ESCREVENDO SOBRE A PESQUISA COTIDIANO ESCOLAR: TEMPOS E PRÁTICAS

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1 ESCREVENDO SOBRE A PESQUISA COTIDIANO ESCOLAR: TEMPOS E PRÁTICAS Resumo Juliana Ramos de Faria i Rafaela Aparecida de Abreu ii Renata Morais Lima iii Encontramos-nos para a construção deste texto através de nossa presença no Grupo Tempos, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Diversidade (NEPED), vinculado à Faculdade de Educação (FACED) da (UFJF), na qual estamos no momento, vivenciando a pesquisa intitulada "Cotidiano escolar: tempos e práticas. A pesquisa está sendo realizada em uma Escola Municipal localizada no interior de Minas Gerais que atende alunos e alunas da Educação Infantil ao nono ano do Ensino Fundamental. Essa pesquisa tem o objetivo de problematizar com as professoras da escola, os usos dos tempos no/do cotidiano escolar, buscando apreender e transformar os usos que fazem dos tempos na prática pedagógica. Utilizamos como metodologia a pesquisa no/do/com o cotidiano escolar, que nos permite experienciar os espaçostempos escolares com todos os sujeitos e em suas múltiplas redes de saberesfazeres. Como materialidade de estudo, utilizamos o caderno de narrativas construído pelas professoras da escola, e as narrativas construídas pelas bolsistas que narram a prática pedagógica. Semanalmente, bolsistas do Grupo Tempos acompanham as salas de aula da Educação Infantil ao 4º ano do Ensino Fundamental, narrando o cotidiano dessas turmas. As problematizações/reflexões dos indícios encontrados sobre os usos dos tempos na prática pedagógica ocorrem em encontros quinzenais com as professoras e gestoras da escola. Acreditamos que é possível experienciar os múltiplos tempos que permeiam o cotidiano escolar, pois os tempos Chrónos, Kairós e Aión coexistem em importância. Acreditamos na importância da pesquisa em que participamos, pois ao tecermos a pesquisa junto com os sujeitos escolares, as discussões se tornam mais ricas, nos permitindo compreender como que o tempo é experienciado no cotidiano escolar, além de nos possibilitar buscar estratégias outras para a prática pedagógica. Estratégias estas que buscam estabelecer uma relação harmoniosa entre os tempos. Palavras-chave: cotidiano; tempo; ensino fundamental. Desenvolvimento da pesquisa Este texto emergiu a partir da pesquisa intitulada "Cotidiano escolar: tempos e práticas", desenvolvida pelo Grupo Tempos, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em 02164

2 2 Educação e Diversidade (NEPED), vinculado à Faculdade de Educação (FACED) da (UFJF). Esta pesquisa está sendo realizada em uma Escola Municipal, no interior de Minas Gerais, que atende alunos e alunas da Educação Infantil ao nono ano do Ensino Fundamental com o objetivo de problematizar junto às professoras dessa escola, os usos dos tempos no/do cotidiano escolar, buscando apreender e transformar os usos que fazem dos tempos na prática pedagógica. Nossa preocupação no Grupo Tempos acerca das problematizações e reflexões sobre a maneira como vivenciamos o tempo, tem relações direta com o descolamento de nossa percepção. Uma aparente dissociação, trazida à nossa sociedade pelo advento da ciência moderna. O que pretendemos dizer é que experimento e experiência ganham contornos diferentes. As implicações a partir daí, nos são mostradas por Francis Bacon (apud AGAMBEN), Em certo sentido, a expropriação da experiência estava implícita no projeto fundamental da ciência moderna. A experiência, se ocorre espontaneamente, chama-se acaso, se deliberadamente buscada recebe o nome de experimento [...] (2005, p. 25). Nessa expropriação, o sujeito é retirado da experiência, por consequência, sua vivência se transforma em instrumentos e números (AGAMBEN, 2005). Porque não dizer, que agora ela é cronometrada no relógio. A metodologia de pesquisa que utilizamos tem relações com essas reflexões sobre nossa atual percepção temporal, ou melhor, é uma forma outra de problematizarmos nossas relações cotidianas e como percebermos nossas relações com o tempo. Na tessitura dessa pesquisa, utilizamos como perspectiva teórico-políticoepistemológico-metodológica (OLIVEIRA; SGARBI, 2008) a pesquisa no/do/com o cotidiano escolar, que nos permite experienciar os espaçostempos escolares com todos os sujeitos e em suas múltiplas redes de saberesfazeres. Como materialidade de estudo, utilizamos o caderno de narrativas construído pelas professoras da escola, e as narrativas construídas pelas bolsistas que narram a prática pedagógica. O caderno é um lugar no qual as professoras podem nos contar sobre suas vivências, incluindo assim, 02165

3 3 o ser professora, lembrando que somos seres integrais e por isso mesmo as professoras não estão dissociadas de seu cotidiano e de sua vida como um todo. A pesquisa do cotidiano nos desafia à imperiosa busca de outras formas de pesquisar/escrever a escola, em sua realidade vivida, que, longe de ser linear e de poder ser captada por categorias, produz descontinuidades, sinuosidades e espaços fuga, exige a agudez dos sentidos, da sensibilidade, da intuição, e a fruição dos insights, das sínteses. Exige, também e principalmente, conhecimentos teóricos múltiplos e complexos. É ilusão considerar que se possa captar o cotidiano desprovido de sólidos ferramentais teóricos. Sua complexidade não se oferece gratuitamente à apreensão nem à compreensão (AZEVEDO, 2003, p.119). A pesquisa no/do/com o cotidiano escolar nos permite compreender a complexidade existente no espaçotempo da escola, captar os saberes, os valores e as crenças que são tecidas no interior desta, além de nos possibilitar envolver e considerar todos os sujeitos escolares, (re)significando nossos/seus saberesfazeres. Para Azevedo, "as narrativas parecem ser a melhor maneira de apreender o cotidiano" (2003, p.128). As narrativas nos permite compreender a vida cotidiana em sua complexidade. Revelam-nos o emaranhado de saberesfazeres tecidos no cotidiano escolar, e nos permite vivenciar com todos os sujeitos, os diferentes espaçostempos da escola. As narrativas expressam as redes tecidas na escola, revelam as potencialidades de expressões das relações, dos enredamentos, dos fluxos, das redes, do que, de fato, como descrição e/ou identificação do fato acontecido tal e qual aconteceu [...]. As narrativas tecem, ao mesmo tempo, diferentes lugares praticados pelos sujeitos narradores e diferentes relações de fazeressaberes desses narradores praticantes (FERRAÇO, 2008, p. 31). As narrativas não descrevem as situações e não revelam apenas os fatos acontecidos. Elas revelam a complexidade do cotidiano escolar e a forma como os conhecimentos são tecidos pelos diferentes sujeitos em seus diferentes saberesfazeres

4 4 As narrativas expressam emoções e sentimentos. Para vivenciar o dia-a-dia da escola e para compreender como os sujeitos escolares experienciam o tempo, bolsistas do Grupo Tempos estão mergulhadas no cotidiano da escola durante o ano de 2014, narrando os indícios sobre os usos do tempo no cotidiano escolar. Estamos acompanhando, semanalmente, turmas da Educação Infantil ao 4 ano do Ensino Fundamental. As problematizações e reflexões dos indícios encontrados sobre os usos dos tempos na pratica pedagógica, ocorrem em encontros quinzenais com as professoras e gestoras da escola. Nesses encontros, problematizações sobre as diferentes noções de tempo e as diferentes formas de nos relacionarmos no e com o tempo, permeiam as discussões. Essas discussões são organizadas a partir dos indícios encontrados no caderno de narrativas das professoras, e estas narrativas são construídas a partir de atividades propostas pelo Grupo Tempos. O cotidiano escolar é formado por múltiplos tempos. O tempo Chrónos é o tempo cronometrado, concebido como um tempo igual para todos os sujeitos. O tempo Kairós é o tempo das oportunidades, um tempo dedicado à criação. E o tempo Aión é o tempo do acontecimento, o tempo subjetivo de cada sujeito (KOHAN, 2004). Acreditamos que é possível experienciar os múltiplos tempos que permeiam o cotidiano escolar, pois os tempos Chrónos, Kairós e Aión coexistem em importância. Escolhemos como ponto de partida essa noção temporal trazida por Kohan para iniciar nossas reflexões junto aos participantes da pesquisa, mas nossa proposta é de uma abertura para as possibilidades de relação com o tempo. Acreditamos na importância da pesquisa na qual nos inserimos. A pesquisa Cotidiano escolar: tempos e práticas é de suma importância para o contato e a participação dos atores da escola, pois ao tecermos a pesquisa junto com os sujeitos escolares, as discussões se tornam mais ricas, nos permitindo compreender como o tempo é experienciado no cotidiano escolar, além de nos possibilitar buscar estratégias outras para a prática pedagógica. Estratégias estas que buscam estabelecer uma relação harmoniosa entre os tempos. Referências 02167

5 5 AGAMBEN, Giorgio. Infância e História - Destruição da Experiência da História. Belo Horizonte: Editora UFMG, AZEVEDO, Joanir Gomes de. Itinerâncias da pesquisa. In: GARCIA, R. L. (Org.). Método: pesquisa com o cotidiano. Rio de Janeiro: DP&A, p FERRAÇO, Carlos Eduardo. A pesquisa em Educação no/do/com o Cotidiano das Escolas. In: FERRAÇO, Carlos Eduardo; PEREZ, Carmen Lúcia Vidal; OLIVEIRA, Inês Barbosa de. (orgs.). Aprendizagens cotidianas com a pesquisa: novas reflexões em pesquisa nos/dos/com os cotidianos das escolas. Petrópolis: DP et Alii, Cotidiana e Pesquisa em Educação. p KOHAN, Walter Omar. A infância da educação: o conceito devircriança. In: (Org.). Lugares da infância: filosofia. Rio de Janeiro: DP&A, p OLIVEIRA, Inês Barbosa de; SGARBI, Paulo. Estudos do Cotidiano & Educação. - Belo Horizonte: Autêntica Editora, (Coleção Temas & Educação). i Graduanda em Pedagogia pela. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq/UFJF do Grupo Tempos, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Diversidade (NEPED), vinculado à Faculdade de Educação (FACED) da (UFJF). ii Graduanda em Pedagogia pela. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq/UFJF do Grupo Tempos, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Diversidade (NEPED), vinculado à Faculdade de Educação (FACED) da (UFJF). iii Bacharelanda em Filosofia pela. Especialista em Filosofia Moderna e Contemporânea, pela mesma Universidade. Professora de Filosofia no Ensino Médio da rede Estadual de Minas Gerais. Voluntária no Grupo Tempos, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Diversidade (NEPED), vinculado à Faculdade de Educação (FACED) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)