O TRABALHO DA MULHER E A REFORMA TRABALHISTA LUCIANA BARCELLOS SLOSBERGAS ADVOGADA

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1 O TRABALHO DA MULHER E A REFORMA TRABALHISTA LUCIANA BARCELLOS SLOSBERGAS ADVOGADA luciana.b.s@uol.com.br

2 A HISTÓRIA DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO Primeiras Civilizações - as mulheres eram altamente veneradas pela sociedade em que viviam, pois, possuíam o domínio sobre a sua fecundidade. Civilização Minóica que se desenvolveu na ilha de Creta entre 2700 e 1450 a.c. Século XVIII indica que o número de mulheres envolvidas no comércio era bastante significativo. No ano de 1776, o comércio de Vila Rica tinha setenta por cento de seus estabelecimentos administrados por mulheres.

3 A HISTÓRIA DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO Aquelas mulheres que rompiam com a relação matrimonial e buscavam uma vida autônoma que apesar de marginalizadas não deixavam de impressionar pelas estratégias de sobrevivência Não raro, a prostituição aparecia como uma forma de sobrevivência à exclusão e à miséria. Século XVIII - Sistema patriarcal = sistema escravista. Revolução Industrial - desenvolvimento tecnológico e grande crescimento da indústria. Para Alice Monteiro de Barros, o processo de industrialização vivido pelo mundo europeu no século XIX caracterizou-se pela exploração dessas chamadas meias- forças, referindo-se especificamente à mulher e ao menor. BARROS, A. M. de. Curso de Direito do Trabalho. 6ªed. São Paulo: LTr, 2010

4 PROTEÇÃO AO TRABALHO DA MULHER NO ÂMBITO INTERNACIONAL OBJETIVO: evitar situações injustas, promover a igualdade, a não discriminação de gênero e a igualdade de remuneração. Coal Mining Act, de 1842; Factory Act, de 1844; Factory and Workshop Act, de 1878; A França, em 1874; O Protocolo de Berlim, de 1890; A Itália, em 1902; A Convenção de Berna 1906; proibindo o trabalho noturno, em local insalubre, em minas de carvão e jornada limitada.

5 PROTEÇÃO AO TRABALHO DA MULHER NO ÂMBITO INTERNACIONAL Em 1919, ocorreu a Conferência da Paz. Nesse evento, foi firmado o Tratado de Versalhes, o qual criou a OIT (Organização Internacional do Trabalho), organismo que iria se encarregar de criar mecanismos para proteger as relações entre empregados e empregadores no âmbito internacional por meio de convenções e recomendações. Nele, as Convenções nº 3, 103 e 183 impõem restrições ao trabalho da mulher em local insalubre, bem como o trabalho noturno e em condições perigosas e penosas. As Convenções nº 4, 41 e 89 impõem restrições ao trabalho da mulher no regime de horas extras e com peso. Por fim, temos ainda as Convenções nº 100 e 111, que tratam da igualdade de remuneração, oportunidade e de tratamento em relação ao homem.

6 PROTEÇÃO AO TRABALHO DA MULHER NO BRASIL Decreto nº A, de 17 de maio de 1932: Já os artigos 379 e 387 da CLT, influenciados pelo texto do Decreto nº A, proibiam o trabalho noturno, bem como o trabalho da mulher nos subterrâneos, nas minerações em subsolo, nas pedreiras e nas obras de construção pública ou particular. Contudo, a Lei nº 7.855, de 24 de outubro de 1989, revogou expressamente esses artigos, todavia, algumas proibições ainda persistiram, tais como as do trabalho extraordinário (artigo 376 da CLT) e as do trabalho com emprego da força muscular superior a 20 quilos para trabalho contínuo e 25 quilos para trabalho ocasional (artigo 390, da CLT). Porém, artigos foram revogados pela Lei nº de 27 de junho de 2001, por não se alinharem à realidade social e do trabalho no país.

7 PROTEÇÃO AO TRABALHO DA MULHER NO BRASIL A proteção à gestante e a maternidade também tiveram tratamento especial e forte influência das Convenções Internacionais. Por força do artigo 7º, XVIII, da Constituição Federal, a licença maternidade passou a ser de 120 dias, período superior ao previsto nas normas internacionais. A Lei nº , de 09 de setembro de 2008, criou o Programa Empresa Cidadã, cujo objetivo é assegurar, por mais 60 dias, a licença maternidade. Tal prorrogação só é garantida à empregada se a empresa aderir ao programa e, se a prorrogação for requerida pela empregada até o final do primeiro mês após o parto, devendo ainda ser concedida imediatamente depois da fruição da licença maternidade. Por fim, o advento da Lei /2017, que alterou significativamente mais de 100 pontos da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), poderá impactar de sobremaneira a gestante e a mulher trabalhadora. É o que abordaremos no Item 4, mais adiante.

8 A MULHER E O MERCADO DE TRABALHO Ao analisarmos esse fenômeno, não podemos deixar de levar em conta uma grande mudança de valores sociais. Fatores que contribuíram para essa ascensão: 1. queda da taxa de fecundidade - década de 60; 2. o aumento no nível de instrução.

9 PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística de Estudos Socioeconômicos), as mulheres ganham o equivalente a 75,7% do valor pago aos homens para desempenho das mesmas funções. Segundo dados da pesquisa Perfil das Mulheres Responsáveis pelos Domicílios no Brasil, desenvolvida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de mulheres responsáveis pelos domicílios brasileiros aumentou de 18,1% em 1990 para 24,9% em Em 2010, essa proporção cresceu para 38,7%, o que representa um aumento de 13,7 pontos percentuais. Esses dados revelam outra peculiaridade que acompanha a mulher: a sua terceira jornada. Além de cumprir sua jornada de trabalho normal, a mulher ainda precisa cuidar dos afazeres domésticos em quase 90% dos casos. IBGE. Estatísticas de Gênero: uma análise dos resultados do Censo Demográfico, Disponível em:

10 PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO

11 A MULHER E A IGUALDADE DE GÊNERO No mundo 51% do mercado de trabalho. No Brasil: 2007, as mulheres representavam 40,8% do mercado formal de trabalho; 2016, passaram a ocupar 44% das vagas; Entre 2012 e 2016, com a crise econômica, o índice de desemprego subiu de 7,9% para 12%. Entre as mulheres, o desemprego no fim de 2016 era de 13,8%, enquanto atingiu 10,7% para os homens, conforme dados do IBGE.

12 MULHERES EM NÚMEROS - CARG0/FUNÇÃO 55% DOS APRENDIZES SÃO DO SEXOO FEMININO 58% SÃO ESTAGIÁRIAS 42,6% TRAINEES 35,5% QUADRO FUNCIONAL 38,8% SUPERVISÃO 31,3% GERÊNCIA 13,6% EXECUTIVO 11% CONSELHO ADM.

13 DESIGUALDADE SALARIAL

14 JORNADA DE TRABALHO ENTRE HOMENS E MULHERES RENDIMENTO MÉDIO REAL POR HORA

15 Segundo uma recente pesquisa: licença maternidade e suas consequências no mercado de trabalho do Brasil, realizada pela FGV, 48% das mães saem de seus trabalhos nos primeiros 12 meses de vida após ter seus filhos. Dados da pesquisa Licença maternidade e suas consequências no mercado de trabalho do Brasil, da Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV)... - Veja mais em

16 A ilustração foi criada pela polonesa Agata Hop, que ganhou o terceiro lugar do concurso de cartoons sobre igualdade de gênero, organizado pela ONU Mulheres em parceria com a Comissão Europeia, a Cooperação de Desenvolvimento Belga e o Centro de Informação Pública da ONU em Bruxelas em : bit.ly/onumulheres-pequim20-cartoons

17 O TRABALHO DA MULHER E A REFORMA TRABALHISTA O texto da lei /2017 alterou mais de 100 pontos da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), sendo que as principais mudanças dizem respeito à prevalência dos acordos coletivos sobre a lei. Alguma delas podem impactar, de sobremaneira, a mulher trabalhadora. As normas relativas à segurança e medicina do trabalho, os direitos previstos em normas internacionais e os direitos e garantias constitucionais, não estão sujeitas a nova lei.

18 VEJAMOS, A SEGUIR, OS PONTOS QUE PODERÃO SER OBJETO DE LIVRE NEGOCIAÇÃO, AFETANDO DIRETAMENTE O TRABALHO DAS MULHERES.

19 JORNADA DE TRABALHO E A REDUÇÃO DO TEMPO DE INTERVALO ARTIGOS 58 a 62, da Consolidação das Leis do Trabalho, teve profundas alterações com a nova lei /2017. O texto anterior previa a limitação da duração da jornada de trabalho pela Constituição Federal em 8 horas diárias e 44 horas semanais. Com as alterações advindas com a Reforma Trabalhista, a única limitação será do total de 220 horas por mês, ou seja, a jornada diária e semanal poderão sofrer alterações.

20 JORNADA DE TRABALHO E A REDUÇÃO DO TEMPO DE INTERVALO Outro ponto que poderá ser negociado entre empresas e sindicatos é o tempo da pausa para refeição e descanso durante a jornada de trabalho, que encontra previsão no artigo 71 e seguintes da CLT. Anteriormente, esse intervalo era de uma hora no mínimo, e, de duas horas no máximo. Com a Reforma, poderá ser reduzido para até 30 minutos. Outra novidade está na alteração do 4º do artigo 71, que com a nova redação, estabelece o pagamento apenas do horário suprimido com o acréscimo de 50%.

21 PARCELAMENTO DAS FÉRIAS ANUAIS Anteriormente, as férias eram concedidas às trabalhadoras de uma só vez, podendo ser divididas em dois períodos apenas em casos excepcionais. Com a nova redação do 1º, do artigo 134, as férias serão concedidas por ato do empregador, em um só período, nos 12 meses. Porém, caso a trabalhadora concorde, também poderão ser usufruídas em até três períodos, sendo que um deles não poderá ser inferior a quatorze dias corridos. A novidade ficou por conta do 3º do artigo 134, que veda o início do período das férias no período de dois dias que antecede feriado ou dia de repouso semanal remunerado.

22 PROTEÇÃO À MATERNIDADE E TRABALHO EM LOCAL INSALUBRE No caso das gestantes, com a aprovação do texto da Reforma, houve profunda alteração do artigo 394-A. O afastamento das gestantes permanecerá automático apenas quando a insalubridade for constatada em seu grau máximo. Já as lactantes não serão mais afastadas automaticamente, qualquer que seja o grau de insalubridade, a menos que apresentem atestado de saúde exigindo tal medida. Os horários para amamentação serão definidos em acordo individual e formalizados por escrito. Quando o empregador não tiver como realocar a empregada gestante em outra função considerada salubre, o texto-base da Reforma Trabalhista prevê que a gestação seja considerada de risco, com afastamento da empregada e direito ao salário-maternidade durante todo o período longe da empresa.

23 DESCANSO ESPECIAL PARA AMAMENTAÇÃO O artigo 396 da CLT prevê que a mulher tem direito a dois descansos especiais, de meia hora cada um, para amamentar o filho até que esse complete seis meses de idade. Com a alteração do texto legal, isso significa que, mediante acordo entre patrão e empregada, as partes poderão definir quais serão tais horários, tornando o instituto flexível. Em outras palavras, os horários de amamentação serão definidos em acordo individual e formalizados por escrito, caso a empresa não ofereça espaços como berçário para amamentação, obrigatórios nas empresas com mais de 30 funcionários.

24 REVOGAÇÃO DO ARTIGO 384 DA CLT Desde 1988, existe uma discussão sobre a questão da recepção do referido dispositivo pela atual Constituição. Muito se disse que o referido artigo feria o princípio constitucional da isonomia, devendo ser aplicado também aos homens, ou, ter sua aplicação totalmente suprimida. Em novembro de 2014, o STF firmou a tese de que o dispositivo foi recepcionado pela Constituição da República de 1988 em virtude da dupla jornada de trabalho das mulheres. De fato, o intervalo era justificado com base no maior desgaste físico das mulheres e maior necessidade de repouso devido à dupla jornada. Com a reforma, ao invés de priorizar uma melhor regulamentação do instituto, seja incluindo homens e mulheres na proteção, seja delimitando o intervalo para certos tipos de atividades, o legislador optou por retirar totalmente o benefício.

25 ASSÉDIO NO AMBIENTE DE TRABALHO Enunciado ANAMATRA - 2ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho, que é dever do Estado a tutela de reparação ampla e integral quando restar violada a moral das pessoas humanas, sendo inconstitucional a tarifação do dano extrapatrimonial pelo salário do trabalhador. Ao revés, devem ser aplicadas todas as normas existentes no ordenamento jurídico que possam imprimir, ao caso concreto, a máxima efetividade constitucional ao princípio da dignidade da pessoa humana. ENUNCIADO 5 COMISSÃO 2 DANO EXTRAPATRIMONIAL: EXCLUSIVIDADE DE CRITÉRIOS APLICAÇÃO EXCLUSIVA DOS NOVOS DISPOSITIVOS DO TÍTULO II-A DA CLT À REPARAÇÃO DE DANOS EXTRAPATRIMONIAIS DECORRENTES DAS RELAÇÕES DE TRABALHO: INCONSTITUCIONALIDADE. A ESFERA MORAL DAS PESSOAS HUMANAS É CONTEÚDO DO VALOR DIGNIDADE HUMANA (ART. 1º, III, DA CF) E, COMO TAL, NÃO PODE SOFRER RESTRIÇÃO À REPARAÇÃO AMPLA E INTEGRAL QUANDO VIOLADA, SENDO DEVER DO ESTADO A RESPECTIVA TUTELA NA OCORRÊNCIA DE ILICITUDES CAUSADORAS DE DANOS EXTRAPATRIMONIAIS NAS RELAÇÕES LABORAIS. DEVEM SER APLICADAS TODAS AS NORMAS EXISTENTES NO ORDENAMENTO JURÍDICO QUE POSSAM IMPRIMIR, NO CASO CONCRETO, A MÁXIMA EFETIVIDADE CONSTITUCIONAL AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (ART. 5º, V E X, DA CF). A INTERPRETAÇÃO LITERAL DO ART. 223-A DA CLT RESULTARIA EM TRATAMENTO DISCRIMINATÓRIO INJUSTO ÀS PESSOAS INSERIDAS NA RELAÇÃO LABORAL, COM INCONSTITUCIONALIDADE POR OFENSA AOS ARTS. 1º, III; 3º, IV; 5º, CAPUT E INCISOS V E X E 7º, CAPUT, TODAS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

26 MUITO OBRIGADA!