COTIDIANO ESCOLAR E CURRÍCULOS PENSADOSPRATICADOS: NEGOCIAÇÃO E TESSITURA
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- Salvador Molinari Vieira
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1 COTIDIANO ESCOLAR E CURRÍCULOS PENSADOSPRATICADOS: NEGOCIAÇÃO E TESSITURA Rafael Marques Gonçalves Universidade do Estado do Rio de Janeiro ProPEd Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior rafamg02@gmail.com Resumo: O presente texto apresenta uma pesquisa de doutorado, em fase de desenvolvimento, bem com as noções com as quais problematizo os currículos pensados praticados no/do cotidiano escolar, espaço tempo onde aposto na emergência de fazeres saberes tecidos nas múltiplas redes de conhecimentos, significações e políticas, que possam problematizar o currículo oficialmente proposto/prescrito. Como metodologia lanço mão das noções das pesquisas nos/dos/com os cotidianos e o trabalho com as narrativas cotidianas, na busca de perceber sentir as realidades sociais a partir de sua complexidade e dos inúmeros (des)encontros entre o falado, o percebido e o praticado. Interrogar a elaboração curricular cotidiana permite pensar os currículos como espaço de negociação, ambivalência e fronteira em que se encontram e dialogam diferentes culturas e experiências sociais. Considero que a legitimação dos currículos pensados praticados, seus usos, práticas e táticas são cada vez mais necessárias para o cenário da pesquisa educacional, por auxiliar na defesa dos currículos como criação cotidiana pressupondo o desinvisibilizar dos aspectos culturais que envolvem sua negociação e tessitura. Palavras-chave: Cotidiano escolar; Currículo; Cultura. Introdução Das minhas experiências e escritas falas desenvolvidas durante os últimos tenho aguçado o gosto por conversar com professorxs, partilhar fazeres saberes e, com nossas práticas, perceber a multiplicidade das potências e alternativas emancipatórias daquilo que tecemos cotidianamente nas escolas: o currículo, especificamente os currículos pensados praticados (OLIVEIRA, 2012). Levo em consideração que estes colocam em movimento dinâmicas contra-hegemônicas que, em muitas das vezes, são invisíveis aos modos estabelecidos de legitimação do conhecimento, mas que podem evidenciar ações sensíveis e criadoras de processos educativos emancipatórios em diferentes dimensões da escola. Quais caminhos emancipatórios ou repressivos estes sinalizam quando efetivamente acontecem nas salas de aulas? Quais redes de significados e práticas tecidas podem ser desinvisibilizadas quando compreendemos o entre-lugar de negociação e embate de sentido dos currículos pensados praticados? As questões, anteriormente apontadas, nutrem a tessitura desta pesquisa nos/dos/com os cotidianos escolares, pautada na perspectiva de que a vida cotidiana 4733
2 2 possui lógicas que são ignoradas por nossas estruturas epistemológicas modernas, sendo que as lógicas de tais práticas nos cotidianos carregam consigo potências que podem interferir nas maneiras como as escolas se organizam curricularmente. Desta maneira, apresento esta pesquisa de doutorado cujo objetivo é perceber sentir nos entre-lugares da dimensão curricular pensada praticada as redes de significados e ações que compõem as artes de fazer (CERTEAU, 1994) cotidianas. Questões teóricas-epistemológicas-metodológicas Amparado na noção de que todas as práticas são políticas e vice-versa, compreendo que o currículo, especificamente os currículos pensadospraticados (OLIVEIRA, 2012) nos cotidianos escolares, colocam em movimento dinâmicas contrahegemônicas que, em muitas das vezes, são invisíveis aos modos estabelecidos de legitimação do conhecimento. A ideia de trabalhar com os currículos pensadospraticados atua na busca de evidenciar ações sensíveis e criadoras de processos educativos emancipatórios em diferentes dimensões da escola, como nas salas de aula e nas conversas com/entre professoras. Face ao exposto, tenho desenvolvido uma pesquisa de doutorado, em uma escola municipal do Sul Fluminense do estado do Rio de Janeiro, na qual assumo o objetivo de trazer para o campo das políticas de currículo, práticas e conversas de professoras em situações de trocas de experiências e conhecimentos, que versam sobre muitas coisas da escola, da vida e também sobre as orientações curriculares do município onde está inserida a escola. Compreendendo que os currículos emergem a partir do trabalho coletivo de seus praticantes, Ferraço (2004) traz à tona a noção de que quando entendidos como sujeitos mestiços, tais sujeitos re/inventam ambientes movediços, entre-lugares nos territórios escolares, onde são possibilitados movimentos de fuga frente a identidades culturais e políticas assumidas como naturais e fixas. Daí decorre a necessidade de re/vivermos estes momentos de mestiçagem no cotidiano escolar, em cujos processos criativos podem ser vivenciados movimentos democráticos de cooperação e de solidariedade. Busco perceber que nos currículos pensadospraticados emerge o que se pode entender como entre-lugar (BHABHA, 1998). Este em permanente negociação, a 4734
3 3 promoção de discursos e práticas para além de supostas noções universais e que também une dois aspectos o do fazer e o do saber comumente dicotomizados pela ciência moderna, são tecidas redes de conversações e significados que problematizam e trazem consigo facetas (in)visibilizadas de relações e processos de criação curricular onde são tensionados aspectos ligados a democracia, a cidadania e a justiça cognitiva em redes outras de conhecimentos. Caminhar pelos entre-lugares nos/dos currículos pensadospraticados nos cotidianos escolares nos exige um movimento complexo e dinâmico. Para tal movimento, tomamos a perspectiva teórico-político-epistemológico-metodológica de compreensão do mundo (OLIVEIRA, SGARBI, 2008), na qual as pesquisas nos/dos/com os cotidianos escolares buscam perceber sentir as realidades sociais a partir de sua complexidade e dos inúmeros (des)encontros entre o falado, o percebido e o praticado. Mergulhar nas conversações e nas narratividades delas derivadas têm valor no que está vinculado ao que se entende como obra realizada, ou seja, as conversas e narrativas na ajuda a expressar as vivências dos docentes, constituindo-se, assim em fonte das experiências da pesquisa. Portanto, depreende-se daí sua potência para organizar em torno de si uma pluralidade de pensamentos concorrendo para a constituição do projeto coletivo. As noções dos currículos pensadospraticados e de entre-lugar são relacionadas à visão e ao modo como os sujeitos praticantes posicionam-se diante das relações de poder e como realizam táticas para seu empoderamento, mesmo que estes movimentos estejam invisibilizados e/ou ignorados pelos saberes hegemônicos. Acreditamos, assim, que, por se tratar por espaços outros e legítimos de produção de encontros, a busca e o entendimento dos entre-lugares na tessitura curricular pode auxiliar na desinvisibilização das potencias tecidas coletivamente pelos sujeitos praticantes. Especialmente dentro da visão crítica do pensamento de Homi Bhabha, destacamos o trabalho fronteiriço da cultura, que requer um encontro com o novo que não seja mera reprodução ou continuidade de passado e presente. Ele renova e reinterpreta o passado, reconfigurando como um entre-lugar contingente, que inova, interrompe e interpela a atuação do presente. O horizonte hermenêutico e de intervenção social de Bhabha a partir da possibilidade de negociação da cultura, ao invés de sua negação, comum nas posições dicotômicas, pode atuar junto com a noção das Sociologias das ausências e 4735
4 4 emergências (SANTOS, 2010), no sentido de exacerbar uma temporalidade forjada nos entre-lugares, o que torna possível conceber a articulação de elementos antagônicos ou contraditórios. Com o desenvolvimento da pesquisa é perceptível que o currículo se situa na articulação entre a escola e a cultura, ou seja, a escola é ao mesmo tempo produtora e reprodutora da cultura na sociedade em que ela se situa, trazendo em seu cotidiano as contradições, conflitos, referências identitárias e movimentos de diferença que fazem dela e também de suas tramas curriculares um campo de contestações e de conflitos, ou como anuncia Arroyo (2011), um território em disputa. Arroyo (2011) afirma que focalizar o currículo como um espaço de disputa e (re)produção de culturas, políticas e práticas, é percebê-lo como um espaçotempo onde vivenciamos e negociamos sentidos que fazem com que nossas redes de conhecimentos, tecidas cotidianamente, possam ser percebidas como práticas potentes de aspectos políticos. Desta maneira, perceber os currículos pensadospraticados, nos tempos atuais, aproxima-nos da noção de que sentir o currículo como criação cotidiana pressupõe trazer à tona as variadas formas como este é tecido. Considerações finais Os aspectos teóricos apresentados e as narrativas cotidianas trabalhadas, têm auxiliado a interrogar a elaboração curricular cotidiana, permitindo que se pense no currículo como entre-lugar, como espaço de negociação, ambivalência e fronteira em que se encontram e dialogam diferentes culturas e experiências sociais. Diferentemente da ideia de fechamento e determinação, o currículo se revela como parcialidade, mutabilidade, criação e dinamismo, sendo a produção curricular entendida tanto como construção em embates quanto também como negociações políticas que se dão não num espaço de elaboração consensual, mas de projetos em disputas por uma hegemonia, ainda que provisória ou instável. Alves et ali (2004, p 57) aponta que o movimento hoje necessário não é fazer uma proposta curricular em rede, mas sim fazer emergir as tantas redes trançadas cotidianamente nas nossas escolas e que na maioria das vezes ficam submersas. Portanto, sigo ainda (re)conhecendo que não se pode desprezar a dimensão políticoideológica da escola como espaço de contradições e de múltiplas interferências e saberes. Ou seja, faz-se necessário entender que as propostas curriculares são 4736
5 5 contaminadas pelas formas de inserção social, história, crenças e valores das professoras que atuam nas salas de aula, transformando, continuamente, os currículos e a tentativa de compreendê-los como currículos pensadospraticados nos entre-lugares do cotidiano escolar. Com os aspectos emergidos das narrativas cotidianas, e suas pistas iniciais, apostamos que esta pesquisa pode contribuir para a promoção de uma problematização acerca da criação de um currículo comum, tendo em vista que ao percorrermos os caminhos de tessitura de currículos no cotidiano escolar, estamos indo ao encontro da autonomia intelectual de se fazer escolhas, ou seja, eleger entre o prescrito e o possível, a melhor ou mais viável, a arte de trabalhar e sentir o processo de ensinoaprendizagem de forma local. Por fim, mas entendendo que muito ainda tenho a desenvolver, aponto que a legitimação dos espaços tempos escolares e da tessitura dos currículos pensados praticados, onde tantos sujeitos se enveredam em usos, práticas, táticas e relações de trocas de saberes fazeres são cada vez mais necessárias para o cenário da pesquisa educacional, assim a compreensão dos currículos como criação cotidiana pressupõe compreender os aspectos culturais que envolvem sua tessitura e prática. Referências: ALVES, Nilda, et all. (orgs). Criar currículo no cotidiano. São Paulo: Cortez, ARROYO, Miguel. Currículo, territórios em disputa. 2. ed. Petrópolis: Vozes, BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano 1: Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, FERRAÇO, Carlos Eduardo. As práticasteóricas de professores e professoras das escolas públicas ou sobre imagens em pesquisas com o cotidiano escolar. Currículo sem Fronteiras, v.7, n.2, pp.78-92, jul-dez OLIVEIRA, Inês Barbosa. O currículo como criação cotidiana. Petrópolis: DPetAlli, ; SGARBI, Paulo. Estudos do cotidiano e educação. Belo Horizonte: Autêntica, SANTOS, Boaventura de Souza. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez,
Palavras-chave: Cotidiano escolar; Currículo; Entre-lugar; Cultura;
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