DÉCIMA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº Desembargador GILBERTO DUTRA MOREIRA

Transcrição

1 1 Apelante Apelado Município do Rio de Janeiro Venerável e Arquiepiscopal Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo Apelação Cível. Execução fiscal. IPTU, TCLLP e TIP referentes aos exercícios de 1989 a 1991 e Exceção de pré-executividade da apelada pela ilegalidade das taxas de TCLLP e TIP. Sentença reconhecendo a prescrição. Ajuizamento da ação em 04/06/1994, em tempo hábil para o processamento. Paralisação injustificada do feito por quase sete anos. Demora no processamento do feito que não pode ser imputada à municipalidade. Súmula nº 106 deste Egrégio Tribunal de Justiça. Prescrição não caracterizada. Taxa de Iluminação Pública e Coleta de Lixo e limpeza pública - TIP e TCLLP. Exações incidentes sobre serviços de caráter genérico, inexistindo os requisitos de especialidade e divisibilidade. Caráter uti universi. Uso comum e não mensurável de tais serviços, disponibilizado à população em geral. Ilegalidade da cobrança. Ausência de pagamento. Declaração de inconstitucionalidade com efeitos ex tunc. Matéria pacificada, inclusive pelo STF, que detém a competência de tal declaração. Art. 27 da Lei 9.868/99. Provimento parcial do recurso, para determinar o regular prosseguimento do feito no tocante ao IPTU, na forma do art º- A do C.P.C..

2 2 DECISÃO MONOCRÁTICA Trata-se de execução fiscal, ajuizada pelo Apelante em face da Apelada em face do Apelante pretendendo a cobrança de IPTU, TCLLP e TIP, referente aos exercícios de 1989 a 1991 e A ré ofereceu a exceção de pré-executividade de fls. 08/14 invocando ilegalidade na cobrança das taxas TCLLP e TIP. O Ministério Público opinou às fls. 80 no sentido do acolhimento da prescrição. Na sentença de fls. 82/83, o douto Juízo a quo julgou extinto o feito, acolhendo a prescrição, sendo os honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) do valor do crédito exequendo. O autor apelou, às fls. 85/93, requerendo a reforma da sentença, sustentando a inocorrência da prescrição. 96/102). Em contra-razões, o apelado prestigiou o julgado (fls. O Ministério Público, às fls. 126/126 verso e a douta Procuradoria de Justiça, às fls.132/135, opinaram no sentido do desprovimento do recurso. É o relatório. Inicialmente, a ação foi proposta quando ainda não se havia operado a prescrição dos tributos cobrados, em 04/06/1994, tendo o feito permanecido paralisado por quase sete anos, como se verifica às fls. 03 verso e seguintes. Ocorre que, havendo a inscrição da dívida, o prazo prescricional de cinco anos estabelecido pelo art. 173, inciso I, do Código Tributário Nacional fica estendido pelo período de 180 dias na forma prevista no 3º do art. 2º da Lei 6.830, in verbis: Art. 2º - Constitui Dívida Ativa da Fazenda Pública aquela (...) 3º - A inscrição, que se constitui no ato de controle administrativo da legalidade, será feita pelo órgão competente para apurar a liquidez e certeza do crédito e

3 3 suspenderá a prescrição, para todos os efeitos de direito, por 180 dias, ou até a distribuição da execução fiscal, se esta ocorrer antes de findo aquele prazo. Inobstante, a demora no andamento processual não se deu por culpa do exequente, mostrando-se injusto o reconhecimento de prescrição, que só seria possível se o credor concorresse com o atraso, na forma da Súmula nº 106 do Colendo Superior Tribunal de Justiça, in verbis: Súmula: 106 Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivo inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da argüição de prescrição ou decadência. Neste sentido, já decidiu este Egrégio Tribunal de Justiça e, inclusive, esta Colenda Câmara: EXECUÇÃO FISCAL. TERMO DA PRESCRIÇÃO. Se a interrupção daquela se dá no curso do processo, prevalece a regra do art. 8, par. 2 da Lei n 6830/80, por ter caráter processual, sobre a do art. 174, par. único, I, do Cód. Trib. Nacional, de cunho material. O mero ajuizamento da execução fiscal interrompe a prescrição. Por outro lado, o atraso não pode ser imputado ao credor, já que o processo se desenvolve por impulso oficial. Recurso provido. ( ª Câmara Cível - Des. Carlos Eduardo Passos - 17/11/2004) EXECUÇÃO FISCAL. Prescrição. Interrupção. Conflito aparente de normas. Artigos 8º, 2º, da Lei 6.830/80 e 174, parágrafo único, I, do CTN. Norma contida no art. 146, III, b, da Constituição da República. A prescrição é instituto de direito material e, como tal, cabe à Lei Complementar estabelecer normas gerais sobre o tema, na forma que determina a Constituição. Contudo, a suspensão ou interrupção da prescrição, por serem de índole processual, podem ser tratadas por Lei Ordinária, prescindindo-se de quorum diferenciado. Por isso, não fere a Constituição a norma do art. 8º, 2º, da LEF que, por ser norma especial, deve ser aplicada às execuções fiscais. Enunciado nº 106 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. O artigo 262 do CPC traz o princípio do impulso oficial. Isso quer dizer que, embora o processo comece por iniciativa das partes,

4 4 deverá desenvolver-se por impulso oficial, devido à sua instrumentalidade. Deverão observar tal princípio tanto o juiz quanto os seus auxiliares. Conforme dispõe o art. 141, I e II, do CPC, cabe ao escrivão redigir os mandados, bem como promover, entre outras tarefas, as citações e intimações. O que se observa neste processo é que em momento algum o mandado de citação foi extraído para que pudesse o oficial de justiça cumpri-lo. A inação se deu única e exclusivamente por parte da máquina do judiciário, não podendo ser a Fazenda prejudicada por tal inoperância. Provimento do recurso. ( Apelação Cível - Des. Sergio Cavalieri Filho - 24/03/2004 2ª Câmara Cível) Consigne-se, outrossim, que a Taxa de Iluminação Pública e Coleta de Lixo e limpeza pública - TIP e TCLLP são inconstitucionais, tendo em vista que tais exações incidem sobre serviços de caráter genérico, desprovidos dos requisitos de especialidade e divisibilidade, devendo, ipso facto, ser remunerados por meio de impostos e não por taxas. Os serviços de iluminação e de limpeza públicas e de coleta de lixo são inespecíficos e indivisíveis, eis que destinados a beneficiar um número indeterminado de cidadãos o que não comporta identificação do contribuinte, razões suficientes ao acolhimento dos embargos opostos com a finalidade de obstar a cobrança perpetrada pela Fazenda Municipal. É cediço que os serviços públicos revestidos de caráter uti universi, beneficiam a população como um todo, podendo qualquer cidadão deles se utilizar sem que se possa aferir seu uso individual, ao revés se constata o uso comum e não mensurável dos serviços. Justiça: Neste sentido, já decidiu este Egrégio Tribunal de APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS DE DEVEDOR. COBRANÇA DE INSTITUIÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, IMPOSTO PREDIAL E TERRITORIAL URBANO - IPTU, TAXA DE COLETA DE LIXO E LIMPEZA PÚBLICA - TCLLP E, TAXA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA - TIP. PROCEDÊNCIA

5 5 DO PEDIDO. INSURGÊNCIA. IMPROVIMENTO DO RECURSO VOLUNTÁRIO E, EM REEXAME NECESSÁRIO, CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA. (...) No que tange à Taxa Coleta de Lixo e Limpeza Pública - TCLLP, iniludível que a exação improcede, visto que impregnada de eiva de inconstitucionalidade, segando se lê no parágrafo 2 do artigo 145 da Carta Magna, porquanto "As taxas não poderão ter base de cálculo própria de imposto". De igual sorte, quanto à Taxa de Iluminação Pública - TIP, não há como prevalecer a sua exigência diante do texto dos artigos 77 e 79, inciso II e III do Código Tributário Nacional e, do artigo 145, inciso II, da Carta Magna, que impõe que em hipóteses que tais, os serviços públicos sejam específicos e divisíveis, exigências essas não presentes na hipótese. lmprovimento do recurso voluntário e, em reexame necessário, confirmação da sentença. (Apelação Cível Des. Albano Mattos Correa - 29/03/2005 6ª Câmara Cível) AÇÃO ORDINÁRIA. REPETIÇÃO DE INDÉBITO TRIBUTÁRIO. IPTU PROGRESSIVO, TIP E TCLLP. PROGRESSIVIDADE. INADMISSIBILIDADE. No Sistema Tributário Nacional é o IPTU um imposto real, cuja natureza não admite a progressividade fiscal, porque essa, decorrendo da capacidade econômica do contribuinte, só é compatível com os impostos pessoais. A taxa de Iluminação Pública (TIP) e de Coleta de Lixo e de Limpeza Pública (TCLLP) são tributos de cobrança inviável, vez que têm por fato gerador serviço específico, não mensurável, indivisível e insusceptível de ser imputado a determinado contribuinte. Improvimento do recurso do Município. Manutenção da sentença. (Apelação Cível: ª Câmara Cível - Des. Marlan Marinho - 16/11/2004 ) A jurisprudência atual é unânime ao aplicar efeitos ex tunc à declaração de inconstitucionalidade, principalmente no caso em que os valores cobrados não foram pagos, não tendo sido incluídos no orçamento do Município, como na presente hipótese. Nesse sentido, a súmula nº 123 deste Tribunal de Justiça, em sua versão devidamente retificada:

6 6 Súmula nº IPTU PROGRESSIVO. TAXA DE COLETA DOMICILIAR DE LIXO E ILUMINAÇÃO PÚBLICA COBRANÇA INDEVIDA. EFEITOS EX TUNC. SISTEMA CONSTITUCIONAL EM VIGOR Indevidas, com efeitos EX TUNC, as cobranças do IPTU progressivo e de taxa de coleta domiciliar de lixo e iluminação pública, antes da vigência dos diplomas legais que se adequaram ao sistema constitucional em vigor, podendo ser alegado inclusive em exceção de Préexecutividade. REFERÊNCIA: Súmula da Jurisprudência Predominante nº /12/2006 Des Salim José Chalub. Votação unânime. De qualquer forma, o Excelso Supremo Tribunal Federal já se pronunciou pela aplicação dos efeitos ex tunc, órgão que detém a competência para efetuar tal declaração, na forma do art. 27 da Lei de 10/11/1999, que se transcreve: Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. Isto posto, ex vi do art º-A do C.P.C., dou parcial provimento ao recurso para determinar o regular prosseguimento do feito no tocante ao IPTU. Rio de Janeiro, 04 de março de GILBERTO DUTRA MOREIRA Desembargador Relator Certificado por DES. GILBERTO DUTRA MOREIRA A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço Data: 04/03/ :58:42Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: Tot. Pag.: 6