TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL Nº

Transcrição

1 AÇÃO N : DECLARATÓRIA ORIGEM : 12ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL APELANTE : MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO APELADOS : MARIO DRUMOND e outros RELATOR : DES. ROBERTO GUIMARÃES ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL. DECLARATÓRIA. COBRANÇA DE IPTU PROGRESSIVO, TIP E TCLLP. ALEGAÇÃO DE MANIFESTA INCONSTITUCIONALIDADE DA COBRANÇA EFETUADA PELA MUNICIPALIDADE. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA QUE SE MANTÉM. RECURSO REQUERENDO ATRIBUIÇÃO DE EFEITOS EX NUNC À DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DOS TRIBUTOS REFERIDOS. SENTENÇA BEM FUNDAMENTADA, QUE ENFRENTOU OS PONTOS ESSENCIAIS À COMPOSIÇÃO DO CONFLITO, NÃO MERECENDO QUALQUER REFORMA. IPTU PROGRESSIVO. INCONSTITUCIONALIDADE. SÚMULA Nº 668 DO S.T.F. TCLLP E TIP. ILEGALIDADE. FALTA DOS REQUISITOS DA ESPECIFICIDADE E DIVISIBILIDADE. ATRIBUIÇÃO DE EFEITOS EX NUNC. DESCABIMENTO. PRECEDENTES. DESPROVIMENTO DO RECURSO. Apelação Cível nº fls. 1

2 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº , em que é apelante MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO e apelado MARIO DRUMMOND e outros, ACORDAM os Desembargadores que integram a Décima Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO ao recurso, nos termos do voto do Relator. Rio de Janeiro, de de DES. ROBERTO GUIMARÃES RELATOR Apelação Cível nº fls. 2

3 AÇÃO N : DECLARATÓRIA ORIGEM : 12ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL APELANTE : MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO APELADOS : MARIO DRUMOND e outros RELATOR : DES. ROBERTO GUIMARÃES VOTO Relatório a fls. Em que pesem os argumentos deduzidos pelo Município Apelante, traduzidos no fato de que a cobrança das taxas TIP e TCLLP é constitucional e em se tratando de IPTU proporcional e não, progressivo, não violando nenhum dispositivo legal da Constituição Federal, seu recurso não merece provimento. Sob esse aspecto, a questão ora discutida é bastante conhecida dos Tribunais. Na questão referente à cobrança do IPTU, cabe destacar a Súmula nº 668 do E. Supremo Tribunal Federal, consoante transcrição a seguir : É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da Emenda Constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana. Ademais, como bem destacou a culta Procuradora de Justiça, em seu parecer de fls. 361/367, O IPTU é tributo cuja progressividade foi estabelecida no art. 67 do Código Tributário Apelação Cível nº fls. 3

4 do Município do Rio de Janeiro, com a redação dada pela Lei 2.080/93, a qual teve a sua inconstitucionalidade declarada por unanimidade na Argüição de Inconstitucionalidade nº 07/00, assim ementada: ARGUIÇÃO INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 67 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO MUNICIPAL-CTM, NA REDAÇÃO PROVENIENTE DA LEI Nº 2080, DE 30/12/93. IPTU. ALÍQUOTA PROGRESSIVA. INCONSTITUCIONALIDADE MANIFESTA, ASSIM A DESAFIAR RECONHECIMENTO, COM RESSALVA PARA O DISPOSTO NOS 2º E 4º DO ART. 182 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. O IPTU é um tributo cujo fato gerador é o vaiar venal do imóvel (CTN, art. 33), logo, um imposto de natureza real, por isso não admitindo variedade de alíquotas em função da capacidade econômica do contribuinte. É, pois, inconstitucional a progressividade estabelecida no art. 67 do Código Tributário do Município do Rio de Janeiro, com a redação que lhe deu a Lei nº 2080/93, por malferir o disposto no 1º do art. 156 de Carta da República, que somente admita alíquota progressiva como instrumento de garantia do cumprimento da função social da propriedade, consoante dispõem os 2º e 4º do art. 182 da Constituição Federal. Procedência da Argüição. Ementário: 18/2001 N.09-07/06/2001 (Argüição de Inconstitucionalidade nº , Des. Laerson Mauro, Julgado em 05/02/2001). O vício antes analisado, não mais foi ostentado a partir do exercício de 2000 (redação Apelação Cível nº fls. 4

5 dada pela Lei nº 2.955/99), como se constata da v. Decisão proferida na Argüição de Inconstitucionalidade (005/2002), no âmbito desta Colenda Corte, declarou constitucional a cobrança efetuada nos termos da Lei nº 2.955/99, verbis: ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE dirigida a disposições do Código Tributário do Município do Rio de Janeiro, criando alíquotas diferenciadas para cobrança do Imposto sobre Propriedade Urbana Predial e Territorial, conforme o imóvel seja ou não edificado. A primeira norma argüida representa legítima utilização de mecanismos tributários para estimular o melhor aproveitamento da propriedade urbana, resistindo à imobilização meramente especulativa. A segunda previsão inclui-se no poder de isentar de carga tributária que se reconhece ao ente público competente para instituí-la. Improcedência do pedido. (Proc. Nº , Rel. Exmo Des. CELSO GUEDES, 31/05/2003). Com efeito, a Lei nº 2.955/99, não padece de vício de inconstitucionalidade, pois não adotou critério progressivo de tributação. A partir da edição da Emenda Constitucional 29/2000, que modificou o texto do artigo 156, 1º da Carta Magna, foi reconhecida a possibilidade de fixação de alíquotas de IPTU diferenciadas atendendo a critérios de: I)valor do imóvel; II)ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso do imóvel. Apelação Cível nº fls. 5

6 A Lei nº 2.955/99 estabelece critério de não progressividade, mas de diferenciação imóveis residenciais, não residenciais e não edificados. Trata-se de diferenciação de alíquotas pela natureza do imóvel em razão de política fiscal e não da capacidade contributiva. Por certo, referidas alíquotas são únicas e fixas, diferenciadas tão somente em razão de elemento objetivo, e não variáveis em razão da base de cálculo do imóvel. Com relação à TIP e a TCLLP, já restaram amplamente sedimentadas a inconstitucionalidade e ilegalidade dessas taxas, tendo em vista a ausência dos requisitos da especificidade e individualidade. A pretensão deduzida pela municipalidade de atribuir efeitos ex nunc à declaração de inconstitucionalidade dos tributos referidos não se mostra possível nas lides individuais, onde o que está sendo julgado não é a lei. Tal possibilidade criada pela Lei nº existe. Entretanto, somente para o controle concentrado de constitucionalidade, em caráter excepcional. Sobre a matéria, sobreleva ressaltar inúmeros julgados deste E. Tribunal, verbis : Execução fiscal. Embargos. IPTU progressivo. Inconstitucionalidade. Súmula nº 668 do S.T.F. TCLLP e TIP. Ilegalidade. Falta dos requisitos da especificidade e divisibilidade. Executada em regime de liquidação extrajudicial. Incidência dos juros de mora e da multa Apelação Cível nº fls. 6

7 apenas até a data do decreto de liquidação. Honorários advocatícios corretamente fixados. (Apelação Cível nº Rel. Des. Fabrício Bandeira Filho Décima Sétima Câmara Cível Julg. em 02/05/2007) EMBARGOS DE DEVEDOR. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU TIP - TCLLP. Cobrança relativa ao período de Taxas que são inconstitucionais, à medida que carecem de especificidade e divisibilidade que são imprescindíveis aos serviços cobrados mediante recolhimento de taxas. Ofensa ao art. 145, II e 2º da Magna Carta. Precedentes inúmeros do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e dos Tribunais Superiores. Manutenção integral da sentença. NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO, nos termos do art. 557 do CPC. (Apelação Cível nº Rel. Jds. Des. Sirley Abreu Biondi Décima Terceira Cível Dec. em 24/04/07) APELAÇÃO. Embargos à execução fiscal. IPTU progressivo, taxa de coleta de lixo e limpeza pública (TCLLP) e taxa de iluminação pública (TIP). Declaração de inconstitucionalidade dos respectivos lançamentos, limitada, quanto ao primeiro, ao que exceder da alíquota mínima correspondente a imóveis não residenciais. Atribuição de efeitos ex nunc; descabimento; precedentes. Sucumbência recíproca bem reconhecida, posto que a execução prosseguirá pelo saldo devedor do IPTU. Desprovimento de ambos os recursos. (Apelação Cível nº Rel. Des. Jessé Torres Segunda Câmara Cível Julg. em 18/04/2007) Apelação Cível nº fls. 7

8 APELAÇÃO CÍVEL. TRIBUTÁRIO. IPTU PROGRESSIVO. EXERCÍCIO TAXAS DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA E COLETA DE LIXO. INCONSTITUCIONALIDADE. EFEITOS EX NUNC EM CONTROLE DIFUSO. IMPOSSIBILIDADE. 1. O artigo 67 da Lei n. 691/84, do Município do Rio de Janeiro, não foi recepcionado pela Constituição da República, porque estabeleceu a progressividade do IPTU em função da área e da localização dos imóveis, circunstâncias ligadas à capacidade contributiva.2. As taxas, TIP e TCLLP, são inconstitucionais, tendo em vista que remuneram serviços públicos executados em benefício da população em geral (uti universi), o que torna inviável a cobrança do tributo, porque ofende o art. 145, II e 2º, da Constituição da República.3. A modulação de efeitos temporais da declaração de inconstitucionalidade só ocorre na ação direta perante o STF - controle concentrado.recurso que não segue. (Apelação Cível nº Rel. Des. Jose Carlos Paes Décima Quarta Câmara Cível Dec. em 07/03/2007) Haja vista a sucumbência recíproca, correto o decisum ora atacado quando estabeleceu a compensação dos honorários advocatícios. Pelo exposto, VOTO no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao recurso, mantendo-se, na íntegra, a sentença recorrida. Rio de Janeiro, de de DES. ROBERTO GUIMARÃES RELATOR AÇÃO N : DECLARATÓRIA Apelação Cível nº fls. 8

9 ORIGEM : 12ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL APELANTE : MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO APELADOS : MARIO DRUMOND e outros RELATOR : DES. ROBERTO GUIMARÃES RELATÓRIO Ação proposta por Mário Drummond, Cleber da Motta Valle, Giorgio Bozzetti, João Carlos Luiz Vaz Marques Leiria, Antonio Almeida Gonçalves, Silva e Rodrigo Ltda, José Carlos Pereira Lima e Alberto José Brandão em face do Município do Rio de Janeiro, na qual postulam sentença que declare a inexistência de relação jurídica de débito fiscal relativa a IPTU, TCLLP e TIP, vários exercícios, condenando-se o réu a restituir suposto indébito. Como causa de pedir sustentam ser inconstitucional, tanto a adoção de alíquotas progressivas para o IPTU, como a imposição das taxas pré-faladas. Contestação às fls. 68/98, na qual o Município, quanto ao mérito, sustenta a legalidade da imposição do IPTU, bem como das taxas TIP e TCLLP, antes aduzindo preliminares. No mais, registra ser possível a aplicação de efeitos ex nunc em matéria tributária. Em sentença de fls. 304/313, o douto magistrado a quo julgou procedente em parte o pedido, quanto ao autor Mário Drummond, para, anular, ante a inconstitucionalidade reconhecida, tanto os lançamentos fiscais relativos ao IPTU, no que tiverem excedido à alíquota de 0,15%, pois imóvel residencial, como os lançamentos fiscais que Apelação Cível nº fls. 9

10 se refiram às taxas TIP e TCLLP, estes, até o exercício de 1998, e improcedente o pleito de restituição de indébito. Despesas processuais proporcionalmente distribuídas (cinqüenta por cento para cada qual), compensando-se os honorários na mesma proporção, certo que, quanto ao Município, taxa judiciária e custas judiciais à título de reembolso percentual. Pertinente ao autor Giorgio Bozzetti, em relação ao imóvel situado na Avenida Sernambetiba, nº 3300, bloco 2, aptº 2.101, inscrição imobiliária de nº , julgou extinto o processo com fulcro no que dispõe o art. 267, inc. VI, do CPC, e no que diz respeito aos três imóveis de sua comprovada propriedade, improcedente o pedido. Condenação em despesas processuais (taxa e custas judiciais), eventual diferença e honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento), incidente sobre o valor atribuído à causa, de forma proporcional. Por fim, em relação aos autores Cleber da Motta Valle, João Carlos Luiz Vaz Marques Leiria, Antonio Almeida Gonçalves, Silva & Rodrigo Ltda, José Carlos Pereira Lima e Alberto José Brandão, julgou extinto o processo, com fulcro no que dispõe o art. 267, inc. VI, do CPC, condenando-os também no pagamento das despesas processuais, eventual diferença e honorários no valor de 10% (dez por cento) sobre o valor atribuído à causa, proporcional a cada qual. Inconformado, recorre o Município Réu, sustentando, em suas razões de fls. 316/351: a)o necessário reconhecimento da prescrição da totalidade do exercício de 1998; b)haja vista a existência de execução fiscal, a propositura da presente ação declaratória constitui estratagema empregado para burlar a obrigação de depósito prevista no art. 16, 1º, da Lei nº 6830/80; c) a constitucionalidade do IPTU até o exercício de Apelação Cível nº fls. 10

11 1999, haja vista, em seu entendimento, a sua característica de proporcionalidade, e não de progressividade; d)a legalidade e constitucionalidade da TCLLP e da TIP; e)a declaração de inconstitucionalidade dos dispositivos legais que embasaram a cobrança dos tributos discutidos nesta ação só poderia produzir efeitos ex nunc; f)a aplicação dos efeitos ex nunc em matéria tributária; g)a decisão vergastada violaria o disposto nos artigos 6º, 30, inc. III, 145, I e 156 da Constituição Federal e o princípio da segurança jurídica e da boa-fé e; h)o excepcional interesse público municipal. Por derradeiro, requer a condenação in totum dos apelados a arcar com os ônus da sucumbência. Não houve apresentação de contrarrazões (fls. 354 verso). Os ilustres representantes do Parquet, em ambos os graus de jurisdição, opinam pela improcedência dor recurso (fls. 355/356 e 361/367, respectivamente), requerendo a culta Procuradora de Justiça, em reexame necessário, que seja esclarecido que a anulação dos lançamentos fiscais relativos ao IPTU, no que tiverem excedido a alíquota de 0,15%, refere-se, tão somente, aos exercícios de 1998 e É o relatório. À douta Revisão. Rio de Janeiro, de de DES. ROBERTO GUIMARÃES RELATOR Apelação Cível nº fls. 11 Certificado por DES. ROBERTO GUIMARAES A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço Data: 08/06/ :37:47Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: Tot. Pag.: 11