Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Gabinete da Desembargadora Marilia de Castro Neves Vieira

Transcrição

1 DÉCIMA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº Apelante: MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO Apelado: JARDIM DA SAUDADE EMPREENDIMENTOS LTDA. Relator: Des. Marilia de Castro Neves Vieira TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS. IPTU PROGRESIVO. TIP e TCLPP. Execução fiscal desafiada por embargos do devedor. Ilegalidade da cobrança da TCLPP e TIP e inconstitucionalidade da cobrança de alíquota progressivas do IPTU, anteriores à edição da Lei 9.868/99. Pretensão do Município de atribuir efeito ex nunc ao disposto no art. 27 do referido diploma legal. Impossibilidade. Taxa de Iluminação Pública que não preenche os requisitos de divisibilidade e especificidade que a vinculam, razão por que não se pode considerá-la legítima. Incidência do verbete n º 670, do STF. Taxa de Coleta de Lixo e limpeza pública, em que a coleta de lixo público e limpeza de logradouros públicos são serviços de natureza uti universi, situação que atrai a rubrica global, não deixando espaço para a dissociação da coleta do lixo domiciliar. Efeito ex tunc que se confere ao provimento judicial em desfecho, desde que nulos são os atos praticados sob a égide de lei inconstitucional. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça e deste E. Tribunal de Justiça. Recurso manifestamente improcedente a que se nega seguimento na forma do disposto no art. 557 caput do Código de Processo Civil. D E C I S Ã O JARDIM DA SAUDADE EMPREENDIMENTOS LTDA. interpôs embargos à execução fiscal aforad apelo Município do Rio de Janeiro alegando, em resumo, inconstitucionalidade da cobrança de alíquotas progressivas no IPTU, assim como na TIP e TCLLP. TJERJ Ap /2006 p. 1

2 A defesa do Município defende a constitucionalidade da cobrança progressiva bem como da TIP e da TCLLP. Desate pela sentença de fls. 139/41, do juízo da 2ª Vara da Fazenda Pública, da Comarca da Capital, de procedência em relação ao período de 1998 e declarar a inconstitucionalidade em relação ao exercício de 1999, mandando excluir do credito exeqüendo os valores relativos ao IPTU no que tiverem excedido a alíquota mínima de 0,35%. Custas pelo Município e honorários de 10% (dez por cento) sobre o valor dado à causa. Recurso, tempestivo do vencido, renovando a tese defensiva, assegurand que o IPTU cobrado é proporcional e não progressivo, não se encontrando, de conseguinte, vulnerados os arts. 156 e 182, da Carta Magna. Defende, ainda, a constitucionalidade da TCLLP e da TIP, vindo parecer da d. Procuradoria de Justiça, pelo desprovimento do recurso. Este, o relatório. Já se encontra sedentimentado nesta Corte o entendimento no sentido de que a cobrança da TCLLP e da TIP são ilegais e que a cobrança da alíquota progressiva do IPTU anterior à edição da Lei 9.868/99 é inconstitucional. Confiram-se, a esse propósito, os acórdãos cujas ementas a seguir se transcrevem: APELACAO CIVEL; JDS. DES. MAURO MARTINS - DECIMA QUARTA CAMARA CIVEL. APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. SENTENÇA QUE EXCLUI DO CRÉDITO EXEQUENDO OS VALORES RELATIVOS ÀS TAXAS DE IPTU PROGRESSIVO, TCLLP E TIP. INCONSTITUCIONALIDADE DA COBRANÇA DO IPTU EM ALÍQUOTAS PROGRESSIVAS. ILEGALIDADE DA COBRANÇA DE TCLLP E TIP. FARTA JURISPRUDÊNCIA. RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO APELACAO CIVEL. JDS. DES. PAULO SERGIO PRESTES - Julgamento: 17/01/ SEGUNDA CAMARA CIVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. EXECUÇÃO FISCAL. TJERJ Ap /2006 p. 2

3 COBRANÇA DE ALÍQUOTAS PROGRESSIVAS DE IPTU, ANTES DA EC 29/2000. ILEGALIDADE NA COBRANÇA DA TCLLP E TIP, PORQUE AUSENTES AS CARACTERÍSTICAS DE ESPECIALIDADE E DIVISIBILIDADE. INCONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA PELO STF DA PROGRESSIVIDADE DA ALÍQUOTA DO IPTU E DA COBRANÇA DE TCLLP E TIP. SÚMULAS 668 E 670 DO STF. APLICAÇAO DA ALÍQUOTA MÍNIMA DO IPTU NO TOCANTE A IMÓVEL NÃO RESIDENCIAL, A INCIDIR SOBRE O VALOR VENAL. DESPROVIMENTO DO RECURSO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA EM REEXAME NECESSÁRIO APELACAO CIVEL. DES. ADEMIR PIMENTEL - DECIMA TERCEIRA CAMARA CIVEL. TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. COBRANÇA DE IPTU, TCLLP E TIP. SÚMULA Nº. 668 DO EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. EFEITOS EX TUNC. EMBARGOS PARCIALMENTE ACOLHIDOS EXCLUINDO, QUANTO AO IPTU, O PERCENTUAL QUE TIVER EXCEDIDO À ALÍQUOTA MÍNIMA A INCIDIR SOBRE O VALOR VENAL DO IMÓVEL, QUE DIGA RESPEITO AOS IMÓVEIS NÃO RESIDENCIAIS, O QUE ENCONTRA RESSONÂNCIA NA JURISPRUDÊNCIA DO EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA QUE SE AFASTA POR HAVER A CONTRIBUINTE DECAÍDO DE PARTE MÍNIMA. PARCIAL PROVIMENTO AO PRIMEIRO COM BASE NO ART. 557, 1º-A, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, NEGANDO-SE SEGUIMENTO AO SEGUNDO RECURSO COM BASE NO ART. 557, DO CPC.I - Nos termos da Súmula nº. 668 do Supremo Tribunal Federal, é inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da Emenda Constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana;ii - TCLLP e TIP inoculadas com o vírus da ilegalidade, conforme numerosos precedentes jurisprudenciais;iii - Inúmeros julgados, tanto do egrégio Supremo Tribunal Federal, quanto do colendo Superior Tribunal de Justiça, prestigiam o entendimento de que os TJERJ Ap /2006 p. 3

4 efeitos da declaração de inconstitucionalidade na cobrança do tributo IPTU do município do Rio de Janeiro devem ter eficácia ex tunc e não ex nunc;iv - Precedentes do Supremo Tribunal Federal amparam o entendimento de que a criação de alíquotas diferenciadas em razão da destinação do imóvel não fere a Constituição;V - Na dicção do art. 475, 3º, do Código de Processo Civil, não há que se falar em reexame necessário quando a sentença estiver fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do tribunal superior competente;vi - Se nos termos do parágrafo único do art. 21 do CPC, se um litigante decair de parte mínima do pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e honorários, decaindo a Autora, apenas, no tocante à aplicação da alíquota mínima no que diz respeito aos imóveis não-residenciais, deve o Município responder, integralmente, pelas custas e honorários advocatícios; VII - Provimento parcial ao primeiro recurso com base no art. 557, 1º-A, do Código de Processo Civil para afastar a sucumbência recíproca, negando-se seguimento ao segundo apelo com base no art. 557, do Código de Processo Civil, levando-se em conta os inúmeros precedentes jurisprudenciais APELACAO CIVEL.DES. MARIA INES GASPAR - Julgamento: 10/01/ DECIMA SETIMA CAMARA CIVEL. DIREITO TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS DO DEVEDOR. IPTU, TAXA DE COLETA DE LIXO E LIMPEZA PÚBLICA (TCLLP) E TAXA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA (TIP). Embargos à execução em que postula o embargante a procedência dos embargos para desconstituir a autuação relativa ao IPTU e às TCLLP e TIP do exercício de 1997, diante do reconhecimento da decadência/prescrição, ou, caso ultrapassada a prejudicial, da inconstitucionalidade da cobrança do imposto, de forma progressiva, antes da EC nº 29/00, e das referidas taxas. Preliminar de revelia do embargado afastada. Sentença que exclui do crédito exeqüendo os valores relativos às taxas TCLLP e TIP e, quanto ao IPTU, no que tiver excedido à alíquota mínima a incidir sobre o valor venal do imóvel, que diga respeito a TJERJ Ap /2006 p. 4

5 imóveis residenciais. Conjunto probatório dos autos que não aponta irregularidade no lançamento do crédito tributário. Decadência inocorrida. Executado que comparece aos autos antes da fluência do prazo prescricional. Pretensão ao reconhecimento da inconstitucionalidade com efeitos ex nunc afastada. Enunciado nº 08, do Encontro de Desembargadores de Câmaras Cíveis, realizado em Angra dos Reis, em julho/06. Pedido procedente, em parte. Sentença mantida. Desprovimento dos recursos. Por outro lado, as Súmulas 668 e 670 do Supremo Tribunal Federal há muito decidiram ser inconstitucional a cobrança de alíquotas progressivas para o IPTU anterior à EC/29 e ilegal a taxação do serviço de iluminação pública: Súmula nº STF - 24/09/2003 É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da Emenda Constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana. Súmula nº STF - 24/09/2003 O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa. Incabível, como assente pela d. Procuradoria de Justiça, a pretensão do Município para que a declaração de inconstitucionalidade do ITPU, considerado progressivo, produza efeitos para o futuro. Vale a transcrição da seguinte do parecer ministerial que esgotou com maestria o assunto: Por fim, falta razoabilidade na pretensão do Município para que a declaração de inconstitucionalidae do IPTU, considerado progressivo, produza efeitos para o futuro. A repetição do indébito deverá ser ex tunc, uma efz que não se adquirem direitos fundados em atos ilegais e, muito menos, inconstitucionais. A excepcionalidade prevista na Lei 9.868/99 é dirigida ao STF e aplicada, tão somente, em excepcionais hipóteses no controle concentrado de constitucionalidade. TJERJ Ap /2006 p. 5

6 Na verdade, com este argumento, pretende o ente municipal se esquivar da sua responsabilidade de restituir o que indevidamente cobrou, alegando que existira, in casu, relevante interesse público. Esta tese não seduz na medida em que sendo a Administração Pública jungida ao principio da estrita legalidade não lhe é licito coadunar com atos eivados de ilegalidade ou de inconstitucionalidade. Ao revés cabe ao Poder Público extirpar qualquer ato administrativo que não esteja sob o manto da legalidade. Destarte, em razão do poder de autotulela caberia à Administração se abster de praticar atos ilegais, sendo vedado o locupletamento decorrente de cobrança indevida de tributos Nesta linha de raciocínio, tem-se que o julgado singular deu ao conflito ao solução que se impunha e em consonância com a jurisprudência desta Corte e do Colendo STJ, mostrando-se o recurso manifestamente improcedente pelo que nego-lhe seguimento na forma do caput, do art. 557, do Código de Processo Civil. Rio de Janeiro, 31 de agosto de Marilia de Castro Neves Vieira Desembargador Relator TJERJ Ap /2006 p. 6 Certificado por DES. MARILIA DE CASTRO NEVES A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço Data: 02/09/ :41:32Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: Tot. Pag.: 6