muios faores êm colaborado para o acirrameno da compeiividade. Enre eles, desacam-se a globalização de mercados, as novas ecnologias e a exigência de produos com elevada qualidade. Desse modo, o grande desafio para as empresas é garanir sua sobrevivência em mercados cada vez mais compeiivos. De acordo com a abordagem sisêmica, a compeiividade pode ser enendida como a capacidade de a empresa formular e programar esraégias que lhe permiam conservar, de forma duradoura, uma posição susenável no mercado. Consoane essa abordagem, ano os faores inernos quano os exernos à empresa influenciam o desempenho desa. Assim, o sisema macroeconômico, a infraesruura e as caracerísicas socioeconômicas dos mercados domésicos êm influência decisiva no desempenho empresarial (MCT, 1993). O Brasil é viso, no exerior, como um dos países que em mais e melhores condições de aender à demanda mundial de pescado, já que possui um vaso lioral com correnes frias do Oceano Alânico que susenam uma grande variedade de espécies, conforme o que diz Favare Filho (1997). De acordo com dados do Minisério do Desenvolvimeno Indúsria e Comércio (MDIC, 2009), um dos os principais imporadores de pescados brasileiros são os Esados Unidos. As exporações nacionais de pescado, em 2008, foram de, aproximadamene, US$ 239 milhões; desse oal, aproximadamene, US$ 96 milhões correspondem às exporações para os Esados Unidos, represenando mais de 40% do oal. Considerando a imporância do comércio de pescado enre o Brasil e os Esados Unidos, nese esudo, preende-se analisar a evolução da compeiividade desse seor no período enre 2000 e 2008, visando idenificar os produos que represenam novas oporunidades de negócios e invesimenos, classificando-os segundo sua siuação compeiiva. Para isso, serão uilizados os 2
3 Carvalho, Rosemeiry M.; Araújo, Rochele A.; Pinheiro, José C.V. Vanagens comparaivas e desempenho das exporações do seor pesqueiro brasileiro... indicadores de desempenho, os quais se caracerizam por focalizar a paricipação do agene esudado no mercado inernacional, mosrando a capacidade de um dado seor sobreviver e se expandir no mercado nacional e inernacional. Tais indicadores podem ser absoluos ou relaivos. Os indicadores absoluos comparam o desempenho compeiivo do país com seus concorrenes no comércio mundial, enquano os indicadores relaivos, em geral denominados indicadores de vanagem comparaiva revelada, relacionam o desempenho do seor em quesão com o desempenho dos demais seores do mesmo país. Os indicadores de vanagem comparaiva revelada incorporam impliciamene os pressuposos básicos da eoria Ricardiana e do modelo de Heckscher-Ohlin. Esas eorias supõem que o comércio inernacional pode ser explicado pelas diferenes doações de faores produivos e, no caso da versão clássica, ambém pelas diferenes produividades do rabalho enconradas em cada país. Por sua vez, a paricipação dos vários países no fluxo oal de comércio explica-se, por meio dessas eorias, pelo fao de que os países se especializam nos seores em que possuem vanagens comparaivas (Krugman e Obsfeld, 2005). Além da inrodução ese rabalho apresena mais quaro seções. A Seção 2 descreve, brevemene, a esruura do comércio brasileiro de pescado. A seguir, na Seção 3, é abordada a meodologia uilizada para a obenção dos indicadores de compeiividade. Por fim, nas Seções 4 e 5, são apresenados e discuidos os resulados e as principais conclusões. 2 O comércio exerior brasileiro de pescado De acordo com dados do MDIC (2009), enre os anos de 2000 e 2008, o seor pesqueiro brasileiro exporou anualmene, em média, US$ 325 milhões e imporou US$ 340 milhões. Os principais produos exporados em 2008 foram: lagosa (36%), camarão (18%) e os peixes congelados (17%), endo como principais mercados de desino os Esados Unidos (40%), a França (19%) e a Espanha (10%). Os principais fornecedores de pescado para o Brasil são: Noruega (29%), Chile (24%) e Argenina (17%). Os principais produos imporados são o bacalhau (37%) e peixes congelados (28%). Dos US$ 241 milhões referenes à imporação de bacalhau, 78% são oriundos da Noruega. Já os peixes congelados, com US$ 180 milhões, êm 3
4 PERSPECTIVA ECONÔMICA v. 6, n. 1: 1-15, jan./jun ISSN X como principais fornecedores a Argenina (15%) e o Chile (5%). De acordo com a balança comercial brasileira de pescados, em 2008, houve um aumeno de 5% no valor das exporações e um acréscimo da ordem de 140% nas imporações em relação ao ano de 2000, ocasionando um saldo negaivo na balança comercial brasileira de, aproximadamene, US$ 418 milhões. Esse resulado se deve, principalmene, à redução de 8% nas exporações de crusáceos enre 2000 e 2008, mais paricularmene as de camarão. Por ouro lado, os peixes congelados e filés de peixe iveram uma maior paricipação nas exporações, pois passaram de 18% para 23% nesse mesmo período. Segundo Araújo e al. (2007), a redução nas exporações de camarão esá associada à diminuição de produção do crusáceo. O camarão brasileiro chegou a corresponder a mais de 55% das exporações anes do processo de anidumping esabelecido em 2004 pelos Esados Unidos (EUA) conra o camarão brasileiro. Adicionalmene, os EUA exigem o cumprimeno do programa Análise de Perigos Críicos de Conrole (HACCP) e de inocuidade dos produos, que não podem coner meais pesados e anibióicos. A União Europeia, um dos parceiros comerciais brasileiros que mais oferece empecilhos, além de odos esses requisios, exige das auoridades brasileiras o cumprimeno de um rígido Plano Nacional de Conrole de Resíduos (PNCR), envolvendo análises regulares de várias subsâncias que podem afear a saúde dos consumidores. De modo geral, os consumidores noreamericanos e europeus êm valorizado a cerificação da produção que deve considerar a inocuidade (sanidade e qualidade), a responsabilidade ambienal e o compromisso social. Dessa forma, os países exporadores que suprem eses mercados devem adequar seus processos produivos a fim de incremenar e maner a sua compeiividade. 3 Meodologia 3.1 Fone dos dados Para aender os objeivos proposos, foram uilizados os seguines indicadores de compeiividade: Vanagem Comparaiva Revelada (VCR), Desempenho (DES) e Qualidade da Especialização (QE). Os dados usados na consrução desses indicadores referem-se aos valores FOB (Free on Board) das exporações e imporações mundiais de pescado, expressos em dólares 4
5 Carvalho, Rosemeiry M.; Araújo, Rochele A.; Pinheiro, José C.V. Vanagens comparaivas e desempenho das exporações do seor pesqueiro brasileiro... americanos (US$) enre 2000 e 2008; e aos valores FOB (Free on Board) das exporações e imporações de pescado enre o Brasil e os Esados Unidos para esse mesmo período. Os dados foram obidos juno ao Minisério do Desenvolvimeno, Indúsria e Comércio (MDIC) e ao banco de dados do Sisema Unied Naions Commodiy Trade (UNCOMTRADE). A classificação das mercadorias foi feia de acordo com a nomenclaura do Sisema Harmonizado (SH), com quaro dígios. 3.2 Vanagens Comparaivas Reveladas (VCR) Para analisar as vanagens comparaivas reveladas (VCR), empregou-se o indicador proposo por Balassa (1966), por ser um dos méodos mais uilizados na deerminação de vanagens comparaivas. O VCR, que é denominado como uma medida revelada porque seu cálculo em base em dados observados e demonsra as vanagens comparaivas de um país na produção de deerminado bem ou seor de aividade. Esse indicador pode ser obido por: ( X jb X jw ) ( X B X w ) VCR j = (1) Nessa equação: VCR j = indicador de Vanagem Comparaiva Revelada do j-ésimo produo do seor pesqueiro brasileiro; X jb = valor das exporações brasileiras do j-ésimo ipo de pescado para os EUA; X = X B = valor oal das exporações brasileiras de pescado para os EUA; jw valor das exporações mundiais do j-ésimo ipo de pescado para os Esados Unidos; oal das exporações mundiais de pescado para os Esados Unidos; = períodos de empo. X w = valor foram: Para ober o índice VCR para o seor de pescado como um odo, as variáveis uilizadas X SB = valor das exporações brasileiras de pescado para os EUA; TB exporações brasileiras para os EUA; Esados Unidos; X = valor oal das X SW = valor das exporações mundiais de pescado para os X TW = valor oal das exporações mundiais de pescado para os Esados Unidos; = períodos de empo. Desse modo, em-se: 5
6 PERSPECTIVA ECONÔMICA v. 6, n. 1: 1-15, jan./jun ISSN X ( X SB X SW ) ( X TB X TW ) VCR = (2) O índice VCR fornece um indicador da paricipação relaiva das exporações de uma região ou país. O resulado desse índice demonsra se um país, no caso do presene rabalho, o Brasil, possui vanagem comparaiva no seor pesqueiro, confronando sua paricipação nos mercados nacional e mundial. Desse modo, se o indicador vanagem comparaiva. Por ouro lado, se a (Hidalgo, 1998). VCR j > 1, significa que o país apresena VCR j < 1, há desvanagem comparaiva revelada 3.3 Qualidade da Especialização (QE) O indicador uilizado para analisar a qualidade da especialização (QE) das exporações do seor pesqueiro foi consruído com base na meodologia Consane Marke Share, a qual considera a paricipação de cada país nas imporações oais do grupo de referência (MCT, 1993). A qualidade da especialização foi deerminada em rês eapas. Na primeira, foi calculado o indicador de desempenho (DES), o qual permie evidenciar a evolução do comércio de um dado produo ou seor no mercado de desino, podendo ser calculado por: DES j = ( X jb 0 X jb X 0 ) jb (3) Nessa equação, ésimo período; DES j = Indicador de Desempenho do j-ésimo ipo de pescado brasileiro no - X = valor das exporações brasileiras para os Esados Unidos do j-ésimo jb pescado em um dado período ; e, 0 X = valor das exporações brasileiras para os Esados Unidos do j-ésimo pescado no período inicial ( 0 ). Se jb DES j > 0 significa que, omando-se como base o período inicial, o produo ou seor considerado aumenou sua paricipação no mercado do país imporador. De modo conrário, ou seja, se paricipação. DES j < 0, demonsra-se uma redução na sua 6
7 Carvalho, Rosemeiry M.; Araújo, Rochele A.; Pinheiro, José C.V. Vanagens comparaivas e desempenho das exporações do seor pesqueiro brasileiro... Na segunda eapa, a parir da análise conjuna dos valores médios dos indicadores VCR e DES, os produos foram classificados em quaro grupos: (a) siuação óima: ascendenes e compeiivos (DES>0 e VCR>1), (b) siuação de vulnerabilidade: descendenes e compeiivos (DES<0 e VCR>1); (c) siuação de oporunidades perdidas: ascendenes e não compeiivos (DES>0 e VCR<1); (d) siuação de reirada: descendenes e não compeiivos (DES<0 e VCR<1); A erceira eapa para ober a qualidade da especialização consise em calcular o Índice de Qualidade da Especialização (QE), o qual é dado pela paricipação relaiva do valor médio das exporações de cada grupo, classificados de acordo com sua siuação compeiiva, no valor oal médio das exporações de pescado do Brasil para os Esados Unidos, ou seja: QE = X X gib B (3) Onde X B = valor médio das exporações brasileiras de pescado para os EUA; e, X g i B = valor médio exporações brasileiras para os EUA do g-ésimo grupo de produos. 4 Resulados e discussão Nesa seção, são apresenados e discuidos os resulados obidos com base na esimação dos indicadores de compeiividade. 4.1 Vanagem Comparaiva Revelada (VCR) Com base no valor do índice VCR, verifica-se que o seor pesqueiro brasileiro apresenou vanagem comparaiva revelada no comércio com os Esados Unidos durane odo o período analisado; a parir do ano de 2002, ocorreu uma redução na compeiividade (Tabela 1). Em ermos médios, por um lado, os produos que apresenaram vanagens comparaivas reveladas foram: peixe fresco ou refrigerado ineiro, peixe congelado ineiro e crusáceos. De ouro, os seguines produos apresenaram desvanagem comparaiva: peixes vivos; filé de peixe, carnes de peixe, exceo fígado, ovas e sêmen; peixe salgado, defumado para consumo humano e 7
8 PERSPECTIVA ECONÔMICA v. 6, n. 1: 1-15, jan./jun ISSN X moluscos. Os peixes vivos apresenaram vanagem comparaiva revelada para o período enre 2006 e 2008, em visa, principalmene, do aumeno nas exporações de peixes ornamenais. A pouca exigência de grandes áreas de culivo, o rápido reorno econômico e o alo valor dos peixes ornamenais no mercado, ano nacional quano mundial, esimularam o ingresso de alguns produores na aividade compondo um coningene aproximado de mil e oiocenos produores em odo o Brasil (Vidal Júnior, 2002). Para os peixes frescos, refrigerados e congelados ineiros, a VCR deve-se, denre ouros faores, às esraégias de exporação das grandes empresas exporadoras de ilápia como Neuno e Tilápia Brasil, que esão exporando ilápia congelada ineira. Tabela 1: Vanagem Comparaiva Revelada (VCR) das exporações brasileiras de pescado para os Esados Unidos, 2000 a Table 1: Revealed Comparaive Advanage (VCR) of Brazilian expors of fish o he Unied Saes, 2000 o Anos Código SH Grupos de Produos Média 03 Peixes, crusáceos, moluscos e inverebrados aquáicos 1,385 1,478 1,776 1,692 1,373 1,036 0,931 0,807 0,655 1, Peixe vivo 0,917 0,601 0,476 0,544 0,631 0,899 1,023 1,352 1,793 0, Peixe fresco ou refrigerado ineiro 1,494 1,521 1,338 1,444 1,780 2,157 1,621 1,473 1,335 1, Peixe congelado ineiro 0,536 0,932 1,027 0,998 1,089 1,798 2,435 2,232 1,299 1, Filé de peixe, carnes de peixe, exceo fígado, ovas e sêmen 0,065 0,034 0,046 0,076 0,156 0,258 0,265 0,249 0,233 0,154 Peixe salgado, defumado para consumo humano 0,044 0,018 0,001 0,005 0,013 0,010 0,004 0,000 0,000 0, Crusáceos 1,519 1,463 1,562 1,516 1,461 1,410 1,428 1,478 1,630 1, Moluscos 0,000 0,001 0,015 0,016 0,015 0,010 0,019 0,000 0,000 0,008 Fone: Calculado pelos auores com base nos dados do MDIC (2009) e UNCOMTRADE (2009). De acordo com os dados da Tabela 2, verifica-se que, enre os produos exporados, os mais imporanes são os crusáceos, com uma paricipação média de, aproximadamene, 72%. Os 8
9 Carvalho, Rosemeiry M.; Araújo, Rochele A.; Pinheiro, José C.V. Vanagens comparaivas e desempenho das exporações do seor pesqueiro brasileiro... peixes frescos ou refrigerados ineiros ocupam a segunda posição (15,46%), seguidos dos peixes congelados ineiros (6,87%). Enre os anos de 2000 e 2002, o camarão foi o principal produo de exporação do Brasil. Porém, em 2003 foi deecada uma enfermidade nesse crusáceo, provocada pelo vírus Mionecrose Infecciosa (IMNV), que reduziu a produção e a produividade em áreas conaminadas do Nordese brasileiro, responsável por mais de 60% do valor oal das exporações de pescado do país. Por consequência, afearam-se as exporações e diminuiu a vanagem comparaiva desse produo. Código SH Tabela 2: Paricipação dos grupos de pescado nas exporações brasileiras para os Esados Unidos, 2000 a 2008 (em porcenagem). Table 2: Paricipaion of groups of fish in he Brazilian expors o he Unied Saes, 2000 o 2008 (in percenage). 03 Grupos de Produos Média Peixes, crusáceos, moluscos e inverebrados aquáicos 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100, Peixes vivos 0,68 0,49 0,07 0,05 0,49 0,70 0,76 0,87 1,11 0, Peixe fresco ou refrigerado ineiro 15,80 15,99 15,20 15,25 17,49 16,71 14,02 15,20 13,67 15, Peixe congelado ineiro 2,94 4,90 4,50 4,60 5,12 9,44 12,96 10,91 6,60 6, Filés de peixe, ouras carnes de peixe, exceo fígado, ovas e sêmen 1,52 0,79 1,20 2,00 4,29 7,46 7,95 7,99 7,59 4,53 Peixe salgado, defumado, para consumo humano 0,08 0,03 0,02 0,01 0,00 0,03 0,02 0,01 0,00 0, Crusáceos 78,98 77,79 79,00 78,00 72,52 65,59 64,17 65,03 71,04 72, Moluscos 0,00 0,01 0,01 0,09 0,08 0,07 0,12 0,00 0,00 0,04 Fone: Calculado pelos auores com base nos dados do MDIC (2009) e UNCOMTRADE (2009). Apesar desse declínio, o Brasil ainda se desaca como um dos países com o maior poencial para a exploração da carciniculura. Para Araújo e al. (2007), isso se deve às suas condições climáicas, a exensão erriorial, a abundância dos recursos hídricos, a variedade de espécies adapáveis ao culivo, a disponibilidade de profissionais qualificados, a exisência de mercado consumidor poencial, a disponibilidade de infraesruura de apoio e de escoameno para exporação, de linhas de crédio e de possibilidades da inegração da aquiculura com a 9
10 PERSPECTIVA ECONÔMICA v. 6, n. 1: 1-15, jan./jun ISSN X agropecuária. Essas vanagens comparaivas para o desenvolvimeno da aquiculura indicam que o Brasil poderá ocupar uma posição de desaque no cenário mundial como um dos maiores produores de alimenos aquáicos. Vale lembrar que a aual valorização do real frene ao dólar em ornado o mercado inernacional menos favorável às exporações. Porano, a manuenção da compeiividade do seor depende, ambém, de políicas governamenais como linhas de crédio e subsídios aos aquiculores. 4.2 Desempenho das Exporações (DES) De acordo com os valores do indicador DES, verificou-se que, no período enre 2000 e 2008, o desempenho médio das exporações do seor de pesqueiro brasileiro para os Esados Unidos foi posiivo, porém seu valor foi negaivamene influenciado por rês grupos de produos: peixes vivos; peixe salgado e peixe defumado para consumo humano; moluscos (Tabela 3). Diferenemene, quaro grupos de produos apresenaram desempenho posiivo, já que aumenaram sua inserção no mercado nore-americano. São eles: peixe fresco ou refrigerado ineiro; peixe congelado ineiro; filés de peixe, ouras carnes de peixe, exceo fígado, ovas e sêmen; crusáceos. Deve-se ressalar que o grupo formado por filés de peixe, ouras carnes de peixe, exceo fígado, ovas e sêmen apresenaram desempenho posiivo em odo o período analisado, exceo em 2001, represenando uma fone de esabilidade para os exporadores. Os peixes vivos melhoraram seu desempenho na exporação enre 2005 e Tal resulado deve ser crediado, principalmene, às exporações de peixes ornamenais, pois os Esados Unidos são grandes imporadores e conribuem para aumenar o desempenho desse produo. Os crusáceos apresenaram desempenho negaivo enre 2005 e Tal resulado pode ser aribuído à redução das exporações de camarão, que represenava em orno de 79% do valor do pescado exporado para os Esados Unidos no início do período, e que passou a sofrer 10
11 Carvalho, Rosemeiry M.; Araújo, Rochele A.; Pinheiro, José C.V. Vanagens comparaivas e desempenho das exporações do seor pesqueiro brasileiro... sucessivas reduções a parir de Essa diminuição de exporações foi moivada por uma peição, feia pelos pescadores nore-americanos de camarão, para serem aplicados os direios anidumping. Essa peição daa de 31 de dezembro de 2003 e se coloca conra imporações de camarão congelado ou enlaado provenienes do Brasil e de ouros cinco países (Equador, Índia, China, Tailândia e Vienã) Tabela 3: Desempenho das exporações brasileiras de pescado para os Esados Unidos, 2000 a Table 3: Performance of Brazilian expors of fish o he Unied Saes, 2000 o Código SH Grupos de Produos Média Peixes, crusáceos, 03 - moluscos e inverebrados aquáicos 0,186 0,527 0,600 0,350 0,070 0,030-0,091-0,237 0, Peixes vivos -0,145-0,916-0,903-0,023 0,105 0,152 0,153 0,238-0, Peixe fresco ou refrigerado ineiro 0,200 0,467 0,528 0,495 0,132-0,086-0,125-0,340 0, Peixe congelado ineiro 0,972 1,323 1,451 1,349 2,429 3,533 2,367 0,711 1, Filés de peixe, ouras carnes de peixe, exceo fígado, ovas e sêmen -0,380 0,201 1,059 2,820 4,260 4,397 3,784 2,813 2,369 Peixe salgado, defumado, para consumo humano -0,502-0,963-0,797-1,000-0,584-0,734-0,897-0,995-0, Crusáceos 0,168 0,522 0,580 0,240-0,111-0,163-0,251-0,314 0, Moluscos -0,918-0,985 0,863 0,459-0,053 0,630 0,000 0,000-0,001 Fone: Calculado pelos auores com base nos dados do MDIC (2009) e UNCOMTRADE (2009). Esa peição aingiu os produores de camarão de caiveiro no Brasil, essencialmene no Nordese, cujos cusos são muio inferiores aos dos concorrenes nore-americanos. Em janeiro de 2004, o Deparameno de Comércio dos EUA acaou a ação dos pescadores; com isso, no mesmo ano, o camarão brasileiro eve sua paricipação reduzida nas exporações nacionais. O pedido inicial dos pescadores americanos era de uma sobreaxa da ordem de 60%, para compensar o dumping (venda por preços abaixo do cuso, com prejuízo à produção local). Para a China, a sobreaxa foi bem maior. Os chineses são concorrenes direos dos brasileiros, no segmeno de pore médio. Enreano, diane dos acidenes climáicos ocorridos na Ásia, como o maremoo que rouxe perdas da ordem de US$ 40 milhões para a aquiculura, segundo levanameno da 11
12 PERSPECTIVA ECONÔMICA v. 6, n. 1: 1-15, jan./jun ISSN X Organização das Nações Unidas, será difícil para os EUA enconrar subsiuo para aender a sua demanda. Abre-se, dessa maneira, uma boa perspeciva de mercado para o Brasil (Pinazza, 2005). Tabela 4: Valores médios, classificação dos indicadores e siuação compeiiva do seor pesqueiro brasileiro no mercado dos Esados Unidos, 2000 a Table 4: Average values, classificaion of he indicaors and he compeiive siuaion of he Brazilian fisheries secor in he Unied Saes marke, 2000 o Código Grupos de Produos DES VCR Classificação Siuação 03 - Peixes, crusáceos, moluscos e inverebrados Ascendene Óima aquáicos 0,180 1,237 Compeiivo Peixe vivo -0,167 0,915 Descendene Não compeiivo Reirada Peixe, fresco ou frio, ineiro 0,159 1,574 Ascendene Compeiivo Óima Peixe congelado ineiro 1,767 1,372 Ascendene Compeiivo Óima Filé de peixe, carnes de peixe, exceo fígado, ovas e sêmen 2,369 0, Ascendene Não compeiivo Peixe salgado, defumado Descendene Não para consumo humano -0,809 0,011 compeiivo Crusáceos 0,084 1,496 Ascendene Compeiivo Moluscos -0,001 0,008 Descendene Não compeiivo Fone: Calculado pelos auores com base nos dados do MDIC (2009) e UNCOMTRADE (2009). Oporunidade Perdida Reirada Óima Reirada Os valores dos indicadores VCR e DES indicam que o seor pesqueiro brasileiro esá em uma siuação óima de compeiividade no mercado nore-americano; esse seor é compeiivo e em aumenado sua paricipação relaiva nas imporações desse país. Tal resulado ambém é observado para os seguines produos: peixe, fresco ou frio, ineiro; peixe congelado ineiro; e, crusáceos (Tabela 4). Deve-se desacar que os filés de peixe, carnes de peixe, exceo fígado, ovas e sêmen represenam uma oporunidade perdida para o seor, pois, mesmo não sendo compeiivos, aumenaram a sua paricipação nas exporações ao longo de odo o período analisado. Desse modo, os invesimenos nas unidades de beneficiameno de pescado que visem aumenar a sua compeiividade podem er reorno posiivo, se a produção for direcionada para esse mercado. Os peixes vivos, salgados, defumados para consumo humano e os moluscos não são compeiivos e 12
13 Carvalho, Rosemeiry M.; Araújo, Rochele A.; Pinheiro, José C.V. Vanagens comparaivas e desempenho das exporações do seor pesqueiro brasileiro... esão reduzindo sua paricipação nas exporações, caracerizando uma siuação de reirada desse mercado. 4.3 Qualidade da Especialização (QE) De acordo com os valores de QE, verifica-se que 95,3% das exporações de pescado esão concenradas em produos com siuação compeiiva óima. Em razão disso, são compeiivos e esão ganhando paricipação no mercado consumidor. Essa concenração faz com que o comporameno desse grupo influencie posiivamene comporameno do seor (Tabela 5). Verifica-se, ainda, que 4,1% do valor exporado correspondem a produos em siuação de oporunidade perdida, ou seja, esão aumenando a sua paricipação no mercado, porém não são compeiivos. Adicionalmene, 0,6% esão em siuação de reirada, pois perderam paricipação no mercado e não são compeiivos. Tabela 5: Qualidade da especialização das exporações do seor pesqueiro brasileiro para os Esados Unidos, 2000 a Table 5: Qualiy of specializaion of he expors Brazilian fishing secor o he Unied Saes, 2000 o Siuação Produos QE Peixe fresco ou refrigerado ineiro Óima Peixe congelado ineiro 0,953 Crusáceos Oporunidade Filés de peixe, ouras carnes de peixe, exceo fígado, ovas e 0,041 perdida sêmen Reirada Peixe vivo Peixe salgado, defumado para consumo humano 0,006 Moluscos Toal 1,000 Fone: Calculado pelos auores com base nos dados do MDIC (2009) e UNCOMTRADE (2009). Com base nesses resulados, é possível afirmar que o Brasil em possibilidades de aumenar sua inserção no mercado inernacional, porém se fazem necessários invesimenos em novos processos produivos que aumenem a compeiividade dos produos, bem como em novas formas de divulgação capazes de criar ou aumenar a demanda por esses produos. 13
14 PERSPECTIVA ECONÔMICA v. 6, n. 1: 1-15, jan./jun ISSN X 5 Conclusões O Brasil é um dos maiores produores e exporadores mundiais de pescado, endo os Esados Unidos como um dos principais parceiros comerciais. Analisando a evolução da compeiividade do seor pesqueiro brasileiro no mercado nore-americano, com base na combinação dos valores dos indicadores de vanagem comparaiva revelada, de desempenho e de qualidade da especialização calculados para o período enre 2000 e Com isso, foi possível idenificar os produos que apresenam vanagens comparaivas, a evolução do desempenho das exporações e a qualidade da especialização, permiindo a idenificação de novas oporunidades de negócios e invesimenos nesse seor. Considerando os produos pesqueiros de forma agregada verificou-se que o seor esá em siuação compeiiva óima no mercado nore-americano, iso é, mosra-se compeiivo e em aumenado sua paricipação nas imporações dos Esados Unidos. No que se refere à qualidade da especialização, verificou-se que a paua de exporações esá concenrada em peixes ineiros (congelados, frescos e refrigerados) e crusáceos, que ambém apresenam siuação compeiiva óima. No enano, apenas os peixes congelados ineiros e os filés aumenaram sua paricipação nas exporações ao longo desse período, enquano os crusáceos perderam paricipação e reduziram a sua vanagem comparaiva no mercado americano. Por ouro lado, devemos ressalar que os peixes vivos e os filés de peixe, que aualmene esão, respecivamene, em siuação de reirada (descendenes e não compeiivos) e de oporunidades perdidas (ascendenes e não compeiivos), represenam imporanes opções de negócios e invesimenos no comércio enre o Brasil e os Esados Unidos. Isso se explica, pelo fao de que, a parir de 2005, os peixes vivos erem apresenado vanagens comparaivas, aumenado sua paricipação no valor oal das exporações e melhorado seu desempenho no mercado exerno. Em seguida, o segundo grupo, dos filés de peixes, demonsrou imporane paricipação no valor das exporações, evidenciando o aumeno da sua inserção no mercado, mesmo sem apresenar vanagens comparaivas. 14
15 Carvalho, Rosemeiry M.; Araújo, Rochele A.; Pinheiro, José C.V. Vanagens comparaivas e desempenho das exporações do seor pesqueiro brasileiro... Referências ARAÚJO, R.A.; BEZERRA, L.N.; LIMA, M.R. de; CARVALHO, R.M Análise das Exporações Brasileiras de Pescado: Diversificação ou Concenração de Produos e Desino? In: SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA, 59, Belém, Anais... Belém, p BALASSA, B Tariff reducions and rade in manufacures among indusrial counries. American Economic Reviews, 56(3): FAVARET FILHO, S.H Panorama da Pesca maríima no mundo e no Brasil. BNDES Seorial. Disponível em: hp:// acesso em: 13/11/2007. HIDALGO, A.B Especialização e compeiividade do nordese no mercado inernacional. Revisa Econômica do Nordese, 29(especial): KRUGMAN, P.R.; OBSTFELD, M Economia Inernacional: eoria e políica. 6ª ed., São Paulo, Makron Books, 576 p. MCT Minisério da Ciência e Tecnologia. Esudo da compeiividade da indúsria brasileira. Campinas, MCT, vol. 1, 334 p. MDIC Minisério do Desenvolvimeno, Indúsria e Comercio Exerior. Sisema ALICE. Disponível em: hp:// acesso em: 10/04/2009. PINAZZA, L.A EUA axam camarão brasileiro. Revisa Agroanalysis, 25(2): UNCOMTRADE Sisema unied naions commodiy rade. Disponível em: hp://comrade.un.org, acesso em: 20/04/2009. VIDAL JÚNIOR, M.V As boas perspecivas para a pisciculura Ornamenal. Panorama da Aquiculura, 12(3):
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