Pró-Reitoria Acadêmica Escola de Medicina e Ciências da Saúde Curso de Nutrição Trabalho de Conclusão de Curso

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1 Pró-Reitoria Acadêmica Escola de Medicina e Ciências da Saúde Curso de Nutrição Trabalho de Conclusão de Curso A IMPORTÂNCIA DA INSERÇÂO DE PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS. PANC s NA ALIMENTAÇÃO HUMANA. Autor: Carlos da Rocha Neto Orientador: Marcus Vinicius Vasconcelos Cerqueira Brasília - DF 2017

2 Resumo O consumo de alimentos ricos em nutrientes é de suma importância para a sobrevivência humana. Além de consumir alimentos saudáveis as pessoas buscam alimentos de fácil acesso, disponíveis em quantidade para todos e de baixo investimento. Nesse contexto, encontram-se as Ervas espontâneas ou plantas alimentícias não convencionais Panc s, encontradas em meio aos canteiros cultivados, de grande importância ecológica. Apesar de ainda pouco disseminadas, estudos já realizados na área da medicina e nutrição demonstram que essas plantas são tão ou até mais nutritivas do que as espécies convencionais, possibilitam uma alimentação saudável e de baixo custo, valorização da ecologia das comunidades, além de serem muito úteis no tratamento e prevenção de algumas doenças. O presente artigo apresenta cinco dessas espécies, com caracterização, valor nutricional e aplicação. Palavras-chave: Panc s, alimentação, ervas, consumo e nutrição. Abstract The consumption of nutrient-rich foods is of paramount importance to human survival. In addition to consuming healthy foods people seek easy-access foods, available in quantity for all and low-investment. In this context, the "spontaneous herbs" or nonconventional food plants are found in the midst of cultivated flowerbeds, of great ecological importance. While still undisseminated, studies already conducted in the area of medicine and nutrition demonstrate that these plants are so or even more nutritious than conventional species, enable healthy and low-cost feeding, appreciation of the ecology of the communities, and are very helpful in treating and preventing some diseases. This article introduces five of these species, with characterization, nutritional value and application. Keywords: Panc's, feeding, herbs, consumption and nutrition. 1. Introdução As plantas alimentícias não convencionais (PANCs) são espécies que podem ser representadas por frutos, folhas, flores, rizomas, sementes e inflorescências, podem ser consumidas, cruas e/ou após cocção. Podem estar associadas com partes não convencionais de plantas comuns, como por exemplos o uso das folhas de batata-doce e do mangará (coração) da bananeira (KINUPP e LORENZI, 2014). Essas plantas são encontradas em vários tipos de solos, muitas vezes sendo identificadas como pragas ou ervas daninhas. Tais espécies devem ser denominadas ervas espontâneas, pois crescem entre hortas e canteiros cultivados. São espécies com grande importância ecológica e econômica. Plantas que podem ter propriedades funcionais ou até apresentarem valor nutricional superior às plantas convencionais (BRASIL,2010). 1

3 No que se refere às hortaliças nativas ou regionais do Brasil a pesquisa, o cultivo, o uso e a valorização parece ser ainda menor. No inicio da história gastronômica brasileira as Panc s eram muito consumidas, mas a inserção de cultivares europeus na culinária nacional promoveu a desvalorização e o esquecimento destas espécies. Estima-se que o número de plantas consumidas pelo homem caiu de 10 mil para 170 nos últimos cem anos. Só no Brasil há uma biodiversidade enorme a ser redescoberta, estima-se que o país tenha em torno de dez mil plantas com potencial uso alimentício (KINUPP e LORENZI, 2014). É relevante destacar que as Panc s possuem um papel fundamental como alimentos funcionais em nosso organismo, em função da riqueza de vitaminas essenciais, fibras, sais minerais, muitas vezes não encontrados em alimentos convencionais. O objetivo deste trabalho é apresentar as principais plantas alimentícias não convencionais brasileiras e identificar o seu potencial nutricional e gastronômico. 2. Metodologia Trata-se de uma pesquisa bibliográfica em que foram utilizadas as bases de dados online: Lilacs, Scielo e Google acadêmico. Assim, inicialmente foi realizada uma busca sobre a produção de conhecimento referente às plantas alimentícias não convencionais, tendo como foco a sua classificação e o seu valor nutricional, referidos em periódicos nacionais através da revisão de literatura sobre o tema. Na busca inicial foram considerados os títulos e os resumos dos artigos para a seleção ampla de prováveis trabalhos de interesse, posteriormente, foram utilizados como critérios de inclusão os textos nacionais mais recentes (2010 a 2016) e produções científicas que apresentavam embasamento técnico na literatura nacional e nos conceitos legais sobre o tema. 3. Desenvolvimento Os países tropicais e subtropicais detêm a maior diversidade de espécies vegetais vasculares, contudo, o número de frutíferas e oleáceas autóctones proporcionalmente utilizadas é ínfimo. Dentre as espécies frutíferas mais cultivadas no Brasil nenhuma é nativa. As hortaliças nativas consideradas espontâneas são identificadas pela população brasileira como mato, não sendo usual o seu cultivo e/ou consumo. Mas, este enquadramento pode ser transitório, pois algumas espécies hoje tidas como culturas agronômicas foram tratadas como inços ou "daninhas" até muito recentemente. Dentre essas espécies, apresentamos neste trabalho cinco, as quais terão seus benefícios e características elencadas, segundo a classificação e o catálogo realizado por Kinupp e Lorenzi (2014). A Stachys lanata L. da família das lamiaceae, também conhecida como peixinho ou lambari-da-horta, apresenta folha cheia de pêlos e um formato bem característico, responsável pela sua denominação popular. Representa o desmembramento de propágulos das touceiras, o cultivo pode ser realizado o ano todo, 2

4 espécie rústica com baixas exigências. Não tolera calor excessivo, é resistente às baixas temperaturas e não queima com a geada. Os indivíduos da família das lamiaceae normalmente apresentam altas concentrações de compostos fenólicos e são conhecidos como excelentes antioxidantes, sendo utilizados como conservantes naturais em produtos cárneos (MARIUTTI e BRAGAGNOLO, 2007). A Portulaca oleracea L. da família das portulaceae, também conhecida como caruru-de-porco, Beldroega e bredo-de-porco, se apresenta como uma planta anual, suculenta, de baixa altura. Ácida e crocante, muito utilizada em saladas. Também pode ser consumida refogada no óleo ou na banha com alho e cebola, depois de cozida, lembra um pouco o espinafre, só que mais suave. rica em ácido graxo e ômega-3. É uma fonte de vitaminas B e C. Talos e ramos podem ser usados em saladas e ensopadas. As sementes podem ser transformadas em farinhas (BRASIL, 2010). A Rumex acetosa L., também conhecida como azedinha vermelha, apresenta folhas com ressaltado sabor azedo, como indica o seu nome. Pode ser usada em saladas cruas, como verdura salteada, em sopas e omeletes. Planta perene, que pode atingir até 20 cm de altura, forma touceiras com dezenas de propágulos. Existem relatos do uso desta espécie no controle racional de nematoides em humanos, tal fato é pouco documentado, mais expressa uma possível funcionalidade para as plantas desta espécie (PONTE e HOLANDA, 1996) A Trifolium repens, também conhecida como trevo. Considerada como uma erva-daninha, nasce em jardineiras, quintais e calçadas. É tão banal que muitos nem se questionam se é uma planta comestível. Folhas, talos e bulbilhos podem ser comidos. É uma planta rica em ácido oxálico, por isto não deve ser consumida em grande quantidade (BRASIL, 2010). A Amaranthus spp. também conhecida como amaranto ou caruru, é muito rica em ferro. Suas folhas podem ser consumidas, porém somente cozida. As sementes torradas são deliciosas em saladas e sucos. Geralmente, é encontrada em locais ricos em matéria orgânica, portanto é uma planta indicadora de solos bons, ricos em potássio e bem drenados (KINUPP e LORENZI, 2014). A Sonchus oleraceus, também conhecida como serralha e chicória-brava, é muito comum em lavouras e ambientes urbanos, cresce espontaneamente durante o inverno e a primavera. Com sabor similar ao espinafre, pode ser usada em saladas e refogados. Propaga-se exclusivamente através de sementes e vegeta nos períodos de inverno-primavera. Apresenta propriedade prebiótica, sendo usada como nutriente de algumas bactérias benéficas do trato gastrointestinal humano, tal ação promove a eubiose intestinal, processo de equilíbrio da flora microbiana (CAMARGO, 1995). A Pereskia aculeata Mill, também conhecida como ora-pro-nóbis, lobrobó e groselha-da-américa. Suas folhas são gostosas, nutritivas e fartas. Os brotos e o fruto também são comestíveis. Rico em proteínas, de boa digestão e alto valor nutricional, as folhas desta planta espinhosa são muito conhecidas em algumas regiões de Minas Gerais, onde é consumida de diversas formas, seja refogada, em sopas, no feijão ou em recheios de tortas e salgados. Também conhecida como carne de pobre, folhas secas de ora-pro-nóbis são moídas e utilizadas no preparo da farinha múltipla, complemento nutricional no combate á desnutrição (KINUPP e LORENZI, 2014). 3

5 Resgatar e difundir a sabedoria culinária tradicional brasileira é uma forma de diversificar e enriquecer nossa alimentação. Além de fugir da lógica do mercado, pautada por interesses econômicos, que privilegia a produção de determinadas espécies comerciais, em sua maioria exóticas e cultivadas com uso de defensivos químicos e que necessitam de grandes quantidades de recursos naturais para a sua produção. Mas é preciso muito tempo de observação para aprender a identificar cada uma das plantas, conhecer o comportamento delas, saber a maneira e a hora certa de colher e qual a melhor forma de usá-las (TAKAHASHI, 2016). 4. Conclusão Após análise dos materiais pesquisados, é possível inferir que as plantas alimentícias não convencionais analisadas oferecem substâncias, nutrientes e bioativos que podem propiciar aos seres humanos uma alimentação saudável, com baixo investimento e fácil acesso, disponibilizando as comunidades carentes um excelente aporte nutricional. Porém, faz-se necessário identificar de forma correta as espécies em questão, para não proporcionar as comunidades atendidas casos de intoxicação ou contato com substâncias tóxicas pelo consumo indiscriminado de plantas espontâneas. A elaboração de estudos criteriosos de catalogação de espécies deve ser realizada de forma criteriosa e com base científica, identificando os indivíduos com potencial tóxico e selecionando sementes e mudas com vocação alimentar. 5. Bibliografia 1. BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA. Manual de hortaliças não convencionais. Brasília KINUPP, V. F. LORENZI, H. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil : guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. São Paulo : Instituto Plantarum de Estudos da Flora, LORENZI, H. Plantas daninhas do Brasil: terrestres, aquáticas, parasitas e tóxicas. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, TAKAHASHI, R. O que são as PANCs?. Portal Veganismo Disponível em: acessado em 25 de maio de MARIUTTI, L R B e BRAGAGNOLO, N. Antioxidantes naturais da família lamiaceae aplicação em produtos alimentícios. Brazilian Journal of Food Tecnology Instituto de Tecnologia dos Alimentos. ITAL. São Paulo PONTE, J J e HOLANDA, Y C. Adendo ao catálogo de plantas hospedeiras de Meloidogyne no Brasil. Revista de Nematologia Brasileira.Universidade de São Paulo USP. V 20(1)

6 7. CAMARGO, M T L. Medicina popular. Aspectos metodológicos para pesquisa de componentes de origem vegetal. ALMED. São Paulo