Principais Características do Sistema Tributário Nacional
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- Luciano Branco Carneiro
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1 Principais Características do Sistema Tributário Nacional 1) Regressivo Por que o sistema tributário brasileiro é considerado regressivo? Porque existe forte impacto negativo dos impostos indiretos, aqueles embutidos no preço de produtos e serviços, sobre a renda das populações mais pobres. Os mais pobres pagam relativamente mais impostos que os mais ricos, pois, embora eles não paguem Imposto de Renda (IR), ou paguem menos, as famílias mais pobres consomem bens com alta carga de impostos indiretos, a exemplo do ICMS, que incide sobre os produtos da cesta básica. Em relação ao ICMS, recente estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) apurou que os trabalhadores mais pobres pagaram três vezes mais imposto que os mais ricos, no período de Enquanto os 10% mais pobres do País desembolsaram 16% de sua renda com ICMS, os mais ricos pagaram apenas 5,7%. Peso dos Tributos na Renda da População, Impostos População TOTAL Diretos Indiretos TOTAL TOTAL ICMS 10% mais pobres 32,80% 3,70% 29,10% 16,00% 10% mais ricos 22,70% 12,00% 10,70% 5,70% Fonte: IPEA (2008) Nota: Impostos Diretos (renda e patrimônio) e Indiretos (consumo) Ademais, a atual legislação tributária nacional define apenas duas faixas de IR para pessoas físicas: 15% e 27,5%. Se o número de faixas de tributação de IR fosse aumentado, os ricos pagariam proporcionalmente mais, com alíquotas crescentes quanto mais alta fosse a renda. Desta forma, haveria correção de injustiças na arrecadação e o aumento da progressividade da carga tributária nacional. 2) Complexo, Superposto e Fragmentado
2 Outro aspecto importante é a simplificação. Nosso sistema tributário nacional é complicado e pouco prático, com um grande número de tributos, taxas e contribuições incidindo sobre a produção. Para se ter uma idéia, além do Imposto Territorial Rural e do Imposto de Renda, incidem sobre o setor agropecuário outros impostos indiretos: ICMS, IPI, IOF, Imposto de Importação, PIS/PASEP, COFINS e contribuição previdenciária sobre o valor da produção. De forma a ilustrar parte do impacto dessa tributação sobre o setor produtivo, apresentamos no quadro a seguir um resumo das principais obrigações do produtor rural, no exercício de sua atividade, pessoa física e jurídica, em relação ao pagamento das contribuições fiscais. Contribuição Social Previdenciária Sobre o Valor Bruto da Comercialização da produção Rural (ex-funrural) INSS SENAR Produtor Rural Pessoa Física (segurado especial) 2,10% 0,20% Produtor Rural Pessoa Física (contribuinte individual) 2,10% 0,20% Produtor Rural Pessoa Jurídica 2,60% 0,25% Outras Contribuições Previdenciárias Produtor Rural Pessoa Física (contribuinte individual) Recolhimento próprio sobre o salário-contribuição declarado para fins de aposentadoria (carnê) Retenção e recolhimento da contribuição do segurado empregado Recolhimento da alíquota de 2,7% de Terceiros (salário-educação e INCRA) sobre a folha de pagamento Recolhimento de 20% sobre a contratação de contribuinte indivual (autônomo) Retenção e recolhimento de 11% quando da contratação de empresa de mão-de-obra Recolhimento de 15% sobre o valor da nota Fiscal relativa à contratação de cooperativa de trabalho OBS: Segurado especial é aquele que exerce em regime de economia familiar atividade rural, sem empregado Contribuinte indicidual é o produtor rural, com empregados Demais Contribuições Fiscais Sobre o Faturamento mensal (não incide no caso de pessoa física) PIS/PASEP COFINS Pessoa Jurídica (Incidência não-cumulativa) 1,65% 7,60% OBS: A pessoa jurídica submetida à incidência não-cumulativa poderá descontar créditos Contribuição sobre o Lucro Líquido Sobre o resultado ajustado, presumido ou arbitrado Pessoa Jurídica Fonte: Receita Federal do Brasil e Previdência Social CSLL 9% Dos impostos citados, o ICMS, sem dúvida, é o que apresenta a maior participação sobre os preços finais dos produtos agropecuários, constituindo-se na principal fonte de arrecadação de recursos financeiros do Estado. Em 2007, o valor arrecadado com o ICMS atingiu R$ 61,5 bilhões, em São Paulo, cerca de 64% da receita tributária anual do Estado.
3 Receita tributária anual do Estado de São Paulo RECEITAS Receitas Correntes , , , ,53 Receita Tributária , , , ,75 Impostos , , , ,41 Patrimônio e Renda , , , ,96 IPVA , , , ,94 C.MORTIS E DOACAO BENS , , , ,02 Produção e Circulação , , , ,45 ICMS , , , ,45 Taxas , , , ,52 Condições de Melhorias 3.787, , ,24 314,82 Receitas de Capital , , , ,10 Receitas Correntes Intra-Orçamentárias , Receitas de Capital Intra-Orçamentárias , TOTAL , , , ,63 Fonte: Relatório de Execução Orçamentária da SEFAZ/SP Na maioria dos casos, em São Paulo, o ICMS embutido no preço dos produtos corresponde ao percentual de 18%. Para certos alimentos básicos, incluídos na cesta básica, como arroz, feijão, carnes e leites, o ICMS cobrado é de 7%. Em se tratando de produtos supérfluos como cigarros, cosméticos e perfumes, cobra-se o percentual de 25%. No tocante à tributação dos produtos da cesta básica, salientamos, mais uma vez, o maior comprometimento da renda dos mais pobres com os gastos de alimentação. Conforme estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), em 2004, o percentual de tributos incidentes sobre o preço final de produtos agropecuários selecionados atingiu, na maioria das análises, valores superiores a 18%. No caso do açúcar e do café, observou-se valores extremos, atingindo 40,50% e 36,25%, respectivamente. Percentual de Tributos sobre o Preço Final dos Produtos Produtos selecionados Produtos % Tributação sobre Preço Final Açúcar 40,50% Arroz 18,00% Café 36,52% Carne Bovina 18,67% Feijão 18,00% Frango 17,91% Frutas 22,98% Leite 19,24% Ovos 21,79% Peixe 18,02% Fonte: Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário - IBPT (2004)
4 Destacamos que para obter o percentual de carga tributária total incidente sobre o preço final de venda, o estudo levou em consideração a tributação em três bases de incidência, com o cálculo dos seguintes tributos: i) tributação sobre as vendas - ICMS, IPI, PIS/PASEP e COFINS no regime não-cumulativo; ii) tributação sobre os custos e despesas INSS, FGTS e CPMF; e iii) tributação sobre o lucro - IRPJ e CSLL. Pelo lado do produtor rural, o diferimento que o Fisco paulista concede na comercialização não significa, necessariamente, uma desoneração tributária. Como o poder de negociação dos produtores junto às indústrias é pequeno e o valor do imposto é considerado como um item na estrutura de custos desses agentes, na prática, a indústria desconta do valor da mercadoria, adquirida dos produtores, todas as despesas e tributos previstos nas operações subsequentes. A unificação da legislação do ICMS e o combate a guerra fiscal entre os Estados também se fazem necessários a fim de evitar a concessão de benefícios fiscais que distorcem custos de produção, criam desvios de comércio e alteram sensivelmente as relações econômicas. A preocupação é tão evidente que a própria Secretaria da Fazenda de São Paulo, por meio do Comunicado CAT- 36/04, listou os benefícios fiscais concedidos pelos demais Estados, não autorizados por convênio, portanto, ilegais e não reconhecidos por São Paulo. Mas os benefícios persistem, tanto que, recentemente apuramos que outras Unidades da Federação têm estimulado o desenvolvimento da aqüicultura (criação de peixes, moluscos, crustáceos, quelônios, répteis e plantas aquáticas) em seus territórios, por intermédio da concessão de benefícios fiscais, a exemplo da Lei nº 8.684, de , do Estado de Mato Grosso, que isentou às operações de comercialização e de industrialização, internas e interestaduais, com peixes, suas carnes e demais partes in natura. Como em São Paulo, com exceção da isenção concedida as vendas de moluscos e pós-larva de camarão, em estado natural, as demais operações com pescados, moluscos e crustáceos são tributadas, o produtor e a indústria paulista certamente perderão competitividade frente ao incentivo fiscal concedido pelo Mato Grosso, caso a SEFAZ/SP não viabilize ações para resguardar e fortalecer a cadeia produtiva paulista.
5 ICMS incidente sobre pescados, moluscos e crustáceos, em São Paulo. Segmento Em Estado Natural Processado Pescados 7% 12% Moluscos Isento 12% Crustáceos 18% 12% Pós-larva Camarão Isento 12% Fonte: Regulamento do ICMS de cada Estado e Consultoria Tributária IOB Thomson. Em relação à tributação federal do PIS/PASEP e COFINS, embora as recentes alterações na legislação tenham tido por objetivo evitar a cumulatividade das contribuições e diminuir a carga tributária, atingi-los tem sido uma meta difícil frente à calibragem das alíquotas que foram fixadas e das distorções identificadas em algumas cadeias produtivas do agronegócio, no que se refere ao aproveitamento do crédito presumido. Em 2004, o IPEA já apontava que as alterações iriam produzir um aumento de 0,8% na carga tributária nacional. Como exemplo prático de distorção, temos as rações, concentrados e suplementos minerais utilizados na alimentação animal, que não foram contemplados pela isenção, em relação ao PIS/COFINS, estabelecendo uma disparidade entre produtores integrados e não integrados. Como criadores de frango e suínos não-integrados (independentes) adquirem sua própria ração no mercado, ao invés de obtê-la da integradora, eles assumem um ônus maior em relação aos integrados, pois não têm como recuperar o valor do PIS/COFINS pagos na compra desse insumo. A pecuária de corte é um outro exemplo, pois, apesar de ter uma dependência menor sobre a utilização de rações, a atividade é também intensiva no uso de suplementação mineral. Somente o sal mineral responde por 15% do custo total de produção. Estudos da CNA comprovam o substancial peso do custo com rações na formação do custo operacional das atividades animais. Na suinocultura este valor representa 75% dos custos envolvidos na criação, não tão distante dos 73% na avicultura, enquanto que, na pecuária leiteira as rações e suplementos representam 42,3% do custo de produção. Em suma, é imediato e quase que proporcional à elevação das alíquotas do PIS/COFINS, o aumento do custo de produção de carnes e leite e, por conseguinte, o repasse de preços aos consumidores.
6 3) Não Seletivo Conforme relatos anteriores, a carga tributária incidente sobre os alimentos é elevada, o que demonstra falta de seletividade tributária em função da essencialidade de bens e serviços. Até chegar ao consumidor, o preço do alimento é onerado pelos tributos que incidem sobre insumos agropecuários, o maquinário agrícola, a terra, a mão-de-obra, a renda do produtor, a comercialização, a produção industrial, a movimentação financeira e o lucro. E quem acaba por sentir mais intensamente o impacto desse custo sobre sua renda são as famílias de baixa renda. Considerando o trabalho do IBGE sobre a distribuição das classes de rendimento mensal das famílias brasileiras (PNAD), conclui-se que 86,3% das pessoas têm renda de até 3 salários mínimos. Fazendo uma ponderação em relação aos gastos com alimentos, pode-se afirmar que, em média, a população brasileira gasta 38,3% dos seus rendimentos com o grupo alimentação.
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